domingo, 25 de fevereiro de 2007

Orvalho em Pontas de Folhas de Pinheiros

(você se lembra de como era estar apaixonado?)


Aime, et tu renaítras; fais-toi fleur pour éclore,
Après avoir souffert, il faut souffrir encore;
Il faut aimer sans cesse, après avoir aimé.
Hoje estava recolhendo crônicas minhas do site dos Anjos de Prata. Digo crônicas por falta de um nome que os reúna. De fato, acho que nunca escrevi uma crônica. Nem nunca tive qualquer interesse — a literatura jornalística é o extremo oposto do tipo de literatura que sei escrever.
O que me chamou a atenção na minha busca foi um texto de quatro anos atrás, que fala sobre a noite. Sobre como é preciso voltar para a noite, sobre como a noite também sente a minha falta.

...

... Como dói, tanto tempo de saparação...
Parece que com a gente não importa se foi bom ou ruim, é preciso voltar; viver, lembrar, sentir aqueles cheiros novamente. E mesmo que no presente eu sinta menos dores, parece até que é porque sinto tudo menos. Parece que por mais terrível que tenha sido o passado, ao menos ele foi terrível. E não entrar nessa penumbra; sexo, álcool, amigos que não se aceitam (ou não nos aceitam), faculdade, decisões importantes (e não só para nós mesmos), manter as aparências, sedução, namorados (nossos e dos outros), mêdos (também), dinheiro (dos outros), e aquele constante sentimento de impotência que é pior ainda agora que temos um pouco de poder sobre as coisas e as pessoas (ou, no mínimo, eles têm o poder de nos fazer exercer algum poder). E não consigo decidir o que me incomoda mais, talvez simplesmente porque tudo me incomoda muito.

O que eu quero, no fundo, é alguém que me ensine a viver. Quero passar as madrugadas, as manhãs e as tardes com você, e sair à noite em ruas iluminadas. Quero o mundo de novo, vê-lo por outros olhos, com novos rituais, novas liberdades. E um pouco de mim também, mas só as coisas boas ("mas não são todas boas?"...). Quero aprender a cozinhar, a dirigir e a sair pela cidade. Quero trabalhar. Estou honestamente cansada de tudo isso... Hoje de manhã quase fui até o escritória de mamãe perguntar quando íamos mudar de casa. Quando eu ia poder ter uma janela sem grades, que eu pudesse pular, na qual eu pudesse sentar. Quando haveria silêncio. No meio do caminho parei, sentei num carretel olhando a chuva. Acho que não quero mais morar aqui. Mesmo quando eu conseguir arrumar meu quarto, mesmo quando ele for reformado, sei que não chegará nem perto daquilo que eu quereria para mim. Sabe? Mal voltei de viagem e já estou pensando outra vez em como quero viajar. Amo São Paulo, mas quero mudar de quarto, de casa, de bairro. Quero esquecer as dúvidas, resolver meus problemas. Não estou preparada para ter novos problemas. Materialmente, acho que preciso passar minha vida a limpo ¬¬

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