sábado, 23 de fevereiro de 2013

Testando LaTeX no blog

Tirei essa solução daqui por recomendação deste cara. Fiquei com um pouco de mêdo porque ele sugere que eu coloque este script em cada post, e eu coloquei ele num gadget, e eu não sei se existe alguma coisa no blogger que pode ficar louca pq algum pedaço de texto tem um $ mal colocado... Enfim, eu mudei as tags de abertura, agora tem que escrever 'tex' antes do $ para ativar o modo matemático. Still, tem algumas coisas que eu não sei fazer ele não interpretar.

Et voi-la:

Einstein's most famous equation is tex$E=mc^2$.
\[P(E) = {n \choose k} p^k (1-p)^{n-k}\]

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Faísca e Tranqüilo

A primeira vez que você me cumprimentou com um beijo, eu fiquei um pouco confusa. Não éramos namoradas, nem tínhamos tanta intimidade! O seu beijo na minha boca foi só um oi, um comovai?, vocêéfofa, eugostodevocê!. Eu pensei na menina que eu tinha trazido comigo (e no jeito como uma mechinha de cabelo estava caindo pelo lado do rosto dela, seguinto o contorno do maxilar numa curva delicada) e me perguntei se ela ia entender a nossa intimidade. Mas estávamos conversando sobre poliamor, e eu pensei que era assim mesmo, não tinha muito como esconder. Abraçar você era gostoso, dava vontade de me enrolar em você e morder você carinhosamente. No final acho que te mordi com uma certa voracidade.

Ontem você deitou no meu colo e eu fiquei em dúvida se te agarrava ou te fazia um cafuné docinho. No fim, passadas as pequenas aflições, nós temos uma relação muito fácil, muito tranqüila. Você parecia estar fofinha e precisando de cafuné. Hoje eu me despedi de você com um beijo, e eu senti aquela coisa faiscante de que os livros de menina falam -- aquela descarga elétrica que nasce no beijo e se espalha como um choque.

... Eu acho que não me sinto mais desconfortável nem confusa.

terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

Medo

Tenho sentido mêdo
Tenho me escondido
Tenho sentido raiva
Tenho contido as lágrimas

Eu queria desabafar e dizer que toda a minha pose é só fachada
Eu queria desmoronar e dizer que eu sou sim a coisa fofa e meiga e doce
Eu queria me abandonar e te deixar me fazer carinho e me comer

Só que não.
Só que só a idéia me dá engulhos e me embrulha o estômago!
Eu quero te morder até ficar vermelho e eu sentir gosto de sangue
Eu quero te deixar marcado
Eu quero te fazer carinho e te mordiscar, mas recusar seu beijo
Eu preciso te dizer que eu acho que esta fachada está grudada à carne
E que está bem aqui

Às vezes eu me pego me perguntando quem eu sou
Eu sou uma criança que já viveu para sempre
Eu sou uma pessoa de coração partido
Lutando contra os próprios instintos
E quando mais eu me liberto mais eu preciso me acorrentar
Lutando contra os próprios sentimentos
Tentando evitar morder, evitar marcar,
Evitar machucar
Quanto mais dói mais eu me apego
Até que dói demais
Quanto mais dói mais tempo dura a marca

Eu sou sim fofa e meiga e doce
Eu sou cheia de amor quando eu confio
Mas às vezes eu confio demais
E quando eu decido parar de confiar eu tenho vontade de machucar
Eu me comporto como um cão numa matilha
Ponha-se no seu lugar

Eu não preciso provar nada pra ninguém
Todo mundo me ama, todo mundo me aceita
Eu não preciso provar nada pra vocês
Mas eu quero

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Bissexualidade

(baseado, sem pretensões de fidelidade, em coisas ditas em conversas reais ou imaginárias - às vezes mais de uma vez)

— = ---

— Acho que não dá pra uma pessoa ir na balada e querer pegar "qualquer um". Ou você está procurando homem, ou mulher. Mesmo um bissexual, tem dias que está hétero, dias que está gay.
— Mas você não é bissexual, nem conhece alguém que seja, certo?
— Não. Mas só não faz sentido! Querer ficar com mulher é totalmente diferente de querer ficar com homem!
— Eu fico irritada com essa gente que se diz bissexual. Não existe isso de gostar "tanto de homem quanto de mulher". Todo mundo tem uma preferência.
— Mas e as pessoas que de fato gostam de homem mas de vez em quando pegam mulher, por exemplo?
— Ah, mas isso não faz de você bissexual. Você gosta de homem, você é hétero, pegar mulher de vez em quando não muda isso. Quem diz que é bissexual tá querendo ficar em cima do muro, não quer admitir pra si mesmo e pros outros que tem uma orientação sim, ah, me poupe! Se admite, pô.
— Mas, péraí, só porque tem uma preferência então não...
— Péra, deixa eu entender, eu tô no meio de um monte de gente que se acha bissexual, né?

— Se você é gay mas fica insistindo em ter namoros hétero, você está negando os seus desejos homossexuais? Você prejudica a sua vida com isso?
— Bom, o estudo aponta a existência de alguns caras casados com mulher que tinham uma certa ereção com pornô de mulher, mas a reação era muito maior com pornô gay. Provavelmente eles eram gays enrustidos, que meio que "aprenderam" a se excitar com mulher pra se encaixarem na sociedade.
— Se você escolhe um lado e admite a sua, ham, a sua "monossexualidade", você está negando os seus desejos em relação ao outro sexo?
— Nenhum estudo encontrou bissexuais de verdade! As pessoas precisam parar de se enganar e fingir que existe um meio termo! Essa é uma falácia danosa para a nossa causa. É preciso que as pessoas entendam que homossexualidade é genético e definitivo, e que não existe cura nem meia cura. Viado é viado e fancha é fancha, ponto!
— Mas, pô, isso não é motivo pra ficar enchendo o saco dela e chamando ela de fanchona o tempo todo. Ela está meio na dúvida, deixa ela.
— Mas é claro que é motivo. É só olhar pra ela pra saber que ela é sapata, e essa história de ficar em dúvida é uma grande mentira. Ela precisa aceitar o que ela é.

— Mas e se eu não quiser aceitar o que eu sou? Como fica?
— Vai ver um psicólogo, vai.

— Quando você se descobriu gay?
— Ah, quando eu era pequeno eu já era gay. Eu achava que homem combinava com homem, e mulher com mulher.
— Eu descobri na faculdade. Passei anos me irritando com as pessoas que me chamavam de gay. Cheguei a brigar feio com uma amiga, depois a gente voltou a se falar quando eu saí do armário.
— Eu tinha uma namorada com quem eu me dava super bem e fazia um monte de sexo, mas um dia eu vi um cara gostoso e senti tesão... Hoje em dia eu nem tenho mais vontade de ficar com mulher, porque homem é tão melhor!
— Meu ex-namorado agora namora um homem.
— E como é pra você?
— Eu acho que não faz muita diferença, pra mim. É a vida pessoal dele, agora, e não muda nada do que aconteceu entre nós. Não explica nada.
— A ex-namorada da minha amiga está namorando um homem, também.
— Então ela não era gay, hem?
— Eu disse que ela era hétero! Mulher na adolescência faz umas experiências...
— Agora, a sua amiga, essa sim é sapatão, hem?
— É só olhar pra ela pra saber.
— É engraçado é que tem gente que não tem gaydar, né? Outro dia virou mó bochicho no escritório sobre a chefe, e eu disse de cara: "É que ela é lésbica, né?". Todo mundo tava super surpreso, todo mundo ficou "mas como você sabe???". Ah, vá.
— É engraçado que dá pra perceber mesmo quando a própria pessoa ainda não sabe.
— Eu me pergunto isso às vezes, se alguém olha pra você e diz que você é gay, isso quer dizer que você é mesmo? E se diz que você é hétero?

— Quando você começou a se considerar bi?
— Assim que eu parei pra pensar no assunto, uai. Eu era adolescente e eu gostava tanto de meninos quanto de meninas.
— Mas você gostava mesmo dos meninos tanto quanto das meninas? Você se apaixonava por meninos?
— Hmm, acho que eu só me apaixonei por meninas... Mas eu gostava bastante dos homens também. Não era a mesma coisa, mas nunca me ocorreu me considerar hétero.
— Mas você já teve experiência com homem?
— Já.
— E gostou?
— Foi muito bom.
— Eu já peguei homem, já dei o cu, foi bom, mas acho que eu não sou gay. Não tenho envolvimento emocional com homem.
— Eu gosto de ficar com mulher, mas eu sou bem hétero. Eu não entendo como você que gosta muito mais de pica do que eu ainda acha que é bi.
— É verdade, homem tem pica, mas, por outro lado, mulher tem peito!
— E cintura, não dá pra esquecer a cintura.
— Mas homem tem peito de homem. E barba. E mulher às vezes tem muita bochecha.
— Acho que eu não conseguiria ficar com uma mulher. Aquela vez que a gente quase fez um ménage, eu pensei "não, tem outra buceta aqui!"
— Você diz isso mas no dia seguinte pega uma mina e tem sonhos eróticos com outra. Aliás, eu só tenho sonhos eróticos com mulheres. Os seus sonhos definem a sua sexualidade?
— Outro dia eu tive um sonho super bizarro com você. Eu estava beijando você, mas você tinha um pinto!
— Você não está vendo, mas eu estava agora mesmo desenhando um pinto. Eu tinha certeza de que eu ia ter um pinto no seu sonho.
— Isso quer dizer que eu sou gay?
— Bom, você sente atração sexual por homens?
— Não. Mas e as pessoas que demoraram anos pra entender que eram gays?
— Você quer ser gay?
— Talvez eu precise ser gay.
— Se eu fosse gay eu ia ter muito mais felicidade sexual.
— Mas você acha os homens horrendos!
— Bom, por isso que eu queria ser gay, mas não sou. E eu não acho todos os homens horrendos. É só que eles são tão peludos... e grandes... e feios. Mas eu pegava o Justin Bieber, ele é quase uma menina. E bonitinha.
— Nossa, que machista!
— Machista por quê?
— Super machista essa atitude de "eu nunca ia pegar nenhum homem, e mesmo se eu pegasse um homem, tinha que ser um homem que é quase uma mulher"! É pura pose de machão.
— Mas eu só estou dizendo que o Justin Bieber não é feio...
— Ah, você só está atestando a sua masculinidade! Eu, se eu pegasse uma mulher, eu ia querer que fosse uma mulher de verdade, feminina, affe!
— Mas você não ia pegar uma mulher...
— Não, mas se eu pegasse, eu não ia pegar uma mulher que parece um homem só pra deixar claro que eu sou hétero.
— Então se eu gosto de mulheres masculinas eu sou gay?
— E se eu gosto de homens femininos? Os caras que gostam de travesti são hétero?
— Outro dia eu gamei numa mina que parecia muito com um cara que eu peguei um tempo atrás. Estou me sentindo culpada.
— Você sempre puxa pro pessoal!
— Bom, pra mim esse assunto é muito pessoal. Você acha que os meus sonhos definem a sua sexualidade?
— Por que você não define a sua sexualidade por com quem você faz sexo?
— Um garoto virgem de treze anos não pode ser gay?
— Não dá pra confiar na sexualidade de adolescentes, eles fazem experiências...
— Mas em que idade você pode começar a confiar?
— Eu fico meio assustado que isso tenha aparecido pra mim tão tarde. Sabe, eu não sou um adolescente. Todos os meus amigos que viraram gays ou bis se descobriram até uns 20 anos de idade. Será que eu estava reprimindo isso esse tempo todo?
— Bom, você sabe que eu não acredito muito em monossexualidade.

— Mãe, eu acho que eu sou bissexual.
— ...Por que você acha isso?
— Por que eu me sinto muito atraída por mulheres.
— Mas você já ficou com uma mulher?
— Já.
— Mas você nunca namorou uma mulher.
— ...Bom, eu sempre estive namorando com homens.
— Ah, filha, você é jovem, jovens fazem experiências. Quando eu era adolescente eu também me sentia muito atraída por mulheres, mas eu não sou "bissexual". Eu namorei com homens e casei com um homem, pronto!
— ...

— Eu queria ter tido essa sua confiança, de saber desde sempre que era assim mesmo.
— Mas deve ser mó legal ter essa revelação, "Oh, eu sou gay!". Imagina?

— E você?
— Eu sempre achei que eu sempre tinha sido confusa mesmo... Mas eu encontrei uns escritos antigos ontem. Parece que eu sempre tive grandes sonhos de casamento, e eu só pensava em homens. Homens altos de cabelos negros. Homens baixos, fortes e ruivos. Pra falar a verdade eu só sabia lidar com homens, desde que eu era pequena. Eu queria ser um homem, e eu até gostaria de ser um homem gay. E eu sempre me apaixonava por homens... Mas pensando bem, tinha aquela menina no colegial que tinha olhos dourados maravilhosos.... Um personagem meu, que era namorado da protagonista, tinha olhos dourados de águia como os dela. Ela chamava Júlia. Eu passava metade da aula olhando pra ela e pensando em como começar a conversa. Mas eu não chamava de amor.
— Mas você não era perdidamente apaixonada por aquele menino bonito?
— Sim, sim, por ele, por aquele outro, pelo meu melhor amigo que era apaixonado pelo meu irmão, e que chegou a achar que estava apaixonado por mim. No terceiro ano eu encontrei um garoto de olhos verdes maravilhoso, ficava o dia todo olhando pra ele e... pensando em como começar a conversa. Depois de alguns meses eu comecei a chamar de amor.
— E a Júlia?
— Encontrei ela outro dia, ela me tratou como uma amiga. Fiquei meio fascinada com o fato de que ela gostava de mim. Eu não fazia muitas amigas no colegial, me sentia incapaz de falar com mulheres. Me pergunto se o Pedro também me trataria como uma amiga.

— Você viu aquele novo estudo, com movimento de pupila?
— Ele não usa medição de engrossamento de pênis? Estou ouvindo.
— Inclusive mede mulheres também. Aí está a graça — ele meio que determinou que a maior parte das mulheres hétero têm reações a mulheres bonitas assim como a homens. E encontrou homens bissexuais também.
— Legal. Os bissexuais vão ficar felizes, mas os nossos amigos gays nem vão acreditar muito.
— Bom, é claro que nenhum desses estudo é muito confiável. Mas pelo menos a gente tem algo pra dizer.

— Como foi a conversa com a sua mãe afinal?
— Ela não acreditou. Foi bem menos assustador do que a conversa sobre namoro aberto, mas daquela vez ela foi tão legal, e dessa vez eu fiquei um pouco frustrada.
— Você quer ouvir como foi a minha conversa com a minha mãe? Qualquer uma das oito?
— Eu sei, eu sei, eu tenho a melhor mãe do mundo e eu não tenho um problema de verdade. É só que eu queria poder me sentir eu mesma, sabe?
— Mas você está negando a si mesma. Você quer ser algo que você não é.
— No começo eu achei que podia ser isso, porque eu queria muito ser bi, e porque eu queria fazer parte da comunidade gay (ou do que quer que eles se chamem agora, foda-se).
— Péra, você acha que pra fazer parte da luta você tem que ser gay?
— Eu acho que sim. Eu sei que não devia ser assim, mas é.
— Pô, então eu, que namoro um cara bissexual, não faço parte do movimento?
— Não é bem assim, não estou dizendo que não pode, da mesma forma que você pode ser homem e feminista, mas... mas os babacas vão sempre dizer que "as mulheres é que têm que lutar pelas mulheres", "os gays é que tem que lutar pelos gays", e tal. E agora estão me dizendo que bissexual não existe.
— É bom que bissexual exista, senão eu vou estar sendo enganada pelos últimos sete meses.

— Vontadezinha de arranjar uma namorada e levar ela pra casa. Só pra chocar minha mãe. Ou pra provar que é de verdade.

— ...Olha, mãe, não é só que eu me sinto atraída por mulheres. Eu sonho com mulheres. Eu me apaixono por elas. Você ia ter problemas se eu saísse com mulheres?
— Ah, Ma, você pode sair com quem você quiser. Você é jovem. Você se apaixona fácil. Mas você traz seu namorado pra casa, ele vira da família. Já se você trouxesse uma menina pra casa, uma namorada, ia ser um pouco estranho. Não é a mesma coisa, sabe?
— Ia ser estranho se eu trouxesse uma namorada? Mas estranho do que quando meu irmão traz as namoradas dele?
— Ah, Ma... Sabe, a gente sempre acha que vai conseguir lidar com essas coisas... Mas recentemente uma amiga próxima de mim descobriu que a filha era lésbica, e aí ela descobriu que não é tão fácil assim de lidar. É difícil pra gente.
— Você está falando daquela cuja filha é evidentemente gay?
— Ah, lembra, isso é segredo, não pode contar pra ninguém!

— Mas como você descobriu que era bissexual?
— Bom, eu estava no colegial, aqula história toda... Um dia minha amiga veio falar comigo, e o seio dela raspou no meu braço. Eu senti, como se diz? como se fosse uma descarga elétrica pelo corpo. Eu continuava apaixonada por aquele menino, mas depois disso eu fiquei algum tempo só conseguindo pensar em peitos.
— E foi assim, de repente, então?
— Não, não de verdade. Eu tinha acreditado que bissexual não existia. Eu comecei a me apaixonar por mulheres, a sonhar com mulheres, mas eu continuei acreditando que era hétero. Eu queria experimentar pegar mulheres, mas eu não podia me considerar bi sem nunca ter pego uma mulher. Um dia eu fui numa festa e as amigas do meu amigo me chamaram de sapata, e eu fiquei super feliz. Aí ele corrigiu eles, e eu fiquei meio brava. Mas eu me considerava hétero no fundo, não tinha coragem de reclamar. Um dia eu peguei uma mulher numa festa, mas não senti tesão nenhum. Eu estava apaixonada por uma amiga minha, obcecada e sofrendo, mas eu era hétero. Eu contei isso para um amigo e ele disse que eu devia estar projetando alguma coisa nela... Porque eu era hétero, e estava tão feliz com meu namorado. Aí um dia eu consegui sair num date com uma menina por quem eu tinha uma paixão, e foi o melhor primeiro beijo da minha vida. E mesmo assim meus amigos diziam que eu era hétero e eu meio que acreditava neles, porque eu só tinha beijado mulher duas vezes, porque eu namorava caras, porque eu nunca tinha transado com uma mulher. Então eu peguei todas as mulheres que eu consegui, o mais e o melhor que eu pude, e eu passei uma festa inteira pegando uma menina linda. Meu amigo me zuou dizendo que quando eu ficava bêbada eu virava lésbica, e eu concordei inteiramente. Mas no final daquela festa eu peguei um rapaz gostoso e gostei tanto disso que de novo eu concluí que eu era hétero. Aí eu fiquei muito confusa, peguei várias mulheres, transei com mulheres, decidi fazer o look fanchinha para atrair mulheres nos bares, mas no fundo eu achava que gostava mais de ficar com homens, e apesar de eu querer muito ser bi eu ainda acreditava que eu era hétero, no fundo. Uma hétero que por algum motivo se apaixonava por mulheres de vez em quando, mas que gostava muito de homem. Mas hétero.
— E quando isso mudou?
— Não tenho certeza. Talvez tenha sido porque eu conheci outros bissexuais. Ou porque eu descobri mulheres de quem eu gostava mais e homens de quem eu gostava menos. Ou eu parei de me importar. Na verdade... acho que o que pegou foi quando eu estava com uma mulher, e eu percebi que eu estava curtindo, estava confortável e sabia o que eu estava fazendo. Eu não estava só experimentando. Não era mais uma coisa nova pra mim. Só era bom.

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Aqui

("aqui, na escuridão que me cobre como um túmulo, eu conto esta história")

Achei que era apropriado começar com uma citação da peça de teatro (A Morte Trágica de Dois Amantes Muito Infelizes Que Morreram Um de Veneno e o Outro de Dor, Com Vários Incidentes, ou Romeu e Julieta) que nós apresentamos em 2004. Ah, 2004, quinze anos, estar apaixonada. Acho prazeroso estar apaixonada, e com quinze anos isso parecia natural, descomplicado, simples, até o momento em que eu me apaixonei por três pessoas ao mesmo tempo, um com namorada, um gay, um que morria de ciúmes do meu amor pelos outros dois. Vida difícil essa. Essa parte não mudou nada. No fim eu namorei o que tinha namorada, depois com o que não tinha, depois terminei com esse também e decidi não namorar nunca mais, mas meus planos foram impedidos pela existência mágica dos namoros abertos e pela minha incapacidade de não me apaixonar (infelizmente nunca namorei com o que era gay, acho que teria sido o mais feliz dos três namoros).

Ultimamente eu tenho achado tudo muito estranho, e quando eu fico pensativa eu sempre me volto para o passado. Hoje por exemplo sonhei que era colega de classe da Kiki, minha, ahm, melhor amiga de ginásio, uma líder natural forte e decidida e da qual eu nunca soube nenhum dos mêdos e desejos mais profundos. No meu sonho (como, na verdade, na realidade) eu era uma péssima aluna e ficava brincando com ela em vez de fazer a tarefa, e evidentemente quando eu ia fazer a tarefa era tarde demais. Por favor, seja mais explícito, sonho.

Nos últimos treze ou quatorze meses eu não tenho sabido direito quem eu sou. E ao mesmo tempo eu finalmente tenho entendido quem eu sou.

No começo foi confuso e doloroso, meus sentimentos me jogaram de um lado pro outro, eu senti ciúmes, ódio, repulsa, eu dei patadas no meu melhor amigo, eu quis sacanear meu irmão, eu me contive e fui fazer sexo com outra menina, mas logo depois eu já não queria mais seus beijos. Eu fui horrível, eu peço desculpas. Eu queria que eles parassem de ser tão homens, tão bonitos, eu super não sei lidar com gente que é competição mas não é presa. O foda dessa vida gay que eu tenho é que essas pessoas que são só competição são raras, e eu não aprendo a lidar. Fico me perguntando se ser hétero não é um sofrimento constante, competindo o tempo todo, tendo raiva e ciúmes. Eu lembro vagamente do quanto eu amava mais as meninas que queriam ficar com meus homens, just in case, acho que é uma defesa contra a guerra. Sisterhoods e brotherhoods, mas nunca uma siblinghood. Mas é muito mais fácil simplesmente chamá-las junto.

Este vai ser um daqueles textos dos quais eu me envergonho depois de uns meses, aposto.

Estou tomando café só pra conseguir escrever.

Enfim, competir com homens é muito difícil. Eu posso até ser mais bonita que o cara, mas, sabe, ele tem músculos, barba, pica. Não tem muito o que eu possa fazer contra uma pica. O que nos leva de volta ao assunto original do post (na minha cabeça) que é o fato de que eu realmente curto mina hétero. Não minazinha Pat, cabelo comprido e sombra, shortinho, bronzeado e luzes, mas mina macho, de coxa grossa, piercing, dessas que usa coturno com saia, tatuada, que anda de bike, que pega todo mundo, que dança rock pesado e veste sobretudo rasgado, que pinta o corpo, que é brother, que bebe, que manda, feminista, que entende das coisas que entende, que faz arte, que corta o próprio cabelo, que me pega. Mas essencialmente HT. Eu fico meio perdida com lésbicas (e aqui eu estou sendo reducionista, estou dividindo as pessoas entre as que pegam mais homem e as que pegam mais mulher). Pra falar a verdade às vezes eu vejo uma lésbica e penso "mas ela é lésbica, não vai querer ficar comigo". Acho que me perturba o fato de que mulher lésbica de fato gosta de mim como mulher. Mulher ht me pega como se eu fosse um cara, me faz me sentir um cara (enquanto eu elaboro este argumento eu estou de tênis de trilha e calça jeans, sem camisa, eu tenho cabelo curto, 1,58m, e me pergunto se eu sou mesmo diferente do meu irmão), especialmente quando elas parecem não saber muito bem o que fazer com uma mulher, mas ainda assim conseguem me pegar como, sei lá, como pessoa. Mulher lésbica às vezes é feminina demais, me perturba. Me deixa confusa. Me faz me sentir inexperiente, também, talvez isso seja um fator relevante. Talvez tudo seja uma ego-trip gigante. Mas.

Enfim, agora me desçam sua psicologia barata (ou cara, tanto faz).

Mulher que se dá bem com mulher sempre me deixa desconfortável, me faz me sentir menos mulher, menos homem também, menos tudo. Por que a vida é sempre uma competição idiota? Eu me sinto espremida no meio, não sou homem o suficiente pras hétero, não sou lésbica o suficiente pras lésbicas, de vez em quando rola, mas minha cabeça fica cheia de caraminholas. Eu visualizo a sua cara meio que rindo das minha dúvidas adolescentes. Mas você é homem, e eu não tenho grilo com homem, um homem como você não tem grilo, eu nem espero que você entenda por que eu penso essas bobagens.

Às vezes eu penso em mudar de sexo. Queria compartilhar isso aqui. Eu nunca vou fazer, eu acho, mas está constantemente na minha cabeça. Ao mesmo tempo eu não queria de verdade ser homem, ter toda essa auto-confiança excessiva ou esse excesso de auto-piedade que quase todos os homens que eu conheço têm. Eu sou mais bem resolvida que isso. Ainda assim, eu sinto prazer em fazer tudo o que eu puder pra ficar mais masculina. E no dia seguinte usar saia curta e brincos, pork; pork se eu fosse homem eu certamente iria me travestir, pork. Eu lembro de quando eu cortei o cabelo, vesti os brincos e por um momento me achei um transgender me travestindo (depois passou). Eu queria ser mais andrógina, assim como você, Lo. Eu achei tão incrível rolar com você e não saber quais de nós eram homens ou mulheres. Eu queria ter ficado nesse estágio, sentindo essa libertação fantástica. Da próxima vez, quem sabe. Eu não penso em você como um homem, not really. Eu só penso em você como você. Mrrrr.