quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Reencontro

Aos meus melhores amigos.


O tempo, em minhas mãos, é uma serpente alada. Ela me leva e me mostra o fim do universo. Eu sou apenas criança.
Já fui grande, depois pequena — hoje sou deusa.
Já fui guerreira, estudante, artista — hoje sou mulher.
Já fui adulta, adolescente, velha — hoje sou, enfim, criança.

Como esperei por isso! Por ser jovem e ser eu! Como lutei contra mim!

Pois não estou mais num poço. Os poços se desfizeram como se nunca houvessem existido. Agora o mundo se torna infinito. Agora o universo se dissolve! Como sonhei com isso.

Chegamos ao fim e ao começo, onde todas as portas se abrem. Os demônios que me perseguiram até aqui, os demônios param e olham. Nada é o mesmo, e as metáforas lentamente perdem seu sentido. Sólido se torna líqüido e líqüido se torna luz! Eu enfim abandono e retorno, com um único passo, ao meu lugar de origem dentro de mim. Os cervos levantam suas cabeças e olham. Os dragões levantam as pálpebras e olham. Balthazar levanta a ponta de seu chapéu. O Róque levanta uma pena de sua asa. O Sonho infla suas velas negras. O mundo pára e recomeça. Não pensemos mais em poços. Eu sou, outra vez, o vento. Voltemos a cantar como quando éramos crianças. Tudo o que um dia nos feriu, agora é só um espinho caído no chão da vida. Sob nossas pegadas. Nós, não.

Não sei explicar o canto que enche meu peito. O que fiz, o que houve para que eu perdesse o mêdo. Não sou mais eu, somos todos. O universo parece mais alegre. O universo nasce ao meu redor. Estou tudo de novo. Tudo sempre. Infinito.
Cheguei a pensar em muros, em reviver velhas dores, mas tudo perde o sentido. Não há mais muros, nem cercas, nem qualquer um desses objetos metaforicamente limitantes. Estamos livres? Ou éramos livres desde o primeiro instante?

Não sei, mas eu também me sinto como a terra. Também me sinto velha e verdadeira. Parece que não sei nada, e tudo está ao alcance das mãos. O universo urra como uma besta, e eu urro de volta em resposta ao desafio. Sempre achei que eu ia viver pra sempre, mas agora suspeito que também possa viver feliz.

Vamos viver uma grande aventura?!


,
amor,
Marina.