quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

O Todo e a Parte

Quando comecei a desenvolver este texto, percebi que podia argumentar por inúmeros caminhos — ciência, agricultura, trabalho, urbanismo, espiritualidade, preconceito, moralidade, arte, amor — diversas questões nosso universo podem ser abordadas pelo ponto de vista da divisão e classificação. O desenvolvimento de cada uma dessas abordagens levantou uma grande quantidade de outras questões, mas de modo geral reforçou minha convicção nessa tese: a de que há um perigo e um erro problemático em alguns tipos de classificação, que podem estar nos custando muito caro.
É claro que não posso falar contra a classificação em si. A vida seria muito diferente de não tentássemos sempre separar as coisas; pode-se dizer que sem classificação não há linguagem, pois o que é uma palavra senão um limite entre o que ela significa e tudo o que ela não significa? Na verdade todo signo é definido por seus limites — sem limites não há signos, e sem signos não há comunicação. Precisamos separar as coisas, o seco do molhado, o vivo do morto, o quente do frio, o verde do amarelo e do azul e do vermelho e do branco... Quando separamos criamos classes, fôrmas nas quais podemos encaixar o que percebemos do mundo. Associamos a essas classes tudo o que conhecemos sobre as coisas que se encaixam nela, e assim quando conhecemos uma coisa nova, se conseguimos encaixá-la em uma classe, passamos a saber imediatamente uma porção de coisas sobre ela. É claro que o sistema não é perfeito: sempre vão haver coisas que não se encaixam nas classes que conhecemos, para os quais temos que imaginar classes novas, e muitas coisas vão apenas parecer se encaixar, o que frequentemente vai fazer com que acreditemos saber coisas que depois se mostrarão erradas. Ou não — podemos continuar acreditando indefinidamente em algo que não está de acordo com a realidade. Essa insegurança na adequação das classes é um pilar fundamental na procura do conhecimento, especialmente no método científico. Podemos viver a vida inteira acreditando na coisa errada, mas precisamos estar prontos para que a qualquer momento nossas convicções sejam abaladas. Quando encontramos coisas que não se encaixam em nossa classificação, precisamos estar pronto para mudá-la, ou teremos erros e incoerências na nossa concepção do mundo; ou ainda, teremos que ignorar as informações que não se encaixam, limitando o aprendizado.
Ignorar as informações que recebemos, ou seja, impedir que adquiramos conhecimento, para manter a coerência do modelo, é um problema sério. Mas nós não somos apenas receptores desinteressados, como câmeras de segurança que apenas gravam tudo o que passar a sua frente e cujas imagens podem apenas ser interpretadas depois. Nós somos seres atuantes no mundo, e nosso olhar também é ativo. Quando temos fé demais em nosso modelos, somos capazes de deixar de enxergar qualquer coisa que não esteja classificada, e isso é um problema muito maior. E quando dependemos demais de nossos modelos, podemos acabar modificando o mundo ao nosso redor para que possamos compreendê-lo — e isso pode se tornar uma catástrofe.

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Isso é o que eu acho que vai ser o começo do meu texto final. Acho que as idéias já estão todas aí, só preciso convencer as pessoas delas e mostrar onde elas estão na nossa vida — ah, é, e juntar com sustentabilidade que é o tema do ensaio oO

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