sábado, 20 de junho de 2009

Design e Semiótica

Vocês se importam se eu pensar em voz alta um pouco? É que eu me organizo melhor quando escrevo, e não quero sair do computador e ir efetivamente trabalhar, então pensei em escrever aqui mesmo. Tudo bem?

Tenho que fazer um trabalho de semiótica sobre qualquer objeto de design. Ou seja, qualquer coisa feita por um designer, ou que poderia ter sido feito por um. Ou seja, virtualmente qualquer coisa.

As pessoas não entendem o que é o campo do design. Ontem o Bruno se impressionou quando eu disse que design é muito amplo (eu estava tentando explicar que é possível gostar das matérias do design sem realmente querer ser designer). A verdade é que o designer não tem um campo muito definido. Um designer pode trabalhar com qualquer coisa. Trabalhar com pesquisadores (cientistas) é um pouco difícil, mas não completamente impossível. O mais fácil é trabalhar com empresas, artistas, publicitários, criadores, engenheiros, indústria, internet ou meios de comunicação, mas existem inúmeras possibilidades.

O característico do design não é o campo, mas o método. Podemos trabalhar em qualquer campo. Há restrições: o método do designer é um método de projeto. Ele até funciona para outras coisas, mas não é o ideal. Existem coisas que um designer não pode fazer. É claro que não há quem possa fazer tudo. Mas um designer poderia solucionar problemas em qualquer situação. Um designer poderia projetar qualquer produto. Se for possível ensinar a ele como as coisas funcionam, então ele é capaz de fazer seu trabalho. Obviamente, nem sempre é possível ensinar a ele como as coisas funcionam.

Outra limitação, embora nem de longe tão sólida, é que o designer é treinado para projetar para seres humanos. Não que ele saiba as medidas e proporções ideais de cor (o designer a princípio não sabe nada), mas ele está acostumado com os seres humanos, com a forma como aprendem, com as fórmulas da gestalt, com sua noção de estilo e beleza, com a forma como respondem a suas perguntas. No curso que eu faço, metade do trabalho é sempre pesquisa. Pesquisa envolve encontrar as opiniões, os tamanhos, a legislação, os desejos e as dificuldades relevantes. O designer iria ficar confuso ao projetar para máquinas. O designer iria parecer maluco ao projetar para bichos (eu acho que eu adoraria trabalhar para bichos). (nota.: isso é questionável porque as pessoas que fazem casas, coleiras e brinquedos para animais são designers... mas ainda acho que esse é um campo de baixa qualidade, e que a pesquisa feita é meio porca)

Olhem ao redor. Assumindo que vocês estejam dentro de uma casa ou na faculdade, posso dizer sem muito mêdo que quase tudo o que vocês vêem foi feito por um designer. O que não foi, foi feito por um artesão, por vocês mesmos ou pela natureza. Pode ser que as pessoas que fizeram esses objetos não se considerassem designers, e sim artistas, ou editores, ou engenheiros, ou arquitetos, ou apenas uma pessoa com um trabalho a fazer. Mas, a partir do momento em que se puseram a fazer o projeto de um abjeto, identidade ou composição gráfica, com a preocupação real de tornar a sua interação com o usuário ou sua comunicação o mais azeitada e eficiente e até mesmo agradável possível, então ele é um designer. (obs.: a gente costuma dizer que projetos que não levam em conta o usuário são "projetos de engenheiro". isso não é um preconceito, é só uma definição, já que o engenheiro não é treinado para lidar com o usuário, e sim com o mecanismo — é por isso que tantos polis vêm fazer fau-poli!)

Acho que uma das coisas que mais me incomoda no meu curso é que não nos tornamos realmente aptos a estudar qualquer campo em que queiramos trabalhar. Uma das coisas que aprendi com meu curso é que antes de fazer um projeto é preciso se tornar especialista na área correspondente. Por exemplo: para projetar uma lâmpada, eu preciso estudar iluminação. Para fazer um projeto para cegos, eu preciso entender a vida dos cegos. Para projetar carros, eu preciso entender como funciona um carro, como funciona a aerodinâmica, como o material se deforma em uma colisão. Em muitos casos é possível aprender em alguns meses o duficiente para se fazer um bom projeto. Em alguns casos, como no do carro, é necessária necessàriamente a associação com um engenheiro, mas para que haja boa comunicação com o engenheiro também é preciso entender a engenharia. No curso de arquitetura, assim como em alguns cursos de design gráfico ou desenho industrial mais especializados, existe a preocupação de ensinar ao graduando as técnicas, as características dos materiais, a matemática e a física de tudo com que esses cursos propõe que o seu graduado trabalhe. Não com muita profundidade, talvez, em direção à engenharia, mas o suficiente para que o projeto não saia absurdo demais. O meu curso não ensina isso, porque não seria possível ensinar todas as técnicas específicas de cada uma das áreas nas quais eles esperam que nós trabalhemos. Nós aprendemos uma coisinha aqui, outra ali, apenas para que não sejamos totalmente ignorantes. E o resto é por nossa conta.

Meu problema com essa estratégia é que sempre nos falta, a princípio, uma área comum de entendimento com profissionais de outras áreas. Eu gostaria que meu curso tivesse, embora numa proporção menos... absoluta, uma proposta que encontrei no curso do Diogo: a de criar uma linguagem que abranja diversas áreas do conhecimento.

(Me incomoda no curso do diogo que eles achem que estão estudando todas as áreas do conhecimento quando na verdade estão estudando apenas física, química, matemática, computação e um pouco de biologia, e me incomoda ainda mais a defesa que fazem à essa acusação porque dá a entender que o que estudam no ciclo básico é apenas o mais difícil -- e é mesmo, é o tipo de coisa que não se pode tentar explicar aos amigos como eu tento explicar a vocês o que é design, o que é semiótica, o que eu estou pensando, mas, veja bem, isso me incomoda ainda mais, porque de qualquer forma eu não posso sonhar em fazer vocês entenderem exatamente qual é a do Peirce ou a do Max Bill, e eu imagino que seria ainda mais difícil para o Yuri ou o Ugo explicarem o que estão estudando, e entretanto existe alguém que acha que é possível estudar até mesmo as sciências humanas partindo de uma base puramente científica!)

Acho que terminei o que eu queria dizer sobre design. Aproveitando o ensejo, eu queria tentar dar uma leve noção do que é semiótica. E já que estou usando bastante esse termo, o que é gestalt.

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Pensando bem, vou primeiro verificar se não estou dizendo nenhuma bobagem. Me digam, aliás, se isso realmente interessa. Até logo, amigos.

sexta-feira, 19 de junho de 2009

Como uma parede atrás de uma porta aberta

Quase todos os dias Zacharias encontra uma porta nova em sua casa. Uma porta ou um canto novo. Ou um risco no vidro da janela. Ele passa pela porte e se impressiona muito com as coisas lá dentro. Não com a mesa, com o computador ou com a estante de livros. Ele se impressiona com aquele bloco de pedra que é um pouco menor do que os outros, deixando uma linha de cimento um pouco mais grossa. Ele passa horas admirando uma mordida de rato na base do pé da cadeira. Quando fecha uma porta que permanece sempre aberta, sempre se assusta com a parede que de repente existe. Quando Ilina lhe perguntou se ele gostava mais da sua casa no rancho, ele respondeu rapidamente:
— Como, se, no rancho, atrás das portas não há nenhuma parede!


Hoje durante a aula de cálculo eu súbito levei um susto ao perceber algo completamente inesperado. O que eu percebi é que eu estava acordada. Mais que isso, eu estivera acordada desde o começo da aula. Eu não ficara sequer com sono! Eu não fora para a cama especialmente cedo (na verdade, ficara assistindo TV até a uma da manhã) nem dormira mais do que o normal (na verdade, sexta-feira eu tenho a aula mais cedo da semana, e eu acordara às sete da manhã), nem tomara o mate com guaraná que muitas vezes me permitiu assistir à primeira metade da aula. O dia fora como qualquer outro dia, entretanto em qualquer outro dia eu teria dormido na aula pelo menos até as nove horas, enquanto hoje às nove da manhã eu olhava no relógio e me assustava com o fato de que eu estava completamente desperta.

Nos outros dias também eu estaria extremamente mau-humorada e pensaria para mim várias vezes em como eu detesto a minha vida; hoje, essa frase parecia absurda, e nada mais me incomodava, e eu estava entendendo a matéria, e tudo parecia bom e feliz. Além disso, quando eu saí de casa eu não estava atrasada, ou com preguiça de pegar a bicicleta, e enquanto eu pedalava para a Física eu sentia dores horríveis nas pernas e o buraco na minha boca latejava, mas eu não me sentia miserável por ter que agüentar as dores e os incômodos e seguir em frente com as minhas missões impossíveis. E quando eu voltava para casa eu lembrei das coisas que eu costumo pensar enquanto faço aquele mesmo caminho, e em como eu costumo andar devagar, e tive vontade de rir de mim e pedalar mais rápido apesar da dor e me tornar mais forte e fazer o melhor caminho possível. E acho que foi mais ou menos aí que eu entendi o significado da palavra "estresse".

Sim, a vida é dura, a vida é um inferno, e às vezes parece que não importa o quanto nós queiramos sorrir nós ainda somos obrigados a fazer cara séria e meter a cara naquilo que depois de um tempo nós passamos a odiar. Às vezes tudo dá errado e o tempo é muito curto e a gente perde todas as esperanças de fazer a coisa certa e nossas responsabilidades nos afogam e nos parece impossível cumprir todas as obrigações e satisfazer todas as expectativas. Sim, às vezes nós somos fracos, e tolos, e incapazes, e sacrificamos tudo o que não é urgente e indispensável para cumprir nossas metas que nunca sabemos se um dia poderemos conquistar. E em todos os momentos em que tentamos descansar, sentimos pressa, e ânsia e culpa por não estarmos nos esforçando para fazer o que não teremos tempo para fazer depois. E tudo é muito justificável, e tudo faz muito sentido, e nós gostaríamos de poder investir toda a nossa energia em cada coisa que fazemos. Pelo menos a minha vida é assim.

Mas isso não é motivo para se transformar num escravo de si mesmo. A culpa na verdade só existe porque além de tudo nós sentimos raiva e frustração e não conseguimos fazer tudo o que queremos, e por tudo isso nos sentimos péssimos mesmo achando que estamos fazendo a coisa certa. Esse não é um bom jeito de se viver.

O jeito bom de se viver é se esforçar
em primeiro lugar pra ser feliz
e em segundo lugar para ser capaz.

Resposta ao texto do Rafael (O Aleph, 18/06/09)

Uma parte de mim quer voltar à velha discussão da mitologia moderna sobre a racionalidade não-humana... Mas outra, a maior parte, está quase completamente comprada por essa idéia de que a racionalidade humana nasce no arbítrio. É uma idéia tão bem acabada por princípio! Porque é da necessidade de se tomar uma decisão que nasce a dúvida e a racionalização da situação e seguinte raciocínio que leva a uma solução (ou a mais dúvidas).

Queria muito saber quais foram as tuas perguntas! Assim talvez pudesse ter uma vaga idéia de a que se refere a última afirmação do artista. Já passei por discussões qie me deixaram completamente convencida, mas apenas por algumas horas, até que eu voltasse a pensar no assunto e não conseguisse lembrar de forma alguma o que me convencera. No meu caso foi perturbador porque até hoje discordo daquela idéia, mas como fui convencida dela por algum tempo me pergunto se não é minha ignorância que me impede de ver que ela está, sim, certa. O esquecimento é um demônio particularmente cruel, não?

Sobre as formas da natureza: não, elas não têm nenhuma relação direta e necessária com a racionalidade humana. Na verdade a maior parte das coisas não está necessariamente relacionada, e ainda assim, na nossa mente, se relaciona. Talvez não seja uma questão de gestalt, porque por exemplo a proporção áurea é uma abstração e um ideal de beleza aparentemente arbitrário que entretanto é encontrado nas conchas de diversos animais. Mas, enquanto não encontramos uma explicação perfeita para a beleza do número fi (que talvez seja justamente a sua presença na natureza), podemos aceitar a forma como nossa racionalidade encontra espelhos de idéias em coisas, enxergando imagens como esquemas e manchas como figuras. O artista olha para todas as formas da natureza, e em muitas delas não vê significado; quando consegue encaixar um pouco de significado em um trecho de uma forma, imediatamente estende o encaixe como pode e propõe a si mesmo o significado possível daquele encaixe. O artista vislumbra uma metáfora e se pergunta: será que é uma metáfora minimamente válida? E, ao pensar nisso, ele relaciona signos, cria novos signos, com novos significados, e assim ele aprende algo sobre o mundo. (ou isso, ou eu tenho que me desvincular um pouco da semiótica...)


PS.: vocês acham que eu estou explicando demais o que eu digo?

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Eu recebi inúmeros textos a respeito da greve e afins hoje, como acontece todos os dias desde terça-feira, mas esse de alguma forma eu me senti compelida a publicar. Acho que foi o contraste com o texto anterior, que xingava o Antônio Cândido e Marilena Chauí de todas as formas possíveis sem nenhum respeito por ninguém, e pra falar a verdade naquele site todos os comentários eram tão agressivos que eu comecei a me sentir agredida pessoalmente, só porque eu não concordo com ele. Eu também não concordo com este texto, na verdade. Só acho que foi mais bem articulado que os outros, que fala menos merda. Mas acho que essa questão das assembléias é meio complicada.



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MARCELO COELHO

Sombras sobre a USP
Se as "minorias radicais" conduzem o processo, onde estão as maiorias moderadas?

UM GRUPO de provocadores ameaça a ordem e o Estado de Direito. Impossível negociar com extremistas desse tipo, dado o irrealismo de suas reivindicações. Para preservar a paz da comunidade e o império da Lei, a saída é a intervenção de uma força militar.
Esse raciocínio pode ser aplicado, sem grande irrealismo, à crise vivida na Universidade de São Paulo. De fato, há minorias radicais. Tudo indica que é impossível negociar com elas. De fato, a ordem deve ser preservada. Tudo indica que o patrimônio público precisava ser defendido de invasões e quebra-quebras.
Só que a fraseologia não difere muito da que justificou o golpe militar de 1964.
Aquela época tinha seus extremistas, dispostos, por exemplo, a fazer a reforma agrária "na lei ou na marra". Eram, certamente, minoritários na população. Havia uma ordem a ser preservada, e uma legalidade para a qual os movimentos de massa não conferiam grande importância. Só uma intervenção militar daria conta da "baderna".
É triste ver pessoas de belo currículo democrático, notoriamente perseguidas pelo regime militar, apoiando a ocupação da USP pela PM. Sem dúvida, a polícia age agora com autorização judicial e o golpe de 1964 foi, afinal, um golpe.
Do ponto de vista político, entretanto, as situações se assemelham. Como em 1964, muitos "democratas" agora acham que é preciso reprimir pela força as "minorias radicais", contando com o aparato militar para defender a ordem, contra a "baderna".
Este artigo -prometo- será imparcial. Não vejo valor em alguns argumentos do lado contrário. É muita abstração condenar a presença da PM porque a universidade é um local "de pensamento, não de violência", "de ideias, não de barbárie".
A USP é isso, mas não é um jardim peripatético: é também um lugar de trabalho, onde pessoas ganham salário, reclamam, fazem greves, piquetes e invasões.
Piquetes e invasões não são atos isentos de violência, e palavras de ordem não costumam ser obras-primas de reflexão e de pesquisa. De resto, há uma diferença óbvia entre intervenções armadas que se dedicam a sufocar o pensamento e a liberdade de cátedra, e as que se encarregam de reprimir militantes sindicais.
Convocar a PM foi um erro. Só serviu para acirrar, e não pacificar, os ânimos na USP. A retirada da PM é o primeiro passo para a superação da crise.
O problema é saber por que se chegou a esse ponto -em que pessoas respeitáveis acabam achando que "só a PM resolve essa baderna". Quando acontece isso, um sistema de representação e de poder se revela disfuncional. A política deixa de funcionar e a força prevalece.
Se "minorias radicais" conduzem o processo, cabe perguntar onde estão as maiorias moderadas. Deveriam estar presentes nas assembleias (e piquetes) que decidem mobilizações em nome de todos.
Nada mais alienado do que condenar o fato de uma assembleia "de gatos pingados" ter decidido uma greve quando não se participa dela.
Estivesse presente nas assembleias, a "maioria ordeira" da USP negaria legitimidade aos movimentos de reivindicação. Em última análise, prefere delegar a defesa da ordem à PM.
Diante de dezenas de ativistas enraivecidos, quatro policiais (que não são "a repressão", mas têm nome, estado civil e endereço) foram cercados e humilhados moralmente. Quando chegou o reforço, professores, funcionários e estudantes (que têm nome, estado civil e endereço) foram atacados com gás e balas de borracha.
Tudo se desumaniza, porque está em jogo uma contradição estrutural. Temos uma máquina burocrática -a da reitoria e seus órgãos ossificados de decisão- contra uma máquina sindical -que segue a lógica da mobilização de massas.
Acontece que as massas são imaginárias (reduzem-se a uma minoria) e que a estrutura de poder na USP, supostamente defensora da lei e da ordem, é tudo menos democrática. Quando ninguém representa ninguém, ou representa mal, não há negociação humana possível, e a violência prevalece.
O mesmo dilema levou a crises violentas no sistema político brasileiro, tempos atrás. Minorias "extremistas" se iludem com a omissão da maioria "ordeira", que não se dá ao trabalho de mobilizar-se pela "ordem" e pela "moderação". Afinal, tem as tropas a seu dispor.

coelhofsp@uol.com.br

Bom, então...

Eu li um blog que nasceu hoje e fiquei um pouco envergonhada com o meu. Mais que isso, eu vi meu próprio blog muito tempo atrás e fiquei envergonhada com o meu presente. Além disso, hoje um cara me mandou um e-mail dizendo que a existência de pessoas como eu, meu amigos, meus colegas e o retso de nós, é bastante medíocre. E eu me sinto medíocre. E isso me dá raiva. A gente precisa passar pelos momentos chatos para chegar ao fim das coisas. Eu não estou feliz com viver assim, mas eu tenho uma fé inabalável no futuro.

Mas eu admito que preferia ter continuado seis meses atrás.

Por outro lado, eu nunca estive tão apaixonada.

domingo, 14 de junho de 2009

Eu não acho.

Eu não acho que as pessoas estejam sempre tentando esmagar os outros. As pessoas também se diminuem para os outros subirem em cima, e também estendem suas mãos para os outros, e também se sacrificam pelos outros. As pessoas não são essencialmente competitivas; isso é só um aspecto. Algumas pessoas precisam pisar nos outros a cada oportunidade, e muitas acham que pisar no outro ajuda o outro a querer se revoltar, mas eu não sei se isso é realmente bom, eu me pergunto se não seria melhor abraçar o outro e ir caminhando com ele. Não precisamos sempre exigir em todos as qualidades que nós achamos necessárias. Algumas pessoas são de um jeito, outras são de outro. Você escolheu ser forte e gostosão e ter opiniões sobre tudo e estar acima de todo mundo, mas, embora eu ache que todos nós queiramos em algum nível ser perfeitos, eu não sinto a vontade específica de ser melhor que você, ou melhor que o Márcio, ou que o Henrique, ou que o Zézinho ou Luisinho. Eu me sinto feliz com o poder próprio que cada um tem, com as características únicas que não são forças nem fraquezas. Dá pra pensar que eu simplesmente desisti de perseguir o poder por achar que eu nunca ia alcançá-lo, e isso provavelmente é verdade, mas acho também que toda a perseguição do poder é um nome errado, é uma forma errada de ver e pensar a vida. A gente não precisa ser melhor ou pior do que ninguém. A gente só precisa impressionar a si mesmo.

No mundo em que eu vivo, é sim reconfortante achar defeitos nas pessoas quando você está se sentindo um lixo, porque isso faz você ser um pouco mais conivente, um pouco mais lasso na sua avaliação, você permite mais erros e isso faz com que seja mais fácil alcançar os seus parâmetros, mas também é libertador encontrar qualidades nas pessoas, porque isso não apenas te dá esperança, isso também faz o seu mundo melhor, isso permite aliás que você encontre outras qualidades, muitas vezes não são boas ou ruins, são apenas qualidades, o tipo de coisa que te faz feliz por ser você independente de quem você seja, porque mesmo se você não tivesse nenhuma habilidade, não fosse gostosão e não soubesse nada, você ainda teria sua personalidade, suas particularidades, e sempre seria no mínimo interessante.

Existem muitas pessoas por aí que quando verem sua guarda aberta vão te dar um abraço, vão te proteger, vão entrar cortesmente no seu espaço pessoal e saudar os animais fantásticos que vivem no sua alma. Eu particularmente não me orgulho de nenhum dos momentos em que eu pisei em alguém que estava com o coração aberto. Eu me orgulho das vezes em que eu abracei o coração de alguém, em que eu me arrisquei por alguém, em que eu fui legal com alguém só porque era uma pessoa. Eu nunca me sinto bem por deixar alguém desconfortável (embora em alguns casos seja muito engraçado). Inclusive, Ugo, foi você que me mostrou que nem sempre é bom lutar contra as esquisitices das pessoas.

sábado, 13 de junho de 2009

Naturalmente, outro texto egocêntrico e emo.

Eu tenho mêdo de não ser forte o suficiente, Di. Eu tenho mêdo de não conseguir chegar no final do semestre. Eu sei que é mentira que tudo sempre dá certo no final, a menos que a gente se recuse a reconhecer que é o final até que alguma coisa dê certo. Eu não quero saber nada disso. Eu quero não ter mêdo de nada, eu quero não saber nenhuma das coisas que deixam a gente com mêdo, eu quero achar que eu posso ser mais forte que todo mundo, eu quero ter poderes. Eu tenho mêdo de ser uma pessoa muito fraca ao lado de uma pessoa muito forte. Eu estou cansada de ouvir gente me rebaixando, me insultando, estou cansada de ouvir que eu sou relapsa, que eu sou irresponsável, que eu sou preguiçosa, sim, eu sei que eu fui idiota e infantil nos últimos dois anos, mas agora eu quero ser mais forte, e é tão difícil quando todo mundo fica me lembrando das minhas derrotas, porra! Sim, eu sei, eu não conheço nada de música, eu vivi embaixo de uma pedra, eu quero jogar uma pedra em quem me diz isso, eu sei que eu sou ignorante, eu sei que a única coisa que eu sei direito é amar, e falar talvez, e que a maior parte das coisas que me importam importam só pra mim, e que ninguém deveria ter o direito de formar minha opinião a respeito de mim mesma, mas é tão difícil acreditar nisso quando tudo o que eu tenho são as pessoas, quando no fundo eu joguei fora meus mundos inventados pra ter alguma chance no mundo real, eu sacrifiquei tanta coisa para poder viver com as pessoas reais, e parece que o mundo cobra que eu sacrifique ainda mais, que eu sacrifique tudo, meus sonhos, meus ideais, minha personalidade, o que eu mais detesto é gente como o Ugo dizendo que nada dá certo se eu for tão idealista quanto eu sou, e eu tenho vontades de abrir a cabeça dele com uma pedra, e é muito difícil lidar com eu ter muita raiva de um meu melhor amigo, sabe? Eu estou cansada de ouvir que eu sou uma pessoa incrível mas que eu preciso ser menos eu pra poder ser feliz. Eu não quero isso, eu quero seguir em frente, eu quero vencer, porque eu tenho aquela característa dos Sims "loser", eu sempre fui ruim em quase tudo em que os termos vitória e derrota se aplicam, eu cresci perdendo todas as partidas de todos os jogos, menos quando eu tinha muita sorte, e muitas vezes meu irmão jogava mal de propósito para eu ganhar, mas eu desenvolvi essa indiferença em relação à vitória, eu não quero ser o centro do universo, e eu queria criar um personagem de RPG cujo objetivo de vida fosse ajudar as pessoas, ele teria habilidades diversas mas não seria especialmente bom em nada, não teria exatamente uma postura política, não teria tendência, ele só ajudaria quem estivesse perto dele, e embora eu tenha sim uma moral acho que foi o mais próximo de um personagem que me representasse que eu consegui chegar. Eu não quero mais ser a protagonista, eu só quero ser parte de uma boa história, mas eu quero ser respeitável, e eu sei que pra ser respeitável você tem que ter algumas vitórias, por isso eu quero sim ser forte (e eu ainda tenho resquícios da eu Lôba de antes, que não tem mêdo de nada, diz sempre a verdade e tem poder potencialmente ilimitado) e sim eu sou competitiva nos jogos nos quais eu tenho um mínimo de habilidade (quer dizer, Smash), mas eu prezo mais o estilo que o poder, eu nunca me divirto realmente se eu ganhar demais, eu me acostumei a pensar em mim como uma pessoa que não tem talento pra nada (especialmente depois que eu descobri que eu não desenho nem escrevo tão bem assim - porque eram essas habilidades que as pessoas viam em mim quando eu era pequena). Às vezes eu penso que eu devia fazer como o Ugo e dizer foda-se pra tudo isso e passar a dizer que eu sou foda em tudo e que eu sou o máximo mesmo nas coisas que eu nem sei fazer até que eu me torne realmente bom naquilo, mas me irrita tanto quando o Ugo faz isso! Eu não quero ser uma pessoa agressiva, eu quero ser uma pessoa gentil. As pessoas que eu mais admiro hoje em dia são o Bruno, o Jesus, o SuperFlautas, que são pessoas gentis que nunca pisam nos outros. Eu tenho vontade de proteger o Bruno quando todo mundo pisa nele e ele detesta isso mas continua sendo legal com todo mundo. Eu não sei se eu sei ainda do que eu estou falando. O que eu estou falando é que o meu ideal de pessoa não é mais o Wolverine super forte, super selvagem e super fodão, e sim (oh fuck não temos personagens em comum pra isto) um Usopp, o cara que não é super foda mas fica lá até o fim, seguindo seus princípios, ajudando seus amigos, lutando no meio de coisas feitas para pessoas bem mais fortes que eles. Do que eu estou falando? Eu não sei, aliás, eu não vou mandar mais este e-mail pra você, eu vou, sei lá, publicar no blog, porque isso não tem mais a ver com você, tem a ver com outras coisas, coisas que não são tão importantes, coisas que talvez sejam apenas conflitos internos entre o que eu já fui, o que pensei ser, o que me disseram que eu era e o que eu talvez seja.

quarta-feira, 10 de junho de 2009

Um texto sem nenhuma validade política, mais inda inevitavelmente moral

E agora? A gente vai pra casa? A gente pára por aqui mesmo? A gente senta e chora? A gente se bate, se debate, se espanca dentro da nossa própria casa?

Pra mim, o fim do mundo é isto aqui.

De um lado, minha casa está caindo aos pedaços, meus gatos estão velhos e doentes e nervosos sujando e destruindo tudo. As pessoas começaram a morrer e não pararam. Existe fim pra isso?

De outro, eu vou pra faculdade ouvindo absurdos e mentiras, acreditar em quem? Eu acho tudo ridículo, greves e policiais, eu entendo o que estão fazendo, mas é porque não consigo enxergar instituições, só consigo enxergar pessoas, e parece que estão todos apavorados.

Não temos tempo pra nada, não temos direito a nada, nós fazemos nossas escolhas sabendo de antemão que sempre estarão erradas. Não podemos parar de estudar, não podemos deixar de sonhar, não podemos deixar a casa cair, não podemos abandonar a família, não podemos parar de lutar por um mundo melhor, não podemos deixar de ver os amigos, não podemos nos perder no meio de todas as dificuldades e atribulações da vida.

Inevitavelmente haverão mais derrotas do que vitórias?

Será que a gente enlouqueceu ou quem enlouqueceu fui eu?