quinta-feira, 30 de abril de 2009

Danger

Eu me sinto irritada. Simplesmente irritada. Eu não tenho vontade de fazer nada. Eu quero brincar e dormir. A luz do sol me compele a fazer muitas coisas alegres, como catar limões e brincar com os gatos. Mais uma vez eu ajo irresponsavelmente. Por que não posso colocar brincar com os gatos entre minhas responsabilidades? Por que não ganho créditos por escrever no blog?

Preciso abandonar umas responsabilidades. Vou desencanar de ler aquele texto. Vou comprar todos os textos de história e guardá-los em casa, para referência. Vou fazer uns desenhos e uns filmes, mas não tenho a menor vontade. Estou com mêdo de não saber por onde começar. Eu tenho mêdo de tudo.

Acho que vou reler os textos e tentar começar mesmo assim. Eu queria fazer um bom semestre para variar. Eu me sinto angustiada por todas as coisas que não posso fazer. Eu estou com raiva.

Chega. Vou tirar a sexta-feira pra... Não; vou fazer esses filmes na sexta. Vou? Estou com muito mêdo. De não saber fazer nada. Droga de filmes. Tem dias que me dá vontade de gritar.

Talvez algum dia a gente possa, sabe? passar o dia inteiro perdendo tempo...

quarta-feira, 29 de abril de 2009

Minha mãe e um orc.

O Diogo e o Ugo vieram me contar as histórias do jogo de RPG de sábado, algo sobre uma clériga de Lena, um orc bárbaro, um elfo perdido e um pseudo dragão contra um mago malvado. Bem. Aí contaram a parte em que o dragãozinho tentava tirar a concentração do mago, e ele gritava umas coisas tipo:

"Imagina um orc pelado! Agora imagina sua mãe pelada! Imagina um orc comendo sua mãe pelada!"

Estou dizendo isso tudo porque depois de ouvir isso algumas vezes foi umpossível não visualizar (mas sem muitos detalhes — uma mãe genérica com mais ou menos o mesmo tipo físico da minha e um orc genérico com cara de orc genérico fazendo sexo), mas eu meio que não tive nenhuma repulsa particular pelo pensamento, nenhuma esperada resposta emocional capaz de realmente me tirar do sério com uma imagem dessas. Por um lado, isso me pareceu normal, afinal, imagens não têm nada de especial e a gente não deveria mesmo ficar muito impressionados com as coisas que a nossa imaginação produz, seja o que for. Por outro lado, achei o fato de essa ser uma imagem que teoricamente deveria me causar qualquer coisa, e o fato de não ter causado nada, meio curioso, e resolvi elaborar uma explicação. A minha explicação é a seguinte:

Em primeiro lugar, eu até entendo a dificuldade de imaginar que os pais sejam seres humanos e façam sexo, mas eu não tenho essa dificuldade. Pra começar porque meus pais não dão a menor abertura para idealizações infantis — já faz anos que eles nos tratam como adultos exatamente no mesmo nível deles, inclusive pedindo conselhos (e inclusive muitas vezes só nós filhos conseguimos manter calma suficiente para resolver algumas questões familiares); depois, porque meus pais falam de antigos namorados, dos nossos namorados, de sexo e do que eles pensam sobre todas essas questões sem grandes tabus, sabe? mas sem entrar em detalhes, também, porque no fundo ninguém quer fazer o papel de melhor amigo com os pais enquanto isso puder ser evitado. É uma questão de manter as funções separadas. E em segundo lugar, sexo é uma coisa natural, bacana e que em geral traz mais bem do que mal, e na real acho que todos deveríamos fazê-lo. Apesar de eu não gostar de pornografia eu não acho que sexo seja uma coisa nojenta. (*na verdade, eu só acho nojento mesmo coisas que não combinam: por exemplo, boca e bile não devem ser combinadas. definitivamente.)

Por outro lado, eu também não imagino orcs como bichos nojentos. Desde que houve a reversão dos conceitos de bem e mal, e se abriu a possibilidade de considerar qualquer criatura como fundamentalmente neutra, ou como uma possibilidade biologicamente plausível, os monstros clássicos se tornaram menos monstruosos para virarem apenas criaturas um pouco grande, um pouco feias, um pouco más, mas não conceitualmente horrendas como eram antes. O que quero dizer é que o orc não é intrìnsecamente feio. Ele só é um orc. Eu imagino o orc como um homem grande, gordo, muito musculoso, de pele preta ou cinza (a menos, é claro, que eu passe muito tempo jogando warcraft...), como aqueles grandes porcos de criadouro, com uma fuça meio estranha, narinas maiores que o normal, uns dentes de javali e orelhas de porco apontando para cima. No geral, um porcão bípede, mas não necessariamente feio. Até porque os porcos não são feios, eles só são porcos. E eu convivi com homens musculosos minha vida inteira (eles não são especialmente raros) e sei que eles podem ser bonitos. É só olhar pros super-heróis da DC. Ou pra um vilão. De qualquer forma, eles estão por aí. Então, se pra mim o orc é só um homem grande, ele pode ser legal também. Eu não imagino um Uruk-hai, nem uma criatura diabólica, eu imagino um homem-porco. Acho que um orc tem até potencial para ser sexy. Por isso, também não tenho problemas pra imaginar um orc fazendo sexo.

Cheguei a pensar que talvez, como isso dos pais tem a ver com complexo de Édipo e tal, eu deveria pensar pelo lado de "meu pai e uma orca"... Bem, não sei, ainda não é o tipo de coisa que me deixaria perturbada, ainda mais se fosse uma orca bonitinha.

Estou dizendo isso porque o orc é uma criatura típicamente masculina, ele é meio que o estereótipo do homem sem características femininas, o bruto que aparece nas histórias pra beber, quebrar cadeiras, urras, cheirar mal, e usar sua força para estuprar mocinhas descuidadas. Ok, não quero ofender os homens, mas estou dizendo que ele é uma criatura sem leveza, sem suavidade, sem delicadeza, sem sentimentalismos. Ele só tem características 'masculinas', as características mais brutas, dos homens que não querem ser chamados de viados, do machismo violento. Nada a ver com o "homem moderno", o "homem sentimental", que tenta encontrar equilíbrio entre razão e emoção. Não, o orc é um homem duro, sem palavras doces, que acha que emoção é coisa de donzela e de poeta. E que não respeita ninguém, quer dizer, só respeita o orc mais forte.

E a orc fêmea seria o quê? A mulher do orc? Mas a mulher do homem forte pode ser tanto a dona de casa com fibras de aço fazedora de filhos quanto a gostosona destruída. A mulher do orc ou é um orc ela mesma, ou é um nada. Mas tentemos imaginar o orc não como conceito, mas como espécie possível: o homem musculoso, de cor esquisita e com nariz de porco, só isso. A mulher-porca é uma imagem usada sempre para personagens feias, gordas de seios caídos que se vestem de modo a ressaltar seus defeitos, têm cabelo desgrenhado, são sujas e dentuças (com exceção da super-pig, é claro). Mas imaginemos uma porca limpa, uma porca asseada, bonitinha. Não é adorável? Agora imagine um orc sorrindo e uma orc mulher-porca sorrindo de volta, e nós temos um lindo casal monstruoso! Oh yes! E eles vão formar uma linda família numa linda casinha na Improbable Island até que um herói venha derrubar sua porta, cortar suas gargandas com uma motosserra e roubar todos os seus bens. Mas isso é outra história.

Aflição

De tempos em tempos acontece um desses momentos jogados fora. Tento me concentrar mas só consigo pensar em balança em frente, sem sentido, sem motivação. São dias completamente perdidos, desperdiçados, ofendendo a clara noção de valores que diz: "você tem que ser mais!"

Eu tenho que ser mais, é? Mais do que quem? Melhor do que o quê? Para formar que tipo de inequação M > V*f(d) ? Eu tenho que ser melhor? Que ser forte e conseguir tudo para dar os louros do meu suor àqueles que merecem meu esforço? Fazer sacrifícios da alma, domar minhas vontades, meus espíritos, para seguir as regras de um jogo que dura a vida? Eu tenho que superar esse dias e ir além da mediocridade, da inutilidade, da pessoa sem grandes conquistas? Eu tenho que cumprir metas e promessas para merecer o meu lugar no mundo?

Hoje foi um dia desperdiçado e não sei se devo sentir raiva ou culpa. Eu não sou uma pessoa pequena, apenas uma pessoa dispersa. Vou tirar o pc da tomada, sim, em breve, vou trancar os vícios num armário e dar um tempo, e dedicar os dias a esse ideal maior da funcionalidade. E tudo vai girar em torno de um objetivo. Mas será o meu objetivo? Como num jogo de video-game, precisamos fazer todo tipo de missão idiota para conseguir crescer o personagem. O que estou fazendo agora não passa de uma quest?

E por que cada vez mais se me revela a falta de sentido? Por que até a linguagem se vai desconstruindo? Por que se torna impossúvel efetivamente comunicar, se não através de guinchos primitivos? Por que não nos podemos mais compreender?

terça-feira, 28 de abril de 2009

Comentário à filosofia do Yuri.

Eu vou me distanciando lentamente de mim (como me vejo) e de vez enquando preciso me retomar. É tipo um update. Aliás essa talvez seja a única importância do passado: a noção de si (e do resto). O presente é meio que o indefinido, aquele instante em que você se pergunta o que diabos você está fazendo esperando na fila do médico se na verdade tudo pode ser nada, você pode ser um caracol no próximo instante, as pessoas podem ser sua imaginação, podem ser robôs, podem ser qualquer coisa, e você pode não ter nenhuma semelhança com elas, porque você se vê através dos seus olhos e as vê de frente através do mundo, do ar, do vidro. Então, você se mantém distraído dessas estranhas possibilidades, fingindo que tudo é assim mesmo e que a realidade é o que é e não o que pode ser, você faz isso mantendo as suas noções baseadas no passado e não no presente, porque o presente, fora do passado, é a sensação do absurdo. O futuro é o que realmente importa (o futuro, claramente, também é sempre futuro do pretérito, porque o presente não tem futuro, o presente é e ponto, o presente é absoluto e o futuro é relativo ao passado, e quando algo acontece o futuro é congelado e quando algo vira memória o futuro é atualizado), porque é só no futuro que poderemos ser de qualquer maneira produtiva. Então... a grande questão é o que é o EU de verdade. Alguns diriam que é o conceito de eu, ou seja, o passado. Outros diriam que é o ideal de eu, ou seja, o futuro. E alguns falariam de essência e aí teríamos que resolver aquele problema complexo do presente.

O mundo, o mundo, sempre a mesma história...

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Sonho

I

De estar num seu abraço
Quente e confiável
De estar entre seus braços
confortada
pelo teu calor amável
Sério e companheiro
Do que antes inconsolável
apartada

II

Apenas meus pensamentos é que são vis;
meu coração é fulvo.
É que em malvados momentos, ou infantis,
meu mundo fica rubro;
Não temas que estes lamentos não são ardis:
apenas meus pensamentos é que são vis
e se sem ressentimentos nos encontrarmos
verás pelos sentimentos que nós trocarmos
que o coração é fulvo.

III

Por estar ao seu lado
Como conversamos simplesmente
Como trocamos idéias verdades sementes
Por estar ao seu lado
Como é fácil existir tão plenamente
Como evitamos segredos maldades serpentes
Por olhar em seus olhos
Como devo consentir em ser somente
Como aceitar as correias os atos as lentes
Por olhar em seus olhos
Como caminharmos sempre em frente?
Como agüentar o vazio a saudade e a nascente
Por sentir sua alma
Como?

terça-feira, 21 de abril de 2009

II

Há ainda muita coisa, bem, esperando para fazer sentido.
Algumas coisas cansam e desistem depois de um tempo.
Algumas coisas crescem e coçam e incomodam terrivelmente depois de um tempo.
Algumas coisas dão um tempo e acabam aparecendo anos depois.

Outras se resolvem.
Rápido.
Como um homem com sede que simplesmente bebe água.
Simples.
Como dar uma volta pra esticar as pernas.
Lógico.
Como um exercício de matemática.
Como acender a luz quando começa a ficar escuro.
Como a gravidade.

Sem uma grande e confusa variedade de opções.

Coisas doces

Quando cheguei em casa ontem à noite (por volta de uma da manhã) os filhotes estavam especialmente carentes. Eles me seguiram até o quarto e eu os pus para fora. Eles voltaram, e o Ugo os assustou para fora. Quando levamos o computador para o carro, eles nos seguiram até a porta e eu os mandei de volta para dentro. Quando fui dormir, os pequenos se esgueiraram atrás de mim pela fresta da porta. Como meu coração não é exatamente de pedra, eu tive que ir brincar com eles. Caindo de sono, deitei no sofá e deixei eles brincarem com minha mão no chão. Afastei Fumaça do meu sapato algumas vezes antes de adormecer. Quando acordei, os dois estavam aninhados no sofá ao meu lado.

Acho que nunca me senti tão próxima de uma mãe. Eles só queriam se sentir seguros e aquecidos como na barriga de sua mãe gata. Passei horas dormindo mal e acordando a toda hora, quase caindo do sofá (que não é tão confortável assim...), totalmente cativada pelas duas coisinhas pretas. Finalmente, às cinco da manhã não agüentei mais o sono e as cores nas costas que começavam a surgir, e deixei os gatinhos dormindo para ir para minha própria cama. Quando acordei, a primeira coisa que quis fazer foi brincar com eles. Hoje Penumbra (é esse o nome que quero dar para ela) deitou no meu colo durante o café da manhã.

Acho que estou completamente apaixonada.

domingo, 12 de abril de 2009

Sobre mim

Agora há pouco eu meio que estava relendo uns posts antigos do meu blog. A princípio pra ver se tinha qualquer poema que prestasse aqui. E também para verificar umas alterações de layout. É confuso tentar manter os posts coloridos quando se muda as cores do layout.


Eu acho estranho ler esses textos antigos. Estranhos pra caramba.
Acho triste ler os de 2007, 2008, porque nunca sei do que eles estão falando, e, quando sei, não é coisa boa.
Acho perturbador ler os de 2006, porque eles são dolorosos, apaixonados, cheios de cilpa e segredos, de pecados, de tentativas de libertação e afinal de uma liberdade insegura. Mas eu me identifico com essa pessoa de 2006. Acho que ela se parece muito comigo.
Acho confuso demais ler um texto de 2005... confuso mas delicioso, porque no início de 2005 eu já estava apaixonada por todos os garotos e você pode ver nos textos como eu me sentia em relação a cada um deles... e também porque, incrivelmente, apesar disso eu estava completamente feliz. Mais pro meio do ano, as coisas estão mais difíceis e os textos estão repletos de emoção e aventura, conforme os conflitos (a respeito de garotos, mainly) vão se fazendo representar por cenas épicas de cavaleiros, monstros, demônios, anjos, criaturas místicas, batalhas, animais selvagens, gatos, pégasos. Ou pelo menos eu consigo ler isso, hehehe. 2006 tem um pouco disso também. Mas não me identifico muito com a infantilidade, o cansaço e o desespero que transparecem nesses textos. Mesmo então, suspeito que eu estivesse me divertindo mais do que podia demonstrar (não que eu mentisse nos posts — mas eu em geral escrevia apenas quando movida por sentimentos exageradamente intensos).

Mas o mais estranho é ler textos de 2004. Os textos de 2004 não têm uma unidade clara. Como muita, mas muita coisa mesmo aconteceu nesse ano, a impressão que dá é que a autora era esquizofrênica (obs.: don't sue me, squick). A parte mais estranha é ler os textos de amor (que são a maioria, por razões óbvias: eu tinha quinze anos nessa época). Eu tinha quinze anos e estava vivendo o meu primeiro amor de verdade. E tudo o mais girava em torno disso. Nada mais tinha a menor importância. Eu estava louca e me sentia já metade de dois (diferente de um), e me lembro realmente de agir como metade de dois, aliás, eu me lembro de tudo, todos os momentos, todos os carinhos, as partes confusas, as partes boas, tudo. Para mim não faz o menor sentido.

Não consigo me identificar com aquela pessoa. Pra mim parece estranho ter sentido aquelas coisas por aquelas pessoas. Quer dizer -- eu ainda adoro o Yuri e até hoje acho ele um gato (:þ -- mas ele é mesmo), mas me parece meio surreal a gente ter vivido juntos todas aquelas maluquices, aquelas viagens, aqueles erros óbvios, aquelas idéias doidas, que hoje em dia eu nem sonharia ter. Parece tão estranho ter sido tão infantil! Eu não me lembro de ser assim, nem antes, nem depois. Acho que só naquele primeiro ano de amor e loucura foi assim, mesmo. Depois ficou difícil demais pra tanta inocência. E antes também. Mas... acho que era bom. Muito bom. Até porque eu dizia em meus escritos que eu vivia em dor e escuridão antes de "te conhecer". Essa é a parte mais estranha de se ler. Estranha porque eu parte eu sei que é verdade, e emparte eu sei que é mentira. Estranha também porque eu me sinto assim hoje em dia, eu tenho vontade de usar exatamente as mesmas palavras, mas tudo, absolutamente tudo, parece diferente — inclusive as partes iguais.

Eu meio que não consigo evitar ler todas essas coisas como um complexo e sujo relato da minha viagem por uma porção de homens (pelo menos oito — mas posso contar uns dezessete (#%*) se for realmente precisa) até chegar à libertação. Posso até dar nomes para eles:

o Primeiro Mestre
o Namorado
o Grande Mestre
o Parceiro
o Inalcansável
o Colega-Modelo
o Encontro Casual
o Amigo

Ok, agora que eu escrevi isso eu me sinto muito idiota por ter escrito isso. Mas ainda faz muito sentido. Eu poderia preencher as lacunas com

o garoto da escola
o absurdo
o amigo irmão
o beijo sem importância
os amigos-do-amigo (2)
o abraço sem compromisso
o que ganhou uma chance
o vizinho

Mas seria difícil tirar o sentido disso
Não sei porque eu faço essas coisas
Porque eu penso sobre isso
Mas é que pra mim o sentido é muito importante
Eu só estou tentando encontrar um sentido.

sexta-feira, 10 de abril de 2009

Entre outras coisas — quem devemos proteger?

Eu estou afim de escrever, ultimamente. Só isso. Não vou escrever nada terrível. Mas vou pensar sobre isso. Porque preciso parar de ter medo de tudo. Porque preciso parar de proteger as pessoas.

Vocês já sentiram a emoção única de proteger alguém? A emoção ainda mais única que a de ser protegido? Já deram seu agasalho a alguém numa noite fria, ou seguraram as mãos de alguém que tentava subir numa pedra ou num tronco? Já se jogaram entre alguém e algum objeto que poderia ferir-lhe? Já serviram de apoio para alguém? Já deram colo para um amigo que estava fraco, triste ou desesperado? Já abriram espaço na cama para alguém que não conseguia dormir? Já tentaram devolver a razão a pessoas que se machucavam? Já transmitiram segurança a quem sofrera um acidente? Já aceitaram sofrer para que outra pessoa não sofresse? Já sentiram o cólo ou o ombro molhado de lágrimas?

Acho que não há nada tão doce quanto proteger alguém. Lembro muito claramente do momento em que uma pessoa que amo se machucou, de como corri até ele sem mêdo nenhum além do de que ele estivesse ferido de verdade, de como tive que ser forte para segurá-lo enquanto estávamos ambos muito assustados. Lembro-me também de outro amigo que me confiou todas as suas dores, e de como sacrifiquei muitos momentos tranquilos para poder estar ao lado dele, partilhar suas dores e entender suas lágrimas. Por fim, resguardo um momento sagrado em que uma pessoa muito doce e muito forte revelou ter mêdos, e chorou me pedindo um ombro, quando era sempre eu a pessoa que entrava em desespero.

Não há nada como se sentir necessário. Quando alguém ao nosso lado é frágil, nos tornamos imediatamente mais fortes para proteger esse alguém. Quando esse alguém tem mêdo, criamos coragem. Quando esse alguém se desespera, encontramos razões para sorrir. E mesmo que estejamos caídos e desanimados, se esse alguém cair ao nosso lado, nos ergueremos com nova força e coragem, apenas para estendermos a mão. Essa pessoa não é necessariamente mais importante que nós mesmos — é que a fraqueza dela dá um sentido à nossa força. É difícil proteger a si mesmo; o mais fácil é proteger o outro. Para proteger o outro, podemos ir muito além de nossos limites, pois não estamos preocupados em guardar um resto de nós que ainda esteja aqui quando o perigo acabar. Se é para proteger o outro, não precisamos poupar a nós mesmos; nenhum luxo e nenhum vício são necessários.

E é claro que, em geral, quando protegemos alguém lhe trazemos algum benefício. As pessoas não são sempre fortes, e muitas vezes precisam ser protegidas. Os animais, as plantas e mesmo a terra precisam ser protegidos. E mesmo as máquinas. Por outro lado, essa também é uma atitude egoísta: se você protege alguém, está impedindo que ele proteja a si mesmo — está roubando-lhe o poder de proteger a si mesmo. Quando protejo meu amigo, imponho a ele a fraqueza que deve ter para que faça sentido que eu o proteja. Eu vou impedir que meu amigo se torne mais forte e dispense a minha proteção simplesmente porque eu preciso do sentido de dever e funcionalidade que obtenho ao protegê-lo? Talvez eu não faça isso de propósito, mas, de qualquer forma, o próprio ato de me colocar entre ele e a ameaça impede que ele entre em contato com um desafio que poderia deixá-lo mais forte. E, ao mesmo tempo, conquanto me sinto mais forte por enfrentar os mêdos de um amigo fraco, quando enfrento mêdos que ele poderia enfrentar sozinho, não estou só mimando meu amigo, como também perdendo meu tempo. Ajudar quam não precisa da minha ajuda não me fará verdadeiramente feliz: os desafios não evoluirão e se tornarão fúteis com o tempo, e minha relação com meu amigo será tomada por essa futilidade, de modo que ninguém aprende nada, ninguém ganha nada, e na pior das hipóteses eu ainda perco um amigo.

De fato, eu não consigo agüentar alguém que precise de ajuda o tempo todo. Não posso respeitar verdadeiramente alguém que nunca vence nenhuma batalha contra seus próprios demônios. A pessoa precisa ter significado em si própria para que haja significado no protegê-la. Ninguém quer ficar de babá de uma pessoa desinteressante. Nós damos tudo de nós por alguém porque sabemos que aquele alguém nos dará algum retorno, como, por exemplo, nos ensinar alguma coisa, nos ajudar de alguma forma, ou ser uma pessoa legal. Não há sentido nenhum em proteger uma pessoa que não acrescenta nada à nossa vida. Eu ganharia mais com essa pessoa se pudesse observá-la se debatendo. Da mesma forma que lutamos contra nossos mêdos agora para abrirmos nossas possibilidades para o futuro, queremos lutar para que outras pessoas possam fazer grandes coisas em seus próprios futuros.

Mas, no extremo oposto, é difícil conviver com alguém que está sempre por cima. Poucas coisas são tão difíceis — acredite, eu sei — quanto conviver com uma pessoa que nunca chora, nunca se desespera, está sempre numa boa. É claro que viver com uma pessoa forte nos inspira a ficar mais fortes também! O problema é quando essa pessoa é tão forte que ela se torna inalcançável. Até porque, se você nunca pode proteger essa pessoa, você acaba se sentindo desnecessário... e, se você não é necessário, por que você está aqui?. A reação mais natural é ir embora. Ou isso, ou você se submete a essa pessoa, e rasteja atrás dela como um cachorrinho, pedindo atenção, alimento e instruções. (* é claro que existem outras formas ser necessário... acho que a mais óbvia é estar sempre ensinando coisas novas a essa pessoa)

O problema maior é sempre o desequilíbrio e o erro. As pessoas precisam ser protegidas, e também precisam proteger, mas apenas na medida certa. Não faz sentido proteger alguém que poderia se resolver sozinho. As pessoas se sentem realmente frustradas quando não conseguem proteger a si mesmas, pois estão sempre sendo protegidas. E justamente essas pessoas terão mais diciculdade de arranjar a própria força — e será especialmente difícil resistir ao impulso de protegê-las. Porém, nessas horas o mais importante é ser capaz de manter a frieza e observar a pessoa lutar por si mesma. Sem contar que muitas vezes, quando achamos que estamos protegendo alguém, percebemos que estamos protegendo-a de coisas inofensivas, e às vezes até benéficas. De novo, é nessas horar que é mais difícil mater a calma, avaliar a situação e fazer a coisa certa.

É de extrema importância que não cumpramos missões inúteis.

terça-feira, 7 de abril de 2009

Descoberta da Maturidade

Este post começou como um comentário no blog do Brunok. Portanto, ele é a motivação para ei pensar nestas coisas deste jeito.



Li uma vez uma frase que era assim: nunca deixe de brilhar, pois o seu brilho inspirará outros brilhos. Quer dizer, você nunca deve temer ser melhor, você nunca pode temer ofuscar os outros, porque embora os outros possam sim ficar incomodados, eles ainda desejarão ser pessoas melhores, para brilhar mais.

Achei que podia escrever essa frase aqui. Mas acho que só brilhar não é suficiente (a menos que você queira ser uma freira). Acho que você deve ajudar os outros a se livrarem da sujeira que tolda seu brilho também. Você me entende?

Ultimamente eu só tenho repetido duas frases para mim mesma todos os dias: "Eu tenho que ser mais forte do que as dificuldades" e "Eu não vou ceder ao mêdo". Às vezes parece que fazemos coisas que não compensam, que nos machucam, que só nos causam mal. Pois é justamente nessas horas que temos que reunir toda a nossa coragem, lembrar dos motivos que temos para fazer aquelas coisas, e encontrar a força para sacrificar coisas importantes para nós para conseguirmos cumprir nossas metas.

Eu estou apavorada. Não sei se conseguirei vencer os obstáculos e também não sei se, quando conseguir cumprir meus objetivos, eles valerão todos os sacrifícios. Mas é preciso ter fé. É preciso avançar em meio à solidão, ao desespero, à falta de sentido das coisas que fazemos, em meio à insegurança, às dúvidas e a vontade de jogar tudo pro alto, e ter a coragem de fazer o que viemos fazer.

Um pistoleiro diria que precisamos lembrar das faces de nossos pais.

Um rei das feras diria que precisamos lembrar quem nós somos.

E você?

É nas horas em que o ego caiu embaixo do sofá que precisamos ter força pra levantar o sofá.

Uma pantera negra diria que voltaremos sempre para a nossa alcatéia.

Nós precisamos ser fortes. Nós precisamos ser aquilo que viemos ser. Nós precisamos persistir na vontade de sermos aquilo que queremos ser. Nós precisamos ser fortes.

Uma música que continuo precisando cantar para resistir ao desespero:


Don't take me back
Don't take me home
Let me stay here a little longer
Don't make me feel
like I don't belong
Let me become a little stronger
'Cause I know I can be what you want from me
I might be frightened but I am still fighting
And I know I can do what you want me to
I won't be lonely if only you'll let me stay...
Don't take me back
Don't take me back