terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Écrire

Se minha vida fosse um livro, o primeiro volume se chamaria Viagem. Eu seria um cão um gato um lobo um pássaro e o maior capítulo seria Liberdade. Seria um livro de causos, de aventuras, de família, de Estórias mil. Seria um volume dedicado ao irmão Gris. O segundo volume, com gostinho de depois-do-fim, seria o de Akela, e se chamaria Sozinho. Seria um livro de guerras, de lutas, de sangue, de escuridão, de perigo, de leões. Um mundo sem amigos, mas também sem fraquezas. Um mundo sem o conceito de erros. Um mundo onde poderia nascer o ódio. O terceiro volume seria Amigo, seria um livro dedicado à chuva e ao vento do verão. Seria o livro que faz a travessia do Selvagem ao genuínamente amoroso. O quarto volume se chamaria Amor — parte um, Desejo; parte dois, Entrega; parte três, Poder; parte quatro, Libertação. O quinto volume se chama Mêdo. Esse seria o livro da derrocada, o livro que destrói todos os outros enquanto ainda tenta retomá-los, o livro da Destruição. Mas haveria um capítulo para Laços e um capítulo para Doçura. Também haveriam capítulos para a Darrota. E eu estou tentando a muito tempo (e tão sem efeito!) começar um livro novo, um livro melhor, chamado Coragem. Mas eu não consigo porque parece que falta algo. Parece que falta um onde do qual tirar forças, um motivo para resistir e enfrentar. Ou alguém que me dê confiança.

Espero que seja possível encontrar.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Shortcommings

Não consigo fazer meu trabalho. Fui na biblioteca, lutei contra a vontade cada vez mais forte de ir embora, venci, aprendi algumas coisas, descobri que não podia fazer meu trabalho com o que aprendi, voltei à estaca de não saber nem por onde começar. Não tenho coragem de pedir ajuda, acho que a resposta provavelmente seria "bom, se você não aprendeu nada nos últimos dois anos, então aceite mais uma reprovação merecida". Estou cansada de merecer minhas reprovações, de não poder botar a culpa em ninguém além de mim mesma. Estou cansada de não conseguir nem começar um projeto porque já sei que vou desistir dele no meio, ou porque sei que enquanto estiver insistindo sem fé vou apenas prolongar um sofrimento que só leva a mais fracasso. Estou cansada de me esforçar para fazer o meu melhor mas saber que meus erros anteriores já me tiraram toda a possibilidade de vencer. Estou cansada de saber que de um ano para outro não aprendi nada e cometi os mesmos erros. Estou cansada de explicar para as pessoas que eu ainda estou muito, muito longe de me formar. Estou cansada de pedir em silêncio que as pessoas parem de perguntar sobre a minha faculdade. Estou cansada de não ter coragem de conversar com meus colegas ou sequer de imaginar o que eles pensam de mim. Estou cansada de não entender nada do eles falam, estou cansada de ser a única aqui que não tem nenhum plano para o futuro. Quando isso tudo acabar, o que eu vou ser? A bixete dos meus bixos, a que não se formou quando todo mundo já está trabalhando. Eu odeio isso tudo, eu odeio a lei que isso implica, a lei que eu não posso seguir.

A verdade é que eu não teria coragem de ir para a Cajaíba, eu teria coragem de me dar férias quando eu não fiz nada para merecê-las, quanto mais ficar com tantas outras pessoas naturalmente bem sucedidas que fizeram de tudo para merecer suas férias. Eu sinto vergonha, sim, de não estar trabalhando agora, de estar aqui, de não estar com meus amigos, na verdade tudo me envergonha.

Às vezes eu me pergunto se algum dia eu vou sentir de novo aquela tranquilidade de estar vivendo a vida certa.

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Ciúme

Eu não tenho muita vontade de escrever, mas eu ainda tenho a vontade de comunicar. Acho que sei no fundo que meu destino é escrever (devo dizer Destino com letra maiúscula?), que é o que me dá prazer, me define e o que eu sempre fiz. Mas não é assim. A essência não são as letras e sim o sonho dos mundos que me percorrem. No fundo, eu só quero realmente me comunicar.

Todo o resto é um fracasso, não? Ou uma possibilidade que não foi explorada. Todos os meus sonhsos são apenas sonhos, e por isso eu não boto muito fé neles, o que talvez queira dizer que eu não sonho. E porque eu não sonho eu não tenha fé um nada, quanto mais em mim. Minha mãe está certa em não confiar em mim. E por não ser confiável eu também deixo de confiar em mim. É assim.

A chave da coisa é a insegurança. Apenas sofrer ao ver um casal feliz ou amigos felizes, isso é inveja. Ciúmes é o mêdo que temos de que aquela passoas que amamos goste mais de outro que que mim. Ciúmes é o mêdo de ser insuficiente. De que o próprio contato com outras pessoas torne subitamente claro os nossos defeitos. Ciúmes é o mêdo de admitir os próprios defeitos. E por isso é o mêdo de errar, e de perder.

E portanto é sim uma coisa ruim, como o mêdo, se desesperado. Mas talvez, como qualquer mêdo, seja natural e necessário, seja uma prova de que não somos perfeitos. De qualquer forma ainda defendo que ciúmes não é motivo para nenhuma decisão — é no máximo um aviso doloroso de que algo não está certo, mas é preciso sempre pensar com cuidado o quê. A gente deve, sempre, desconfiar dos nossos mêdos.

domingo, 3 de janeiro de 2010

Reflexo do reflexo etc.

Does the walker choose the path, or the path the walker?


Há muito em que tenho que pensar, minha vida, meu amor, minha função no mundo. Tudo está mudando ou ao menos minha compreensão de tudo. Meus espíritos estão mudando, minhas forças estão mudando, as coisas que eu quero fazer. Até mesmo minha voz. Eu acho que eu queria acreditar que a resposta não é uma coisa simplesmente física, uma coisa que eu devo resolver com meu corpo e com o espaço que vivo. Eu sonho em poder agir também com as forças do espaço que imagino. Mas é tão difícil fazê-los ouvir! É tão difícil fazê-los entender o poder e a beleza desse espaço! E é tão difícil sobreviver quando cada pessoa quer viver uma coisa diferente que luta contra todas as outras. Talvez daqui a alguns dias eu esteja mais forte, ou talvez não. Eu não sei. Eu sei o que devo fazer, e sei porque não devo fazê-lo, e isso me confunde.