segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

A penas

I

Segurei tua mão no dia em que teu pai morreu
Segurei tua alma
Abracei teu corpo
Choramos juntos um amor de vida inteira
Mas era morte
era morte
era morte e o sol
e o sol passando por sobre meu corpo diz que não há tempo longo demais
para cair a chuva
Vão passar mil anos
vão passar mil anos sem a gente aprender
vão se passar os mil anos e nós não teremos ouvido
cair uma gota de chuva
como se deve ouvir
Segurei tua mão no dia em que o amor morreu
Segurei tua alma
Abracei teu corpo
E choramos juntos.


II

Lá fora, amor
nasce um botão de camélia
branco como sacolinha de supermercado ainda dobrada do lado do caixa
macio como o revestimento daquela caríssima almofada de porquinho
compacto como um notebook de última geração
frágil como plástico bolha
— apesar de que nos sentimos mais tentados a protegê-lo que a destrui-lo,
e nisso nada se parece com plástico bolha — lá fora,
nasce um botão.

(preste atenção ao botão
como ele é firme e contido
veja que as flores abertas
as velhas camélias abertas
são frágeis, são velhas, são livres
preste bastante atenção
como ele é novo e elas, velhas,
as pontas das pétalas murchas, pintando
-se de marrom da cor de papel craft
sinta o perfume das velhas camélias abertas que a um mínimo toque se espalham no chão)


III

Um dia eu dancei uma valsa com você

Me lembro hoje
como se fosse
apenas uma pena a flutuar
Não era dia
não era noite
o tempo desistira de passar
Onde meus pés tocavam?
De onde vinha o som?
Me lembro hoje
como se fosse
apenas uma nota a ressoar
Não era casa
não era festa
o mundo nos deixou de rodear
Onde seus pés pisavam?

De onde vinha o som?

Me lembro hoje
como se fosse
apenas um amor para lembrar
pois quem daria o tom para afinar
os nossos corações desatinados?
De onde viria o som?


IV

Nós somos jovens ainda
mal nascemos
rastejando para os seios de mamãe
Mal nos conhecemos
Nós somos poucos ainda
e pequenos
mas sentimos às vezes que somos maiores que o mundo
e mudamos o mundo com a força dos nossos olhares
Nós somos jovens ainda
e estamos morrendo
a cada minuto de vida,
a cada palavra
morremos pra vida vivida
e pra vida sonhada nascemos
Através de tempos imensos
nós envelhecemos
crescemos em sabedoria
e conforme sonhamos, os sonhos se tornam verdades
Nós somos jovens ainda
mas não temos medo
ou o medo que temos é a lenha da nossa coragem
pois temos certezas do mundo e dos sonhos e idéias
a verdade do mundo está ao alcance da mão
Nós somos jovens ainda
e nós não tememos a escuridão.


V

Segurei tua mão no dia em que nos conhecemos
Estava tarde
A rua vazia
A noite escura
nunca mais esqueci do teu olhar
Trocamos algumas palavras
alguns olhares cúmplices
de alguns crimes minúsculos
umas risadas uníssonas de uma bobagem qualquer...
Segurei tua mão, tua pele
era quente na minha no dia em que nos conhecemos
e nunca esqueci do teu calor
Estava tarde
bem tarde
as ruas vazias
e eu conversei contigo através das barras
eu encontrei teus olhos de dentro da jaula
e tu? nem a jaula viste
apenas me ouviste
seguraste minha mão
tua mão
minha mão
tua mão dizendo: "Fica."


VI

Nós somos do mesmo sangue, tu e eu
E vivemos sob as mesmas leis
Nós somos qual árvore e solo
— tu me nutres e eu te protejo.
Nós vivemos com regras banais
nós comemos o mesmo que os outros
mas não somos apenas pessoas
numa multidão de pessoas
nós somos qual árvore e solo
— te sustento e tu me seguras.
Às vezes me ocorre o amor
às vezes ocorre o sentir
Mas nós? nós não somos amantes
nós não somos pessoas assim
Nós somos do mesmo sangue, tu e eu
E vivemos sob as mesmas leis
Nós somos qual árvore e solo
— te dou vida, e tu me enriqueces.

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Detalhes

Surpreendentemente eu tirei 10.0 naquela disciplina da Letras que eu abandonei no meio. Não tão surpreendentemente, eu fui aprovada em algumas matérias e minha média ponderada limpa subiu de 6.8 para 7.3. Por outro lado, a Fran, secretária do meu curso, acabou com minhas pretensões de fazer monitoria em computação, e talvez seja por isso que eu me sinta assim tão desanimada com a vida. Ou talvez seja porque o Bruno me fez enrolar um monte e ir pra casa onde outras pessoas me onrolaram um monte até ficar mega tarde e eu ficar em dúvida a respeito de ir ver filme com a Lorena (será que ficou tarde demais) e isso, por ser totalmente culpa minha, me faz me sentir um lixo.

Isso, e eu perdi o jogo.

Hoje foi um dia de merda, fora a parte em que eu fui na Márcia fazer fisioterapia, fora andar na Rebouças, pegar ônibus pra FAU, passar pela festa dos funcionários, conversar com a Fran, fora sentar na praça e ler ouvindo o som do pagode, fora decidir ligar pra lorena e pra aline, fora ir andando bem devagarinho pra casa, fora passar na casa do Bruno e conversar com ele, hoje foi um dia de merda e eu me sinto um lixo.

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Fim de Ano e afins

Em primeiro lugar, eu estou um caco. Minhas pernas estão pesadas, meus braços, fracos; minhas costas doem, minha cabeça dói, ainda estou com fome, meus olhos parecem lentos e eu não tenho equilíbrio suficiente para andar em linha reta.
Eu fiz de novo, aquela coisa idiota de sair de casa logo antes do almoço, pra um lugar que fica a pelo menos dois ônibus de distância, pra fazer um monte de coisa cansativa, ir andando mais cinco quilômetros pra outro lugar, depois pra outro ainda, e acabar voltando pra casa tarde da noite, exausta, faminta, sozinha e sem grandes preocupações na vida.
É uma delícia; vocês deviam experimentar.
A sensação é parecida com a de derrotar um dragão, mais ou menos.
E eu passei esta semana meio que me sentindo Deus, porque sem a menor dúvida eu fiz uma porção de coisas que eu considerava impossíveis. Mas eu fiz e deu certo (bem, quase) e eu me sinto bem (quase).
E eu estou lendo um online comic adorável cujos personagens são deliciosos e as reviravoltas, incríveis! Além do mais, eu sempre adorei mecânica e inventores. ^^

O ano está acabando e a exaustão dos meus músculos me parece insuficiente.
Eu queria estar completamente acabada, jogada num canto da cama, desacordada depois de um dia insuportavelmente intenso. Quando eu cheguei em casa eu queria sair de novo, não importava que fossem dez e meia da noite, eu só conseguia pensar em sair pra viver grandes aventuras, pra levar meu corpo e minha mente aos seus limites... ... Talvez isso tudo seja decorrente de eu ter notado que posso, afinal de contas, superar meus limites. Eu estou orgulhosa de mim mesma.

Nossa. Eu estou orgulhosa como há muito tempo eu não ficava! Eu cheguei a tecer toda uma teoria sobre lo que acontece conosco quando perdemos o orgulho, e agora, ah, agora que me sinto jovem, e fraca, e isso é o mais importante. Eu me sinto capaz de ser muito, muito mais do que sou, e isso é quase como se sentir como uma força da natureza. Eu não tenho mêdo de nada e as coisas da vida me intrigam e atraem. Quero tirar algum dia pra correr riscos, e quem sabe eu veja coisas que ainda não conheço!

Este texto foi completamente denecessário? Então por que eu me senti compelida a escrevê-lo?

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Quem sabe daqui a algumas dezenas de horas, quando eu estiver melhor, eu volte a escrever histórias.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Trabalho final de Teoria das Mídias - 1a versão (argh...>.<)

Um problema freqüente que eu tenho com trabalhos teóricos e redação de texto argumentativo é que eu freqüentemente me empolgo ou me distraio e me deixo levar pelos meus argumentos. Isso é melhor do que o problema oposto, que é não conseguir acreditar em nada do que escrevo, mas eu tenho menos coragem de entregar esses textos, porque eles me parecem extremamente confusos o sem sentido, e principalmente pouco relacionados ao tema original. Eu sequer sei dizer se este texto está compreensível. Ou se convence qualquer um. Se qualquer forma, eu pedi ao professor mais alguns dias para entregar uma segunda versão, e pretendo redigi-la agora.



Universidade de São Paulo
Faculdade de Arquitetura e Urbanismo
Curso de Design
CTR-0800 Teoria das Mídias – 2º Semestre 2008
Prof. Dr. Mauro Wilton de Souza

Marina Cenamo Salles 5914440

Análise: as significações da comunicação em rede na pós-modernidade.

Base Bibliográfica: Andrea Miconi — Ponto de Virada: a teoria da sociedade em rede e André Parente — Enredando o Pensamento: redes de transformação e subjetividade





A Sociedade do Jogo e da Simulação

O conceito de pós-modernidade confunde-se com o de rede. A modernidade foi a era do pensamento lógico linear, da hierarquia de classes, da ordem e do progresso, das massas, do individualismo, a Idade da Razão e do paradigma científico-tecnológico. A pós-modernidade é a dissolução de todas essas coisas: a reestruturação do pensamento, não mais linear mas ramificado, recursivo, pluri-referente e auto-referente; a desverticalização da hierarquia; a dissolução das classes sociais; a desconfiança generalizada na promessa de ordem, de progresso, de desenvolvimento. Pode-se falar em desmassificação porque o alvo dos meios de comunicação é cada vez menos a massa que o ser individual, baseado em suas características particulares, sua subjetividade. Também se pode falar em desindividualização, porque não se acredita mais em indivíduo: se acredita no ser humano vivendo em rede, mais nos outros que em si mesmo, e mesmo sua subjetividade já não é mais vista como uma essência ou natureza, mas como uma associação de memórias, informações, habilidades e padrões de comportamento. Se a sociedade moderna era formada por elementos separados, mas que se moviam em conjunto, a sociedade pós-moderna é formada por elementos intrinsecamente interligados, que podem interagir de inúmeras formas diferentes.

Parece-me adequado localizar o nascimento da pós-modernidade em algum momento por volta dos anos 70. O justificativa para essa escolha é em geral desenvolvimento da informática e das tecnologias de comunicação seriam a base da sociedade de rede. Parece-me igualmente interessante para esse propósito observar alguns elementos culturais, hoje dominantes, que tiveram sua origem por volta daquela época.
Por exemplo, não se pode relacionar o ideal punk de “faça você mesmo” à explosão atual de filmes e grupos musicais amadores, no YouTube e outros portais, à literatura de blog, ao crescimento de desenho, pintura, modelagem e fotografia em galerias virtuais, sem compromisso e sem custos? Guardadas as devidas proporções, é claro, porque também se poderia defender que a habilidade de criar vídeos, textos, imagens e sites na web está se tornando cada vez mais uma habilidade trivial, tão básico quanto trocar o pneu ou saber fazer uma apresentação profissional; mais básico, talvez, porque são habilidades que se ensinam em cada vez mais escolas. Entretanto, se os punks vieram para eliminar o rock star, para fazer música sem precisar estudar e praticar, sem se profissionalizar, não se pode comparar seus intuitos ao que alcança a comunidade virtual que produz suas animações e jogos próprios, com ferramentas simples como o Flash, com temas os mais variados e sem depender do que as grandes empresas supõe que pode ser rentável?

Aliás, a questão da rentabilidade é uma questão crítica no mundo atual. A pessoa que procura um produto que a agrade nas suas particularides quase sempre se desapontará com os produtos voltados para o “gosto comum”. Se a sociedade está de fato se desintegrando e se agrupando em comunidades minoritárias de interesses particulares, então a produção massiva de qualquer objeto com apelo para os interesses individuais do consumidor, como se faz até hoje, perde seu sentido. Mesmo a diversificação de cores e acessórios superficiais logo não será suficiente para agradar ao mercado, que naturalmente procurará produtos cada vez mais particulares, cuja produção só será possível em menor escala. Ou, em outra possibilidade, a idéia modernista da boa forma voltará à tona, para tentar agradar a todos os gostos com um único produto. A esperança desse pensamento está no sucesso do IPod e do IPhone, que alcançam pessoas de todas as idades e de diversas disposições culturais.

Mas voltemos à década de 70. Foi nela também que surgiram os primeiros role playing games (RPGs) e mais notavelmente os primeiros videogames. Se a pós-modernidade já foi identificada com a sociedade do jogo e do simulacro, me impressiona não haja inúmeros teóricos discutindo a questão dos jogos eletrônicos e de representação.

A importância do videogame (jogos de vídeo — neste texto vou incluir nos videogames aqueles que são jogados no computador) na cultura contemporânea praticamente fala por si mesma. Embora só recentemente, especialmente agora com o console Wii da Nintendo, voltado para toda a família, e com os jogos online de temas sóbrios, como política e economia (em oposição a aventuras em mundos de fantasia), os videogames tenham ousado se expandir para além de um público restrito, sobretudo jovem, eles têm importância inegável no desenvolvimento das tecnologias de simulação, interação e inteligência artificial, além de influírem diretamente na percepção do mundo como simulação. Os jogos desse gênero atualmente passaram de objeto de consumo para forma de expressão, na medida em que são criados por cada vez mais amadores com temas de suas áreas de interesse; para ambiente de relacionamento, quando são online e permitem que cada jogador se identifique com seu personagem e interaja socialmente com os outros; e para campo de exploração de novas idéias e possibilidades.

A importância do RPG, para nosso tema, vem, de um lado, da influência que teve sobre os outros tipos de jogos, eletrônicos ou de tabuleiro. Existe inclusive todo um gênero — e é um dos mais populares, especialmente se online — de videogame chamado, por associação, de RPG. O “rpg eletrônico” expandiu os limites do jogo tradicional, em que o jogador se esforçava simplesmente para cumprir seu objetivo, para fortalecer o elemento da narrativa. Em certos jogos, o jogador chega a escolher que resposta seu personagem dará a uma pergunta, ou se irá ou não ajudar seu amigo em apuro. Nos jogos online, a representação de papéis torna-se especialmente ampla na comunicação entre personagens de jogadores: eles fundam partidos, reinos, religiões, famílias, associações de trabalho, além de desenvolverem amizades e muitas vezes relações amorosas mediadas pelos personagens. O que surpreende nessas relações é que o cenário, especialmente nos modelos de rpg eletrônico tradicional, é ficcional. Minha irmã, por exemplo, conseguiu conquistar o posto de Rainha em um jogo online de temática medieval (o que quer dizer basicamente que não existem armas de fogo, que as viagens são feitas a pé ou a cavalo, e pouco mais do que isso). Seu reino tem liberdade religiosa, um exército dividido em várias tropas, que cumprem funções diferentes, exerce uma política externa pacífica e é conhecido no resto do continente por ter nobres (nesse jogo, todos os personagens de jogadores são da nobreza) alegres, dedicados e leais a sua bandeira. Sua maior dificuldade atual é convencer outros regentes a se aliarem a ela contra uma coligação de impérios expansionistas que quer tomar suas terras, e, por outro lado, é necessário sempre manter parte do exército caçando monstros e zumbis e matam camponeses e arrasam os campos. Minha irmã passa várias horas por dia mandando ordens a seus súditos e narrando para seus companheiros de jogo a vida da rainha na corte. O jogador cujo personagem se tornou marido da personagem dela é um de seus grandes amigos online — outra característica de jogos desse tipo é que a hierarquia não limita as interações sociais. O que permite que um jogador novo, de ranking baixo, converse informalmente com seu rei, um jogador poderoso e experiente, é o seu grau de envolvimento com o jogo.

Embora esse jogo específico sequer tenha imagens, é óbvio que ele transforma a forma de comunicação entre as pessoas quando as coloca dentro desse cenário ficcional. O jogo online amplifica as possibilidades que a internet já fornecia de uma comunicação através do simulacro. Em outros jogos, a representação gráfica do cenário é tão detalhada que se tem a sensação de estar andando por terras novas, num mundo estranho (onde talvez haja cogumelos do tamanho de prédios ou a água seja vermelha) mas virtualmente tão real quanto o nosso. Essa sensação é comparável a de andar da Disneyland ou outro parque semelhante, com a diferença de que são menos tangíveis, mas muito mais amplos (especialmente porque são povoados por criaturas igualmente fantásticas, que se mexem e respiram) e presentes em toda parte.

Mas o RPG tem outra área de importância na irrealidade do mundo de hoje, que é por um lado mais incrível, por outro, menos único, que o ambiente virtual. Há um gênero de jogo, pouco visto no dia-a-dia, mas fortemente presente nos vários eventos dedicados a ele e a outros elementos culturais relacionados, cujo princípio é o jogador se vestir e agir como o personagem, por vezes inclusive simulando lutas com armas de brinquedo, e mais raramente expandindo o jogo para fora de casa, para as ruas. Pode parecer que estou falando apenas de um grupo muito restrito de pessoas, mas jogos do mesmo gênero já estão sendo usados em campanhas publicitárias e afins com um público muito mais vasto. O filme Batman – Dark Knight, lançado este ano, teve uma campanha dessas no Brasil, e muito bem sucedida. O nome que se dá a isso é alternate reality game (ARG), e é um jogo que utiliza diversas mídias e formatos para envolver os participantes, que em geral têm que realizar alguma tarefa ou procurar pistas relacionadas com o objeto da campanha.

Só para concluir apressadamente para que não perder a aula: meu objetivo aqui era demonstrar a importância de algumas formas de relacionamento com o virtual que perpassam o real e a comunicação em rede, transformando a percepção geral destes. Eu gostaria de entrar na questão da transformação que isso traz ao imaginário, e também gostaria de amarrar esse assunto ao tema inicial das significações da comunicação de forma mais convincente, mas isso talvez seja trabalho para outro momento.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Coisas da vida universitária...

Outro dia fui no CM e o Chalom me apresentou o trabalho dele, que era basicamente um programa que pegava uma equação referente ao movimento de um fluido, fazia a transformada de fourier, resolvia a equação e transformava de volta. Obviamente eu não entendi nada, e me voltou aquele desespero tradicional de não saber mais nada de exatas e não entender o que meus amigos falam (OBS.: provavelmente era uma matéria bem complicada e o Diogo tb n deve ter entendido muit, mas com certeza ele entendeu BEM mais do que eu)!!! Isso aumentou a minha determinação em fazer optativas de exatas, mas o Jupiter só me oferecia matérias cujo programa estava em matematiquês e eu n entendi nada (me inscrevi meio aleatoriamente numas matérias como "cálculo vetorial e aplicações", "introdução à analise real" ou "equações das derivadas parciais"), por isso achei que eu devia pedir ajuda pras pessoas que falam essa língua (hm, qtas pessoas que falam matematiquês eu conheço...?) pra eu não acabar matriculada em uma matéria infernal que eu vou abandonar no meio e que vai abaixar a minha média ponderada (que, notem, é 4.895, o que é estupidamente baixo pro Design). Aliás, o Diogo sugeriu que eu fizesse requerimento de Calculo 1 na física (adoro matérias com um "1" no final) e meu psor sugeriu que eu fizesse curso de verão de programação no IME; aliás, falando em programação, eu me inscrevi para quatro matérias de programação, incluindo "Laboratório de Programação I" (lembra do que eu disse sobre o ! no final?), "Conceitos Fundamentais de Linguagens de Programação", "Desafios de Programação" e "Programação Orientada a Objetos", mas, embora esse seja um número absurdo de matérias para se fazer, como eu acho que eu não vou pegar nem metade por causa da minha média relativa baixíssima (acho que está uns três desvios padrão abaixo da média da sala), eu queria estar inscrita em bem mais matérias. Ou mais interessante seria se eles calculassem minha posição na fila com base somente nas matérias envolvendo a área de conhecimento específica (ou pelo menos dando peso maior pra elas)! Assim, como eu tirei 9.1 em Fund. Comp. I, 9.8 em Fund. Comp. II e provavelmente vou tirar uns 9 em MAC110 (intr. comp.), eu ia estar bem no começo da lista! É, mas o mundo é injusto, fazer o q... Ou eu devia ser melhor aluna nas outras matérias...

Eu tb me inscrevi em um monte de coisas nada a ver da FFLCH, mas isso é irrelevante, já que eu vou acabar de desmatriculando delas, provavelmente.

Outra coisa é que eu queria descobrir como eu posso fazer uma aplication pra virar monitora de Fundamentos da Computação II. Acho que seria bacana, e eu provavelmente sei quase tanto da matéria quanto os psores (considerando q eles n sabem mexer direito no programa q eles usam), mas n tive coragem de perguntar pra eles (o psor Agnaldo, que sempre diz que "quem pede tem preferência", ficaria desapontado) e n sei como descobrir isso, nem tenho idéia de como funciona. Alguém aí tem?

Pois essas são as minhas atuais desventuras no mundo bizarro da USP.

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

O Carteiro

PS.: como eu não tenho realmente tempo para parar e escrever a continuação daquela história, resolvi enrolar meus leitores com uma coisa que escrevi muito, muito tempo atrás, quando eu tinha longos intervalos entre as aulas da manhã e as da tarde e ficava no CEI escrevendo poemas e prosas absurdas como esta que vocês lerão. Até seman que vem. Um abraço! ass.:mali



Todos os dias, antes do sol nascer, o portão do forte se abria e por ele saía o cavaleiro a galope, sorrindo para as pessoas que acordavam cedo, que não eram muitas, e entregando as cartas de todos os moradores da vila, enquanto recebia encomendas e mensagens para os moradores do campo. A última casa era a de Pedro, que acordava todos os dias muito cedo para habilmente atar a carroça ao cavalo sem que este tivesse de parar seu trote alegre. O cavaleiro então galopava pela estrada de terra que ligava as casas da vila às fazendas, despedindo-se alegremente dos amigos que deixava para trás. Lá chegando, era recebido por muitos fazendeiros que logo ocupavam-se em retirar e colocar encomendas, geralmente mercadoria, da carroça, aproveitando para cumprimentar o alegre cavaleiro, e as crianças tentavam acompanhar o cavalo até a casa de Maria. Lá Maria lhes dava pedaços de bolo, e ao cavaleiro um almoço simples, composto por um sanduíche e um cantil de suco. Sem parar o galope, o cavaleiro libertava-se da carroça e despedia-se das crianças e de Maria e partia para o campo aberto, onde todos os dias galopava alegremente por longas horas, esperançoso de avistar um outro cavaleiro chegando pela estrada que saía da floresta, trazendo notícias, encomendas, presentes e mensagens das terras distantes, sempre alegre e nunca desanimado. Mas o cavaleiro sempre sabia que ele não viria quando o sol estava alto no céu, começando o percurso que o guiava para o oeste, e então saía a galope em direção à casa de Maria, onde recebia um pedaço de bolo e um sorriso, e Pedro sempre estava lá para ajudá-lo com a carroça. E o cavaleiro voltava galopando e trotando por entre as fazendas e os fazendeiros, que recebiam o que lhes era destinado, sorrindo-lhe e despedindo-se. Todos os dias o cavaleiro voltava para a vila já quando estava entardecendo, e lhes entregava cartas e presentes vindos do campo, e já de noite o portão do forte voltava a se abrir, e por ele passava o cavaleiro a galope, que ia então para uma modesta pista coberta, e ali galopava, ininterruptamente, embora homem e cavalo dormissem, durante a noite toda. E quando o mensageiro das terras outras vinha, em dias alegres onde o sol sempre brilhava, os dois galopavam pelo campo aberto até o fim da tarde, e contavam suas histórias, suas piadas; trocavam notícias e risadas, e corriam ao vento, apostando corrida, por horas a fio, sem poderem superar um ao outro. Até que enfim os dois saíam em alegre trote pela vila, entregando suas cartas e presentes, espalhando seus sorrisos e notícias, e já era noite quando o portão de ferro do forte abria-se para sua passagem. E os cavaleiros dirigiam-se à pista ainda trocando idéias, e pela primeira vez em seu dia o mensageiro parava e descansava, observando admirado o companheiro que ainda corria, invencível e inesgotável, para sempre...

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Parte da minha conversa com o Squick:

Eu digo que isso é possível porque simplesmente me parece possível. Tem seus limites, claro que tem, mas discordo de quem diz que "se é amor, não é livre" (você teve essa matéria com a Gilda?). O problema é achar alguém que também queira esse tipo de liberdade. Alguém que não queira o banal, o estável, mas o livre e leve e louco. Não sei se nessa hora você vai usar a palavra "namoro", mas, se você estiver apaixonado, se você quiser ver aquela pessoa todos os dias, e ao mesmo tempo não quiser morar junto com ela, acho que não vai ter outra palavra, vai? Acho que é possível, sim, desde que não haja ciúmes demais, desde que não haja possessividade demais, desde que seja uma relação de confiança absoluta, dessas em que aquela pessoa é a pessoa para todas as horas, acho que é possível. E também desde que quando houverem coisas que o outro não queria fazer, isso seja normal e legal, e que hajam outras pessoas com quem fazer essas coisas se for o caso, e que essas pessoas sejam igualmente importantes, e que não haja carência suficiente para impedir que os dois vivam suas próprias vidas.
Mas acho que o mais importante, mesmo, é que as duas pessoas se queiram o mesmo tanto. Se um quer muito mais do que o outro, sempre vai ter insatisfação e infelicidade. O que quer mais vai se sentir inseguro e abandonado, porque o que quer menos vai se encher o saco de ficar tanto tempo junto, e ninguém vai estar realmente confortável com a situação.

Por isso ficar é bacana! As pessoas que não são adeptas do ficar têm vários preconceitos, mas acho super bacana você ter certeza de que o outro também só está procurando um one night stand, uma coisa divertida e sem compromissos, em que ninguém fica construindo e projetando expectativas sobre ninguém! Você tem essa garantia de que o outro te quer da mesma forma que você o quer. Ou pelo menos são esses os termos do contrato (sim, todas as relações humanas passam por um contracto). Mas há que se ter cuidado pra não fazer isso com tudo, e achar que amor não existe, que expectativas não existem, que você pode fingir que tudo sempre pode ser "qualquer coisa", que não há compromissos, que ninguém nunca vai se ferir, que ninguém nunca vai te querer mais do que você espera, que ninguém nunca vai esperar por você.
Acho que a parte mais difícil das relações humanas é tentar lidar com as assimetrias e os desequilíbrios. Por exemplo, quando você se apaixona por alguém que te considera só uma pessoa legal. Ou quando alguém se apaixona por você, e você não quer se afastar porque a pessoa é mó legal, mas também não quer se aproximar, porque você não pode fingir que gosta dela desse jeito tanto assim. Ou quando você se apaixona mas não quer namorar, e a pessoa se interessa por você e você sabe que se ficar com ela vai acabar namorando. Já passou por uma situação dessas? É uma droga, não recomendo.

O pior de tudo é quando a única solução é ficar sozinho. Porque, você sabe, ninguém quer ficar sozinho. As pessoas ficam sozinhas quando acham que as outras opções não valem a dor de cabeça. Quando encontram algo (alguém) que as faz se sentirem bem, não conseguem (e em geral não querem) evitar. Ou pelo menos no meu universo de pesquisa é assim: eu passei por isso, você também, e consigo pensar em mais uma porção de exemplos. Mesmo que não seja a pessoa perfeita, mesmo que seja só por diversão, mesmo que seja sem aquele amor de verdade que move montanhas and all that jazz. Ninguém fica sozinho quando pode estar com alguém legal. Não, péra, fica sim: fica sozinho sim, se estiver apaixonado por outra pessoa. Mas cabe uma notação aqui: ficar apaixonado não pode ser considerado realmente ficar sozinho.

domingo, 30 de novembro de 2008

de fato eu não sei (ainda) contar histórias direito. Eu cometi um erro na primeira parte, e tive que alterar o final. Não ficou muito bom, mas acho que... bem, talvez algum dia eu consiga algo melhor. Obrigada.

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Uma História Sem Fim

Muito tempo atrás, num reino muito, muito distante, vivia uma linda princesa, tão bela quanto os raios dourados do sol nascente, ou quanto as flores noturnas, ou quanto as rosas recém desabrochadas cobertas de orvalho no início da primavera.
Todos os homens do reino vinham cortejá-la, e faziam campanhas em sua homenagem, e lutavam em torneios e duelos para decidir quem teria a honra de falar com ela. Porém nenhum homem jamais pediria sua mão, pois seu pai, o velho rei, muito velho e muito doente, jamais o permitiria. Ele dizia a sua filha: "Desconfie dos vencedores dos torneios! Desconfie dos muito belos, dos muito bravos, dos muito fortes. Nunca confie em um homem que não demonstrar nenhuma fraqueza."

O tempo passou e o velho rei morreu, não deixando herdeiros nem rainha. O reino foi tomado por nobres poderosos amigos do rei, e os jovens cavaleiros passaram a vir com cada vez mais freqüência cortejar a princesa. Em meio a suas ferozes disputas contavam histórias de lutas contra dragões, de vitórias sobre ogros comedores de virgens, de caçadas às bruxas disfarçadas de animais. A princesa ouvia as histórias e participava das festas, mas logo se recolhia com suas damas, lembrando do conselho do pai: "Desconfie dos matadores de dragões! Desconfie dos sempre vitoriosos, dos salvadores de vilas contra enchentes e tufões. Nunca peça a proteção de um homem que não lembrar de nenhuma derrota."

Um dia, porém, chegou na côrte um guerreiro com olhos vermelhos e um cavalo branco, que cantava com a voz dos anjos e sabia lutar como um demônio. Ele cantou suas histórias das vilas que salvara de enchentes, incêndios, tufões e maremotos. Contou de dragões que matara, de bruxas que enganara, de ogros que perseguira, de maravilhas que vira. E conforme cantava ia ficando cada vez mais jovens, até que ao final da noite não passava de um menino. A princesa, como que encantada, pediu que ele ficasse aquela noite, e que de manhã contasse mais sobre suas aventuras.

De manhã o rapaz se tornara novamente adulto. Conforme o pedido da princesa, contou outras histórias, sobre árvores donde nunca caem os frutos, sobre rios que correm para cima, castelos em cima das nuvens e moinhos que só giram quando não há vento algum. De noite, o rapaz se tornara novamente um menino, e de novo a princesa pediu para que não partisse. No terceiro dia, de manhã bem cedo, a princesa acordou o rapaz e pediu que a levasse consigo para conhecer as maravilhas do mundo.

Os primeiros dias foram de pura alegria! A princesa nunca saíra do castelo, e tudo lhe parecia fantástico: os campos, os camponeses, os regatos, as florestas, os moinhos, as rodas d'água, as estradas, as montanhas. De dia viajavam a passeio, apreciando cada instante, mas evitando encontrar com pessoas, com mêdo de serem reconhecidos. De noite, viajavam rápido, e o rapaz ia contando suas histórias sobre os lugares por onde passavam, e a cada palavra ia sempre ficando mais jovem.

Um dia, já bem longe do castelo, a princesa despertou e não encontrou o rapaz. Procurou-o por toda parte por um longo tempo, até que, à margem de um regato, ouviu uma voz angelical cantando uma canção tranqüila, que falava da paz dos campos e da alegria da colheita, e da passagem do tempo que fazia o verde desfazer-se no inverno para retornar com a primavera. Seguiu a voz e encontrou o rapaz, que cantava para uma mulher muito, muito velha, que parecia muito doente e que chorava silenciosamente. Quando a canção acabou, a velha abraçou o rapaz, em silêncio, e começou a andar, muito devagar, pela margem do rio. O rapaz explicou à princesa que a velha havia visto a aproximação da morte, e que seus filhos haviam partido em grandes aventuras e ela temia que não houvesse ninguém que pudesse olhar por suas filhas e por sua terra. O rapaz cantara uma música que ele ouvira em sua própria terra havia muitos anos, e que sempre devolvia às pessoas do campo a esperança e a fé. Ao ouvir isso, a princesa logo atalhou que a música era certamente mais animadora se era cantada por uma voz tão bela quanto a dele, e que ele deveria agredecer a sua própria mãe por um dom tão incrível.

"Na verdade", disse o rapaz, "este dom eu conquistei depois de adulto...", e, a pedido da princesa, ele começou a contar sua história.

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Reencontro

Aos meus melhores amigos.


O tempo, em minhas mãos, é uma serpente alada. Ela me leva e me mostra o fim do universo. Eu sou apenas criança.
Já fui grande, depois pequena — hoje sou deusa.
Já fui guerreira, estudante, artista — hoje sou mulher.
Já fui adulta, adolescente, velha — hoje sou, enfim, criança.

Como esperei por isso! Por ser jovem e ser eu! Como lutei contra mim!

Pois não estou mais num poço. Os poços se desfizeram como se nunca houvessem existido. Agora o mundo se torna infinito. Agora o universo se dissolve! Como sonhei com isso.

Chegamos ao fim e ao começo, onde todas as portas se abrem. Os demônios que me perseguiram até aqui, os demônios param e olham. Nada é o mesmo, e as metáforas lentamente perdem seu sentido. Sólido se torna líqüido e líqüido se torna luz! Eu enfim abandono e retorno, com um único passo, ao meu lugar de origem dentro de mim. Os cervos levantam suas cabeças e olham. Os dragões levantam as pálpebras e olham. Balthazar levanta a ponta de seu chapéu. O Róque levanta uma pena de sua asa. O Sonho infla suas velas negras. O mundo pára e recomeça. Não pensemos mais em poços. Eu sou, outra vez, o vento. Voltemos a cantar como quando éramos crianças. Tudo o que um dia nos feriu, agora é só um espinho caído no chão da vida. Sob nossas pegadas. Nós, não.

Não sei explicar o canto que enche meu peito. O que fiz, o que houve para que eu perdesse o mêdo. Não sou mais eu, somos todos. O universo parece mais alegre. O universo nasce ao meu redor. Estou tudo de novo. Tudo sempre. Infinito.
Cheguei a pensar em muros, em reviver velhas dores, mas tudo perde o sentido. Não há mais muros, nem cercas, nem qualquer um desses objetos metaforicamente limitantes. Estamos livres? Ou éramos livres desde o primeiro instante?

Não sei, mas eu também me sinto como a terra. Também me sinto velha e verdadeira. Parece que não sei nada, e tudo está ao alcance das mãos. O universo urra como uma besta, e eu urro de volta em resposta ao desafio. Sempre achei que eu ia viver pra sempre, mas agora suspeito que também possa viver feliz.

Vamos viver uma grande aventura?!


,
amor,
Marina.

terça-feira, 8 de abril de 2008

Despedida

"Seus olhares se encontraram através da superfície da água, que era como um espelho..."


Preciso parar. Desistir. Abandonar.
Preciso enfrentar a verdade e a solidão, se pá.
Mas aqui é como um poço muito profundo que eu cavo, cavo e não chega a lugar nenhum. E continuo cavando. Cavo quando estou feliz para que a água se torne mais funda. Cavo quando a água se esvai para procurar água. Quando cavo às vezes encontro água e às vezes permito que a água se esvaia. Fico sozinha às vezes. no fundo do poço, pensando.
Às vezes olho para cima, e é pior. Vejo tudo de baixo. As camadas de terra que atravessei. Detesto sentir e lembrar tudo aquilo, que antes era tão importante e agora é tão vazio. Não estou mais nas profundezas. Não há água no fundo do poço. Quero me distanciar de tudo aquilo e continuo cavando. Quero encontrar água e nela mergulhar.
O mundo aqui é úmido e escuro. Continuo cavando para baixo mas não percebo se me desvio, se sem querer estou cavando mais para a direita ou para a esquerda. Não tenho consciência do caminho que percorri, e de nada adianta.
Grito às vezes. Mas não consigo ouvir a resposta. Quando encontro algo enterrado, jogo-o para fora do poço, para mostrar aos que estão lá em cima, ou deveriam estar. Mas imagino que não haja ninguém lá em cima (talvez todos estejam dentro de seus próprios poços) porque os objetos curiosos se acumulam ao redor da abertura formando uma muralha de abandono ao meu redor.

Quero sair. Quero sair. Tento escalar as paredes, mas dói terrivelmente voltar pelo caminho que percorri. O cheiro das camadas de terra que um dia escavei me dá náuseas, e sempre acabo caindo de volta no fundo do poço. E quando caio o desespero me invade e preciso cavar, preciso cavar, e quanto mais cavo, mais fundo fico, mais longe. Não sei para onde estou indo, e a escuridão é cada vez maior. O pedaço de céu que consigo enxergar é cada vez mais estreito, e às vezes, à noite, chego a duvidar de sua existência. Quero sair, quero escapar; mas nenhum caminho é possível.

Preciso parar.
Preciso esquecer.
Quem sabe se eu fechar os olhos e realmente acreditar que nada disto existe;
quem sabe se eu realmente abandonar essa existência e parar de acreditar em tudo que aprisiona e que dá mêdo;
quem sabe? Talvez seja possível escapar.
Talvez todo o cenário desapareça: a terra úmida, com suas camadas; o poço onde não há mais água; as pilhas de coisas lá fora que pareciam legais, mas a que ninguém deu bola, e que se tornaram paredes também. Se tudo desaparecer, talvez eu alcance aquele pedacinho de céu que consigo enxergar aqui de baixo.

Preciso abandonar.

quinta-feira, 3 de abril de 2008

Não sei você

mas eu cansei de ser só eu
cansei de não saber seu nome
e de onde vem


Não sei, você,
parece que acha às vezes que é tudo muito fácil,
coisa que adoro e odeio.
Você, não sei, parece
que acha que eu sou pra sempre
que não tem perigo nenhum
Você, talvez, não vê
Há perigo em todas as ruas
detrás das esquinas há monstros
E eu, a manhã me devora,
e eu, amanhã; amanhã...
É que o mundo é uma reta, porém
o mundo dá voltas.
Nãe sei, você,
sei lá, parece
que acha que entende as coisas
mas sabe que não sabe nada
e quando não sabe, talvez, parece que finje
então parece que quando quer saber, ignora
Os monstros não devem ser ignorados;
e há perigo em todas as ruas,
como você sabe...
Há coisas que sobre as quais não poderemos passar.
Não sei, parece
sabe?
Você, quando não sabe a resposta
age como se não houvesse resposta
age como se já tivesse a resposta
Age como se não houvesse pergunta
e eu, amanhã, amanhã...
Sem querer, vou embora.
Amanhã amanheço, e você?
Sem você, vou embora
e você me segura e me diz
sem querer...
sem querer?

Sem querer te devoro e te expulso e te choro e não quero!
Já cansei.
Essa dança.
Já dancei; e et cetera.
Você, não sei, parece que sempre espera algo diferente; será?
Parece que acha às vezes que é tudo proposital.
Você é a voz do mundo, não faça
não, por favor, não faça o papel do mundo
nesta peça de você e eu
Não seja a cara do mundo
Não faça parte do mundo
O mundo é feito de ruas
perigosas.

Tudo bem com você? Onde dói?

sábado, 29 de março de 2008

...

The devils, they burn inside of us... are we ever gonna com back down?

O Espectro do meu Sonho em Mim

Apavorado acordo em treva...


E ontem foi um dia longo e estranho. E hoje, não sei, sinto algo que se parece muito com culpa. Não fiz nada de errado, então por quê?

Apavorado em treva acordo o mar,
sonâmbulo, patético e sem fim,
e há um manto em luz de prata a lhe velar.
Esse é o espectro do meu sonho em mim.

Ontem esperei o intervalo fora da aula, querendo dormir. E fui acolhida por funcionários preocupados. E dormi ao invés de astudar francês. E passei boa parte da tarde pelos cantos. Mas isso esqueci. Tudo isso esqueci.
Ontem discuti minha idéia de jogo com o Charles, que foi honesto de uma forma gostosa e doída. Ele me acompanhou enquanto eu fazia um trabalho, e depois se despediu, com um beijo. Mas isso eu deixei para trás. Tudo isso ficou para trás.
Ontem não me manifestei durante a aula. Ouvi e fiz um comentário, mas de certa forma me escondi. Mas isso não prendeu-me ao chão. Nada disso me prendeu ao chão.
Ontem a música tocou e fiquei indo e voltando, indecisa, procurando, evitando amigos com outros amigos e cantando baixinho a música que me fascinava. E quando a Tarsila chegou, usei seu celular para pedir permissão para ir a um bar, para o qual fui no carro dela, e onde não paguei nem uma cerveja. Será que foi isso que me aprisionou?

Não. Suspeito;
o não-pagar já se tornou rotina,
e não estou dizendo que maus costumes não doam dobrado,
mas de qualquer forma eu vou pagar,
e o que estou sentindo;



O que estou sentindo não é real.



Meu deus (eu nem acredito mais em Deus), ontem eu devo ter ficado muito bêbada para justificar o tanto de absurdos que pensei.
Não os que falei. Só o que pensei.

Sou o mar! sou o mar!...


Suspeito que essa sensação estranha, esse sentimento que parece culpa (mas por quê?), bem, suspeito que não tenha vindo do bar, mas do sonho.

Não sei porque um sonho me faria me sentir culpada, mas sinto que há algo maior nesse sonho
que não consigo pegar...
Haviam muitas mesas de jantar... Logo ao lado meu irmão jogava um jogo de video-game muito divertido num telão, e nós assistíamos. Meu primo Max havia vindo numa barraca e eu como não tinha onde dormir ia dormir com ele na barraca. Ele me abraçava protetoramente, e eu tentava dormir no colo dele enquanto assistíamos o Marco jogar videogame. Nas mesas de jantar estava toda a família — tios, tias, tias-avós, filhos de tias-avós, meus pais, minha irmã (ou será que ela assistia o videogame conosco, encostada na parede mais distante?), minhas primas Giulia e Carol, Meus primos mais velhos, minha avó Celma... Vovó sorria mais jovem do que eu me lembrava, e me dava alguma coisa (ela sempre me dava alguma coisa... este casaco verde-limão... este anel de brilhante... aquela ameixa preta que nunca parei de comer.) e minha tia ria enquanto contava alguma coisa de sua vida. Estava tudo certo, mas eu não sentava na mesa com todos eles (acho que só adultos sentavam na mesa) e eu tentava dormir, rolando para fora do abraço do meu primo (incrível que ele não deixe de ser meu primo, depois de tantos anos), eu tentava dormir longe, haviam três colchões e eu trouxera roupa de cama, eu tentava dormir para não pensar, haviam três colchões de ar como o que eu comprei a caminho do bife, eu... Talita me acordou, e eu estava pensando.

Demorei alguns segundos para interromper o raciocínio de sonho. Sentia uma forte vontade de ver meu primo (não nos vemos há vários anos). O sol entrava pela janela, e havia trabalho a fazer. Pensei na noite anterior, no bar, no sabor da cerveja, nas pessoas que conheci, nas pessoas com quem muito conversei, em como me diverti — mas não parecia nem um pouco divertido. Me arrastei então pela casa, meio sonho, meio gente; havia trabalho a fazer e a diversão de ontem desapareceu do meu peito, dando lugar a esse sentimento esquisito, parecido com culpa.

Quando a gente sonha, a gente tem consciência?

sexta-feira, 28 de março de 2008

Como ser aprendiz

"Aquilo que em mim sente está pensando" - Fernando Pessoa

Aprender é difícil. Aprender é delicioso, como criar. Freud falava em orgasmo e criação, mas os árabes falavam de comer, dormir, amar e conhecer. Intuo que os árabes sejam significativamente mais sábios que Freud. Intuo, aliás, que Freud não seja tão sábio assim.

Aprender é em parte confiar. Difícil é confiar. Confiar implica respeitar, e respeito implica reconhecimento. Conhecer de novo, à procura do conhecimento real. Respeitar não significa admirar incondicionalmente ou de forma acrítica. Respeitar não é estimar. Não é possível respeitar alguém pondo-o num pedestal. Respeitar implica, acima de tudo, reconhecer.

Confiança implica conhecimento. Confiar em alguém é saber do que essa pessoa é capaz. Confiança tem como pré-requisito o respeito. Respeitar, quase sempre, requer ser respeitado.

Estou falando tudo isso por causa da aula de hoje, e de tudo o que veio antes dela. Por causa do Agnaldo falando do Miguilim e ficando todo arrepiado. Ele estava a menos de um metro de mim e eu vi claramente os pêlos do seu antebraço se eriçando enquanto seus olhos brilhavam falando de Miguilim pondo os óculos. É tão difícil, sabe? encontrar alguém tão apaixonado, alguém... tão deslumbrado, tentando (vê-se) abrir mais e mais os olhos para ver aquilo a que a razão não basta.
É por causa disso (principalmente) que gosto do Agnaldo. Gosto de tê-lo como meu professor. Admiro sua clareza de pensamento, sua eloqüência, mas acima de tudo sua admiração perante os grandes artistas. Sua exaltação. Se eu tivesse ainda quinze anos, me permitiria apaixonar-me por ele. Percebo isso talvez porque não tenho mais quinze anos.

Ele não me admira. Ele não me ajuda nem me elogia. Ele não me superestima nem me subestima, e nisso está a maior parte do meu respeito por ele, como professor. Descobri que não consigo gostar demais de ninguém que, sem me conhecer a fundo, goste demais de mim. Isso é desrespeito. Respeito é procurar ver realmente. Respeito é decoro, é tratar as coisas como são, já que estávamos (lembra?) falando de hybris. Embora eu perceba que o professor provavelmente não sabe meu nome, fico feliz, talvez tolamente, por ele me tratar pelo que sou, sem erros. Respeitar é trilhar o próprio caminho, e não o dos outros.

quarta-feira, 26 de março de 2008

Delusion

Uma revoada de pombas brancas voa sobre nós através da névoa.


Angels and Devils
Dishwalla




This is the last time
that I'm ever gonna come her tonight
This is the last time -
É impossível não sentir dor. É impossível não temer. Será igualmente impossível não sentir amor?
- I will fall
into a place that fails us all -
Tenho pensado tanto, e tanto querido, que mal me sobra tempo para amar. O mêdo inclusive sobrepuja o querer amar. O medo e a preocupação. Hoje até me peguei querendo pensar que não estou à procura de amigos e conseguindo apenas segui-los através do ar cada vez mais grosso. É como se eu não quisesse mais. Amo-os, e é tudo. Me peguei pensando também que não acredito em quase nada do que fazemos de design gráfico. E que nunca serei uma boa designer. Mas talvez. Maybe this is the last time I will fall into that place that fails us all
- Inside



Well, I can see the pain in you
And I can see the love in you
but fighting all the demons will take time
Por dentro coleções de corpos,
Máscaras vazias.
Que se erguem por vontade ou necromancia
Que sorriem por alegria ou por maldição.
It will take time


Meu Deus.
E eu nem acredito mais em Deus. Assim, desse jeito. Não sei. Fé, comunhão, todas essas coisas. O futuro está aí, nós estamos em outro lugar. Como você disse, antes do começo. Como eu imaginei, morrendo e renascendo, lutando pelo melhor útero, mas nem tanto assim. Porque derrotar nossos demônios leva tanto tempo, que parece não valer a pena. But I can see the pain in you.
The angels they burn inside for us
Fiquei imaginando coisas, deliciadamente.
Haveriam bibliotecas e fazendas, e não seria preciso lutar para subir de nível.
Humanos seriam desequilibrados, e haveriam raças secretas.
Seria possível escrever livros, revelando segredos.
E romances, é claro, dariam experiência.
Afinal, o que seria de mim sem romances? O que seria de nós?
Are we ever
Are we ever gonna learn to fly?
Romances, como sonhos, são muito mais importantes para o aprendizado do que é reconhecido. Nós é que... desconfiamos demais da realidade. Nós é que não temos fé em nossos mestres. Nós é que queremos matar nossos pais.
Mas depois nossos pais deixam de ser nossos pais eles ainda são nossos mestres, nossos amigos, nossa responsabilidade. O problema é que nós dificilmente deixamos de ser seus filhos. And I can see the love in you.
The devils they burn inside of us
Are we ever gonna come back down -
Por dentro, sempre por dentro;
quando na verdade o que aflige é o que está por fora, e que é tão forte que fere
que fere com um punhal
dentro nossos corações...

Tremem..
- come around?


Imaginei caminhos a serem seguidos, bons e maus, fáceis e difíceis, absurdos e sensatos.
Imaginei mestres e aprendizes. Mães e nascimentos. Órfãos. Vidas. Números.
Imaginei um coração jogável, como eu sempre quis, maior e mais ambicioso do que um simples jogo. Baseado como sempre na eternidade versus a satisfação imediata. Os dias seriam horas e anos, bem, seriam anos. Apenas muito, muito longos. E o tempo seria contado em meses, como se todos fossem sempre, sempre bebês.
I'm always gonna worry about the things that could make us cold...


E vou imaginar mais, imaginar com mais vontade e mais fervor, dar mais voltas no vazio e chegar cada vez mais longe na minha obcessão que agora parece tão criminosamente infrutífera. Porque imaginar é vencer. Imaginar é não sucumbir. Imaginar é reter (em forma líqüida) aquilo que o mêdo e a responsabilidade tentam arrancar de mim como se fosse, talvez, contraproducente.
This is the last time
Imaginar é descer para a terra e inevitavelmente ascender, não aos céus, mas ao Universo; ascender e compreender como um Deus com um microscópio, que a árvore vem da flor, que a pele é uma malha de células; que as moléculas vêm dos átomos, que são mundos feitos de quarks, e que nada disso passa de um intrincado sistema de energia-matéria, que, sendo uma, são Tudo.
That I'm ever gonna give in tonight
Imaginar, talvez... é escapar.
Are there angels or devils crawling here?
E se for possível não se render, e viver a partir daquilo que também dá sentido à vida? E se for possível fazer desse mundo um mundo em que não apenas eu viva? E se um dia tudo o que foi desperdício se tornar aprendizado, e tudo o que foi aprendizado se tornar desperdício?
I just wanna know what blurs and what is clear -
E se?
- to see!

terça-feira, 25 de março de 2008

À vida, porque viver non necesse.

...the lines drawn on your hand...


Hoje estendi meu feriado para ir ao aniversário do meu primo de um ano. O primeiro aniversário. Primeiro de toda uma vida. Para mim ainda é estranho, quatro anos depois de o Ennzo nascer, ainda é estranho ter primos tão pequenos.

Mamãe não entende a estranheza porque para ela a vida foi uma grande constante. Não para mim. Passei tempo demais sem notar que as pessoas mudavam. Passei tempo demais sem me dar conta. Mas agora vejo claramente; agora o véu se afasta e o tempo me encara nos olhos, sem sorrir, mas também sem rosnar. Agora é a hora de nascer de novo; agora é hora de crescer. Tenho agora consciência, como nunca tive, das gerações. Agora uma nova geração de crianças nasce e cresce, e elas criam suas personalidades, e riem e choram, e aprendem, e em breve Ennzo e Bruno se tornarão rapazes, e terão suas brigas de irmãos, suas disputas, suas alianças. Eles crescerão e aprenderão aquilo que aprendemos, e outras coisas além. Eles terão melhores amigos e namoradas. Eles irão ao cinema e aprenderão a beber. Agora eu entendo, como não podia entender quando me apresentaram aquele bebê gordinho, três anos atrás. Alice aprenderá a engatinhar e balbuciará o que poderão ser palavras. Ela se apoiará nas coisas e nas pessoas para ficar de pé, e ficará feliz quando conseguir. Talvez essa seja a metáfora da vida do Homem. Nós nos apoiaremos nas coisas e nos outros para ficarmos de pé, e só estaremos felizes quando conseguirmos imitá-los.

Mas não é só isso. Minha irmã também crescerá, sairá de casa, se casará. Ela terá filhos que também aprenderão a andar, e seus filhos serão tão diferentes uns dos outros quanto nós somos diferentes; quanto Mamãe é diferente de seus irmãos; quanto Vovó é diferente de suas irmãs. Os velhos morrerão, talvez, e os jovens sofrerão (porque jovens sempre sofrem), e os adultos lutarão para serem o que sempre foram. E novas crianças nascerão, e suas risadas nos farão sorrir aquele sorriso exagerado, e as histórias delas serão contadas anos depois... Agora eu entendo.
Entendo que presente se criará através do passado, que se tornará dor e delícia nas nossas presentes lembranças. O grande sonho de criar uma família de muitas gerações, em que a história de antes precede a história de hoje, e todas são uma só e todas são importantes, se realizará. Será possível então lembrar daquilo que foi antes. Tudo aquilo que dói agora, também, se tornará parte da história. O mundo, pitoresco e completo, se realizará.


É esse o sentimento.

The journey, it mirrors... the journey, it mirrors...

É esse o sentimento!

...the lines drawn on your hand...

quinta-feira, 6 de março de 2008

Le Démon de Minuit

"Os dois me queriam, e eu, por pura loucura, fiz um sorteio."


Por dentro vidas vazias,
Máscaras quebradas.

Queria apenas dizer que hoje lendo um livro
O livre de Hervé Bazin chamado O Demônio da Meia-Noite
tive de recorrer ao dicionário para entender uma das muitas metáforas (muitos diriam que são excessivas)
afinal como forçar-se a lembrar com clareza o que representam os signos montante e jusante?

Estou perdendo de novo a noção dos dias e de novo as coisas começam a parecer difíceis.
Mas tenho fé em alguma coisa.
Não sei bem. Procuro ter fé. Tenho a boca sêca.

Percebi hoje que minto pra mim com a perfeita consciência de que estou mentindo. Sei o quanto é ridículo, mas me compreendo, assim. Para que possa finjir para os outros. Covardia, talvez; mas quem realmente teria coragem de existir plenamente no mundo, diante da sociedade? O tipo de covardia que inclusive se esconde e se justifica. Às vezes murmuro para mim mesma, sem nenhum motivo, sem saber se é real ou mentira: não quero finjir. Não vou finjir que estou à vontade, que me sinto tranqüila, aceita, segura. Não vou finjir que tenho interesse em que e em quem não me interessa. Será? Não tornaria tudo ainda mais duro, esta decisão ao mesmo tempo valente e pateticamente covarde? Não tornaria mais duro finjir, eventualmente, que não me interesso, quando me interesso por que a que não interessa meu interesse?

Estou perdendo a noção das coisas, esquecendo o que eu já sabia. Sinto que tudo o que sei é inútil, que o que deveria saber, não sei. Tenho preguiça das coisas e uma ânsia curiosa por me exaurir. Estou preocupada com meus limites físicos, mas o que mais me desespera é sentir minhas limitações intelectuais. Percebo agora que o peso da farsa que eu carrego há tanto tempo apenas aumenta com o passar dos anos. Por dentro, às vezes odeio todos aqueles que me admiraram um dia, e que mal me conhecem. Às vezes sem querer sinto uma raiva que envolve as imagens de todos os personagens da minha meta-infância. Sinto raiva da minha capacidade de escrever sobre isso. Não quero desabafar. Quero sair.

sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

Across the Universe

Olho para Sebastian, correndo atrás de mim com seu brinquedo pingando baba. Será que algum dia poderei amá-lo?



Encarava o monstro diante de mim. Ele não era feio. Não era mau. Só era velho e forte e irascível. Eu encarei o monstro, mas por pouco tempo. Depois, saí correndo. Saí correndo e me perguntei por que quisera encará-lo afinal. Saí correndo e me escondi nas sombras. Mas ele veio atrás de mim.

Às vezes, pra ser sincera, gosto de pedalar até a exaustão, e depois pedalar de volta, apenas para ficar tão cansada que isso se torne a única coisa que importa. Você me perguntou o que faz sentido, e isso é uma coisa que faz sentido: descansar, quando se está cansado.

Hoje quando Flor veio pedir meu colo, reparei que sua testa estava, na parte que deveria ser branca, rubra. Quis cuidar dela, mas ela não deixou. Ela está certa. Limpar a ferida agora faria pouca diferença. Há muitas outras feridas debaixo do pêlo. Eu quero proteger minha gata, mas não sei o que posso fazer.

Você entende?

Outra vez, eu encarei o monstro, lutei contra ele, sacrifiquei tudo o que podia sacrificar para dominá-lo. E quando o vi ferido, caído no chão, me afastei, cansada; voltei ao meu mundo sacrifeito. Acreditando-o victo, o mostro meu inimigo. Ai.
Me envergonha, até, crê-lo meu inimigo. Mas lutei, lutei e então parti. Mas não estava ele morto. E quando saí de meu catre, o monstro exibiu as presas; o monstro me abocanhou. Só por magia não sucumbi. Desde então, não ouso encará-lo, mais.

Também gosto de acumular tarefas e de executá-las todas no mesmo dia, de preferência emendando-as sem pausas. Hoje, por exemplo, foi assim, apesar de minha tarefa #1 ter sido adiada para amanhã e de eu ter me exaurido completamente durante a tarefa #3, o que me fez desistir da tarefa #4, que de qualquer forma ia ser bastante complicada.
Acho que o objetivo disso é não ir para casa, e não ter que esperar. Se eu passar o dia inteiro fora de casa, fazendo coisas, não vou desperdiçar nenhum minuto do meu dia. E vou viver esse dia como eu quiser, livre, independente. Estar a céu aberto também me deixa mais forte. Isso, e estar longe.

Em geral, o que mais facilmente faz sentido são as coisas simples: o mêdo, a fome, o calor do sol, o cheiro do mato. Há também coisas menos simples, mas indiscutíveis... como a ternura que desperta um bichano adormecido, ou o amor de um cão pelo seu dono. Há coisas essenciais, como respirar, como sentir a si mesmo... sentir o outro também. Há coisas revigorantes, como enxergar uma imensa paisagem, como ver o horizonte. Há as que dominam nossos sonhos, nossos desejos, nossas nossos objetivos, antes e depois de as experimentarmos... para mim, coisas como velejar e cavalgar. E há coisas fundamentais, como trabalhar. Work hard, work worth doing.

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

A campina

Um sussurro, apenas; mas um sussurro sincero.



Era noite. Lua e estrelas sobre um vazio aéreo. Um bimotor cruzava o céu lentamente, e era com os ouvidos muito abertos que ela escutava o ressonar do monstro no horizonte. A paisagens era vazia. Uma grande campina no meio de lugar nenhum. Os antigos haviam chamado aquilo de Ass'marin, e ela usava a palavra imensidão. Os antigos haviam morrido, haviam sido enterrados, e ela usava a palavra Perdição. Para honrá-los, talvez. E ao longe o tambor abafado dos cascos de um velho cavalo.

Era noite. Muito longe era possível ouvir o rumor das ondas como uma respiração. Uma rajada de leões emboscando uma única presa, chamada O Mundo. Um vento perdido varria a distância e trazia-lhe o cheiro do sal. Se ouvisse com muita atenção, talvez, um marinheiro gritando. Uma gaivota. O vento, incessante, espalhava um cheiro de relva, que estava em todo lugar. Havia um buraco amassado no mato onde ela estava. Sinal de uma manada que passara talvez a tarde ali. Uma manada de búfalos vira o Sol se pôr.

O campo era imenso, tanto que parecia um segredo. Deviam haver predadores terríveis à espreita na relva. Presas e garras esperando dar uso a um estômago vago. Haveriam também cavernas, árvores, riachos, escondidos bem como os leões para que o olho incauto não os notasse? Haveriam rochas, e até colinas? O vento ondulava a relva, talvez ajudando a esconder o mistério do umbigo do mundo.

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Another book ends


" Highway 66 is the main migrant road. 66 - the long concrete path across the
country, waving gently up and down the map, from Mississippi to Bakersfield.
66 is the path of people in flight, refugees from dust and shrinking land, from
the thunders of tractors and shrinking ownership, from the desert's slow
northward invasion, from the twisting winds that howl up out of Texas, from
the floods that bring no richness to the land and steal what little richness is
there. From all of these the people are in flight, and they come into 66 from
the tributary side roads, from the wagon tracks and the rutted country roads.
66 is the mother road, the road of flight. "

John Steinbeck


Hoje terminei, alguns anos depois, o livro As Vinhas da Ira. E é tão estranho. O final é tão estranho. Como se fosse uma estranha desistência do escritor. Como se fosse um filme que acaba com um tiro no escuro. Assim:
uma mão se ergue, com uma arma na mão. Você vê a mão, a arma (um revólver, e você que entende de armas reconhece o modelo e o calibre), um pedaço do pulso e da manga da camisa. E a imagem se apaga enquanto você ouve o estampido. E então começam os créditos. Você não sabe de quem é a mão (todos usam a mesma camisa), você não sabe quem pegou a arma, quem levou o tiro. Você não sabe nada, e é um filme policial. O policial e o bandido se encontram finalmente, e esse final indefinido. Você desiste e se aquieta. E lembra da história e sorri e pensa que o final talvez não importe tanto assim. No final, o indivíduo se dilui no coletivo. A família se desmancha. Quase completamente.

Preserve your memories.

terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

Assumiçãozinha

Eu adoro olhar pro meu blog. Eu entro nele todos os dias, e fico olhando, meio esperando que eu ache um comentário novo, meio só olhando mesmo, pras cores. Acho que talvez eu tenha chegado bem perto do template definitivo...

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

Prologues

Time it was and what a time it was it was,
A time of innocence a time of confidences.

Long ago it must be, I have a photograph
Preserve your memories, they're all that's left you



Escrevo aqui, e não ali, porque aqui não são necessárias imagens. E não é possível imaginar o que há por dentro.

Por dentro sonhos.
Por dentro vozes.
Aqui sonho tantos sentidos que me esvanece o sentido de estar num sonho.
E você (você sabe quando estou pensando em você?)
é tudo um risco imenso, o de acreditar em mentiras.
O de não se ferir com elas.
E a minha fascinação por lâminas...

Baby.
Baby você é uma lâmina.
Baby you're a dagger and I'm flesh (esperando ser dilacerada)
Baby I can tell, there's nothing left but flesh; why don't you cut me open?
Cut my eyes wide open.

Por dentro vidas sem vida,
coleções de máscaras.
Por dentro alucinações.
O passado bate à porta e você não o reconhece.
Seus amigos estão muito longe, e você não os reconhece.
Eles têm outros nomes, novas alcunhas, novos apostos, e apostam novas moedas em novas esperanças. Por dentro.
E também por fora.
Nas lembranças é que nos encontramos novamente e tudo está como deixamos;
quando saímos do apartamento que compartilhávamos deixamos as almofadas no chão, a cama desfeita e o nosso cheiro no ar. E uns pratos sujos em cima da pia. Uma torta no forno. Assim:
— Faz apenas duas horas que você partiu e a casa já está à sua espera.
Mas no nosso caso parece que fazem anos. O passado sempre parece ter acabado alguns anos atrás.

Tudo isso é apenas uma forma de dizer. O risco de acreditar em mentiras.
Acho que nós poderíamos parar de modificar o passado. Parece que quando voltei ao velho apartamento a colcha estava rasgada e as almofadas faziam as vezes de travesseiro, na cama meticulosamente arrumada. O sofá estava voltado para a janela coberta de teias de aranha. Alguém levou a tevê. E com ela os óculos de um gato. Os pratos e travessas foram lavados e guardados molhados num armário trancado.
Tudo isso para tentar expressar.
E é impossível expressar. A imaginação não chega tão longe. As possibilidades são limitadas. Há coisas a pensar e sentir, coisas que independem do passado. Coisas que se baseiam na história que está escrita por dentro. Os registros externos não significam quase nada.

Acho que não.
Desde aquele momento, muito tempo atrás.
Acho que não faz diferença agora o que acontece depois. Não há necessariamente uma história. Agora, independente do que acontecer, por muito tempo ainda, eu pensarei em você deste jeito. Eu posso não conseguir lembrar por que mesmo que te amo, mas vou continuar te amando. É ridículo assim. Mas você vai retribuir o meu amor de alguma forma. Nem sei se você sabe como ele nasceu e cresceu. Não preciso saber com certeza. Nesse caso (e no nosso caso) não há risco de haverem mentiras. Ou verdades. Ou qualquer coisa.

Talvez seja essa a solução: simplesmente não procurar o passado.
Se eu deixá-lo de lado, não terei que correr o risco.
E não importa mesmo. Eu não sinto nada. O que está assim tão distante não tem nunhuma importância agora. Não para mim, pelo menos. Eu não sou o que sou por causa de qualquer coisa que aconteceu comigo quando eu tinha quatro anos, então por que com você seria diferente? Não, eu já era assim. E depois me tornei o que já era. Porque a Capitu já estava dentro da Capitu de Matacavalos. E a pergunta, a pergunta que eu queria fazer é anterior a tudo isso, a tudo o que vocês sabem sobre mim (bom, quase todos vocês).

terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Sometimes is just an empty shell.

domingo, 27 de janeiro de 2008

At times

Uma pequena tradução
Eu sei que traduções nunca são perfeitas, mas eu me esforcei, ao menos um pouco...



There are times,
while I observe you
There are times while I follow you
When you live without me
And without knowing me
Sometimes
while I admire you
While I admire your life I ask
— I always ask, and why? —
I ask if you are
if you breathe, if...
You cry? You live?          At times?
                                                                 Your soul?
I call for you
but it is with no voice
There are times while I think you
When you exist in me
And without knowing me          you feed me
while I pursue you
(while I devour you)
I call for you
but I want you not to hear me
and At times
to appear
But it is with the silenced voice
There are times while I dream you
When you cease to exist
without perceiving me
Sometimes
while I admire you
While your existence I ask



Your soul?

sábado, 26 de janeiro de 2008

Just keep talking

no silêncio, quando nem o eco responde — keep talking...



Às vezes,
enquanto te observo
Às vezes enquanto te sigo
Quando convives sem mim
E sem me saberes
Às vezes
enquanto te admiro
Enquanto admiro tua vida pergunto
— pergunto sempre, e por quê? —
pergunto se és
se respiras, se...
Se choras? Se vives?          Às vezes?
                                                                        Tua alma?
Te chamo
mas é com a voz muda
Às vezes enquanto te penso
Quando existes em mim
E sem me saberes                   me alimentas
enquanto te persigo
(enquanto te devoro)
Te chamo
mas quero que não me ouças
e Às vezes
aparecer
Mas é com a voz calada
Às vezes enquanto te sonho
Quando deixas de existir
sem me perceberes
Às vezes
enquanto te admiro
Enquanto a tua existência pergunto



Tua alma?

quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

Pequeno Glossário Temático
dos termos desta lôba.

Em ordem de aparição.



1- Tipo de moradia rústica, especialmente comum entre as de animais de pequeno porte, que consiste em um buraco ou túnel, com ou sem ramificações ou galerias, escavado pelo próprio residente. Como a toca é escavada na medida certa para o residente, ela costuma ser uma ótima defesa contra animais maiores. Obs.: embora lobos e cães sejam eficientes em escavar tocas em caso de necessidade, duvido muito que esse seja seu estilo favorito de moradia, em geral.
1- Canídeo selvagem do gênero feminino, conhecido por sua ferocidade, inteligência e adptabilidade. Costumam formar casais para a vida inteira e são reconhecidamente fiéis à família. Em geral têm hábitos noturnos.
1- A ausência (relativa) de som. *Segundo o dicionário Aurélio, 2- "interrupção de correspondência epistolar", 3- "Sigilo, segredo", 4- "interj. para mandar calar ou impor sossego", 5- "Taciturnidade". 6- A versão sonora das trevas. 7- Espaço ou situação em que o sentido da audição é desprezado.
1- Integrante de uma organização militar. 2- Personagem que se define ou destaca por sua experiência bélica ou militar.
1- A ausência (relativa) de luz. *Segundo o adicionário Aurélio, 2- "misterioso, escuso, suspeito", 3- "falta de luz; pouco claro; sombrio; tenebroso", 4- "Escuridão", 5- "Que se distingüe mal; que não tem sonoridade; surdo", 6- "lugar sombrio, recôndito". 7- Espaço ou situação em que o sentido da visão é desprezado. 8- A versão luminosa das trevas.

sábado, 12 de janeiro de 2008

O ser imenso abriu apenas um olho, e quase sem se mexer examinou cuidadosamente o que via.

Be yourself, no matter what they say


Eu preciso falar sobre aquelas meninas. Preciso falar sobre elas assim como preciso falar sobre o João Dante mas não ainda. Preciso falar porque algo acontece e é algo diferente de tudo o que aconteceu antes. Antes era apenas um sonho, agora... Digo que o dragão acorda de um breve sono, olha ao redor e decide que o Filho do Cão está por aqui. Ele se deita novamente e adormece, adormece aguardando o tempo (que virá) quando houverem mais dragões e quando eles puderem crescer e se multiplicar. Mas então algo acontece. Algo como um ligeiro tremor, uma vibração que suas grossas escamas mal percebem. "Ainda levará anos para que eu possa fazer uma armadura", disse-me o dragão do sonho; mas agora ele olha ao redor, até um pouco assustado, e pergunta: você acha que o futuro já chegou?

Elas tinham nomes como Mônica, Bárbara, Fernanda. Eram pequenas, como convém a pequenas meninas, pequenas como estas. Com os pratos brancos. Eram o futuro. Mariana, Bianca, Luna. Eram fortes, e apaixonadas. E deveriam aprender. E seriam o futuro. Eram três, e não sabíamos bem como encontrá-las. E teriam nomes como os nossos. E nos sucederiam. Isso na história. Mas um dia sonhei com estar conversando com três meninas e o Rafa, ou seria o Ugo? E um dia vi a cena do sonho e levei um susto (ninguém percebeu). E foi como se fossem elas mesmo. Não exatamente elas, mas alguma coisa parecida. O futuro já chegou? eu me perguntei, assustada. Tão rápido, com tanta antecedência?

Depois se tornaram meninas de verdade, deste mundo e não do outro. Mas eu olharia para elas em dúvida mais algumas vezes, por mais algum tempo. E então elas começaram a falar, como filhotes de dragão que finalmente se dão conta de seus poderes (dentro de mim, é claro. elas mesmas provavelmente já conheciam seus poderes). E alguma coisa me assustou. Naquelas meninas que não eram, pensando bem, tão pequenas. Alguma coisa entre dizer yuri-monitor e falar sobre mim em um de seus posts. Como dragões adolescentes que de repente assustam a todos com seus poderes. Como correntes, de algo maior do que ferro. E velhos jogos da verdade (perdi o Jogo) em que falamos de Amor, e de Deus, e eram a mesma coisa, no final das contas. E ler aquelas palavras foi como estar de novo com quinze anos, sofrendo uma paixão difícil, tendo sonhos acusadores, pensando em beijos proibidos, e descobrindo formas de ter amigos que eu não conhecia, e me fortalencendo cada vez mais, e abraçando, e sonhando. E eu olhei nos olhos daquele dragão jovem e falei, claramente:

— Eu achei que não existiam dragõas mães nesta era. Mesmo diante de ti, não posso acreditar que existas.
— A dragõa-mãe me carrega desde as eras antigas. Dragões mais nascerão — respondeu meu amigo, dulcíssimo. — Dragões cobrirão os céus, pois a dragõa-mãe ainda vive.
— E teu pai, meu amigo, ainda existe?
— Meu pai é o mesmo que o teu. Ele dorme no fundo dos mares; ele caça ao pé das montanhas. Mas as eras tiraram sua força.
— E os dragões que dormem escondidos?
— Nós os encontraremos, irmã. O meu cheiro os despertará, pois trago ainda o cheiro do berço. Nós os despertaremos, irmã, e os levaremos à mãe. Nós renasceremos, irmã.

Uma mudança extremamente sutil no odor da caverna foi o que despertou, por um instante, o dragão seu mestre.

What the hell am I doing here?
Do I belong here?


Quando você foi embora, deu um sorriso amarelo e eu quis despistar você. Você é um idiota, mas eu ainda te amo. E sempre vou te amar. Mesmo que você nunca voltedessa viagem curta que você foi fazer, eu sempre vou te amar. O amor não acaba nunca, o que é bom, ruim, desesperador. E quando apagam-se as luzes, é o cheiro dele (ou dele?) que ainda me alucina, por mais que eu tente escapar. Estou presa, presa pelo amor nunca acabar. E o desejo, aquele desejo proibido que hoje eu sei ocultar (e até controlar). Minha melhor amiga do ginásio, que recentemente eu joguei pra classificação "conhecido" nos amigos do orkut, me disse uma vez que a gente nunca deixa de gostar de um cara bonito. Mas a beleza não é bem a questão, não é? Não é exatamente isso. É o seu cheiro, que contamina quase a casa inteira, que me faz sentir coisas que me deixam ansiosa, me dão nojo e fazem meu coração bater mais cauteloso.

Ultimamente tenho sentido muito ciúmes, sabe?

Comecei este post o coração disparado, agitado, mal sei porquê. São aquelas meninas, sabe? Roubando de mim com os olhos de um bandido meu passado e meu sonho encardido. Quanta suavidade neste punhado de pó. A chave para entender é a curiosidade, e eu quero ceder a ela. Você tem um cachorro? Gosta de Terry Pratchet? Às vezes fica hipnotizada pelo céu? Você quer chorar e quer poder não chorar, quando algo no peito sente de uma maneira errada, mas quase deliciosa? Você quer amar mas tem amor demais no coração? Você transborda sem querer, e se contém quase o tempo todo, para que nas outras palavras não te reconheçam?
O Curioso perguntou pelo Artur e lembrei de quando o Tu era assim bem como eu (oculto) palavras traduzindo mais do que conheciam dele. E como tenho orgulho dele! Como tenho orgulho e como admiro esse homem! Será que todos podem crescer assim? Será que eu também terei orgulho de mim? Será que um dia não terei mais inveja? ("se eu fosse um pecado", lembra?) E como isso acontece? E é bom?

I don't care if hurts,
I wanna have control
I want a perfect body,
I want a perfect soul


Mas não quero falar agora das minhas fraquezas.