sábado, 19 de dezembro de 2009

Blog II

Eu configurei meu Blogger para me mandar por e-mail todos os comentários feitos no meu Blog. Isso significa que qualquer comentário feito em qualquer post vai chegar em mim eficientemente. De modo geral eu acho que fazer comentários é como rabiscar alguma coisa na página de um livro, com a diferença de que nunca atrapalha a leitura, o espaço é ilimitado e várias pessoas podem ler. Comentário não é post — não é algo em si, para ser guardado e valorizado. Mas é alguma coisa que faz parte do post, e é uma resposta que dá sentido ao post. Eu acho importante.

On the same topic, o Haloscan resolveu se vender pra uma empresa de comentários pagos, e vários blogueiros estão tentando descobrir como importar seus comments para o Blogger. Eu estou esperando eles descobrirem porque eu sou uma folgada.

Eu cheguei à conclusão que escrever intensamente sobre coisas que importam no começo das férias foi uma ótima idéia! Tantas pessoas me deram tantas respostas que vou demorar uma semana só pra entender tudo o que está na minha mente agora! Volto a esse tópico depois, estou em dúvida se devo criar novos posts para responder ou se devo responder nos comentários. Acho que faz mais sentido responder nos comentários.

Bom, tenho que sair agora, embora eu quisesse escrever agora. Nos vemos mais tarde.

PS.: eu consegui estruturar mais ou menos um texto para ser meu trabalho final sobre sustentabilidade. Como ele repete amplamente os textos anteriores, com apenas algumas alterações no desenvolvimento, eu resolvi não postar, mas posso mandar se alguém quiser.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Blog

Hoje eu falei pra minha mãe que ela podia ler as coisas que eu estava escrevendo no blog, e ela falou "Não tem muito mais gente lendo seu blog, né?", eu respondi "tem umas cinco pessoas, eu acho, mas elas sempre comentam".

Isso me fez me sentir estranha, tem apenas cinco pessoas lendo isto, cinco não, ugo, márcio, yuri, bruno, charles, quiçá denise, quiçá outras pessoas que não sei, bem, são cinco mesmo que eu sei que lêem às vezes mas acho que são mais, de qualquer forma são muito poucas, minhas palavras não chegam longe, "eu antes tomava minha pena por espada", diz sartre no fundo da minha mente, e afinal, para quê eu escrevo num blog que quase ninguém lê?

No entanto, não desprezo o pequeno número dos meus leitores, são poucos, mas são bons, são pessoas que pensam, são pessoas com quem eu posso esperar verdadeira comunicação, em quem talvez minhas idéias e questões encontrem algum tipo de eco. Não posso mudar o mundo, mas talvez eu possa ter efeito sobre aqueles que vivem perto de mim, eu penso. Além do mais, eu gosto de escrever. Se uma só pessoa lesse cada um dos meus textos, isso seria motivo mais que suficiente para escrevê-los. Se uma pessoa parar para pensar nas minhas palavras, então a existência deste blog já estará plenamente justoficada.

É claro que a minha pena é uma espada.

E o que isso tem a ver com sustentabilidade?

Seguimento do trabalho, explicando a relação com o tema.

Sustentabilidade é um princípio que só faz sentido se aplicado ao modo de vida. Não se pode fazer uma coisa de modo sustentável, porque essa uma coisa só foi possível por causa das muitas outras coisas que fizemos antes, e se essas coisas foram feitas sem nenhuma preocupação com a sustentabilidade, então a nossa uma ação sustentável não é sustentável coisa nenhuma. Sustentabilidade é o princípio de viver e fazer as coisas de forma que possamos continuar vivendo e fazendo no futuro — por isso é que tanto nossas matérias primas como o destino de nosso lixo devem ser do tipo que se renova. Mas mesmo que tivéssemos uma fonte de matéria prima e um destino para o lixo que fossem inesgotáveis, ainda não poderíamos garantir que essa seria uma solução sustentável, Teríamos que garantir também que nossa ocupação do espaço é sustentável, e que nossa produção de barulho e bagunça e que nossos gastos energéticos são sustentáveis. Teríamos que ter relações sustentáveis com todas as outras coisas, vivas e inertes, do mundo. Na verdade, teríamos que conseguir enxergar o mundo em seu todo e em todos os seus detalhes para garantir que não estamos tornando o mundo menos sustentável. Na verdade, como fazemos parte do mundo, teríamos que garantir que o mundo fosse sustentável, e para isso teríamos que compensar todas as ações insustentáveis de todas as outras coisas no mundo; teríamos que garantir que inclusive todas as outras espécies estão se comportando de maneira sustentável. E mesmo que esse absurdo fosse possível ainda descobriríamos que apesar de todo o esforço o mundo não se sustentaria para sempre, porque alguma hora o sol vai se apagar ou a terra sairá de órbita ou, pensando mais longe, o crescimento inevitável da entropia levará a um universo sem grandes variações de energia, e portanto sem vida.
Então o que é a sustentabilidade? Por um lado, a sustentabilidade é o princípio do esforço que fazemos para continuar vivendo pelo máximo de tempo possível. Por outro lado, é o esforço que fazemos para manter as coisas mais ou menos do jeito que estão — quer dizer, evitar que espécies se extinguam, preservar os eco-sistemas que já existem, etc. Evitar que coisas como o trânsito, as impermeabilização do solo, o gasto energético e as emissões de poluentes cresçam é um princípio sustentável. Na verdade, evitar que as coisas mudem é uma idéia sustentável — poderíamos proteger o mundo se pudéssemos estagnar completamente o crescimento populacional, o crescimento econômico e todo tipo de movimento — mas não queremos apenas viver para sempre, ou viver sempre no mesmo mundo, queremos também continuar a sonhar, a construir, a progredir. Dessa oposição surge uma questão que é mais ou menos esta: como podemos fazer tudo o que queremos sem com isso causar a destruição do mundo? Essa questão tem duas sub-questões que são fundamentais: o que nós realmente queremos, e o que é, e como funciona, o mundo. Precisamos saber o que queremos, é claro, para que possamos decidir do que abrir mão para conseguir aquilo que queremos; e precisamos saber o que é e como funciona o mundo para saber diferenciar o que vai destruí-lo do que vai apenas alterá-lo. É importante entender que o mundo vai mudar, está mudando, e que o máximo que podemos fazer é tentar direcionar a mudança para alguma situação que nos agrade. Para saber que situações nos agradarão, é claro, precisamos entender como elas funcionam, suas implicações climáticas e biológicas, seus efeitos sobre as populações que interagem conosco e sobre nós mesmos. Para saber que mudanças levarão a uma situação que nos agrade, também precisamos entender como as mudanças acontecem e de que elas dependem. Por último, para que tudo isso faça sentido, precisamos conhecer a nós mesmos, qual o nosso papel nesse sistema, qual a nossa posição no mundo. Precisamos entender quem somos, onde estamos, o que fazemos e qual é a nossa relação com o meio ambiente. Por isso, em vez de falar sobre energia, poluição, matéria prima e descarte, escolhi parar para pensar nessas questões mais fundamentais, em compreender como as coisas funcionam.

Hoje vou falar mal do resto da blogofórumsfera

Às vezes eu vou procurar alguma coisa na internet e caio num fonte de blogs e fóruns discutindo o assunto, e eu fico impressionada com como as pessoas fazem discussões totalmente desinteressantes na internet.

À vezes eu passo pelo mesmo assunto dez vezes, e os assuntos são digamos polêmicos, como Deus, Destino, Homossexualidade, Liberdade, e eu me impressiono com como as opiniões são sempre as mesmas, com como os comentários são sempre pontuais e pouco elaborados, como se as pessoas sentissem necessidade de sempre expressar as opiniões contrárias mas nunca de realmente tentar convencer os outros, ou como se as pessoas argumentassem pelo simples dever de argumentar, mas nunca tivessem realmente parado para pensar.

Eu me impressiono com os assuntos também, como as pessoas discutem mil vezes os assuntos que eu já decidi mil vezes que não valia mais a pena discutir se não fosse para discutir muito sériamente, porque são assuntos que já foram discutidos mil vezes e que de certa forma nunca chegam em nenhuma resposta — mais que isso, não levam a nenhum engrandecimento pessoal. E as pessoas tiram postulados do cú, descrevem o mundo como se todo mundo concordasse com elas, fazem questionamentos mas na verdade nunca param para pensar de onde elas tiraram aqueles questionamentos, são perguntas clichés em relação a assuntos clichés.

Entendam, não estou falando que tudo o que dizem é bobagem. Muitas vezes uma coisa ou outra é muito interessante, ou é algo em que por acaso eu nunca havia pensado, mas é incrível como há gente que mesmo assim não desenvolve o assunto, que apenas pincela alguns assuntos e não articula aliás nem relaciona or argumentos dentro do próprio texto. E também é incrível como as respostas a esse tipo de texto quase sempre são no mesmo nível de profundidade do texto ou ainda mais raso, como questionam só as coisas mais óbvias, como às vezes sugerem coisas interessantes mas nunca sequer relacionam a idéia com o questionamento do texto.

Toda vez que eu faço isso eu me assusto, sinto um certo desprezo e me envergonho até da minha prepotência, em achar que os assuntos que eu discuto são mais fundamentais ou mais interessantes ou em achar que eu os discuto com mais profundidade e menos clichés. Mas eu com certeza discuto com menos clichés: a prova disso é justamente que eu me sinto mal com o excesso de pensamentos clichés.

Às vezes me parece que de fato o mundo está cheio de figurantes.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

O Todo e a Parte

Quando comecei a desenvolver este texto, percebi que podia argumentar por inúmeros caminhos — ciência, agricultura, trabalho, urbanismo, espiritualidade, preconceito, moralidade, arte, amor — diversas questões nosso universo podem ser abordadas pelo ponto de vista da divisão e classificação. O desenvolvimento de cada uma dessas abordagens levantou uma grande quantidade de outras questões, mas de modo geral reforçou minha convicção nessa tese: a de que há um perigo e um erro problemático em alguns tipos de classificação, que podem estar nos custando muito caro.
É claro que não posso falar contra a classificação em si. A vida seria muito diferente de não tentássemos sempre separar as coisas; pode-se dizer que sem classificação não há linguagem, pois o que é uma palavra senão um limite entre o que ela significa e tudo o que ela não significa? Na verdade todo signo é definido por seus limites — sem limites não há signos, e sem signos não há comunicação. Precisamos separar as coisas, o seco do molhado, o vivo do morto, o quente do frio, o verde do amarelo e do azul e do vermelho e do branco... Quando separamos criamos classes, fôrmas nas quais podemos encaixar o que percebemos do mundo. Associamos a essas classes tudo o que conhecemos sobre as coisas que se encaixam nela, e assim quando conhecemos uma coisa nova, se conseguimos encaixá-la em uma classe, passamos a saber imediatamente uma porção de coisas sobre ela. É claro que o sistema não é perfeito: sempre vão haver coisas que não se encaixam nas classes que conhecemos, para os quais temos que imaginar classes novas, e muitas coisas vão apenas parecer se encaixar, o que frequentemente vai fazer com que acreditemos saber coisas que depois se mostrarão erradas. Ou não — podemos continuar acreditando indefinidamente em algo que não está de acordo com a realidade. Essa insegurança na adequação das classes é um pilar fundamental na procura do conhecimento, especialmente no método científico. Podemos viver a vida inteira acreditando na coisa errada, mas precisamos estar prontos para que a qualquer momento nossas convicções sejam abaladas. Quando encontramos coisas que não se encaixam em nossa classificação, precisamos estar pronto para mudá-la, ou teremos erros e incoerências na nossa concepção do mundo; ou ainda, teremos que ignorar as informações que não se encaixam, limitando o aprendizado.
Ignorar as informações que recebemos, ou seja, impedir que adquiramos conhecimento, para manter a coerência do modelo, é um problema sério. Mas nós não somos apenas receptores desinteressados, como câmeras de segurança que apenas gravam tudo o que passar a sua frente e cujas imagens podem apenas ser interpretadas depois. Nós somos seres atuantes no mundo, e nosso olhar também é ativo. Quando temos fé demais em nosso modelos, somos capazes de deixar de enxergar qualquer coisa que não esteja classificada, e isso é um problema muito maior. E quando dependemos demais de nossos modelos, podemos acabar modificando o mundo ao nosso redor para que possamos compreendê-lo — e isso pode se tornar uma catástrofe.

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Isso é o que eu acho que vai ser o começo do meu texto final. Acho que as idéias já estão todas aí, só preciso convencer as pessoas delas e mostrar onde elas estão na nossa vida — ah, é, e juntar com sustentabilidade que é o tema do ensaio oO

introverted intuitive feeling perceiving

De tempos em tempos eu acho esse resultado de teste junguiano de internet guardado no meu hd e sempre, sempre me surpreendo com como ele me parece acertado. oO''





INFP
creative, smart, idealist, loner, attracted to sad things,

disorganized, avoidant, can be overwhelmed by unpleasant feelings,

prone to quitting, prone to feelings of loneliness, _ambivalent of the

rules_, solitary, *daydreams about people to maintain a sense of

closeness*, focus on fantasies, acts without planning, low self

confidence, emotionally moody, can feel defective, _prone to

lateness_, likes esoteric things, wounded at the core, feels shame,

frequently losing things, prone to sadness, prone to dreaming about a

rescuer, disorderly, observer, easily distracted, does not like

crowds, can act without thinking, private, can feel uncomfortable

around others, familiar with the darkside, hermit, more likely to

support marijuana legalization, can sabotage self, _likes the rain_,

sometimes can't control fearful thoughts, prone to crying, prone to

regret, attracted to the counter culture, can be submissive, prone to

feeling discouraged, frequently second guesses self, not punctual, not

always prepared, can feel victimized, prone to confusion, prone to

irresponsibility, can be pessimistic


Por outro lado me assusta um pouco como ele enfatiza só os lados negativos. Acho que esse é o retrato de mim adolescente e depressiva lol. Hoje em dia eu ainda sou tudo mas sob uma armadura de determinação e loucura O.o E amor, eu acho.

Droga

Me parece que postar minhas idéias neste blog foi inadequado. Não consegui nenhuma resposta e continuo com tanta dificuldade para escrever quanto antes. Eu nunca achei que fosse conseguir entregar no prazo, que foi hoje, mas estou ficando meio nervosa com a situação. Digo, muito nervosa.

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Template III

Ao que parece eu não gosto muito de usar templates antigos.

LACKADAISY




Tive vontade de postar isto aqui basicamente porque eu ri em voz alta lendo essa hq... embora eu suspeite que seja muito mais engraçado quando se conhece os personagens... Mas esse olhar no final é simplesmente fantástico! Glare, baby, glare...

Outra leitura

Pensando bem, acho que o que nos leva a separar e dividir tanto as coisas não é a megalomania de querer controlar tudo, e sim a megalomania de tentar entender tudo. Ou talvez os dois.

Por que tem que haver diferença entre o que se deve fazer e o que se deve fazer? Por que a humanidade não pode fazer parte da natureza? Por que tem que haver divisão entre as ciências?

Não conseguimos entrar em acordo com o mundo. Uma hora é ele que nos agride, outra nós é que o agredimos. Mas será que não é assim mesmo? Nos limites da nossa capacidade de ver o mundo está a possibilidade de que sejamos apenas uma espécie animal, e também a possibilidade de que não seja necessário compreender o mundo em absoluto. Por que exigimos isso de nós mesmos?

Não consigo avançar no raciocínio, e isso está me deixando louca. Como vou Escrever um texto sobre isso?

No início eu queria apenas explicar que a separaçào entre as coisas, mesmo a própria divisão conceitual, gera um exagero de custos e danos para nós mesmos, para o meio ambiente, para nossa cultura. Mas não consigo parar de me perguntar por que isso acontece. Eu preciso parar pra pensar mas eu não tenho tempo.

Mas de fato a secessão gera custos, não? Porque como achamos que as coisas são diferentes, temos que criar modos diferentes de lidar com elas. Acho que é esse o coração do meu argumento. Não é como se estivéssemos tentando nos livrar das coisas que não nos são diretamente úteis, na verdade, estamos tentado colocá-las no que consideramos seus devidos lugares. Crescemos ouvindo de nossos pais que existe uma hora e um lugar para cada coisa. Mas colocar cada coisa em seu lugar significa que cada coisa tem que ser tratada de forma diferente. Assim, da mesma forma que não podemos ter um macaco de estimação, porque ele é um animal selvagem e não doméstico, não podemos ter plantas selvagens nas nossas praças nem hortas em nossos telhados?(*)

5. Cidade - Você já passou pela experiência de morar num bairro residencial, que não tem padarias nem supermercados? A organização urbana desta cidade funciona assim: há um lugar para se morar, um lugar para se consumir, um lugar para se produzir e um lugar para se trabalhar em escritórios. Se a sua empresa precisa de um prédio de escritórios e de uma fábrica, eles podem ficar a vários quilômetros de distância um do outro. Num bairro residencial, você pode ter que dirigir por dezenas de minutos ou pegar mais de um ônibus para ir ao trabalho ou comprar suprimentos para suas necessidades básicas. Isso significa gasto de dinheiro, tempo e combustível, aumento de stress, do trânsito, e da emissão de poluentes. Isso poderia ser facilmente resolvido se lotes de diferentes funções fossem dispostos próximos um ao outro, por exemplo, se houvessem padarias em todos os bairros residenciais.

A questão das fábricas é complicada porque elas produzem muita poluição e muito barulho, o que quer dizer que nada vai se dar bem perto delas. A solução usual é agrupá-las todas num lugar e deixar os funcionários, as famílias dos funcionários e tudo o mais que tiver tido o azar de viver perto dali sofrerem as conseqüências sozinhos. A idéia claramente é a de que podemos resolver o problema isolando ele e pondo um monte de espaço vazio, ou pelo menos espaço desvalorizado, em volta. Acreditamos que podemos fazer qualquer tipo de agressão se ela tiver espaço para se dispersar antes de atingir o ambiente em volta. Mas, se for assim, os industriais não deveriam ter que comprar toda a terra afetada em volta deles, já que estão assumindo responsabilidade pela poluição dela? Será que não faria mais sentido garantir que eles fizessem pouco barulho e pouca sujeira, da mesma forma que o comércio e a moradia?

Aliás, por que não podemos ter macacos de estimação? O que torna os cachorros, gatos, jabutis, pequenos roedores e passarinhos tão diferentes dos outros animais? Alguns animais não são adotados por famílias simplesmente proque são fortes e perigosos demais como onças e lobos. Outros porque são muito grandes, como elefantes e vacas. Mas outros simplesmente são considerados selvagens, e isso é motivo suficiente para que você não possa ter um em casa. Sabe, em alguns casos não tem nada a ver com o que é melhor para quem. É só a idéia que fazemos de qual é o lugar certo de cada coisa. Por exemplo, aqui em casa de tempos em tempos surgem mariposas de quinze a vinte centímetros de envergadura, e toda vez que elas surgem, fico paralisada, sem saber o que fazer com ela. Estou no meio de São Paulo, eu penso, não deveria haver mariposas desse tamanho! Também não deveria haver uma população de capivaras vivendo muito bem obrigado nas margens do Pinheiros. E aí? Nós lidamos com gatos e cachorros ora como se fossem animais adoráveis ora como pragas, mas ficamos apenas confusos com a existência de outros animais grandes na cidade. Eles estão em toda parte à nossa volta, pássaros de todo tipo, corujas, capivaras, ratos grandes e pequenos, insetos de todos os tamanhos, sapos, aranhas, esquilos, micos, mas na maior parte do tempo não os vemos, e quando os vemos é com aquela relutância de quem não pode compreender a existência dessas criaturas "selvagens" na nossa cidade. É claro, esperamos que eles fiquem restritos a parques, jardins, bosques, áreas abandonadas. Mas, da mesma forma que o barulho das fábricas, esses animais fazem parte da cidade. Porque a cidade, ao contrário do que dizemos, não é um reduto da civilização separado da "natureza". Nós não somos nada diferente deles. A cidade é parte do mundo, é também "natureza".

(*) Em Hong Kong, o problema da alimentação foi enfrentado com hortas nos telhados dos prédios. Foi uma solução muito eficiente, especialmente na parte de transporte, mas que parece inconcebível para a maior parte das pessoas no mundo.

If you steal from several...



Só estou postando porque pareceu-me que algumas pessoas nunca tinham visto essa imagem.

O que é inaceitável.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Template II

Este template tem um subtítulo bizarro.

Eu descobri rapidamente que não suporto aquele modelo da Toca por mais que ele seja lindo. Vi que tinha este outro guardado aqui e resolvi experimentar. Obviamente ele é muito, muito mais alegre que o anterior. Não lembro em que época da minha vida eu usei isto. É estranho.

O que eu gostava naquele template "ashkar zbol" (que é um template de luto, não se engane) é que os links visitados desapareciam. Eu achava isso extremamente bonito. Claro que era um problema se você quisesse acessar um mesmo site duas vezes, mas acho que era um problema fútil que se compensava pela beleza dos links entremeados de vazios. Durante algum tempo eu inclusive escrevi em preto sobre preto. Foi uma época triste, mas bela. Fiquei feliz quando acabou, quando pude mudar de blog, de nome, de vida. Por algum tempo tudo foi muito diferente.

Sonho revelador

Tive um sonho hoje. Quer dizer, tive muitos sonhos, mas quero falar sobre um só. Os outros sonhos, bem, não escolhi lembrar deles, sabe? Não foram especialmente relevantes, foram só... sonhos. Desses que a gente tem à noite.

O que quero contar do meu sonho foi uma parte em que nos deparamos com um monstro mecânico, um clank ou um robô. Ele tinha a forma e o comportamento de um animal (eu acho) e era tão interessante quanto um animal verdadeiro. Eu não conseguia tirar os olhos dele: queria decifrá-lo, entender como suas peças se encaixavam, ler seu código-fonte, entender como ele fora feito! Enquanto todas as outras pessoas (eram meus amigos/família, ou seja, Ugo, Marco, Poro, Mãe, não sei bem quem porque tinha muita gente) queriam seguir em frente naquela espécie de Dungeon Sci-Fi de onde estávamos tentando sair (acho que tirei a imagem de Tales of Symphonia), eu queria parar e estudar aquela criatura mecânica. Então, alguém me disse que, se aquilo era tão importante assim pra mim, eu deveria largar o design e ir estudar Engenharia Mecatrônica, que tem como subárea a Robótica. Na hora isso foi uma revelação, todas as minhas dúvidas desapareceram e eu fiquei feliz de saber que eu tinha uma vocação a buscar.

Enfim. Eu detesto sonhos-revelação porque na hora eles são extasiantes mas quando você acorda e pensa direito, vê que nenhuma das suas dúvidas foi sequer comentada no sonho. O que parece óbvio no sonho em geral parece estúpido no Mundo Acordado. Eu realmente prefiro realidade-revelação. Epifanias reais. Daquele tipo que não existe.

Mas, como diria o Ringo, "nothing ever happens to me".



PS.: Eu realmente estava considerando fazer engenharia mecatrônica. É claro! Combinar mecânica e eletrônica, que são coisas que eu sempre quis dominar apesar da minha ignorância total em relação a ambas, com programação, que é uma coisa que me apaixonou instantâneamente? Não parece uma resposta de sonho? Bem, justamente, parece o tipo de coisa que é feita de sonhos mesmo, e eu tenho mêdo de que uma carreira nessa área envolveria um conhecimento porco de mecânica, um conhecimento porco de eletrônica, um conhecimento porco de (controle e automação) programação (eu conheço a Poli, eu sei como as coisas podem ser porcas por lá) e muitas, mas muitas horas mesmo de trabalho ingrato, provavelmente sem nenhum apoio moral ou intelectual bem como é no Design. Eu não quero ter matérias ruins e muita exigência. Claro que parte de mim tem esperança de que eles sigam o mesmo preceito daquele curso absurdo e robado que o Diogo faz: pra aprender sobre várias áreas e não virar um generalista porco, você tem que ter três vezes mais matéria no total que uma pessoa normal. Outra coisa que me ocorre é que talvez o fato de eu me interessar por mecânica, eletrônica e computação seja um bom motivo pra eu fazer um curso técnico mas um mai motivo pra fazer uma faculdade.

Mas como qualquer coisa me parece melhor que o meu curso, eu provavelmente vou mudar pra uma dessas áreas.

Natureza, Conflito, Diferença de potencial

Aquela discussão acabou se desvirtuando um pouco, então vou tentar começar de novo.



Como eu estava dizendo, muito do nosso conflito interno vem da dificuldade em encontrar limites entre nosso poder e nossa impotência. Individualmente, isso é uma questão de análise psicológica, frustrações pessoais e inspiranção para blogueiros. Na escala social, isso tem implicações políticas.

Diversas sociedades tiveram bem menos problemas em relação a isso que a nossa. Algumas pessoas simplesmente esperaram menos da vida. Outras esperaram menos de si mesmas. Outras acreditaram fervorosamente no Destino, nas Regras e nas Funções Sociais. Um grande número delas foi prepotante o suficiente para achar que deveriam resolver o problema definindo que podiam tudo, e tentando controlar todas as variáveis do sistema. Isso é de uma estupidez sem tamanho, é claro, e também é o que tentamos fazer, como um grupo, na maior parte dos casos.

O coração dessa tática é desenvolver uma Ordem meticulosa. Se tudo estiver organizado e indexado, então pode ser controlado. Nós podemos lidar com coisas indexadas e organizadas, não importa o quão terríveis pareçam. O trovão é uma coisa terrível, mas se temos um artigo na enciclopédia explicando como ele funciona e pra que ele serve, não precisamos ter mêdo dele. A Ordem serve para nos proteger do Desconhecido. Conhecimento significa Segurança. Mas a verdade é que não podemos lutar contra a Entropia. Nós tentamos enfrentá-la dando um nome a ela, explicando-a inclusive fisicamente. Mas toda vez que pensamos nela ficamos desarmados. Sabemos que mesmo quando estamos organizando nosso sistema, nos bastidores estamos desorganizando o universo.

Péraí, eu estou ficando com sono e perdendo o foco.

A questão é...

As pessoas têm essa idéia de que organizar é separar as coisas. Juntar as coisas parecidas e separar as diferentes. Isso me lembra minha mãe arrumando meu quarto; ela empilha tudo o que tiver formato mais ou menos A4 e põe os copos de um lado, os livros de outro, os brinquedos em cima da estante, etc. O quarto fica parecendo arrumado (faz anos que ela não faz isso) mas não faz nenhum sentido prático. Eu não vou dizer que eu consigo usar meu quarto com eles do jeito que está, mas eu também não consigo usá-lo com as coisas todas empilhadas e agrupadas por formato. Acho que estou perdendo o foco de novo.

Vou dar uma série de exemplos sem pensar muito.

1. Carinho - uma divisão que é estremamente curiosa é entre os tipos de relações pessoais. Tenho discussões intermináveis com muita gente sobre esse assunto. Outro dia tive uma conversa mais ou menos assim (resumindo):
— Interesse romântico impede uma amizade. Não dá pra ser amigo de alguém que você quer pegar.
— No meu caso, acho mais fácil fazer amizade com alguém que eu queira pegar.
— Não dá. Sabe, com meus amigos eu posso dizer o que eu quiser e falar não pra eles sem problemas. Mas num namoro ou num flerte, cada coisa adquire um significado, tem um monte de outras questões, um monte de coisas que você espera e quer daquela pessoa e vice-versa, não dá pra ter uma amizade de verdade.
— Mas seus amigos também não exigem e esperam coisas de você? Talvez eu nunca tenha tido uma amizade como essas que você tem. Acabo tratando meus amigos da mesma forma que trato meu namorado, é quase a mesma coisa.
— Acho que você nunca teve, mesmo. E eu nunca tive um namoro como os seus.
Essas conversas me intrigam muito. Preciso pensar sério sobre isso. Nessa mesma conversa eu defini um namorado como "seu melhor amigo que você quer pegar". Parte de mim acha que todas essas divisões são fúteis, que os próprios relacionamentos são fúteis, mas parte de mim acha que eles facilitam algumas coisas.

2. Hobbies - Uma coisa problemática é a divisão entre Trabalho e Lazer. É contraproducente, não faz o menor sentido prático ou filosófico, é antiadaptativo, é estressante, entretanto está profundamente arraigada na nossa cultura. Admite-se a possibilidade de um trabalho que dê prazer, mas tem que ser o trabalho certo, a sua vocação, aquela coisa para a qual você foi feito ou na qual você pode usar todo o seu potencial, ou então alguma "profissão de viadinho", provavelmente alguma coisa da área de artes. Eu acho ridículo tanto imaginar que você vai ser infeliz trabalhando com algo que não seja seu Destino quanto que você vai ser feliz Quando Encontrar Sua Vocação. Sabe, eu não quero ser um personagem de Dungeons and Dragons, por mais interessantes que sejam as Classes no mundo real. Por que meu trabalho tem que ser fonte de dor e sofrimento? Porque meus deveres não podem ser também meus prazeres? Existe algo intrínseco a isso que impede? Outra derivação vil essa divisão é que se considera que uma coisa é ou útil, ou decorativa, ou um brinquedo. A bicibleta por exemplo em São Paulo não é respeitada porque é considerada um brinquedo, um veículo de lazer. É difícil encontrar bicicletas feitas para andar na rua. Algumas pessoas não conseguem conceber a idéia da bicicleta como meio de transporte.

3. Política - no banheiro da fau, em algum lugar, tem uma discussão muito velha e apagada; quando eu a li pela primeira vez o começo já fora totalmente apagado, mas dava para ler um trecho que dizia "... confundir conteúdo político com carência afetiva ...". Esse trecho estava sublinhado e alguém puxara uma flecha e escrevera: "então a felicidade individual está dissociada daquela que é coletiva!". Há muitos comentários ao redor ridicularizando essa ressalva, mas eu sempre achei essa particularmente inteligente. Por que não pensar a carência afetiva do ponto de vista político, sabe? Ok, eu não sei qual o contexto da frase, talvez fosse mesmo nada a ver, mas, do jeito que está hoje, me parece uma conclusão perfeitamente lógica! Se as reivindicações políticas de um indivíduo ou de um grupo são ridicularizadas só porque surgem de conflitos emocionais, então, certamente, o ridículo é considerar que os problemas pessoais são de importância coletiva. Mas por que não seriam? Se as pessoas sofrem com a situação em que estão, não é seu direito querer uma mudança?

4. Agricultura - E porque são necessários muros tão altos entre a Natureza e a Civilização? Só consigo ver absurdos nessa rixa. Existe uma série de plantas perfeitamente legais que a gente não só não cultiva como tenta confinar a "áreas de preservação", que são mais ou menos como guetos para plantas rejeitadas. O modelo dominante da agricultura é a monocultura intensiva-extensiva, cujo princípio é eliminar do sistema tudo o que não seja indispensável para o produto final e desenvolver a produção para que o máximo possa ser feito no mínimo de espaço, esgotando daquele espaço recursos muito específicos, e como segue o paradigma de que a diversificação é apenas uma divisão de esforços que tira potência, isso é replicado extensivamente, vide soja, cana, gado, café e eucalipto no Brasil. Aliás, vide hidrelétricas também — nosso método é sempre concentrar, potencializar, dividir e classificar. O natural (o que nós consideramos natural) é o oposto: misturar, competir, invadir, trocar. Nossa agricultura depende se um poderoso sistema de transporte de água, energia, produção, fertilização. De um lado tiramos da terra, de outro lado acrescentamos a ela, criamos com isso uma tensão constante, assim se produz trabalho, se gasta energia, se desorganiza o universo para organizar o sistema. O mundo estará sempre inevitavelmente tentando invadir nosso sistema, e nós estaremos lutando constra ele. Mas há outros modos. Há como aliviar a tensão diminuindo as distâncias, as diferenças e a agressão.

domingo, 13 de dezembro de 2009

Potencial e Escolha

Um dos trabalhos que estou fazendo é um ensaio com tema Sustentabilidade. Eu detesto esse tema, detesto a forma como ele foi imposto a nós desde que inventaram o termo, como o estudamos na escola na época em que nossos pais nem haviam ouvido falar nisso, em como se prega, estúpida e acríticamente, que ele é mais importante que quase tudo o mais. Em como se fala merda sobre isso. Em como as discussões sobre isso são irritantemente hipócritas. Então eu resolvi falar sobre outra coisa, disfarçadamente. Estou, digamos, tentando elaborar o tema. Tenho muita dificuldade com isso. Vou deixar aqui alguns pensamentos preliminares.



Acho que o nosso problema com o mundo é... ok, esse é um jeito péssimo (péssimo, eu digo!) de começar uma discussão. Mas eu acho que há uma série de problemas na forma como a gente pensa o mundo. Sério. Nossa visão de mundo, como é natural, se estrutura sobre o conflito fundamental entre o nosso poder e a nossa impotência. Qualquer livro de auto-ajuda, dicionário de pérolas da sabedoria ou coleção de filosofia em algum momento passa por frases como:

"É preciso convicção para mudar o que está errado, paciência para se agüentar o que não se pode mudar e sabedoria para saber a diferença." (ok, eu inventei o é preciso pra cada coisa pq eu não me lembro do original — costumava receber dezenas de frases desse tipo naqueles ppts da época de ouro das correntes de e-mail (sim, aqueles com fotos bonitinhas e ditados espirituosos))

e

"O ser humano vive cavalgando com cada pé sobre um cavalo: um é o cavalo do Destino, outro do Livre-Arbítrio. A chave é saber diferenciá-los, saber em que devemos investir nossos esforços e contra o que devemos parar de lutar, pois está fora de nosso controle." (eu não me lembro da frase exata, mas juro que tem algo com esse sentido escrito num dos top 10 livros de auto-ajuda na matéria da Veja)

De fato existem coisas que podemos fazer e coisas que podemos não fazer. Mas o que define a diferença entre elas? Será que a maior diferença entre uma coisa e outra não é justamente o fato de querermos ou não fazê-las? Eu não acho que seja possível saber se uma coisa está ou não dentro de nossos limites enquanto não chegarmos nesses limites, e isso significaria se esforçar ao máximo para conseguir chegar a esse objetivo. O problema é que nossa avaliação de se devemos ou não fazer alguma coisa depende em parte de se nosso esforço vai gerar resultado ou não, e se esse resultado vai ser suficiente para compensar o esforço. Essa é uma informação que em um grande número de casos está muito, mas muito distante do nosso alcance (na maior parte dos outros casos ainda está um pouquinho além do nosso alcance) mas como somos todos naturalmente otimistas (eu posso usar como axioma que todo mundo é naturalmente otimista?) — ou talvez naturalmente orgulhosos — sempre achamos que se realmente nos empenhássemos em alguma empreitada, ela seria bem sucedida, com certeza. Eu vou reescrever esse parágrafo de uma forma mais organizada:

Não temos como saber com certeza se somos ou não capazes de realizar qualquer coisa. Na maior parte dos casos, não temos a menor idéia disso. Porém — talvez porque nossa cultura, a sociedade e nós mesmos exijamos sempre que sejamos o melhor que pudermos ser, e, considerando que não temos a menor idéia de quão bons podemos ser, isso significa grosso modo o melhor que podemos imaginar — nós tendemos a achar que podemos realizar qualquer coisa.

Mas é claro que não podemos. A contradição está logo dentro do raciocínio: poderíamos realizar qualquer coisa se nos dedicássemos intensivamente a isso e se tivéssemos a capacidade para isso. Consideremos que todo mundo tenha todas as capacidade básicas, ainda assim não poderíamos nos dedicar a todas as coisas que queiramos fazer. Tentar fazer todas as coisas que se quer levaria inevitavelmente ao fracasso, segundo esse raciocínio. Escolher um determinado caminho e abdicar dos outros também não é muito melhor porque, no fundo, cada um de nós sabe que poderia fazer muito melhor do que o que está sendo feito hoje em dia em quase qualquer situação (isso é a primeira decorrência lógica dos nossos axiomas), e isso significa que cada renúncia é um peso terrível, o de estar abdicando de uma façanha incrível que eu certamente poderia realizar.

Eu estou achando muito difícil me expressar hoje, estou repetindo as coisas como um bêbado. O que eu quero dizer, na verdade, é que faz todo sentido achar que você é capaz de salvar o mundo e resolver tudo o que está de errado. Mas isso não quer dizer que isso seja possível. As fronteiras entre o que podemos e o que não podemos fazer estão nas nossas escolhas e nas escolhas dos outros sobre nós — e naquelas coisas que chamamos de acaso e destino. Não são coisas que podemos ver, não são caminhos traçados na terra que podemos seguir ou não seguir. São mais picadas e trilhas que fazemos caminhando, e que podem dar em qualquer lugar. Não, é pior que isso: não existe um caminho, não existe ir, seguir, voltar. O que podemos fazer é o que fazemos, não podemos fazer nada até que façamos algo.

A questão é: eu devo achar que posso tudo, ou que não posso nada? Uma pessoa que se acha capaz de tudo, se for uma pessoa minimamente idealista, vai se afogar em culpa por não fazer todas as mil coisas que ela deve fazer e pode fazer bem; mas uma pessoa que se considera incapaz vai se sentir um merda e ficar deprimido, ou virar uma daquelas pessoas que riem amarelo de si mesmas e que fazem os outros se sentirem desconfortáveis com algo entre dó e desprezo. Na verdade, as pessoas mais felizes e agradáveis provavelmente são aquelas que não pensam nisso, não questionam suas escolhas, simplesmente são e fazem e pronto. As pessoas mais interessantes são aquelas que conseguem pensar nisso de vez em quando.

Template

Este template tem um subtítulo muito mais legal.


Eu estava editando umas coisas no meu blog e decidi ver o que acontece se eu retornar ao modelo antigo da Toca da Lôba. Foi uma esperiência muito estranha. O mais estranho foi reparar como o jeito como eu escrevo e a configuração dos meus textos não faz mais sentido com esse template antigo. Quando leio os textos antigos que ainda estão na Toca, acho tudo muito lindo. Até os nomes dos posts nos Ecos se encaixam de uma forma interessante. Mas quando aplico o template a este Blog, não faz sentido. Tenho notado que muitos dos meus posts antigos também só ficavam agradáveis de se ler no template original em que foram compostos. É curioso entender como essas coisas fazem diferença. Acho que eu entendo porque eu mudei de template.

Também é meio engraçado notar os links como estão diferentes! A maior parte desses lugares aí nem existem mais! Alguns deles já haviam deixado de fazer sentido havia muitos anos quando eu abandonei esse template. Curioso. Também é curioso que eu só tenha tido vontade de guardar dois dos muitos templates que criei para a Toca. Mostro o outro quem sabe semana que vem. Nem sei como ele é! E depois vou voltar ao que estava antes, que apesar de tudo faz muito mais sentido hoje em dia.

Nota: este template usa os comentários do haloscan, não do blogger. Preciso dar um jeito de fazer com que os dois apareçam num mesmo template, mas ainda não sei como. Agora, não dá para ler os comentários feitos ontem por exemplo. E quando eu voltar para o modelo normal não vou poder ler os comentários feitos hoje.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Denise (mas não só)

Sei às vezes que a melhor parte de nós é aquela que mesmo nós não conhecemos. Aquela parte oculta. Imaginamos durante toda vida uma forma de chegar até essa reserva de nós que está fora de nosso alcance. Tentamos tudo, procuramos resolutos o portão despercebido que nos leva ao jardim secreto de nós mesmos.
Imagina como seria esse jardim se fosse povoado e habitado como as nossas outras construções, se fosse limpo e asseado com manutenção constante? Imagino esse lugar drenado de todas as marcas de seu abandono, imagino esse lugar sendo apenas uma parte de mim pela qual eu passo sem olhar. A beleza mesmo está nessa vegetação selvagem que nasce sobre uma camada sedimentar de mistério. A beleza são os fantasmas, a vida que povoa o desconhecido. A beleza é os monstros marinhos que figuram nas bordas dos mapas das grandes navegações. Eu busco aquele lugar inseguro, aquele lugar invisito, um lugar onde Há Dragões.
E como chegar a ele, quando não pisamos num solo envolto nas pegadas de um Deus Desconhecido?

Eu o procuro através das pessoas. Das palavras também, mas nas palavras que vêm das pessoas. Porque no Outro encontro o que desconheço do Eu. O melhor de mim, sem dúvida, é aquilo que vejo quando conheço alguém novo — alguém que me toca e liberta, que me traz algo verdadeiramente novo. Estou tão desgastada pelo tempo, entretanto quando olho em olhos novos vejo tudo outra vez: o barulho das árvores no vento, o cheiro das folhas molhadas, a textura peculiar do líquem et cetera. O novo é a minha memória. A experiência é o meu passado. Sei às vezes que o que mais espero de mim é o meu futuro que é também meu passado, Ou talvez os sonhos do passado que só podem existir num botão de esperança. É tudo assim; se esperarmos demais, tudo vira literatura e música, mas se lutarmos demais, nos tornamos... como dizer? Nos tornamos apenas lutadores. E na luta da vida esquecemos talvez que o que realmente nos move são as raízes daquele Eu desconhecido. Esquecemos que temos sob a superfície uma cidade de construções abandonadas. É impossível viver sempre no presente, é impossível dar manutenção a tudo isso. Mais que isso — é falso, é inútil. A beleza pra mim é percorrer esses salões vazios. É ouvir o canto dos pássaros que embalaram civilizações passadas.

Nas pessoas encontro as passagens secretas que levam ao outro lado do Eu. Nas experiência novas me crio e recrio e descubro mundos além dos que eu já vivia. Ergo torres sobre torres, torres sobre descampados, castelos sobre florestas em homenagem a reinos que se fazem num átimo quando uma frase me descreve. Queria poder dar a devida importância a essa cidade-palavra; levar seus inocentes fundadores a conhecer as vielas, os mirantes, os pombais. Toda vez que alguém me conhece queria... queria poder abrir as portas de mim! Mas não queria mostrar o tosco, o sujo, sabe? os fios elétricos os auditórios os dvds piratas nas calçadas os carros branco-preto-pratas as locadoras o bilhete único o telemarketing os filmes b os joguinhos de flash os romancetes júlia-sabrina os efeitos especiais o congestionamento o sabor artificial idêntico ao original as embalagens de biscoito as pessoas que correm os trabalhadores de escritório engravatados sozinhos em carros quatro-portas na hora do rush a comida da cantina os prédios provisórios sem manutenção cheios de pessoas a burocracia as matérias em que não aprendemos nada e a iluminação noturna fluorescente que deixa a noite parecida com shopping-center. Não!, eu queria mostrar as florestas, as grandes obras arquitetônicas, os lugares desabitados, o Mar! Eu queria poder tirar tudo o que é tolo e passageiro, e deixar só o âmago pulsante da poesia viva. Eu queria poder mostrar só o que realmente vale a pena em mim. Só as melhores músicas. Só palavras verdadeiras, escritas na Língua Antiga.

Mas eu não posso. Na verdade não posso tanto que nem consigo mostrar a reverberação que nossas conversas têm no meu passado. Não posso porque tudo se cobre por um véu de trivialidade. Mas nada é trivial. Nada é. Ouço dedos dançando numa rapsódia húngara, minha vida toda eu procurava sem saber algumas notas de Liszt, mas quando as encontro nos dedos de uma conversa banal eu sei de repende que tudo de vazio que acontece tem um significado profundo nesse mundo abaixo do meu mundo, esse río-abajo-río de mim. Coisas idiotas como uma barata de repente se tornam estranhas e sagradas e assustadoras. O mundo dentro de mim tem constantes revoluções. E eu, que mal as vejo, que as sinto mas não as noto, tão cheios estão meus olhos das mil coisas que vejo sobre o mundo, eu que percorro a vida a contra-pêlo, não posso ser uma boa guia para essa viagem.

Eu queria poder ir além disso. Ir aos melhores filmes e aos melhores livros. Construir um templo que revele quem eu deveria ser respeitosamente. Dançar como dedos no início da Sonata ao Luar. Deslizar sobre uma paisagem de inverno. Haver comunicação verdadeira entre eu e você. Trocarmos os nomes dos nossos amantes junto com passagens de Cortázar. Queria chegar mais perto da magia de tudo isso.

Queria chegar com você ao lugar de La Loba.