segunda-feira, 26 de fevereiro de 2007

Carnaval

e outras coisas que me vieram à mente...



Ultimamente têm acontecido coisas estranhas. E na maior parte do tempo eu não tenho sido eu mesma. Aquele pessoal simpático do Senac, eu estava pensando, simplesmente corresponde perfeitamente à minha visão de mundo. Ao que eu quero que ele seja. E quando ando na rua, não penso em nada. Entre as árvores da USP, não me sinto em casa. Depois disso, acho que não me sinto nunca mais em casa. Estou só, me sinto só, my heart is not anywhere.

Quando volto de uma viagem, a princípio quero escrever exaustivamente, contar tudo o que vivi e aprendi, tudo o que foi engraçado, tudo o que foi imbecil, as brigas, as amizades redescobertas, as novidades, as diferenças. Mas passa a vontade e não quero mais pensar nisso. A viagem torna-se passado muito rápido; e ninguém vai escrever sobre o passado... (agora parece divertido que o único a postar sobre isso tenha sido o Charles).
Mas parece que essa viagem foi mesmo diferente. Passamos fome, nos perdemos, nos arriscamos, economizamos água, e isso só para falar dos primeiros dois dias. Experimentei dormir em uma cabine de proa da Julie, depois em uma cama grande, depois em metade dela, depois sobre alguns cobertores no chão da barraca e por fim um colchão de ar (sem contar o banco do ônibus), e acho que o pior foi o colchão de ar. Além disso, ainda me alegro ao lembrar da cara que o Cham fez quando acordei um dia e, absolutamente surpresa de vê-lo adormecido ao meu lado, dei-lhe um beijo na bochecha e me levantei. Subir o riozinho também foi uma coisa nova, e gratificante. Foi o momento em que me senti mais revigorada. Sem contar a vez em que amarramos as redes, e eu finalmente aprendi direito a dar lais de guia. E aquela hora em que jogamos frisbee de cima da árvore. E ver que o Ugo está desenhando cada vez melhor. E discutir filosofia, política, ética, sexualidade. E o futebol com caiçaras e turistas como nós. E o povoado que meu pai disse existir na Joatinga. Nossas conversas sobre barcos. Nossas mímicas. Nossas piadas. Aliás, ainda acho que os dinossauros foram uma grande invenção da humanidade. E que é estranho o sol ficar pra cima. E que a Lorena deveria poder dormir com o Chocolate ^^

domingo, 25 de fevereiro de 2007

Sussuros:


"Quero te contar um segredo....
Estou com mêdo do que há dentro de você."

Orvalho em Pontas de Folhas de Pinheiros

(você se lembra de como era estar apaixonado?)


Aime, et tu renaítras; fais-toi fleur pour éclore,
Après avoir souffert, il faut souffrir encore;
Il faut aimer sans cesse, après avoir aimé.
Hoje estava recolhendo crônicas minhas do site dos Anjos de Prata. Digo crônicas por falta de um nome que os reúna. De fato, acho que nunca escrevi uma crônica. Nem nunca tive qualquer interesse — a literatura jornalística é o extremo oposto do tipo de literatura que sei escrever.
O que me chamou a atenção na minha busca foi um texto de quatro anos atrás, que fala sobre a noite. Sobre como é preciso voltar para a noite, sobre como a noite também sente a minha falta.

...

... Como dói, tanto tempo de saparação...
Parece que com a gente não importa se foi bom ou ruim, é preciso voltar; viver, lembrar, sentir aqueles cheiros novamente. E mesmo que no presente eu sinta menos dores, parece até que é porque sinto tudo menos. Parece que por mais terrível que tenha sido o passado, ao menos ele foi terrível. E não entrar nessa penumbra; sexo, álcool, amigos que não se aceitam (ou não nos aceitam), faculdade, decisões importantes (e não só para nós mesmos), manter as aparências, sedução, namorados (nossos e dos outros), mêdos (também), dinheiro (dos outros), e aquele constante sentimento de impotência que é pior ainda agora que temos um pouco de poder sobre as coisas e as pessoas (ou, no mínimo, eles têm o poder de nos fazer exercer algum poder). E não consigo decidir o que me incomoda mais, talvez simplesmente porque tudo me incomoda muito.

O que eu quero, no fundo, é alguém que me ensine a viver. Quero passar as madrugadas, as manhãs e as tardes com você, e sair à noite em ruas iluminadas. Quero o mundo de novo, vê-lo por outros olhos, com novos rituais, novas liberdades. E um pouco de mim também, mas só as coisas boas ("mas não são todas boas?"...). Quero aprender a cozinhar, a dirigir e a sair pela cidade. Quero trabalhar. Estou honestamente cansada de tudo isso... Hoje de manhã quase fui até o escritória de mamãe perguntar quando íamos mudar de casa. Quando eu ia poder ter uma janela sem grades, que eu pudesse pular, na qual eu pudesse sentar. Quando haveria silêncio. No meio do caminho parei, sentei num carretel olhando a chuva. Acho que não quero mais morar aqui. Mesmo quando eu conseguir arrumar meu quarto, mesmo quando ele for reformado, sei que não chegará nem perto daquilo que eu quereria para mim. Sabe? Mal voltei de viagem e já estou pensando outra vez em como quero viajar. Amo São Paulo, mas quero mudar de quarto, de casa, de bairro. Quero esquecer as dúvidas, resolver meus problemas. Não estou preparada para ter novos problemas. Materialmente, acho que preciso passar minha vida a limpo ¬¬

terça-feira, 6 de fevereiro de 2007

Como não querer, e querer que não — como não?

Eu me pergunto, na verdade, se eu cometi um erro dando tanta trela à minha indecisão — ou se foi, ao contrário, a fortuna que me trouxe até aqui. Eu poderia ser como meus irmãos, fazer FAU, projetar, dar continuidade à dinastia faui, eu poderia me imaginar tardes sem fim subindo em árvores naquele campus matoso, confuso, selvagem (e belo). Mas não, não, acho que é difícil demais abdicar disso que só comecei a começar, quando as pessoas que conheci são fascinantes, quando os professores são bons, e o campus... ah, não é preciso falar do campus. Será que eu não conseguir abdicar desse luxo significa que eu sou fraca? Ou eu querer seguir minha vontade em uma situação que vai definir parte do meu futuro é uma demonstração de determinação e força? Será que meus dois irmãos estarem na FAU não é um motivo idiota pra eu querer fugir de lá? Será que a gratuidade da USP não é um motivo idiota para eu querer estudar lá? Você acha que alguns Macs, alguns estágios e algumas matérias interessantes (e talvez, em algum grau, um grande "A" montado na frente do prédio) justificam a grana e a luta por ela? E eu me pego distraidamente conjecturando absurdos, imaginando se é possível estudar de manhã e à noite e trabalhar à tarde. Acho que cansei de brigar com o dinheiro. Quero provar, pra mim mesma, talvez, que sou capaz de batalhar (por quê? por quê?) e até mesmo vencer. Que posso me dedicar, me esforçar, valer alguma coisa. Eu ter passado em 1o lugar, eu ter feito 73 pontos, eu saber o que é o sistema binário, nada disso justifica meu à-pampismo barato. No mundo capitalista, é preciso muita coragem pra não ser o melhor e ainda se sentir bem consigo. Não que eu goste desse mundo, mas — algum dia, eu gostaria de pensar que fiz o melhor que pude, e que pude muito. Quero valer o que você acha que eu posso valer.