sábado, 25 de julho de 2009

Mood

I don't know what I am for



All around me are familiar faces
Worn out places - worn out faces
Bright and early for their daily races
Going nowhere - going nowhere
And their tears are filling up their glasses
No expression - no expression
Hide my head I want to drown my sorrow
No tommorow - no tommorow

And I find it kind of funny
I find it kind of sad
The dreams in which I'm dying
Are the best I've ever had
I find it hard to tell you
'Cos I find it hard to take
When people run in circles
It's a very, very Mad World

Children waiting for the day they feel good
Happy Birthday - Happy Birthday
Made to feel the way that every child should
Sit and listen - sit and listen
Went to school and I was very nervous
No one knew me - no one knew me
Hello teacher tell me what's my lesson
Look right through me - look right through me

And I find it kind of funny
I find it kind of sad
The dreams in which I'm dying
Are the best I've ever had
I find it hard to tell you
'Cos I find it hard to take
When people run in circles
It's a very, very Mad World

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Eu sou uma pessoa constante

Eu estou aplicando os marcadores do blogger aos meus posts antigos. Queria fazer isso faz tempo, mas sempre soube (ainda sei) que dá um trabalho do capeta, por isso não tinha feito ainda. Criei muitos marcadores, mas não foram exatamente suficientes porque nem tudo pode ser classificado, e tal. Além disso havia coisas que eu não queria agrupar, como todos os posts depressivos, imagina?

Enfim, um dos posts era esse resultado de quiz sobre mim:


You rank up there with your seduction skills, though you might not know it.
That's because you're a natural at seduction. You don't realize your power!
The root of your natural seduction power: your innocence and optimism.

You're the type of person who happily plays around and creates a unique little world.
Little do you know that your personal paradise is so appealing that it sucks people in.
You find joy in everything - so is it any surprise that people find joy in you?

You bring back the inner child in everyone you meet with your sincere and spontaneous ways.
Your childlike (but not childish) behavior also inspires others to care for you.
As a result, those who you befriend and date tend to be incredibly loyal to you.


Três anos depois, ainda acho que essa resposta tem tudo pra ser verdadeira. É claro, eu teria que perguntar pra eles pra saber a verdade ^^

Enfim, como será que eu vou marcar este post?

domingo, 19 de julho de 2009

Manual do Minotauro - Missão




A vida é linda, não é, Laerte?

E os desejos confusos

(porque, foda-se o mundo, I get off on being completely sincere)



Então a vontade de transar com todos os caras do mundo passou. Não sei explicar como, nem porque. Foi suave. Foi de repente, você passou por trás de mim e eu senti o seu cheiro, e dali a pouco tudo o que eu queria era dormir nos seus braços. Eu abracei você e pedi pra você ficar, e dessa vez era você, só você, e mais ninguém poderia me abraçar naquela hora, ninguém mais tem o seu cheiro, o seu calor, o seu carinho. É isso que eu quero dizer quando digo que eu te amo.

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Least I Could Do


Questões de cunho moral e filosófico

"Desde muy temprano se sufre, pero sólo desde cierta edad se aprovecha." - Alfonso Reyes, Tertúlia de Madrid, III



Há um ditado que diz que "mais vale um pássaro na mão do que dois voando", outro que diz que "quem não arrisca não petisca", outro que diz que "tudo está bem quando acaba bem" e outro que diz que "de boas intenções o inferno está cheio". Cresci ouvindo essas coisas, muito bem usadas, muito bem argumentadas, e acho que a meu modo sigo as duas primeiras mas não as duas últimas.

Recentemente corri um risco para evitar ter apenas pássaros voando, e posso dizer de certa forma que tudo acabou bem, mas essa resposta não é suficiente para minha filosofia. Não consigo avaliar precisamente se foram boas ou más minhas intenções, para não mencionar os métodos. Não sei dizer se foram os fins que justificaram os meios, ou se foram os meios que justificaram os fins. Se esta é uma história a que bem e mal talvez não se apliquem, então as duas coisas são verdadeiras. Dá na mesma se tanto os meios como os fins foram por um lado bons por outro maus. Assim a questão só se propõe justamente porque, na questão de um risco cuja validade é questionável, a ceitação final desse risco depende inteiramente do resoltado (que pode ser tanto petisco quando desgraça); como podemos tomar decisões razoáveis quando há uma questão assim em aberto?

É como a questão do House, que toma decisões sem antes confirmar suas teorias e faz todo tipo de coisa que pode "matar ou salvar". House é respeitado, embora não pela comunidade médica em geral, apenas porque está sempre certo. Se um dos seus palpites estiver errado, e ele matar uma pessoa, sua carreira, sua ideologia, sua vida vai por água abaixo? Será que a Cuddy, que sempre apoia suas loucuras, embora com limites, conseguiria perdoá-lo se ele matasse um paciente com um tratamento errado? O House pode tomar decisões potencialmente más porque ele é foda, mas e o resto de nós, pessoas reais? Será que seguir nossas intuições é o suficiente para fazer a coisa certa? Ou será que, tentando seguir uma ideologia perigosa, nos tornaremos eventualmente os vilões?

Se eu faço uma coisa que pode ser imperdoável, e por acaso essa coisa não tem conseqüência negativas, não seria moralmente correto que de qualquer forma eu não fosse perdoada?

Por outro lado, se eu faço uma coisa que pode ser a salvação, e por azar essa coisa só tem conseqüência negativas, seria moral que eu fosse condenada?

Talvez fosse mais justo se, nessas situações em que os resultados determinam a validade de uma ação, os julgamentos fossem baseados nas informações que o ator tinha antes de atuar; afinal, se duas pessoas fazem a mesma coisa, e uma destrói a cidade enquanto outra salva um ônibus escolar, as duas são igualmente boas ou más. Não?

O problema, que é o mesmo problema que existe para o ator, é como avaliar as possíveis conseqüência dos seus atos. Muitos, como eu, escolhem a partir de sonhos e intuições. Como colocar essas coisas na balaça?

quinta-feira, 16 de julho de 2009

Sonhos

"Não te preocupes com sonhos: pois o espírito do homem julga ver no sono como verdade o que deseja em estado de vigília." - Dionísio Catão, Dísticos



Quando sonhei com você, foi como o sol
me iluminando e me aquecendo dentro do dia
foi como a chuva grossa do verão
levantando o cheiro da grama e enchendo meu peito de vida
(por que é que a chuva me faz tão feroz, tão alegre?
por que a chuva me traz de volta a infância?
por que a chuva me torna loba, me torna vento, me torna deusa?)
como se eu chegasse naquela cabana da floresta onde eu sonhei morar
no coração da floresta que é como o seu coração
onde eu tenho uma cama, uma faca e a fonte da vida
foi como "para sempre"
foi como estar em casa
foi como ter um amigo
foi como um abraço.

Quando eu sonhei com você, foi como um pecado
fervendo meu sangue e gelando meus dedos famintos
Foi como uma guerra travada num ermo, num túmulo
sob a noite cerrada, num descampado
um cavaleiro negro, um animal negro, contra a lua minguante
seus olhos eram segredo; seus olhos brilhavam.
Foi como uma espada vertendo sangue do meu peito
um inimigo, um demônio dentro do meu peito
dizendo "foda-se o mundo, eu só quero você"

Quando eu sonhei com você, foi como uma estrada
que subia uma montanha imensa e que eu percorri
(porque vovó dizia que sua estrada contorna a montanha
minha estrada percorre a montanha e outra montanha
não há só um pico, só uma luz: há a Perdição;
o caminho para o topo é o caminhar: há só o Infinito)
No topo, no cume encontrei um fantasma brilhante de mim
ou um espírito que faltava dentro do meu próprio espírito
ou um espectro do reflexo
do reflexo do reflexo de mim
Foi como ser devorado por um urso mau
e como ser abraçado por um golem gigante
Foi como a Imensidão
e como um coração imenso batendo por mim
foi como violar minha própria castidade
foi como amar a terra, foi como DEUS.
foi como tornar-me humana a partir do barro.
foi como tornar-me Outra.
foi como o incesto.

Quando eu sonhei com você, foi como a paisagem
que vem antes e cria a linha do horizonte
foi como nascer de novo, num mundo mudado
Foi como o prazer de caminhar sobre a lama que passa entre meus dedos dos pés
foi como a brisa e o vento que carregam meus espíritos
apenas soprando bem, muito bem
foi como o prazer de descer uma ladeira de bicicleta sem segurar o guidão
Foi como a liberdade.

Quando eu sonhei com você, foi como uma mensagem
Aquela mensagem do velho da taverna
"adentre a caverna e liberte a donzela das garras do dragão
e não se esqueça de trazes seis cabeças de orcs"
Sim, foi bastante como um video-game
Foi como uma missão, um desafio, um sentido de vida
Foi como uma certeza no futuro
Cada vez mais, a cada você, foi amadurecer.
Foi como rir com você e ser seu amigo.
Foi como adorar você.

Quando eu sonhei com você, foi como a realidade
ou como se o sonho fosse a realidade
De repente verdade era mentira e mentira era verdade
Foi como se a realidade fosse um espectro do sonho
e a loucura fosse sã e a sanidade, loucura
Foi como um sonho
Foi como chegar ao horizonte
foi como o impossível
Foi como a verdade
fazer a verdade tornar-se o que a verdade é
(ou concretizar o mundo das idéias
para não idealizar o mundo concreto)

Quando eu sonhei com você, foi como uma resposta
dizendo "foda-se tudo, eu só quero saber!
a resposta para todas as coisas, todas as perguntas
eu quero me tornar o que eu quero ser"
Foi como baixar as cortinas, sair do teatro
Foi como deixar os enigmas e sair para a vida
Foi como cuspir na cara da esfinge
ou devorar a esfinge
e cuspir os ossos da esfinge no mundo ignorante
Foi como montar um cavalo descontrolado
foi como subir no alto do pédrão e me jogar de lá
(e por mais que me assuste o pédrão e a dor lá em baixo
e por mais que me aflija esse mêdo que tenho dos saltos
e por mais que nunca eu salte sem saber como será o fim do salto
esse sonho, certamente, foi um salto)
Foi como um amigo, um demônio, voando com meus espíritos
dizendo "foda-se tudo porque eu quero você"

Again?

Just because I'm losing
Doesn't mean I'm lost
Doesn't mean I'll stop



Sobre a história anterior: eu escrevo só porque você lê.

PS para o Charles.:

Quando os velhos de Alanraia morrem, são enterrados num imenso mausoléu subterrâneo sem caixões. Buracos nas sarjetas permitem que entrem nesse mausoléu água, sol e pessoas distraídas. O mausoléu assim se torna um grande jardim subterrâneo, cheio de plantas escuras, fungos e outras criaturas. O solo de Alanraia, construída sobre esse campo imenso, é o que há de mais sagrado para os Alanreses. Os jovens de Alanraia, quando morrem, são queimados até que só reste o pó, e o pó é soprado sobre um bando de pássaros migratórios, para que seja levado para outra parte do mundo.

quinta-feira, 9 de julho de 2009

Fazendo Matrícula (2)

Finalmente recebi a resposta do meu professor de MAC para a pergunta "e aí, o que eu faço agora?"

A resposta foi a seguinte:
Sobre outras disciplinas para continuar estudando programação. A continuação natural seria fazer as disciplinas de laboratório de programação (são duas, com nomes com terminação I e II). Elas são disciplinas interessantes pois focam em ferramentas de programação e também na confecção de projetos maiores e não apenas pequenos EPs isolados. São as disciplinas de programação feitas pelos alunos do segundo ano de computação no IME.

Deixem eu contextualizar essa matéria "Laboratório de Programação I": semestre passado eu queria fazer coisas muito legais e me inscrevi nela, mas não peguei, e na minha ingenuidade não fiz requerimento nem nada disso. Teria sido legal porque eu teria feito junto com o Nando, mas isso não vem ao caso. Semestre que vem essa disciplina não existe. É o que acontece quando você consegue ser idiota por uma ano e meio, e não só um ano, e acaba fazendo as matérias todas nos semestres errados. Pelo menos eu conheci o Paulo, que é um cara legal, e tive a mesma matéria que o Diogo, mas, bem, acho que nada disso compensa. Estou bastante irritada. E não quero ficar pra trás de jeito nenhum.

Então: eu mandei um e-mail pro cara responsável pela matéria perguntando se é sussa eu fazer Lab 2 sem ter feito Lab 1. Espero que sim. Uma pena é que decidir fazer essa matéria não muda nada nas minhas dúvidas e inseguranças; só deixa claro que eu não vou fazer Cálculo II.

O que é uma pena. Era a única matéria que eu tinha certeza que ia ser legal.

PS.: pensando bem, ela também deixa claro que eu não vou fazer MecFlu, pelo menos não de manhã. Mas isso acho que eu já sabia...

Fazendo matrícula...

É muito difícil. Talves o difícil seja conseguir especificar exatamente o que eu quero. O que eu quero da vida, do futuro, da faculdade, de mim. A minha maior dúvida atual é entre Álgebra Linear para Computação e Introdução à Manufatura Mecânica. A primeira me daria uma grande chance de fazer Computação Gráfica no futuro, me tornaria mais habilidosa para uma porção de coisas, e é a única das matérias de álgebra linear que não têm pré-requisitos ; todas as outras requerem que eu tenha feito geometria analítica ou vetores e geometria, e nenhuma dessas matérias está disponível. A segunda me ensinaria sobre processos de produção, supostamente me daria grandes conhecimentos e habilidades úteis para o projeto de produtos. De certa forma, é como se eu estivesse fazendo uma escolha entre o mundo real e o virtual. Mas apenas de certa forma.

Escolher AlgeLin também me impediria de fazer várias outras matérias, como Cálculo II (eu achei que faria sentido fazer a seqüência de uma matéria que eu gostei de fazer) e Microprocessadores e Controle Digital, que é sobre sontrole de sistemas dinâmicos.

O que mais me irrita nessa questão toda é que eu vou ter que ralar e correr atrás de um monte de coisas se eu quiser ter a menor chance de fazer qualquer coisa. Eu não sei se dá pra quebrar requisitos. Eu não sei quantos requerimentos e recursos de requerimentos eu vou ter que fazer. Por isso, eu tenho que tomar uma decisão definitiva. Eu preciso ter certeza. E eu não sei de onde tirar essa certeza.

Não seria mais fácil se estudar fosse como em jogos de computador, em que novas opções vão aparecendo à medida que você vai conseguindo os requisitos para elas, e em que você sempre pode conseguir mais níveis naquilo que você gosta até chegar ao nível máximo?

Outra dúvida minha é fazer ou não Laboratório de Desenho e Cor, na ECA. Eu acho que é o tipo de coisa que me fazria mais feliz, mais tranqüila, mesmo se fosse difícil. Mas para isso eu teria que desistir de Cálculo II, Análise de Algoritmos e Arquitetura de Computadores. Acho que neste caso a dúvida é: eu quero ser feliz ou eu quero ser foda? (a propósito, se eu decidir fazer Cálculo II, as escolhas subitamente se tornam muito simples).

O problema é que eu não tenho nenhuma garantia de que eu vou ser feliz ou foda. Eu não sei o que eu vou aprender. Eu não sei o quanto eu vou sofrer com essas coisas. Eu tenho duas diretrizes básicas: eu quero ter aulas à tarde, eu quero ter aulas das quais eu goste, e eu quero chegar mais perto de descobrir um caminho que eu possa seguir. No fundo, não é tão ruim. É só extremamente confuso. E eu me sinto extremamente insegura.

Eu também tenho vontade de fazer aquele curso de C# que custa R$500,00 e vai tomar duas semanas das minhas férias. Eu não sei o que fazer, na verdade. Eu quero programar. Eu quero alguém que me aponte um caminho, que diga, vai por aqui, por aqui há coisas legais. Eu sinto que eu vou ficar pra sempre na faculdade. Meus amigos estão fazendo várias coisas, iniciação científica, trabalho na área, projetos diversos, e eu, bem, eu estou patinando, sem saber que tipo de vida eu posso levar.

Me parece tarde demais para coisas tão fúteis quanto "férias".

segunda-feira, 6 de julho de 2009

domingo, 5 de julho de 2009

Esquecer

Porque vivia em Alanraia, sempre soubera que um dia ficaria velho e precisaria partir. Quando a idade certa chegou, deixou suas coisas e foi. A partir daquele dia não teria mais nome. Seria um peregrino cuja terra prometida era também o ponto de partida. Trinta anos na estrada. Em Alanraia fora general e senador, e respeitado por todos os conterrâneos. Começara como chefe de guarda na periferia da cidade e ganhara uma tropeta após capturar todos os bandidos da região próxima. Trabalhara por um ano capturando bandidos em terra antes de começar a lidar com os piratas. Comprara do capitão do porto seus primeiro navio por uma picanha, quinhentos luares e cinco barris de cerveja. Três meses depois, já conhecido até em outros mares, conseguira seu segundo navio, sem picanha, mil e duzentos luares. Armou uma arapuca para os bandidos das águas que lhe valeu sua própria frota com cinco galeões e os melhores canhões da cidade. Seus homens o amavam porque alguns estavam com ele desde o início e porque ele sempre exigia deles exatamente o melhor que poderiam lhe dar. Em cinco anos, comandando quarenta navios, capturara Scarânia, antiga Levante, cobrira suas leoas de piche e lhe rebatizara Alanteni(o Pátio). Nessa batalha, aquela cujos detalhes se tornariam parte de todos os seus sonhos até o fim de sua vida, nessa batalha perfeita fora ferido na perna e conseqüentemente afastado dos seus serviços. Em Alanraia nenhum soldado ficava afastado de casa por mais de seis meses, mas dois anos inteiros na cidade era mais que qualquer marujo poderia esperar. A fama ou a confiança lhe dera assim que pisara em terra a cadeira de senador. Como senador fora justo, mas não fizera nenhuma proposta. Ou talvez seria melhor dizer que nos dois anos em que servira à cidade como senador, não fizera nenhuma lei, nenhuma reforma, mas julgara as propostas dos outros e os argumentos que ouvia com coragem e justiça, sem nunca perder de vista o benefício total à cidade. Porém, mal a perna se recuperara totalmente, já estava de novo nos mares, reformando as regras da marinha, se livrando de novos piratas; além disso recapturara Levante e desta vez dera-lhe o nome de Alanfera(a Morte). Partindo de Alanfera acuara os defensores da cidade, capturara o capitão B. Leão e o trocara por 34 prisioneiros de guerra num opressivo acordo de rendição. Fizera de Anlanfera sua base, e vivera nela por cinco anos, estendendo um exército sobre a terra como havia estendido um sobre o mar. Passava em Alanraia apenas uma semana por ano, em duas viagens apressadas, para abraçar suas filhas e beijar sua terra vermelha pedindo a bênção dos seus. Em Alanfera era sempre revoltas e carnavais, festas e rebeliões. A pantera de piche porém já nem era mais chamada de leoa. Seu exército continuava vencendo batalhas. Sua cidade tinha muito do que se orgulhar. E esse foi o fim da história.

Porque sempre vivera por Alanraia, sempre soubera o dia em que ficaria velho e teria de partir. Quando esse dia chegou, como chegava para todos, saudou seus companheiros na cidade, abraçou todos o que respeitava, caminhou pelos pátios nos quais brincara em criança, e embarcou num veleiro branco para Alanfera. Seus coronéis fizeram-lhe uma homenagem, seus soldados por toda a cidade se perfilavam à sua passagem. Numa última reunião de conselho apontou seu sucessor no posto e fizeram uma festa. Então tudo acabou. Saiu da festa sem uniforme, vestido como um dos civis daquela cidade que era tão diferente do que queria que fosse. Nenhum soldado raso ou oficial sequer olhou para ele. A partir daquele dia estava morto; não tinha nome, não tinha patente, ninguém o conhecia. Quando caminhou até o porto, era como se fosse um fantasma. Quando o veleiro branco estendeu suas velas, era como se fosse invisível. A parte mais difícil de morrer era esquecer da vida que chamara de sua. Enquanto o veleiro branco seguia o vento que não sabia para onde ia, tentava esquecer de todas as suas batalhas. Só estaria realmente livre quando não houvessem mais pronomes possessivos. Temia perder a noção do tempo, temia esquecer também de onde viera e para onde ia; o veleiro branco não tinha biruta mas tinha um relógio que marcava o tempo ao contrário e uma bússola que não apontava para o norte. E seguia para o mar do esquecimento, que também se chamava o mar da memória.
Dali a trinta anos chegaria a Alanraia apenas um peregrino. Ele diria que viera seguindo uma bússola louca e um relógio que marcaria zero. Ele contaria sonhos estranhos, histórias antigas cujos heróis pareceriam não ter nome. Ele contaria para as crianças assustadas de uma cidade que se chamava Morte, e que talvez existisse, em algum lugar. A maior parte de suas histórias seria maravilhosa, coisa de terras estranhas, de mundos estranhos, coisas que as pessoas da cidade mal poderiam imaginar.
Os peregrinos, os velhos, são bem recebidos em Alanraia. Eles recebem casa, comida, e o direito de andar livremente por onde quiserem. São consultados por todos os cidadãos em busca de conselhos ou presságios. Além disso, nunca deixam a cidade. Se tornam parte dela, como as ruas e as casas. Quando são questionados a respeito de sua vida pregressa, respondem quase sempre que acabaram de nascer.

Pronome pessoal possessivo de primeira pessoa

Um dia Liane perguntou para Zacharias o que mais lhe fazia saudade de sua antiga vida no rancho. Zacharias não parou para pensar, nem por um instante.
"Sinto falta de Lúcia, de nossa casa, de nossos filhos. Sinto falta do pôr do sol atrás da colina e de Turo, o pônei que demos para Alina quando ela fez seis anos. Sinto falta de sentar com Lúcia na varanda e conversar olhando para a lua."
A isso, Liane teve que perguntar:
"Você seria mais feliz se nunca tivéssemos partido? Se tivéssemos continuado no rancho até o fim?"
Não. A resposta era sempre não. Mesmo em seu coração não havia redenção para todos os erros da sua vida pregressa. Não havia escapatória para o fim que lhes era reservado. Viveriam ali até que fossem encontrados. Então partiriam, quem sabe mudando de nome, quem sabe com outras pessoas... o futuro que ele enxergava era uma repetição do passado, porque o fim lhe parecia sempre o mais certo. Mas não era isso que ele diria a Liane.
"Sinto falta de Lúcia, mas apenas porque não a vejo há anos. Se a visse agora, quem será que me olharia através dos olhos dela? Quem falaria através da sua boca? Se eu estivesse lá, nós não estaríamos aqui. Se eu estivesse no passado, não existiria o presente. Se tívessemos ficado no rancho, não haveria estas pedras, estas colinas; nós não poderíamos assistir ao nascer do sol atrás da velha árvore. As pedras do passado nunca vão criar limo; as nossas, é possível amar. Eu não te deixaria se encontrasse minha mulher e meus filhos, querida. Eles são boas pessoas, e eu os amo, mas não são mais meus. Aquela não é mais a minha vida; está é."



Às vezes eu me pergunto o que queremos dizer quando dizemos "minha vida". A vida é minha mesmo? Tenho algum poder sobre ela? Ela faz parte de mim? Ela define alguma coisa em mim? Eu defino alguma coisa nela? Será que sou eu a parte mais importante dessa vida, ou será que o protagonista é outro? Será que sou apenas a câmera, o diretor, o ator, tentando criar alguma coisa maior para chamar de "meu filme"? Será que através dos meus olhos acontecem coisas? Será que meu olhar cria significado?

Será que tenho qualquer poder sobre o que eu vivo?