terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Meaw

And I feel lonely. Been with you for so long that I don' know how to be alone anymore. All around me are ghosts - of far away loves, of dreams andreamt. I miss having you who knows all about me by my side. I miss who I am when I have this world you build around me. And we're just going about with our businesss and I... wait, what is my business again?

I feel so lonely and empty. Suddenly my friends feel so distant. Suddenly I feel like my world is another. I'm in for a different game. I don't know where you are anymore.

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Como dizer?

Estava pensando em escrever um poema, mas não sei ainda qual. Queria que ele girasse em torno da idéia da Leoa, como uma Deusa. A Leoa pra mim sempre foi um símbolo de um certo tipo de poder, é ela que protege a cidade de Levante que muda de nome toda vez que é conquistada... A Leoa é Labwa, é a Devoradora, é o animal fêmea que mata e dá vida. Será que esse símbolo pode sustentar sozinho o meu poema? Ou será que preciso do meu amor para sustentá-lo? Acho que é um bom símbolo.

Leoa dos infinitos mundos
Persegues tuas presas pelas savanas
Em compasso com tuas irmãs, mães de teus sobrinhos
E amantes do pai dos teus filhos
Tuas presas, fera, manténs ocultas
Até o momento fatal do bote
Mas quem duvidaria de tua ferocidade?
Tuas garras manténs dentro dos dedos
Nas patas que pisam suavemente a relva
Tua caçada, Labwa, é silenciosa
Mas corações disparam quando vêem teus olhos cheios de morte
E tu lhes trazes a última dor que sentirão sobre a terra
E derramas o último sangue.
Teus lábios ensanguentados limpas com a língua áspera
Tua boca que mata leva a carne aos filhotes
Leoa, em dadas tardes te deixas caçar pelo violento e cabeludo macho
Cujo rugido que afasta inimigos tu admiras
E cujo corpo enorme e quente tu desejas
Leoa, em teu corpo esculpido para matar surge a vida
Tuas patas parecem pequenas quando carregam a futura caçada.


Acho que não há mais o que ser dito.

Agora já sei quem você é, minha leoa: você é a Esfinge.

sábado, 25 de dezembro de 2010

Inquietação

Quero escrever alguma coisa, quero desabafar, mas não posso, não posso.

Acho que está na hora de eu conversar com alguém ao vivo.

Onde estão meus amigos?

Procuro um homem [?]

Procuro um homem que não seja como todos
os outros homens que até hoje conheci
Que seja incômodo e imprestável como os outros
Mas um que saiba o quanto deve dar de si

Eu não procuro um homem que seja perfeito
mas um que seja livre e siga com coragem
Que tenha a cara de reclamar seus direitos
sem hesitar e sem se perder na linguagem

Procuro um homem que se guie por seus sonhos
e, perseguindo-os, não se acanhe de ir além
Um que consiga subjugar os seus demônios
mas que seja um pouco demônio ele também

Procuro um homem que não caia do cavalo
ou que, caindo, também saiba levantar
Que, como um gato, às vezes venha de mansinho
e às vezes pule sobre a presa pra matar

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Achei isso numa pilha de anotações antigas... Acho que deve ser de 2006, mas não posso garantir; talvez seja de antes, talvez de bem depois. Acho que eu tenho muito poemas descrevendo o amor que eu quero... Mas acho esquisito, acho que hoje em dia eu não escreveria uma coisa assim, "procuro um homem"... Eu não procuro mais um homem, eu procuro a mim, a você, a quem possa saciar essa fome, à origem da fome. Minha forma de pensar, de enxergar essa questão, mudou radicalmente.

sábado, 18 de dezembro de 2010

Ao Cara da Bicicleta [24-25/9/2005]

Estou andando pela rua e vem
Você, que me coloca muito bem
Uma palavra doce no caminho.
Eu olho pra você, penso na vida
De que me vale estar assim perdida?
Em tantos colos quero fazer ninho...

Eu vinha andando meio solitária
Na sociedade me sentindo pária
E vem você chamar-me de gatinha.
Talvez não seja bom pensar assim,
Mas peço que não venha atrás de mim
Pois isso eu tenho que vencer sozinha

E, se vier, posso não ser legal
Vou ser cruel, posso te deixar mal
Se você não se despedir agora
Mas você não me ouvira o não amaro
Eu disse então que tinha namorado
Pra você desistir e ir embora


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Sim, existem pessoas que às vezes tiram algo de bom de encontrar um cara idiota te xavecando na rua. Esse cara de fato apareceu de bicicleta me chamando de gatinha. às vezes essas coisas imbecis são importantes pra quem está totalmente perdido.

Alerta [set/2005]

Não pule no lago, eu te disse, vai se machucar
mas a água do lago era linda como a água do mar
Tinha ondas que iam e vinham, para te atrair
e eram ora cruéis ora doces, pra te consumir
Pois eu disse: não pule no lago - você não me ouviu
Se afastou de mim (sou também água) e em frente seguiu
Foi largando no caminho roupas, armas e armaduras
Mas eu acho que suas intenções não eram seguras
Você foi, pois, andando sem mêdo mas meio hesitante
mas então viu o dragão do lago - foi desconcertante!
e tão surpreendido qual gato no meio do pulo
você veio pedindo socorro, tateando no escuro
E eu pensava, ao ver você assim, voltando do errado
que eu dissera, e você não me ouvira, "não pule no lago"

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Ah, eu gosto tanto do ritmo deste poema! Eu gosto também de algumas das metáforas dele. Algum dia eu preciso explicar o que é o lago =)

Rascunhos

"Não faça rascunhos. Leve cada desenho a sério." - Peçanha


Sabe, eu tenho dois rascunhos quase permanente no meu blog, além de um rascunho rotativo de Histórias Sem Fim. São começos de histórias que eu queria escrever, que começaram muito naturalmente, mas que eu não consigo continuar! É tão difícil continuar. Particularmente esta sobre o Lay, o Anjo do Relâmpago (é a primeira vez que o chamo assim, em português), é difícil porque eu comecei querendo escrever com leveza e beleza, mas a vida do Lay não é bonita, e eu não consigo dar o passo do lirismo para a narrativa. Acho narrativas muito difíceis, me dou muito melhor com as descrições. Bem, acho que nunca serei um contador de histórias como o Garth Nix, mas talvez eu possa almejar um pouco do fascínio do Tolkien... Enfim, vou publicar esse rascunho para vocês terem uma idéia do que estou falando.


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Na cidade de Raéa tudo era tão bonito! As praças estavam cobertas de lírios e as torres dos palácios se erguiam claras e majestosas em direção ao céu azul e límpido lá em cima. Em Raéa nunca chovia, nunca ficava nublado, talvez porque a cidade estava acima da maioria das nuvens, no topo dos picos fantásticos que o povo comum chamava de Heaven. É claro que o nome original do lugar era Haven, mas quem discordaria do nome que o povo dava, quer dizer, haveria um lugar mais próximo de se chamar de Céu? Os enormes pássaros de Raéa se agitavam e cantavam para despertar a cidade. Os habitantes de Raéa, como qualquer povo de boa fé, venerava a Quemi, o Pássaro das Cores, e a Quehy, a Fênix de Luz. Exemplares jovens das duas espécies saltitavam aqui e ali, colorindo e iluminando o ar em que dançavam; mas o pássaro mais presente da cidade era o que eles chamavam de Alma dos Ventos, uma ave imponente que parecia nunca parar de crescer e que viajava distância inacreditáveis para fazer seu ninho nas torres dos palácios. E, como era bem cedo, os parapeitos das janelas estavam apinhados de Almas das Manhãs, os menores pássaros de Raéa (ainda um pouco maiores que um sabiá de peito laranja), que tinham penas macias como as plumas de um bebê e que se reuniam no nascer do sol para se aquecer, conversar com seus irmãos em trinados baixos e graves e entoar adoráveis cantigas de acordar. Não havia melhor forma de acordar que o amanhecer de Raéa! O sol entrava por todas as janelas e fazia brilhar as torres imaculadamente brancas. As casas baixas, feitas de blocos mais rudes das pedras claras das montanhas, estavam cobertas de flores delicadas que se abriam ao toque do sol. Cada porta, esculpida na mais nobre madeira jovem que crescia timidamente abaixo das nuvens, se abria, e cada janela, apenas para deixar o vento entrar. Logo todos estariam despertos, e a cidade estaria cantando com o prazer de um novo dia. Era por essas manhãs que Lyserh vivia. Ele adorava saltar para a rua e sentir o ar correndo por sua pele enquanto abrandava a queda. O azul do céu e o branco brilhante das casas e das flores o preenchia , como o calor do sol. Ele cumprimentava os pássaros ao caminhar pela praça. Era sua vez de ser feliz. Era tudo o que tinha na vida.
Neste dia, Ly também estava feliz porque ia conseguir uma coisa a mais, uma coisa a mais a que se agarrar nos momentos em que a luz parecia distante. Ele não tinha a menor dúvida de que a partir de então ele seria feliz! Ali, em Raéa, onde cada dia era perfeito, ali ele ia encontrar seu lugar do lado direito de Deus. Era impossível parar de sorrir. Ali ele ia encontrar aquilo que daria sentido à sua vida.
Ele atravessou mais algumas praças cobertas de lírios, e algumas ruas estreitas e floridas, saltitando de pedra em pedra e cantarolando para acompanhar as Almas. Antigamente ele costumava pensar com freqüência em como seria, depois da morte, é claro, ser um pássaro e passar seus dias planando e chilreando por aí; mas hoje esse pensamento sequer lhe ocorreu -- a vida parecia tão bela assim do jeito que estava! Era difícil pensar em coisas tristes ou mesmo coisas imperfeitas neste dia alegre.



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Minha idéia é contar como Lyserh entrou para a força de elite dos Anjos. É muito importante para a história que ele entre nela. Na verdade é essa a fundação do personagem. Mas eu não consigo fazer acontecer.

Direitos [23-25/9/2005]

Nem todo coração
tem direito a ficar em paz
Nem toda paixão
tem direito a um final feliz
Nem toda amara vida
tem direito de voltar atrás
Nem toda alma perdida
tem direito de ser o que quis
Mas por favor não desista, que a vida é muito maior
que esse pedaço de vida ao qual você se amarrou
Mas por favor não insista, que a vida tem mais sabor
que esse pedaço de vida o qual você não largou
Pois se amarrar
a um amor que morreu
é ainda contar
com o que já se perdeu
Além disso, veja bem, não adianta chorar
Isso não fará o alguém que você ama te amar

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.... é, sei lá. Eu precisava convencer ao pessoas a desistirem de seus amores impossíveis com freqüência... Tentei mudar pouco este poema (só uma alteração de rtmo aqui e ali) porque ele é ruim demais pra ser melhorado. E tem umas quatro melodias diferentes que nem se encaixam tão bem assim. Ora!

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Faelyn

O dragão surgiu de repente depois de uma curva, e assomava enorme, quase batendo em todas as paredes da imensa galeria. Era um dragão magnífico, de escamas verdes cobrindo as costelas e placas vermelhas por todo o dorso, brilhando intensamente mesmo na pouca luz da caverna. Suas garras eram do tamanho da espada de Roder, cinzentas e muito mais fortes do que a lâmina. Toda a couraça do dragão reluzia em tonalidades detalhadamente distintas, colorindo as paredes e o chão como um caleidoscópio. Seus chifres eram grandes como árvores, e seus olhos tinham a intensidade de um caçador. Era o dragão perfeito, o monstro de todas as lendas, o inimigo dos sonhos de Roder, Aquele era o dragão definitivo, o dragão com que ele sonhava quando sua irmã lhe contava histórias antes de dormir.
- Nahär! - gritou Roder o nome de seus ancestrais enquanto desembainhava a espada. O dragão levantou a cabeça num susto e se encolheu contra o fundo da galeria, contorcendo o longo pescoço escamoso para virar os olhos para o invasor. Roder, vendo aquela carne enorme se virando e movendo com estradalhaço, ergueu a espada que tinha matado cem ogros e se lançou em corrida para fincar sua lâmina entre as escamas da barriga do monstro. Mas não é tão fácil penetrar o couro de um dragão, e este, tentando espantar o incômodo cutucador, abriu a bocarra cheia de dentes pontudos e rugiu na cara de seu agressor. Mas Roder, em vez de de se assustar com os presas imensas e o rugido ensurdecedor se revigorou com eles e e, convencido de que aquele era o mais terrível e formidável monstro que um herói já enfrentara sem ser devorado, estendeu o braço e enfiou sua espada no fundo da enorme garganta. E o dragão caiu.

Como eu disse, o problema está sempre nos ouvintes. vejo que você me ouve com olhos arregalados e emoção renovada a cada frase, sem imaginar o que acontece a seguir. Também Roder acreditava estar vivendo a estória de sua vida, e nesse momento seu coração batia rápido e sua mente viava pelos cenários do triunfo e das canções dos menestréis. Mas nesse mesmo momento sua visão se desfez.

A bocarra do dragão caíra sobre o herói e o mantinha preso entre as presas e a espada, um dente enorme enfiado no braço desarmado. De repente o espeto dos dentes desapareceu e Roder se desequilibrou e caiu sentado no chão, atordoado mas sem largar a espada. Uma névoa com cor de dragão volteava e revolvia em torno dele, parecendo querer se reunir no centro da galeria logo à sua frente. Entretanto Roder via nitidamente através da névoa, que não tinha cheiro, e não havia vento. Era uma ilusão! Não havia dragão, mas seu braço estava ferido e a espada, suja de sangue. O herói ficou no chão, confuso e paralizado pela percepção de que estivera lutando contra um dragão de mentira. Entretanto, devia haver alguém, quem sabe um demônio ou um vil feiticeiro por trás dessa névoa, pois alguém raptara a donzela, alguém o chamar através da caverna, alguém causara o ferimento no seu braço, e mais - alguém deixara seu sangue sobre sua espada. Roder ficou de pé e avançou lentamente para onde a névoa começava a se compactar numa forma humana, determinado a garantir sua vitória contra quem fosse o vilão de sua história. Ele se postou altivo e ameaçador diante do homem que a névoa formava; mas o homem era na verdade Faelyn, caída e agonizante aos seus pés, numa poça de sangue que saía de sua garganta - e ele desfez a pose e tentou desesperado ajudá-la, mas a garota se esquivou dele apavorada, e seus últimos movimentos neste mundo foram para fugir de seu suposto salvador.

Imagino Roder tentando ajudar a garota, tentando entender onde ele tomara o caminho errado, como era possível que o dragão cruel se tornasse a dozela inocente. E principalmente, como a donzela fôra parar dentro da caverna se ela estava esperando por ele lá fora? Mas não, Roder não parou para pensar nessas coisas, porque era jovem e estava apenas em busca de monstros, não de respostas. A única pergunta que ele fez era onde encontraria o feiticeiro que trocara a vida da donzela pela do dragão, e o que teria que fazer para trazê-lo até o fio de sua espada. E, com seus sonhos de triunfo derramados com o sangue de Faelyn, ele foi buscar seu feiticeiro pelos túneis mais profundos na caverna, que levavam para longe desta cidade.

Poema Triste II [22/9/2005]

Queria escrever um poema triste.
Um que fosse mais triste do que eu
Que fosse mais escuro do que o breu
P'r'eu achar que sou vívida e feliz.

Queria escrever um poema triste
Que fosse mais vazio do que um deserto
E mais que a bruma fosse escuro e incerto
P'r'eu achar que sou o que você me diz.

Queria escrever um poema triste.
Um que fosse mais frio que a solidão
E mais que uma miragem, ilusão
Fosse de que sou eu quem quer chorar

Queria escrever um poema triste
Que fosse mais incômodo que a fome
Que de tão tolo não mereça um nome
Mas me convença de que eu sei amar.

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Conforme eu anotei no canto da folha, eu também queria escrever um poema resignado, um poema sem esperança, como eu escrevi, "resignado como a chuva"... para que eu pudesse ver o brilho da minha própria esperança. Mas é difícil rimar com chuva, não é? Enfim, acho que este poema é muito menos triste e mais bonito que o anterior. A gente não vê realmente beleza na tristeza desesperançada, é justamente a esperança e o amor que tornam a tristeza uma coisa bela. Uma coisa triste e murcha e pantanosa como a que escreveu esse poema, mas que ainda quer se expressar, que ainda quer fazer parte da beleza do mundo - amar! - é bonita de certo modo, por mais que distorcida.

Mas ainda há uma certa dor, porque por mais que haja uma certa expressão no sentido de dizer "oi! estou doendo! quero ser feliz! quero amar!", ainda assim... ainda assim esse poema não pode expressar a tristeza de verdade que existia por trás. A Mali de 2005 sabia disso. Ela sabia que seu amor era um amálgama incerto de sonho e crueldade, e que eventualmente tudo ia desmoronar com ela embaixo. A pergunta que eu me faço agora é: essa esperança superficial serviu para alguma coisa?

Mas no fundo o que eu preciso saber é: será que eu aprendi a chorar depois disso?

Queria escrever um poema triste
Que fosse resignado como a chuva
E estúpido como um vinho sem uva
Que me desse esperança de sonhar

Poema Triste [22/9/2005]

Eu queria escrever um poema triste
que doesse assim tanto quanto a maldade,
que fosse lúgubre como a saudade
e, como a dor do amor, não redimisse
Para que todos lessem ou ouvissem
e então chorassem, de mágoa ou de dó
ou de lembrança, pra eu não ficar só,
e a desrazão, enfim, me permitissem

Mas as palavras, como a poesia,
por si não trazem dor, pois são vazias,
então jamais terão, em si, tristeza
Por isso esse meu desejo egoísta
vai se calar, ficar fora de vista,
pois ele contraria a natureza

Mas ainda quer ser triste o meu poema
e novamente eu entro num dilema
pois eu mesma não sei me dar certeza

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Acho que o que eu quero dizer aqui, essencialmente, é que escrever não me faz me sentir melhor quando eu estou triste. Os fantasmas que eu descrevo não são receptáculos para os meus sentimentos. Eles sequer podem expressar a minha tristeza.

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Hellblazer - The Devil You Know


E pra alegrar o meu dia eu descubro que o Glenn Fabry também fez Sláine no começo da carreira.

Hell yeah. All falls into place.

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Saudades [1/8/2005]

Não sei se você concorda
Se discorda
Se acorda
e de manhã o mundo sempre é outro
Mas eu sei
e sinto por saber
que hoje
só hoje
agora
eu quero chorar por não te ter
eu sinto saudades, juro que sinto.
Quero um abraço seu.
Quero um doce, um maracujá, um sorvete.
Quero você de volta
quase quero brigar com Deus.

Sem nexo [20/7/2004]

Abro os olhos:
nada vejo
Nada sinto
nada falo
sou um pedaço de corda
môrto, rôto, amordaçado
Calado com ferro ardente
Não tenho boca, mas dente,
dente, ah, eu tenho de sobra
Sou uma loucura indecente
Um desespero fremente
Um nada acorrentado.
Quem irá calar a voz que não consente o tempo,
que se esvai tão vagarosamente...
Nem sempre o canto é uma desforra,
pode ser a hora
pode ser agora
pode ser perfeito mas não tenho nada; ,
Portas fechadas, todas!
Calai as vozes.

Fecho os olhos.

Sou azul por dentro.
Azul porque, se não fosse,
seria qualquer outra coisa.

Cálo-me diante de seu mêdo.

Fecho a janela,
fecho cada fresta,
cada espiadela,
uma cena sinistra,
uma lógica antiética,
antitésica, morfética,
ilógica, sem nexo
sem lexo, sem sexo
Como aliás, todas as coisas
menores.

Morro de sono.
Tua poesia vai
além das minhas saudades...

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Estou me divertindo com esses poemas antigos, escritos com as vozes de baixo do pensamento, as vozes do fundo da cabeça que não estão preocupadas em alinhavar um sentido. Por exemplo, eu não acho que todas as coisas menores sejam morféticas (uau, tirei essa do fundo do baú da tia... hm, qual tia era mesmo?) nem ilógicas, mas podem ser virgens com vocabulário ilimitado, acho que sim. Não sei se isso tem algum significado, acho mesmo que é só poesia bruta.

O que eu gosto é aquele trecho da primeira estrofe - dente, ah, eu tenho de sobra! - e o fim dessa mesma estrofe, que é uma referência rítmica ao poema que eu fiz pro livro do Azem no ginásio (Lua Nova). Aliás,

não faço idéia do que é a última estrofe.

Sem te desfazer [7/4/2005]

Pela estrada
esse caminho longo
que não me diz nada

Os sóis irão se pôr
todos
e ao mesmo tempo
E eu irei aonde fôr
sempre
seguindo o vento

e o vento não vai correr
morrer
não faz mais sentido

E se for para morrer
sofrer
com que objetivo?

E por que então não sofrer?
Sorrir
por que não vencer?

Que gosto tem o prazer?
sentir
Pra quê vens dizer
Que eu tenho gosto de céu
de sol
de mar
sem (cem) ondas pra navegar
seguir
Pra te conquistar?
Pra te alcançar?
Nesse mundo sem rumo
sem mêdo
sem esse mundo
O que você quer
que eu posso te dar
Sem te machucar...
Sem te desfazer?

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Eu dei uma limpada nesse poema, pra dar a ele um pouco mais de independência do tempo e das cirscunstâncias em que ele foi escrito. O que tirei foram uns entre-parênteses, dizendo que o vento ora sopra para o norte, ora para o sul e, afinal, por que morrer, se amamos?

A mali-chan que escreveu esse poema estava sentindo que odiava tudo o que a fazia oensar, porque pensar dói, ou talvez porque pensar é se propôr a procurar uma conclusão entre todas as possibilidades antagônicas de sentido que se pode atribuir a uma observação e de escolhas que se pode fazer. Dá pra perceber que é um poema essencialmente sobre a dificuldade de se tomar decisões?

A propósito, alguém mais tem a sensação de que talvez o verso "por que então não sofrer?" tem um sentido oposto ao que parece? Fiquei muito tentada a mudá-lo para "e então, por que não sofrer?" ou "e por que não não sofrer?"... No final não cheguei a uma conclusão a respeito de qual deles era melhor. Acho que é um ponto fraco desse poema, que poderia ser melhorado se eu não achasse ele meio medíocre de qualquer forma.

Eu também coloquei um ou outro acento diferencial porque a falta de tônica estava me incomodando (e, sim, faz diferença).

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Ser [1/4/2005]

Ser ou não ser?
Não ser um ser
Ser um não ser
Não ser
Entretanto ser um não-ser
É ser
E tudo o que é é um ser.

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Que divagação mais curiosa. Puta análisa semântica de uma construção que só é possível sintaticamente. Paradoxo derivado de definição completa, incoerente.

O Amante da Estrela

Seus olhos encontraram uma estrela
na profunda escuridão do infindo céu.
Aquela estrela brilhava intensamente
ofuscando seus olhos cor de mel...

Seus olhos encontraram uma estrela,
e desta estrela tirou forças para lutar,
para se levantar e vencer seus medos,
para se erguer das sombras de tantos segredos
e permitir que a luz a iluminasse...
A estrela longe no céu, a brilhar...

Seus olhos tão profundos, penetrantes,
a estrela tão distante admiraram
e a estrela respondeu com um sorriso terno,
eterno, etéreo, lúcido, insano e escuro.
Olhos brilhantes que a estrela amaram.

Seu corpo vacilou no azul do espaço,
sua mente despertou de um sono longo,
seu coração bateu num baque fraco.
Mas seus olhos não deixaram sua estrela,
mas seus olhos foram fiéis, apenas eles...
Perderam a cor do mel, e um brilho opaco
marcou para sempre seus olhos escuros, perenes.

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Que poema bizarro. Não tinha nenhuma lembrança dele e o li como se nem fosse meu. acho que eu era muito pouco rigorosa com a pontuação nessa época, e hoje isso me incomoda absurdos!

Changing [17/9/2008]

Sabe, resolvi olhar uma coisa no meu flog e fiquei impressionada com como tem umas coisas legais l[a. E como a galera respondia, mesmo quando as coisas eram uns desabafos náo táo legais! Al[em do mais boa parte do que eu li foi de uma fase bem interessante da minha vida. Bom, náo resisto {a tenta;áo de publicar aqui um poema tirado de l[a1

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I used to be something different,
something made of something else;
My feelings were dealt with differently,
perhaps exquisitly felt;
My dreams developed strangely;
my loves would bizarely melt.
Did anyone rearrange me?
Or did I reshape myself?

I once had a different accent,
wore different clothes and hairs;
And different friends presented me
unique unusual dares;
I had other inspirations,
I performed a different act.
What is it with transformations?
How can I deal with this fact?

This former me, was it good or bad?
This former me, was it joyful or sad?
This present me, is it wise enough
to pay respect to what's buried beneath?

This former me, is it gone for good?
This former me, would it live if it could?
This present me, is it strong enough
to carry the legacy trusted to it?

A mesma hist[oria? [7/4/2005]

Parado.
Os olhos correndo
param
perdem correm voltam
param.
As mão abertas se fecham
as fechadas se abrem
suam
tremem tremem tremem
brincam no ar
o tempo parado corre
passa sem passar
o tempo não existe mais
o tempo, o tempo a mesma história?
o mesmo tempo
o para sempre
o todos nós.
Se somos tão absolutamente iguais
por que é então que havemos de ser diferentes?
Se estamos todos no mesmo barco,
nadamos contra a corrente,
e aí?
Somos todos diferentes.
E nós
em nós
a agonia de ser diferente
igual
a agonia
os passos imóveis
os gritos calados
se somos diferentes, por que é então que buscamos sempre a mesma coisa?
A mesma regra?
A mesma vida?
Se somos diferentes, por que então sofremos igualmente
essa impotência
essa desimportância
essa ignorância
da vida
o que é impossível?

Se n'ao fosse errado [24/7/2004 - 2008 - hoje]

Se não fosse errado, eu bateria palmas,
cantaria os salmos, eu proclamaria
todos os poemas dos quais eu lembrasse.
Se não fosse errado, eu gargalharia,
me contorceria, cairia no chão
rolando da cama de tanta alegria.
Se não fosse errado, eu sairia correndo,
eu subiria as ruas, eu te alcançaria
eu descobriria a cor da tua casa
e a invadiria, e a saquearia,
te faria esp[olio, eu te levaria
a tornar-te meu, eu te aliciaria
a cometer loucurar sem explica;'ao
se não fosse errado, ou talvez mesmo sendo.
Se não fosse errado, eu dançaria livre,
eu andaria nua, dançando nas poças
d’água fria e suja, as alegrias nossas
seriam eternas, seria uma baderna
eternamente lírica e sem discussão,
se não fosse errado, como as coisas são.

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Este poema (do qual eu escolhi mostrar uma vers'ao mais recente) est[a guardado aqui com uma frase, com a qual n'ao sei bem como ele se relaciona:

"É a última palavra que eu digo e, entretanto, é o começo de tudo. Não tenho medo de você. Tenho um desejo, um desejo profundo. Só isso."

Gosto bastante dele. Meu verso favorito [e "se n'ao fosse errado, ou talvez mesmo sendo". Acho que d[a um f"olego de possibilidade, e gosto que isso aconte;a no meio, n'ao no fim, que [e uma conclus'ao sem liberdade.

O Sol [fev.2004]

O sol.
Quem me compra um jardim com flores
Se o sol não lhe chega perto?
As paredes com várias cores
pintadas com a própria vida
se algo falhar, decerto
o sol não desalumia?
E se apaga o calor do dia?

Hoje eu fui à fossa
Tirei dum canto um pau-de-chuva
que eu nunca vi o sol morrer na seca
Eu vi o sol raiar e oa passarinhos cantarem
A janela estava trancada,
a lousa vazia.
Os olhos todos vazios.
Hoje ouvi o horros cantar e as almas chorarem
E os sonhos todos morrerem.
Que bom que os espíritos falam
se o coração cála.

Sozinho [9/3/2005]

Estou só
Inteiramente só
Precisamente só, neste poema silente
neste poente.
A fome, a dor, a pena
não encontram
procuram
a perdição oculta em minhas pequenas mãos
a árvore
a folha
a pedra fria e a minha solidão
Não incomodam
como a dor e a fome
machucam.
o céu azul não adivinha
a grama nascendo
sob meus olhos
o fluxo do sangue
paixão eterna juvenil
meteoritos, explosões de plasma, líbelulas voando infinitamente rápidas e volúveis em sua discrição perene,
uma gota
d'água.

---

Ah, esse é um dos poemas de que eu gosto de verdade! Fiquei muito feliz com a progressão rítmica dele. Além disso, as imagens são muito minhas.

domingo, 21 de novembro de 2010

Solitude Sons (anos 2000)

They say god told us...
The world was ours....
The dream was over...
'Cause now is real...
It's our own force.

There's no desire...
And all is done.
I feel aside, despite
I never won...

No reality...
No will, no love...
It's all for none; they're gone
Who really won...

Is there someone…?
It is so wrong…
Are we alone, so long?
Solitude sons…

---

Fico até meio triste com esse poema. Acho que ainda sinto uma certa agonia quando alguém comemora uma vitória mas... eu não venci nada...

Sombras [11/7/03]

Sombras
São nada menos que luzes
Que morreram
E por morrerem escondem-se
Nas sombras.
Que mito sombrio se oculta
Nos cantos incertos da luz morta?
Que louco ousaria buscar
Nas incertezas do manto
Da luz vestido ao avesso
Um algo qualquer
Pelo qual valeria a pena morrer de corpo e de alma

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Sombras são nada menos que luzes que morreram - oh yeah.

Sonhos (28/02/1999)

Cada sono tem seu sonho
Que se sonham toda hora
Em cada sonho que se sonha
Baseia-se uma nova história

Eu nasci e eu cresci.
Cresci no mundo das nuvens e voei para o mundo dos sonhos.
E toda noite eu vou para o mundo dos sonhos.
Um lugar onde tudo é real e não existe impossível.

Onde você vê o invisível
Onde você ouve o inalditível
Onde você sente o insensível
Onde tudo pode ser possível

E se você deseja o indesejável
Ou você toca o intocável
Se o mundo dos sonhos me ensinou?
O inimaginável me mostrou

Quando o mundo dos sonhos posso ver
Vejo algo que não posso descrever
Se nesse mundo existe ódio, tristeza e dor
Também pode haver felicidade e amor.

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Eu declamei esse poeminha para todos os pais e alunos do primário do Santa uma vez. A razão disso é mais queeu tinha escrito muitos poucos poemas do que qualquer outra. Mas acho que também eu precisava mostrar para todos a minha defesa ao mundo dos sonhos. Sabe, quando eu era pequena (há não tanto tempo assim) meu sonhar acordado era muito reprimido e discriminado. Os garotos da escola me achavam esquisita e meus pais estavam sempre me chamando de louca (mas pelo menos minha mãe não se importa em pagar a conta do psicólogo...). Então eu acho que esse poema tinha um certo valor de manifesto. Aliás acho que tudo o que eu faço é um pouco manifestoso. Nessa época todos os meus poemas estavam atestando veementemente alguma coisa - o valor dos sonhos, meu valor como contadora de histórias, a importância da natureza, a crueldade das queimadas, etc.

Son of Youth

Son of youth
What is there to fear
Sing a song
Make the frightening hear
Make the evil go
Tell him "I am here
And I do not fear you"
Son of youth...

Dream a light
Make your dreams come true
In your eyes
In your soul too
If the nightmare comes
Will it frighten you?
You're not alone in the dark, dear
Son of youth!
(Run not!)
Listen to your own heart, dear
Son of youth...

Stand your ground
Nightmare's just a dream
If you lose this hound
Next time you'll surely win
There is no other way...
Why don't you simply sing?
Sing for there's nobody stronger than
A son of youth...

Son of youth
Is what you fear true?
This's your world
Here you make the rules
Here there're no evil beings
Nobody can fight you
You turn nightmares into dreams, here
Son of youth!
(Run not!)
You make the rules of the ring, here
Son of youth...

Son of youth
You should fright your fears
In the song
They will surely hear
When the evil know

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Outro incompleto. Eu escrevi isso essencialmente pra dizer que a pessoa que sonha sempre pode usar seus poderes para transformar pesadelos em sonhos bons.

sábado, 20 de novembro de 2010

Patadas Tapadas

Entre patadas tapadas
e muitas risadas
e muita desilusão
Passos alucinados
e sapos guardados
no fundo de velho caixão

Como, como, como, como dizer... não?
Como, como, como, como dizer...
Que tudo foi em vão?

Tapas de patas marcadas
de garras e dentes
e presas, latentes
de sabres luzentes
de firme marfim

[20/8/02]
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canção obviamente incompleta.

O Sinal da Primavera (jun-jul/99)

Se o jardim florescer
Posso te prometer,
Neste azul tão profundo,
Quero ver o sol nascer!

E se o céu clarear,
Ou se o dia raiar,
E se o tempo esquentar,
Eu quero agradecer.

O sol está brilhando,
Primavera chegando,
Mas tem o mês de julho
para ela chegar.

O azul mais profundo,
Forte claro e bonito
Que em todo este mundo!
De alegre dou um grito!

Mas é frio no outro dia!
É um fio de esperança
Que o mundo nos manda,
A manhã de alegria.

Nem céu



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ok, essa canção veio pra provar que eu já gostava muito de sol com 11 anos de idade

Templo [set/2004]

Eu ergui um templo pra você.
Para aquela sua lágrima salgada
Para aquela sua vida ali roubada
Como eu espero sempre que não seja.

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Eu desenhei um templo em volta da lágrima do Yuri, é verdade (você lembra?). Acho que quando eu cheguei no terceiro verso eu me dei conta de que "vida roubada" é uma referência a morte. Que vergonha!

Tempo (fev/2001 - agenda)

Tempo, tempo, infinito,
Tempo, tão bonito,
Tempo assim de ser.

Tempo, tempo, chuva, vento,
Vem-me o pensamento,
É tempo, de viver! (vencer)

Tempo, tempo, verde, lindo,
Tempo, resumindo,
Tempo de cantar.

Tempo, tempo, tenebroso,
Tempo, furioso,
É tempo, de lutar! (sonhar)

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Nossa, eu lembro muito nitidamente (guardadas as proporções) de cantar/escrever essa canção. Eu curto o verso ", tempo, resumindo". Acho divertido. As frase entre parênteses são para serem cantadas na segunda vez.

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Apaixonada [15/9/2004]

Eu me ofereço, nua, a quem me fira.
Dou a cara pra bater, e aí encontro
quem no meu peito quente a faca insira
Rompendo o sangue a carne a própria vida.
Um olhar verde que me olha - e mata
E dou-te meu sangue, minhas lágrimas
E tudo o mais que em mim seja qual água
Toda a minha beleza e minha mágoa
Por este corpo escorre, sem tocar-te
Para não macular tua pureza
E esquecer as lágrimas que são tuas
É como estar num mundo de almas nuas
Nesse olhar verde vejo tua incerteza
Mas quem és tu? Que insiste nesse verde?
Sou eu apenas parte do teu mundo
E tu és mais que um terço do meu peito
Somente em teu olhar eu me deleito
E perco-me por esse amor sem fundo

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Esse negócio de paixão adolescente é complicado. No meu arquivo este poema está identificado como "tua". Apaixonar-se é um pouco passar a acreditar que o amor de uma pessoa é razão de viver. Não é, na verdade. Nem naquela época era, eu acho, acho que eu só queria muito me entregar a essa paixão. Um ano depois eu já me afligia com a possibilidade de nunca me desapaixonar! Que situação ridícula. Acho que podiam fazer um filme sobre o meu colegial, que incrível é pensar que talvez muita gente tenha trechos da vida que dariam filmes! Mas... não sei, talvez ainda reste um pouco desse sentimento meio ingênuo em mim, debaixo da pele de lobo. Talvez. É difícil dizer porque eu sofro muito menos, ao muitos menos passivamente, hoje em dia.

Mais um sobre a passagem do tempo [16/7/2004]

Tudo pára.
Tudo córre.
Tudo sófre,
Tudo cála.
Tudo ampára,
Tudo morre.
Sempre pára.
Rareia, corróe, dara.
Qualquer coisa que se sonhara.

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Acho que este é um poema otimista. Se pá em 2004 eu achava bom que tudo fosse efêmero. Hoje eu não escreveria isto, nem o Vai e Volta. A passagem do tempo me incomoda, tanto quanto a estagnação. Talvez eu esteja me sentindo velha, achando que como meus planos vão não vai dar tempo de fazer o que eu quero. Um dia ainda vou fugir dessas concepções.

E a chuva [25/9/2005]

Uma coisa qualquer que me move além das estrelas
me carrega para além do mundo e do seu olhar
Não vejo nada, mas sei que se pudesse vê-lo
eu não o amaria menos, nem mais, do que sei amar

Uma coisa qualquer me carrega, me tira do mundo
eu apenas escorrego nestas gotas de luar
Se é lembrança, saudade, presença, distanciamento
não temo nada, nem devo - hei de andar e andar

Uma coisa qualquer me consome, muda meu intento
eu não falo nada, eu deixo ela vir me levar
são nuvens e estrelas, dragões e sereias, e a chuva
lá fora tão doce, no escuro, ela cai sem parar

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Eu gosto de poemas que falam por si mesmos. Este foi publicado aqui?

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Unânime Erro [3/6/2004]

As portas se fecham
Segredos se lacram
Verdades se sacram
Um coração flecham

O sangue que escorre
manchando o chão frio
percorre um vazio
no peito que morre

Os livros já falam
de tempos felizes
e gritos terríveis
no peito se calam

As vozes se unem
unânime erro
marcado com ferro
nas vidas que ruem.

Mais um [26/11/2005]

1 2 3

um, dois, três
um dois três
um
dois
três
1. 2. 3.

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Esse poema é infernal de diagramar corretamente ¬¬
Acho que a idéia básica é estudar o ritmo.

Ser [1/4/2005]

Ser ou não ser?
Não ser um ser
Ser um não ser
Não ser
Entretanto ser um não ser
É ser
E tudo o que é é um ser.

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Mais um poema construtivista. Super não me identifico com a pessoa que escreveu essa coisa, embora eu saiba como deve ter sido importante pra minha formação. Já passei dessa fase.

Unfair [29/8/2006]

This is so unfair
You just standing there
Asking me to tell you you could have done it better
And blaming yourself
This is so unfair
You waiting for me
And expecting me to say how my life now is better
When I'm lost in Hell

Babe haven't you noticed I am unreachble?
Babe, I'm way out of reach when I'm in my Hell...

[29/8/2006 - qquercoisa - urso de pelúcia]

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Sem comentários pra esse. É um fragmento.

Poemas

Estou meio frustrada de não ter conseguido publicar nos últimos dias. Achei que ia render mais. Agora estou escrevendo do trabalho porque tem pouquíssimo trabalho para fazer.

Ontem tentei escrever um poema e não deu muito certo. Mas vou continuar tentando.

Outra coisa que me ocorreu ontem: os gráficos de Avatar já estão começando a me parecer velhos e toscos. Talvez ele só funcione em 3D.

Uns pés [12/8/2005]

Uns pés na estrada
Uns meninos
Umas folhas ao vento
Uma floresta
Um veleiro no lago - vários destinos
Numa caverna escura, uma fresta
para uma nesga de luz.

Tocam o chão as folhas
e através do tempo
A mão que me conduz
que transcende o momento
persiste em movimento
perde o meu rumo - e o seu.

Perdidos em nós mesmos
nós procuramos
Confiando em nossos pés
nos arrumamos
Se nós lutamos pelo mundo inteiro
nosso norte é o céu.

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Esse poema na verdade foi composto para abrir um livro do Krystalian do Charles. Acho que o Charles tem uma relação com seus livros que é meio parecida com a que eu tenho com os meus. Ou tinha. Ou tínhamos, não sei. Tive que mudar a diagramação porque o blogger não entende indentação e eu não sei como resolver isso. Acho que perde muito, mas fazer o quê. (se pá eu devia postar uma imagem com o poema?)

Eu gosto bastante deste poema, mas acho que ele deve fazer mais sentido combinado com o livro, do qual lembro muito pouco. No mais, vocês que me expliquem.

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Ciclo [dez/2002]

Vai e Volta.
(não pára, não fica)
Vai e Volta.
(a noite, o dia)
Vai e Volta.
(a água, o carbono)
Vai e Volta.
(a fome, o sono)
Vai e Volta.
(o sangue, as lágrimas)
Vai e Volta.
(ainda bem)

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Isso deve ser da época em que eu ficava à toa à tarde no colégio e pra passar o tempo escrevia poesia nuns arquivos de texto no CEI (eu adorava ter esse tempo livre, e acho que minha escrita se beneficiou muito disso). Meio curioso, bem impessoal esse poema, fora a referência a sangue e lágrimas, díade que foi uma obsessão pessoal na época do ginásio.

Putz

Alguma hora eu tenho que te pedir desculpas também.

É, eu sei, você nunca me pediu desculpas, mas é justamente por isso que eu preciso me desculpar. Se você tivesse pedido, se você tivesse entendido estaria tudo bem, mas você provavelmente nem sabe do que eu estou falando. É isso, você me amou tanto, você se abriu pra mim, você chorou no meu colo e eu não entendi. Você achava que tudo estava bem de novo e eu, bem, eu, eu tive tanta raiva de você por isso, mas que raiva eu tenho direito de ter, que raiva eu tenho que guardar agora, agora que eu posso olhar pra trás, tentando, tentando. Você confiou em mim, e eu muito tempo antes deixei de confiar em você. Você me contou quando não queria mais me ver, quando não sabia mais se gostava de estar comigo; eu... tentei contar. Tentei contar? E tão cedo assumi que você nunca me ouviria. E tão cedo concluí que a única solução era me afastar de você, apesar de toda a dor que sabia que isso nos traria. Putz. E era verdade, até, a gente passou do prazo, não tinha mais muito jeito, mas podia ter sido melhor, podia ter sido melhor. Eu podia ter tentado falar com você, falar a verdade, toda ela, até as partes ruins. E agora, meu, tem tanta coisa entre nós tão, tão.

Passou muito tempo, sabe; durante todo esse tempo eu culpei você. Por tudo. De uma forma injusta até. Agora, relendo cartas antigas, acho que eu entendo. Eu entendo. Não foi só você que não me entendeu: eu também não me deixei entender.

Putz; se a gente tivesse conversado, quem sabe a gente tivesse continuado amigos! Quem sabe tudo tivesse dado muito mais certo. Acho que eu me sinto mal por isso agora. Desculpa.

Venha ver o pôr do sol [5/5/2005]

Venha ver o pôr do sol, meu amor,
calar a voz dos tempos esquecidos.
E unir num laço atemporal, sem calor,
nossos corações amortecidos.
Vem com passos ternos, meu amor,
irei te conduzindo com ternura
que esse seu castelo é minha dor
e esse amor é nossa sepultura.

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Esse poema é inspirado num conto no qual o ex-namorado ciumento leva a garota pra ver uma cripta e no final a prende lá dentro. O conto chama Venha Ver o Pôr do Sol, não me lembro o autor, mas posso encontrar mais tarde. Acho que preciso procurar o texto inspirador pra mostrar qual a relação que se estabelece entre os dois. Quem fez Santa talvez se lembre.

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Você [13/1/2008]

Você
Me pergunta às vezes onde tenho me escondido
Você me oferece abrigo
Você me propõe dizer...
Ai, eu não digo a pergunta com que tem me agredido
Você ainda é meu amigo
Mas tem muito o que aprender, digo
Você
Me pergunta às vezes coisas que eu já revelara
Você quer que eu mostre a cara
Você quer que eu deixe ver...
Ai, eu mostro o mundo inteiro! Já não dá pra ser mais clara
Você ainda assim não pára
Você tem muito a aprender, digo
Você
Me pergunta às vezes coisas que eu também não sei
Você quer ser o meu rei
Você quer me conhecer...
Ai, é só você me entender, e então me revelarei
Mas nada mais lhe direi
Você é que tem que aprender, digo...
Você...

[13/1/2008 -qquercoisa - porta entreaberta na panema]

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Este é um dos poemas publicados no meu flog. Eu poderia procurar essa imagem da porta entreaberta pra colocar junto mas mó preguiça.

Eu não consigo me lembrar qual o contexto desse poema no mundo real, o que me incomoda. Fuço meus arquivos e fica cada vez mais difícil, não há nenhuma redundância, como isso me confunde! Eu imagino que eu esteja me dirigindo ao meu namorado. Mas enfim, noto como esse sentimento de "você precisa me entender melhor antes de querer ter qualquer prerrogativa" permanece. Com que freqüência eu me irrito com um rapaz só porque ele me entendeu tudo errado? Sim, eu sou uma lumlher clássica, aquela que é meio-esfinge, que diz, decifra-me para que eu te devore. Me peça pra cantar essa canção, é bonitinha. (rever coisas desse pedacinho de época (dez/2007-jan/2008) me fez ver muita coisa com outros olhos.)

Canção de Guerra

É preciso alegria pra sorrir
É preciso tristeza pra chorar
A espada de prata há de luzir
Não sobrou-me coragem de voltar

Em um sonho sombrio ei de lutar
E as luzes da vida, iluminar
Mas há muitas batalhas pela frente
Vou seguindo o curso da corrente

Nas correntes das trevas
Aprisionaram a luz
Mas nas batalhas eternas
Uma espada reluz

É preciso energia pra lutar
É preciso coragem pra vencer
Neste sonho sombrio vamos cantar
Medos e tristezas, por hora esquecer

Vamos sempre pra frente em missão
Atacarmos de frente o inimigo
Uniremos a mente ao coração
Pra vencer com coragem os perigos

Nas correntes das trevas
Aprisionaram a luz
Mas nas batalhas eternas
Uma espada reluz

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Esquisitamente esse poema não tem datação. Talvez eu consiga encontrar o manuscrito dele e dar uma datação mais precisa, mas ele deve ser do começo dos anos 2000. Note que "a espada há de luzir" é um trecho do poema sobre a espada de Isildur, o que prova que eu tinha lido Senhor dos Anéis (sim, é assim que eu dato meus escritos). Eu acho que era pra ser uma canção, mas não tem realmente uma melodia. Estranho.

Vou publicar o que está no meu arquivo atualmente em ordem alfabética reversa. Nenhum motivo específico pra ser reversa, mas achei que era a melhor ordem pra misturar os poemas e não ficar chato. Resolvi manter os erros de ortografia, só pelo sabor da passagem do tempo.

Poesias

Então eu me inscrevi, não sei bem porque, naquele concurso de poesia de clube do escritor para o qual recebo o convite todo ano.

E aí pensei, bom, quais poesias eu devo enviar? Não faço idéia.
Talvez eu pudesse pedir ajuda para o pessoal que lê o meu blog, que conhece minha poesia. Pedir uma votação ou algo assim. Um rating.

Fiquei meio impressionada com quão poucos dos meus poemas estão aqui, então resolvi que nos próximos dias vou tentar publicar mais alguns. Eu devia publicar mais uns cem, mas acho que não terei essa paciência. Depois posso pedir a ajuda de vocês pra selecionar os melhores?

Ou será que eu devia imprimir todos e fazer uma pesquisa pessoal?

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Tudo

Esses dias eu estava pensando naquela pergunta que as pessoas às vezes fazem, indignadas, como assim vocês não sabem há quanto tempo estão namorando?! e eu me pergunto, bom, é que é complicado, você quer que eu comece a contar a partir de quando? Eu estava pensando em que data a gente poderia querer comemorar. O primeiro beijo? Ou o primeiro encontro, o primeiro xaveco? O primeiro karaokê? A primeira vez que você quis me jogar na parede; a primeira vez que eu quis te fincar minhas presas? A primeira cheirada, a primeira mordida, o primeiro roçar de lábios, a primeira transa? Ou devemos contar a partir do primeiro olhar mais duradouro? Ou a partir da primeira confissão de amor; ou do primeiro pedido? Ou da primeira vez que dormi na sua casa, ou ainda a primeira vez em que nos beijamos em público? Ou a primeira vez em que você veio aqui? Ou do dia em que eu finalmente admiti que queria ser sua namorada?... Acho que entre umas e outras dessas datas se passaram meses. Por isso sempre me parece mais simples chutar um período ou outro, e aliás não façam contas, eu não as faço de modo geral. Mas esses dias eu estava pensando em todas essas coisas, e em como dizem que faz bem ter um ritual, uma data para comemorar, e embora me pareça que poderíamos comemorar todas, se eu tivesse que escolher uma acho que eu escolheria aquele dia em que deixamos a vida de lado e fomos ver o mar. Sim, eu escolheria a primeira vez em que nós realizamos um sonho juntos, o dia em que você me fez mudar minha vida. Parece uma boa data.

Do som que sai dos teus lábios

texto: Marina Salles
ilustração: Márcio Zamboni
música: Carl Orff


Então eu abro os olhos e meus olhos se enchem de música. Aí está você: nesse som, nesse verde que enche meus olhos quando eu vejo a paz que me invade quando eu ouço esta melodia, estas vozes. Neste momento, eu te amo. Neste momento eu sou o que eu quero, um cavaleiro voando sobre os campos, nada me pára, nada me contém, há coisas que eu salto e há coisas sob as quais me abaixo, mas nada se interpõe à minha vista do céu, porque neste momento eu sou livre, e neste momento eu alcanço o que você quis me dar. Eu alço vôo e o mundo é realmente tão grande!, como você disse... Uma guerra uma poesia se desenrola debaixo de mim. E de repente há silêncio. Acabou uma música.
Você concordou que dizer eu-te-amo era muito complicado e eu tive que me explicar: o que estou dizendo é: (eu te amo é:)


É que você chegou a mim
E num instante você viveu em mim
E sem perceber você entendeu uma parte de mim
Você estendeu a mim a sua chama
Você alegrou meu coração e mudou minha vida
E agora...
E agora eu te dou um passe
Para que entre e saia livremente dessa terra
Um passe-livre por meu coração.


E agora é esta a paisagem dentro de mim: há tapetes vermelhos dentro de um castelo, uma fortaleza, que assoma no topo de uma encosta, eu eu sou o pássaro que circunda a torre mais alta, e eu sou o homem que entra com passos pesados na sala do trono. Tudo é um sonho e tudo se desfaz. A música muda e as faces dos homens mudam. Tudo é energia, um tambor que bate regendo o coração dos homens. E eu estou aqui, eu sou as paredes e os cascos dos navios, eu sou o couro dos tambores, eu estou aqui tentando sentir e entender, procurando a resposta, procurando através dessa música, procurando a lembrança do som que saiu dos teus lábios. Eu procuro (e eu sei que é em vão) o som da tua voz através das trombetas, o som da tua voz cantando pra mim, a lembrança de você olhando nos meus olhos. Tudo é tão suave, e tão pesado, e entretanto de repente eu sou uma pomba, eu vôo sem destino, meus olhos são lágrimas, minha boca é um gosto passado, eu sou um anjo perdido procurando a resposta, procurando o sentido do som que saiu dos teus lábios.


Quem eu sou? Você me pergunta e eu sou a sua pergunta. Mas agora não importa. Quando sair de mim, deixe aberta a porta -- há muito lá fora que eu quero convidar a entrar; há muito no mundo que eu quero habitar, mas que também quero que me habite. Eu devo ser a terra e o viajante (eu devo ser a estrada e o violeiro) e eu devo ser a fonte e o sedento, e eu quero ser bem boi como berrante. Me guia e eu te guio! Eu sou o céu e a estrela. Eu não ouço as palavras desta música, mas pra mim é como o céu cantando, eu ouço a voz dos astros e eu flutuo entre eles. E eu ouço a voz da vala das estrelas. E eu lembro da sua história, e eu tento imaginar a beleza -- como será acenderem-se as estrelas?


Então as estrelas disparam e o mundo vira uma torrente uma avalanche, eu páro no meio da música, olho ao redor, suspiro, respiro fundo e me pergunto: onde estou? Esta é a minha casa, hoje é dia das mães. Mas não significa nada. Minha alma não entende nada de casas e calendários. E eu não entendo nada de música. Eu sou um joguete nas mãos dessa melodia. Finalmente eu lembro da tua voz, a tua voz cantando, a tua voz dizendo declamando com tom grave a thousand kisses deep. Mas eu devo te ouvir, cada canção, cada palavra, e enxergar cada emoção que teu olhar transparece. Eu rio. Porque te leio tão fácil e mesmo assim desconheço. Quem você é? Eu pergunto e eu sou a minha pergunta. Mas só por muito pouco tempo. Num instante eu pisco como uma estrela e eu sou outra coisa, eu sou uma outra vida. Minha alma é uma coisa dispersa, um vento, uma torrente que se divide e volta a se unir. Eu rio, porque eu sou leve agora. Agora eu não posso te ouvir, mas sei o que você fala. Porque através dessa música é você que fala, e é você no meio do mundo de vozes que é o universo. Eu ouço tudo, mas muito pouco eu entendo. E como quero entender! Por isso continuo buscando, eu estou buscando a pergunta, e eu busco todas as coisas através das vozes de todas as bocas.


E como a tua boca me morde, eu enxergo no clarão da dor o grito de todas as coisas. A tua voz nem existe agora, só existe esse terror, esse rosnado. Meu coração dispara e meu sangue urra, no fogo do teu veneno e na explosão dum sors salutis -- e de repente minha alma é fogo, meu mundo é fera, meu sangue é fúria e eu devoro o mundo e nada mais é anjo nada mais é água nada mais é calmaria porque tudo é pura loucura! Eu me levanto contra o frio da noite eu sou o Sol, invicto e irremovível, iluminando e queimando as retinas de todas as coisas eu sou a Luz cuspida de teus lábios eu sou o teu sangue e meu peito cresce num rosnado-desejo que fagocita o mundo e num instante eu sou completamente um tudo demoníaco -- e então minha alma voa.



Do alto do vôo da minha alma eu estou ouvindo palmas, e isso quer dizer que a música acabou. Mas eu me sinto leve, a música me liberta, eu fecho os olhos e a noite me carrega para onde eu quero estar, onde a música é nectar, onde a tua voz existe dentro de mim, no ímpeto de um raio e na candura de uma vela. Eu abro os olhos e você está me olhando, mas já não são olhos de fera. Então eu abro os olhos e estou aqui novamente, e eu estou sozinha.


Eu apoio o rosto nas mãos, e meus olhos são lágrimas, e meu coração ressona e tudo é silêncio através dos pequenos barulhos do dia. Eu caio em mim. Eu olho para o céu, e eu estou buscando a pergunta que eu sei que não existe, e eu queria ser o ar para poder me encher desses sons que saem de todos os lábios

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Daquele texto de carmina burana

Eu sei que todo mundo que lê meu blog também no mínimo faz uns passeios pelo Peçanha, mas mesmo assim achei que era uma boa idéia publicar aqui mesmo a seqüência de ilustrações que ele fez inspirando-se num texto meu; sabe, boa educação. Ele está publicando essa série há um bom tempo, e inclusive no começo ele insistiu bastante para que eu fosse publicando os desenhos no meu blog, não sei precisar exatamente por quê, mas eu fui não fazendo isso em parte por preguiça, em parte por distração, em parte porque sendo ou não autora do texto-inspiração no fundo eu tenho tanto a dizer sobre os desenho quanto qualquer pessoa com poucas opiniões sobre objetos de arte. Não é que eu não tenha comentado, eu gostei dessa parte, achei essa outra meio estranha, mas como o Márcio disse a ilustração é um diálogo e o discurso dele, perto ou longe das minhas metáforas, ainda é uma coisa que não me sabe naturalmente. Eu percebo que as imagens dele não estão extamente tentando representar o que minhas palavras dizem, e sim fazendo um comentário, ou explorando uma sensação ou um pensamento que surgiram nele quando ele leu essas palavras; é difícil ler algo que faz referência a uma imagem que você conhece bem, mas através de lentes que não são simples nem tão conhecidas assim. Também tem o fato de que é muito difćil compreender elementos isolados do conjunto. Com o passar dos quadros fui começando a criar uma vaga compreensão de como é uma linha, uma mancha.



Mas eu ainda não entendo, por exemplo, o que é essa capa?! Quer dizer, é claro que as cores estão certas, mas o que significa essa tipografia, que não tem nada a ver com nada? Essa coisa microondulante, desestruturada, que me faz pensar em amebas dançando? Não consigo entender o que levou o Peçanha a fazer essa entrada, depois de todas as suas mulheres meio deusas, etc.

Do som que sai dos teus lábios
(Carmina Burana, Carl Orff)


Então eu abro os olhos e meus olhos se enchem de música. Aí está você: nesse som, nesse verde que enche meus olhos quando eu vejo a paz que me invade quando eu ouço esta melodia, estas vozes. Neste momento, eu te amo. Neste momento eu sou o que eu quero, um cavaleiro voando sobre os campos, nada me pára, nada me contém, há coisas que eu salto e há coisas sob as quais me abaixo, mas nada se interpõe à minha vista do céu, porque neste momento eu sou livre, e neste momento eu alcanço o que você quis me dar. Eu alço vôo e o mundo é realmente tão grande!, como você disse... Uma guerra uma poesia se desenrola debaixo de mim. E de repente há silêncio. Acabou uma música.
Você concordou que dizer eu-te-amo era muito complicado e eu tive que me explicar: o que estou dizendo é: (eu te amo é:)


Quando eu vi esse desenho, a princípio eu fiquei bestificada com a compreensão súbita de que todas as minhas imagens extremamente orgânicas e naturais, extraídas de lembranças de praias, montanhas, histórias de cavaleiros e noites íntimas em lugares selvagens iam ser comentadas por texturas geométricas que não remetem ao toque, formas planas sem efeitos de luz, sem o claro-escuro das emoções sublimes de leveza e liberdade, e corpos de porcelana, sem a brutalidade pitoresca das lembranças que criaram tudo aquilo. E no entanto eu vejo como essas coisas estão apenas na minha mente, e como a ilustração de fato se relaciona com o texto.
Esse parágrafo na verdade era pra falar de liberdade, aquela ânsia de correr pelo mundo que nos torna incansáveis. A liberdade é o melhor presente que alguém pode dar, seja na forma de uma viagem, de um pensamento ou de uma música. Eu estava falando sobre a fúria de chegar a todos os lugares e viver todas as emoções, sobre não ter limites e ver todas as coisas do mundo (por isso é pitoresco, e complexo). Por isso também, eu tive dificuldade em entender o desenhom que me parecia tão leve, talvez até pacífico, e estático. No entento, ainda estamos falando da mesma coisa: a mulher flutua sobre o mundo e o pega nas mãos, completa e livre. São só visões tão completamente diferentes.
É que você chegou a mim
E num instante você viveu em mim
E sem perceber você entendeu uma parte de mim
Você estendeu a mim a sua chama
Você alegrou meu coração e mudou minha vida
E agora...
E agora eu te dou um passe
Para que entre e saia livremente dessa terra
Um passe-livre por meu coração.


E esta por outro lado, quando eu vi fiquei completamente encantada. Ela tem tudo o que faltava na outra (fora cores) - é detalhista, complexa, orgânica, intimista. Essa é a única que me dá a sensação de estar confessando o poema, de estar falando conosco. Ainda me estranha a delicadeza dos traços, das formas, porque eu leio meu texto sentindo todas as vísceras e é tão esquisito não ver nada disso, mas eu vejo muitas coisas que estão lá só pra mim, e eu sinto que este desenho é Amor, incontestavelmente. Ele grita amor. É curioso porque essa parte do texto não falava exatamente de amor a princípio, ele falava de como é desnecessário entender o amor como amor, mas lendo agora é difícil evitar sentir isso que o desenho transborda, essa majestade meio fantástica de mulher livre e amorosa. Acho que parte da minha surpresa é que eu escrevi o texto de uma perspectiva intimamente infantil.
E agora é esta a paisagem dentro de mim: há tapetes vermelhos dentro de um castelo, uma fortaleza, que assoma no topo de uma encosta, eu eu sou o pássaro que circunda a torre mais alta, e eu sou o homem que entra com passos pesados na sala do trono. Tudo é um sonho e tudo se desfaz. A música muda e as faces dos homens mudam. Tudo é energia, um tambor que bate regendo o coração dos homens. E eu estou aqui, eu sou as paredes e os cascos dos navios, eu sou o couro dos tambores, eu estou aqui tentando sentir e entender, procurando a resposta, procurando através dessa música, procurando a lembrança do som que saiu dos teus lábios. Eu procuro (e eu sei que é em vão) o som da tua voz através das trombetas, o som da tua voz cantando pra mim, a lembrança de você olhando nos meus olhos. Tudo é tão suave, e tão pesado, e entretanto de repente eu sou uma pomba, eu vôo sem destino, meus olhos são lágrimas, minha boca é um gosto passado, eu sou um anjo perdido procurando a resposta, procurando o sentido do som que saiu dos teus lábios.

Eu preciso fazer um comentário antes do desenho (não que faça diferença, porque todos vocês já viram). Para mim, as imagens são importantes. As imagens dão contexto às idéias, cercam-nas de implicações, motivos e sabores. Esta era a parte que falava da majestade, dos sentimentos estruturados, de olhar nos olhos, de ficar frente a frente, de lugar, de presença, e principalmente de busca, de aflição em meio ao caos e à incompreensão.


Eu adoro essas ondas que remetem à xilogravura japonesa, e as colunas. Me parece que o Márcio povoou um cenário que poderia ser o mesmo que o meu com sentimentos praticamente opostos aos meus. Eu acho que esse desenho combina com o começo do próximo parágrafo,
Quem eu sou? Você me pergunta e eu sou a sua pergunta. Mas agora não importa. Quando sair de mim, deixe aberta a porta -- há muito lá fora que eu quero convidar a entrar; há muito no mundo que eu quero habitar, mas que também quero que me habite.

que é mais confiante e tem mais pés no chão. Muito me intriga que nos parágrafos de desespero as mulheres ainda estejam de pé, dominando (sempre tenho a sensação de que a onda é vassala dessa mulher), seduzindo, convidando. Ela parece tão segura de si, não parece estar desesperada por respostas. E há tantas formas de interpretar isso (a começar pela possibilidade dela não estar fazendo o papel do eu-lírico), mas a que mais me interessa é que - bom, talvez as pessoas em geral sejam assim magnas por fora.
Eu devo ser a terra e o viajante (eu devo ser a estrada e o violeiro) e eu devo ser a fonte e o sedento, e eu quero ser bem boi como berrante. Me guia e eu te guio! Eu sou o céu e a estrela. Eu não ouço as palavras desta música, mas pra mim é como o céu cantando, eu ouço a voz dos astros e eu flutuo entre eles. E eu ouço a voz da vala das estrelas. E eu lembro da sua história, e eu tento imaginar a beleza -- como será acenderem-se as estrelas?



Ah, eu gosto desse desenho porque me parece que elas estão criando o mundo, um pouco como aquela velha dos ossos da lenda que canta o lobo. Aliás quando eu disse vala das estrelar eu estava falando de Varda, mas não tive a manha de fazer uma citação mais direta (o que que eu ganho mesmo por citar o Valaquenta?). A propósito os valar também criam o mundo com suas vozes. Mas não sei por que a galinha alada e o polvo, eles têm algum significado especial? Eu só acho muito bonito. É uma coisa de criar a si mesmo também.
Então as estrelas disparam e o mundo vira uma torrente uma avalanche, eu páro no meio da música, olho ao redor, suspiro, respiro fundo e me pergunto: onde estou? Esta é a minha casa, hoje é dia das mães. Mas não significa nada. Minha alma não entende nada de casas e calendários. E eu não entendo nada de música. Eu sou um joguete nas mãos dessa melodia. Finalmente eu lembro da tua voz, a tua voz cantando, a tua voz dizendo declamando com tom grave a thousand kisses deep. Mas eu devo te ouvir, cada canção, cada palavra, e enxergar cada emoção que teu olhar transparece. Eu rio. Porque te leio tão fácil e mesmo assim desconheço. Quem você é? Eu pergunto e eu sou a minha pergunta. Mas só por muito pouco tempo. Num instante eu pisco como uma estrela e eu sou outra coisa, eu sou uma outra vida. Minha alma é uma coisa dispersa, um vento, uma torrente que se divide e volta a se unir. Eu rio, porque eu sou leve agora. Agora eu não posso te ouvir, mas sei o que você fala. Porque através dessa música é você que fala, e é você no meio do mundo de vozes que é o universo. Eu ouço tudo, mas muito pouco eu entendo. E como quero entender! Por isso continuo buscando, eu estou buscando a pergunta, e eu busco todas as coisas através das vozes de todas as bocas.



Ok, eu adoro esse desenho. Eu adoro tudo nele. Eu adoro a expressão pensativa da mulher, eu adoro a cidade, e o fato de que ela não está nem quer estar nela, e sim numa espécie de mundo próprio, num barco, que sempre me remete a flutuar, sonhar, explorar outros mundos e se libertar; eu adoro esse sol que existe nos dois mundos, esse sol de véu que acaba ficando meio personagem, meio mágico também. Aliás eu acho esse sol particularmente simpático. De verdade, eu preciso enquadrar esse desenho e pôr na parede. Eu também acho que ele transmite uma serenidade muito parecida com a do texto. O que me intriga um pouco porque os anteriores foram tão contrastantes.
E como a tua boca me morde, eu enxergo no clarão da dor o grito de todas as coisas. A tua voz nem existe agora, só existe esse terror, esse rosnado. Meu coração dispara e meu sangue urra, no fogo do teu veneno e na explosão dum sors salutis -- e de repente minha alma é fogo, meu mundo é fera, meu sangue é fúria e eu devoro o mundo e nada mais é anjo nada mais é água nada mais é calmaria porque tudo é pura loucura! Eu me levanto contra o frio da noite eu sou o Sol, invicto e irremovível, iluminando e queimando as retinas de todas as coisas eu sou a Luz cuspida de teus lábios eu sou o teu sangue e meu peito cresce num rosnado-desejo que fagocita o mundo e num instante eu sou completamente um tudo demoníaco -- e então minha alma voa.



Eu tenho que dizer: para mim essa é a parte mais importante da Carmina Burana, é o clímax do texto, e é a parte que fala das coisas mais reais que esse texto discute. Acho legal comparar a O Fortuna com esse trecho com o desenho: fortuna, fera, deusa. Não sei se essa ordem é necessária ou se dá para passar direto da fortuna para a deusa. A fortuna na verdade diz que tudo é passageiro e que tudo o que se levanta um dia cai, e a liberdade que cria a fera se levanta além e ao redor disso, ignorando a possibilidade da morte, vivendo intensamente o ápice da vida e da glória e em seguida a liberdade de se desprender de tudo. Não existe melhor ou pior. Da mesma forma não exite melhor ou pior na imagem da deusa, só uma espécie de perenidade momentantânea do poder (porque essa imagem parece prestes a se desfazer, apesar da sua imponência). Acho que tudo é a mesma coisa aqui, o final glorioso da última música, a ascensão da fera, a divindade -- e tudo se desfaz imediatamente, no silêncio, no vôo, na volta ao corpo físico e à realidade mortal e humana.


Do alto do vôo da minha alma eu estou ouvindo palmas, e isso quer dizer que a música acabou. Mas eu me sinto leve, a música me liberta, eu fecho os olhos e a noite me carrega para onde eu quero estar, onde a música é nectar, onde a tua voz existe dentro de mim, no ímpeto de um raio e na candura de uma vela. Eu abro os olhos e você está me olhando, mas já não são olhos de fera. Então eu abro os olhos e estou aqui novamente, e eu estou sozinha.

Eu apoio o rosto nas mãos, e meus olhos são lágrimas, e meu coração ressona e tudo é silêncio através dos pequenos barulhos do dia. Eu caio em mim. Eu olho para o céu, e eu estou buscando a pergunta que eu sei que não existe, e eu queria ser o ar para poder me encher desses sons que saem de todos os lábios


Eu goste deste final. Para mim os finais muito emocionantes são todos assim: passa-se do êxtase à leveza ao vazio. Cai-se da tranqüilidade sonhadora à tranqüilidade vazia. Mas ainda é uma tranqüilidade, embora triste. Ainda é paz. E aqui é a paz de querer algo e saber que é impossível, de perguntar sabendo que não haverá resposta. Essa parte, de volta a si, é a parte mais incorpórea da experiência: quando as palmas já não fazem sentido, nada se sente, porque se desaprendeu a sentir com o corpo, agora tudo é espírito. Já a ilustração me parece ver principalmente a coisa corpórea. Acho que é um momento estranho pra começar a representar literalmente as imagens, agora que a ação e a emoção estão particularmente desconectadas.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Dom.

Acho que eu nunca amei ninguém como eu amo você.

Eu sei que eu sempre penso isso, toda vez que eu me apaixono, mas hoje eu estou me perguntando, será que isso não é verdade toda vez? E eu sei que o amor não deveria ser mais importante que tudo o mais somado, mas você vem e desemaranha todos os meus mêdos e me faz ver mais claramente o quanto eu estou me deixando enganar sem fazer perguntas, e nesse sentido você me faz mais livre, se não mais forte, toda vez. O capítulo da Coragem já acabou, e eu estou começando a compreender a Força. Agora eu preciso encontrar a Sabedoria para enxergar as coisas como elas são.

- Poxa, eu não queria fazer nenhuma referência a Zelda.

Eu quero conseguir sentir o verdadeiro prazer das coisas. Compreender tudo o que foi, tudo o que é, lembrar de cada amor com o brilho próprio que ele tinha. Eu entendo tudo. São só rosas que murcharam, camélias que se despedaçaram, o tempo que passou. Algum dia, isso tudo será um passado distante. Hoje em dia, eu ainda consigo sentir emoções muito fortes
ao ver um desenho
uma foto
uma carta
sua letra, num bilhete
Mas às vezes leio minhas próprias palavras como se fossem de outra pessoa.

Sabe, meu avô morreu esta semana, e eu compreendi, em meio a muito mais dor do que eu esperava, que agora eu finalmente podia lembrar dele como ele era quando ele ainda não estava tão perto da morte. Eu posso lembrar dele rindo, fazendo piadas sem graça, brigando e berrando que não brinca mais, fazendo papel de vô bobo. Eu posso lembrar dele como um velho chato que eu amava e não como um velho deprimente que eu esperava que morresse. Essas lembranças me engolfam e eu começo a me arrepender de não ter ido visitá-lo mais vezes, mas logo me lembro quão terrível era visitá-lo nos últimos meses. Lembro que a pessoa que eu gostaria de ver nem era mais aquela que estava lá.

Da mesma forma ultimamente eu tenho conseguido recuperar a parte dos últimos anos que não foi só dor e frustração e chorar no cantinho e entrar em desespêro. Eu consigo começar a ver as possibilidades, as coisas que aprendi, as portas abertas, o crescimento. Ainda tenho um pouco de mêdo de olhar pra isso, mas quem sabe daqui a pouco eu esteja rindo desse mêdo. Por que, sabe, ainda dói bastante. Mas alguma hora a raiva vai passar. Alguma hora a dor vai acabar. Alguma hora tudo vai se encaixar, e pronto.

Naquela noite eu fui dormir com mêdo.
Naquela noite eu acordei com mêdo.
Mesmo com seus braços me envolvendo
Eu estou apavorada
Mesmo com seu coração batendo perto do meu
Eu acordo no final da noite
em uma das nossas camas
com o seu despertador
e penso em todas as coisas que podiam ter sido diferentes
de forma a não me trazer a onde estou agora.
Você ainda está dormindo
E eu me sinto tão segura aqui
entre os seus livros, seus brinquedos antigos,
e essa janela sem grades que dá prà rua.
Eu acordo no meio da noite
e me pergunto como eu posso ver você dormindo com esse dragão dentro de mim
acordado.
Você se revira na cama e eu sei
que vou enfrentar o mêdo para escapar da dor.
Não há nada de bravo ou de forte nisso
- eu sou só a água que corre pelas depressões do solo -
mas eu tenho mêdo de perder esta cama, estes livros, a paz deste refúgio.
Eu deito do seu lado e tento fechar os olhos
Eu te abraço, meu gato pelado, e me pergunto
Por que é que não podemos permanecer crianças?

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Um pouco de feminismo para chacoalhar a gosma dos ombros

Acho que durante a maior parte da minha vida eu tive uma raiva frustrada de muitas das coisas que tentaram me ensinar. Não, eu não discordei de forma sensata, racional, estruturada, comparando prós e contras, evidências para tese e antítese; eu só detestei a idéia, sofri em silêncio ou me expressando com rosnados a frustração inconformada que aqueles ensinamentos me traziam. Quando a gente é criança, a gente não sabe se defender direito.

Pra mim o exemplo clássico é a tese de que humanos são fundamentalmente diferentes das árvores e dos animais. Sempre me rebelei contra essa idéia, mas toda vez que tentava discordar dela algum adulto me dava uma explicação - tão razoável, e quem discordaria de adultos? - e eu me calava, apenas para sentir a raiva crescendo depois, não sei se contra os adultos ou contra a realidade que era cruel. Passaram-se muitos anos, mas hoje eu consigo argumentar consistentemente e com base em evidências que essa diferença não é tão grande assim. Quem sabe daqui a alguns anos minha rebeldia infantil possa estar apaziguada, todos os seus argumentos ouvidos, sem raiva da realidade.

Sabe, eu tive minha primeira menstruação com nove anos, embora eu tenha tomado hormônios para retardar meu desenvolvimento que adiaram meu amocinhamento para uns onze anos mais ou menos. Com doze eu já tinha um bocado de pêlos e até uns seios pequenos e muito desiguais, e minha mãe arranjou uma mulher que vinha em casa fazer depilação a cera quente nela, em mim e na minha irmã que tinha dezesseis. A primeira vez em que minha mãe me mandou depilar, eu senti um misto de horror e curiosidade. A curiosidade passou bem rápido, até porque eu gostava bastante de ter pêlos nas pernas, mas eu não queria contrariar minha mãe que insistia que uma moça tinha que estar depilada, e o horror foi balanceado com um certo senso de dever filial. Eu era uma criança obendiente, que guardava as revoltas para chorar num canto escondido ou cantar lamentos debaixo do chuveiro. O resultado foi que depilação se tornou a coisa que eu mais odiava, e era especialmente frustrante que minha melhor amiga tivesse pernas adoravelmente felpudas e não fosse obrigada a se submeter àquele sofrimento.

Isso tudo, e eu nem era mulher direito: eu estava muito pouco interessada em namoro, a vida adulta era inimaginável, minhas fantasias todas envolviam selva, bichos e lutas, minhas brincadeiras favoritas eram todas de moleque e era só muito raramente que eu me dispunha a exercitar minha feminilidade, quando as mulheres mais velhas se juntavam pra me vestir e pintar para um bar mistvah ou festa de quinze anos. Passei anos usando quase que só calça comprida e camiseta larga - eu tinha algumas saias, mas achava todas elas horríveis. Durante o colegial eu era tão peluda que durante um alongamento em educação física (num dia em que eu fora obrigada a vestir bermuda) minha amiga chegou a me confundir com um homem. Na verdade, em um mês sem depilar eu ficava tão peluda quanto um garoto, e é claro que eu só agüentava aquela tortura em vésperas de feriados, festas e viagens pra praia.

Tudo isso meio que acabou quando eu descobri creme de barbear para mulheres e de repente minha pele ficava maravilhosa usando isso e uma gilete. O efeito foi tão dramático que eu passei a preferir pernas lisas a felpudas (isso eu devia ter uns 18 ou 19 anos). De lá pra cá, eu fiquei me perguntando por que eu tive que passar por todo aquele inferno, por que eu não podia ter pernas peludas com treze anos, por que eu não descobri antes que cera quente e maquininhas arrancadoras são só violências sem sentido. Sabe?

A minha questão com a pílula foi praticamente posterior a isso tudo, então eu já tinha um mínimo de autoridade pra tomar decisões a respeito do meu corpo. Da primeira vez que eu resolvi tomar pílula, foi sem pensar muito, porque o médico recomendou pra regular meu ciclo (não que eu soubesse porque ele tinha que ser regulado), e eu desisti depois de alguns meses porque eu não conseguia acertar três dias seguidos. O único efeito colateral de que me lembro foi que meus seios ficaram imensos (lembro vagamente de algum namorado achando isso legal). Fiquei algum tempo sem tomar e tentei de novo, e aí eu lembrei todos os dias, e foi horrível: durante exatamente os meses em que tomei, fiquei deprimida, sem ânimo para aventuras e meio incapaz de fazer sexo direito, além de ter mamas tão sensíveis que doía dar um abraço. Parei de tomar e me senti animada, forte e selvagem, como eu já tinha esquecido que eu podia ser. Algum tempo depois eu fui no médico de novo, e apresentei a ele todas as minhas objeções a pílula, mas ele acabou me convencendo a tomar "a mais fraca que tem no mercado" com três argumentos básicos.

Primeiro ele disse que um ciclo que se arrasta pode gerar problemas no ovário a longo prazo. Coisas que dificultariam uma gravidez. Francamente eu não estava tão interessada assim nos meus futuros filhos, mas era a idéia de que minha saúde podia estar se comprometendo sem que eu soubesse.

Além disso ele disse que a pílula ia regular meus hormônios e acabar com as espinhas.

E mais que isso, eu podia sempre ter certeza de que não estava grávida dentro de um mês, e controlar meu ciclo com precisão.

Aí eu voltei a tomar e de novo vieram dores nas mamas e uma depressão bem pior que a anterior. Eu estava já me perguntando o quanto da minha personalidade se perdia quando eu abdicava dos meus hormônios. Eu agüentei três meses disso, tive um mês de pausa, feliz e tranqüilo porém com todas as espinhas doloridas do mundo e acabei voltando, para mais humores desagradáveis. E agora mesmo tomando pílula estou cheia de espinhas, e que significa que meu médico vai me receitar algo mais forte, e, francamente, eu vou dizer não.

Cansei dessa palhaçada, cada vez um efeito diferente, humores horríveis, resultados incertos, fora a aporrinhação de ter que tomar esse troço todo dia.

Sobre o que eu estava falando mesmo?

sábado, 9 de outubro de 2010

Irmão de Caça

Lembro da primeira vez que te vi de pé à beira deste meu mar, de como foi bonito e emocionante. Nunca cheguei a te encontrar, nunca cheguei a falar contigo à beira deste mar. Mas vi que você via; te via às vezes passando ao longe, navegando, domando as velas negras do Sonho, cavalgando vento e ondas. Você cresceu sem mim. Eu estive longe.

Eu estive longe a correr pelas florestas, pelas dunas, pelos espinheiros, eu estive matando monstros e demônios e me cobrindo de sangue. Você esteve conquistando o mundo, longe e perto de mim. Eu passei um tempo longe naquela cidade-fantasma que construí com tamanho carinho e para a qual chamei todos os meus novos amigos, aquele lugar de sonho onde as coisas não se destruíam. Você veio uma vez, olhou para tudo aquilo com curiosidade, depois torceu o nariz, deu de ombro e me chamou para uma aventura no mar, qualquer coisa mais instintiva do que aquela farsa. Eu até fui... mas voltei, saudosa, teu mundo não é mais meu e eu voltei a construir minha cidade, fiquei aqui, sim, sem dúvidas, e feliz até, até o dia em que Ele veio e com um pousar no chão fez tudo virar brasa, fez a cidade arrasada virar pedra, vir ao chão. Aí eu chorei.

Eu chorei e me enterrei junto aos escombros, vazia e fraca, lembrando todas as ruínas que já deixei para trás. Mas o Castelo Abandonado agora é um paraíso de ramos e flores comendo as paredes e derrubando vidraças - tudo se renova - e a À Entrada da Caverna nem existe mais. Eu fiquei aqui, junto a estes escombros, olhando as pedras e as dores e as memórias destruídas, tudo tão caro e tão inútil, tanta dor, e nem sei se um dia você entenderá do que estou falando. Eu olhei para as minhas pedras, machucada, e sequer havia ali a beleza da destruição, a dor da morte, o Sangue. Ele olhou pra mim, imperioso, e eu ao me humilhar bati no fundo da minha ruína e voltei com um jorro de raiva; e pela primeira vez eu lutei contra ele e o expulsei. A cidade estava vazia, já nem parecia cidade, as pedras eventualmente seriam só pedras e eu poderia passar por aqui novamente. Veja, há até uma pequena flor nascendo desta fenda junto aos meus pés!

Então eu saí da cidade, mas você estava tão longe... Eu tinha um mundo de terras a atravessar, e você continuava a navegar, lugares onde eu nunca tinha estado. Tudo pareceu tão diferente agora que a ilusão tinha acabado. Por um tempo eu fechei os olhos e evitei voltar aqui, evitei pensar nestas terras, nesses mares, nas nossas aventuras... Você voltou e tentou me chamar, mas eu tinha tanto a reconstruir, tanto que eu deixara degenerar, e ao mesmo tempo tantas coisas novas que eu precisava criar, erguer, firmar e povoar que eu disse, tantas vezes, não. Suas aventuras eram alguns dos meus sonhos! Mas eu já não sou exatamente aquela pessoa que eu costumava ser, e existem coisas e pessoas às quais eu não posso dar as costas.

Eu queria que tudo se encaixasse, que a gente pudesse ir caçar juntos, mas me parece que por agora nossas caçadas serão em nichos diferentes. Mas não desista, irmão, que ainda voltaremos a correr juntos, que ainda lutaremos na mesma arena. Não me esqueça ainda.

Don't write me off just yet.

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Dica do quotidiano - vidro embaçado

Aprendi ontem no cursinho uma técnica bastante simples para impedir o vidro de embaçar: basta passar detergente na superfície e limpar a seco, com pano ou de preferência papel absorvente. O vidro é um composto iônico de sílica, sódio e potássio, que atrai fortemente a água. O detergente se liga a ele por sua ponta polar e cria uma camada apolar, ou seja, hidrofóbica. Estou pensando em experimentar usar isso nos vidros dos carros aqui, embora seja um processo um pouco demorado limpar todo o detergente excedente sem usar água (a água dissolve o detergente o remove completamente do vidro).

Aparentemente, um dos alunos do psor de química usou esse recurso para escrever mensagens secretas no espelho do banheiro, que só apareciam quando o espelho embaçava. Ah, a criatividade =)!

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Aprendi hoje: alto forno

Hoje (ou ontem, sei lá) tive uma aula sobre obtenção de metais puros e o professor contou a história fantástica de como descobriram como funciona o alto-forno. Para quem não lembra, alto-forno é aquele forno gigantesco usado para transformar minério de ferro (óxido de ferro) em ferro metálico. O protótipo desse forno foi inventado na Idade do Ferro, mas hoje em dia eles são bastante complexos. Enfim, um dia um grupo de pesquisa decidiu descobrir o que acontecia de verdade dentro dele, e teve uma idéia brilhante: dissecação.
Eles desligaram o forno ao mesmo tempo em que derramavam sobre ele uma quantidade colossal de nitrogênio líqüido, congelando tudo o que estava dentro dele mais ou menos no lugar em que estava, e depois fatiaram o forno congelado para estudar cada uma das fases separadamente!

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Bots gostam de "Blog"?

Acho muito curioso o fato de um único post neste blog concentrar todo o spam em comentários. Já faz alguns meses que eu recebo, de vez em quando, um comentário anônimo no post Blog, fazendo propaganda de qualquer coisa. E é uma coisa diferente a cada vez. Curiosíssimo! Queria saber como funcionam esses spambots. Dêem uma olhada.

ps.: este é um post num blog que fala de um outro post no blog que se chama Blog e que fala do blog. Quanta meta-linguagem.

A Estória do Herói

O problema são sempre os ouvidos que recebem a história. O problema nunca está na história em si. Por exemplo, Faelyn, quando você ouve o nome dela, imagina uma bela garota, não é, uma garota do campo, comum, mas especial o suficiente para receber a atenção de um dragão. Você ouve a história já sabendo o meio, o final e o começo; você já sabe que a donzela está em perigo, que ela será resgatada, que o jovem e magnífico herói virá para matar o dragão. É sempre assim, você ouve como a criança que espera somente a repetição, você assume uma porção de coisas que não deveria. Esse era o erro de Roder: todas as vezes que ia procurar um dragão, ele queria que houvesse uma luta, uma donzela para resgatar, um tesouro e a volta triunfante para a cidade. E ele queria tanto que fosse assim que até hoje suas histórias são contadas desse jeito, mas Roder se decepcionou, sim, um monte de vezes. É claro que na primeira dessas vezes, com a donzela Faelyn, ele não estava preparado, não conseguia ainda enxergar além do véu da estória para ver a verdade do que estava acontecendo, como não conseguimos ver a corrente brava que corre no fundo de um rio de superfície calma. Então Roder avançou pelos corredores da caverna, vendo sinais do dragão em cada mancha escura no caminho, em cada trio de lanhos alinhados nas paredes, em cada túnel desmoronado, em cada pedaço que equipamento abandonado em túnel ou qualquer coisa que parecesse poder ser sinal de presença humana. O herói vasculhou até os túneis mais profundos, e ali seus olhos afinal viram o que queriam ver.

Oi!

Oi gente

Eu queria pedir desculpas por uma coisa:

Tenho sido pouco sincera com todo mundo. A vida é meio assim, todo mundo entende. Eu tenho muitos amigos nos quais eu confio, mas muito poucos com quem eu converso sobre as coisas que me incomodam. Na maior parte do tempo eu converso com você para manter a amizade viva, porque quero aprender com vocês, mas acho que nunca me exponho de verdade, acho que estou sempre tentando ser algo que na verdade não sou. Ou tenho sido. Tenho deixado toda a minha sinceridade para umas pessoas que me conhecem e entendem muito pouco, além de uns pouquíssimos amigos pra quem eu já me acostumei a contar mesmo o que eu não quero que eles saibam.

E sinto que tenho criado neste blog uma versão back-up de mim mesma, uma eu que é verdadeira, sincera, meio que o que eu quero poder voltar a ser no final do semestre. E quem é a eu que convive com vocês, que não se revela, que sucumbe às convenções sociais dos seus estranhos amigos? Acho que é a eu-lagarto, a eu-zelig que já não tem nada de seu. Eu quero muito ser uma pessoa! Mas vocês vão ler isto e lembrar que de novo eu não falaria isso individualmente pra vocês. Eu tenho mêdo. Tenho mêdo da intimidade. E quem não tem?

Se eu tentar conter minha intimidade no blog, posso conquistá-la na vida real?

Mas agora não consigo conquistar nada, não é?

Acho que o que eu deveria mesmo dizer é: as suas piadas não têm graça, os seus tabus não são nada sagrado. Eu rio porque você acha engraçado, eu fico envergonhada porque é o que você espera que eu faça. Dá pra perceber quando eu estou sendo autêntica: é quando eu fico completamente sem-noção.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Acho que seu maior talento é viver histórias. Poruqe tem estado sumida ultimamente?

Estou tentando provar meu valor, acho, fazendo fuvest e trabalhando. Estou finalmente fazendo algo que eu quero, e que faz sentido pra mim! Isso meio que consome minhas energias. E estou... ah, no campo pessoal, não sei explicar em poucas palavras. Admito que estou sem tempo e sem espaço para realmente te mostrar o que está acontecendo.

Ask me anything

sexta-feira, 10 de setembro de 2010


Adoro gênios malvados...