segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Eu nunca deixei de te achar o máximo.

Eu tenho lido muito os blogs da Hita e da Lu, e acho que este post vai ser mais diário que o meu normal. Porque as coisas intensas da minha vida são coisas que eu não quero realmente compartilhar tão publicamente (sabe aquela coisa incrível que você quer contar pra todo mundo e não conta pra ninguém?) e as pessoas que eu amo ou já sabem disso ou não lêem meu blog.

Ultimamente os dias têm sido muito bons, quer dizer, eu tenho acordado perto do pôr do sol e curtido a noite até amanhecer. Eu passei uma semana sem ver a Turma do Bairro e vou passar mais uma semana sem ver a galera que vi esta semana, e isso é bem esquisito, mas curti muito cada dia, dancei, flertei, abracei, ri, troquei informações, troquei idéias, bebi, comi, durmi, até dormimos num quarto coletivo espontaneamente! Life is good and this IS fun.

Ontem na festa da Talis nós jogamos EuNunca (principalmente porque é preciso jogar de vez em quando e o Ju é novo pra turma e ele gosta desse jogo) e como tem acontecido ultimamente eu me diverti com todo o clima de bissexualidade, camaradagem, falta de vergonha e aceitação de que todo mundo tem história. E as pessoas começaram a contar as histórias mesmo quando não eram obrigadas, porque o mais legal do eununca são as histórias. E aí teve aquela parte em que as pessoas começaram a revelar quem, daquela mesa, elas teriam pegado. E na pergunta "Eu nunca quis pegar alguém do mesmo sexo desta mesa" muita gente bebeu e como as todo mundo começou a revelar quem queria pegar eu tive que admitir que todas elas eram muito bonitas. Mas eu não queria ter dito exatamente isso.

Eu queria ter dito diferente e dizer isso me fez me sentir meio mal. Porque é bom ser bonito e tal, mas quando eu disse isso eu senti que estava planificando uma coisa que não devia planificar, porque não é como se elas fossem todas iguais e como se eu só me atraisse por pessoas porque elas são bonitas e só isso. Minhas amigas não são Barbies. Eu gosto de cada pessoa por motivos diferentes, e mesmo quando as pessoas são muito parecidas eu acabo dando um valor especial a cada pessoa por aquelas coisas que são diferentes entre coisas parecidas, tanto da mente quanto do corpo da pessoa (que não são realmente coisas separáveis).

Então eu queria ter dito que eu queria pegar você porque você é meiga e doce e adorável e carinhosa, e que quando eu te conheci eu queria que você fosse minha irmãzinha, e que quando você cresceu você se tornou auto-confiante e parou de precisar de talismãs e agora você tem uma aura de segurança em volta de você que só complementa esse carinho e essa sua capacidade de sempre dar um abraço infinito, e ainda assim você é alegre e dá vontade de brincar com você como se fôssemos dois cachorrinhos. E na verdade na maior parte do tempo eu ainda quero te ter como minha irmãzinha, mas de vez em quando eu olho pra você e só vejo essa mulher linda e incrível.

E eu queria ter dito que você é extremamente sexy, e que eu sempre me impressiono com a sua capacidade de se vestir mostrando e escondendo partes do seu corpo daquele jeito que parece que só acontece em literatura, e se mover desse jeito que deixa todos os nossos olhos vidrados em você, e ser tão absolutamente feminina com aquele olhar de quem não está nem tentando, e nem tem idéia do que está fazendo, e ao mesmo tempo conversando séria e inteligentemente sobre qualquer assunto que caia na nossa roda (só porque alguém tem que obliterar aquele mito de que menina bonita demais não pode ser tão nerd), e você não tem mêdo de ser a única menina no meio de atividades que só tem homem, e de participar delas de verdade, e não só porque eles sào seus amigos, e isso é uma coisa que eu sempre admiro um monte.

E eu queria ter dito que você é tão bonita que às vezes eu fico descansando meus olhos nesses seus olhos que não se parecem com nada, mas que o que realmente pega em você é que você tem essa energia de pular e cantar e correr e sempre querer ser mais foda e mais incrível e não levar desaforo pra casa e não aceitar não estar em cima da caça e você me fez sentir muito mais confortável com a minha existência no universo no dia em que eu descobri que você também rosna. Você é da minha alcatéia. E ao mesmo tempo toda vez que eu estou começando a me encher o saco da sua prepotência você me mostra o quanto você também é feminina, e gentil, e maternal até. Às vezes parece que você está debochando dessas linhas toscas entre o que é feminino e o que é masculino, e entre o que esperam que você faça e não faça. E eu quero você correndo do meu lado.

E eu queria ter dito que você tem uma fluidez de não precisar de um arrimo que te sustente, de saber quem você é e de ter amigos em todos os lugares, e você cria toda uma vida própria que não é parecida com ninguém, e você tem tantos lados diferentes, tantos aspectos, e eu gosto de conviver com todas as faces que eu conheço de você, e eu te admiro e você parece sempre tão certa das suas decisões, e, eu não sei exatamente como, em alguns dias, quando você está particularmente bonita e brilhante e dançante e expansiva, essa admiração e amizade e vontade de te conhecer melhor acabam se convertendo numa vontade te agarrar e te dar um beijo (ou isso, ou eu não sei separar as coisas).



Eu fiquei muito tempo pensando em colocar outros parágrafos, para outras mulheres, só pra deixar as coisas mais confusas e menos explícitas e porque tem coisas incríveis que eu poderia dizer sobre outras pessoas. Ou talvez eu pudesse colocar uns parágrafos pros homens também. Mas eu não quero ficar aqui tanto tempo hoje, e ao mesmo tempo eu acho que é uma tentativa fútil, porque se vocês me conhecem você vão saber exatamente de quem eu estou falando, e embora me dê um pouco de mêdo revelar as coisas que eu vejo em vocês, um pouco de mêdo de que vocês se ofendam, ou não gostem, ou se sintam pressionadas a ser o que a gente vê em vocês, eu também espero que vocês enxerguem através dos meus olhos e percebam o quanto tudo isso é, de certa forma, verdade. Porque vocês podem mudar e mudar de idéia e decidir serem outras coisas ou mostrarem outros aspectos de vocês, e vocês vão mudar porque nós somos todos muito jovens pra sermos estáticos, mas neste momento é isso o que eu vejo e admiro. E de vez em quando a gente sente vontade de homenagear as pessoas, não é?

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Fearing, Doubting

There's only love left,
And some wonder.
There's a dream just beyond the corner
There's a fortress that refuses to be taken
And a princess that refuses to be saved

She's in love with the dragon, or so they say
But shouldn't it be the ther way around?

It's dark in here
Do light a candle
There's a bud in the cradle where the baby wolf should be.

There's a chance of saving the world, but only if we are really lost can we find ourselves.

It's lonely in here.

I had a dream once. It was here, in this very place. It was dark and eerie and your dangerous eyes were glowing. You said,

"Was it hot?"

I was a dream, once.

Dentro.

Eu estava jogando RPG, e tem gente bebendo na minha casa, e eu me sinto mal. Eu não devia me sentir mal depois de jogar RPG. Deveria ser divertido e alucinante e só isso. Eu não deveria me sentir fraca e pequena e culpada. Mas...

O foda é que 32% das vezes em que eu jogo RPG eu acabo me sentindo mal. Uma outra porção das vezes eu me sinto muito bem, uma outra porção eu me sinto meio x, mas tem essa porção do tempo em que me faz me sentir mal, e é uma droga, e a culpa é só minha, e eu não quero me sentir assim.

Eu não devia me sentir mal jogando RPG.

Mas é que o RPG me faz tomar decisões rápido e elas têm conseqüências violentas e imediatas e não há segunda chance e o que a gente está fazendo é sempre absurdo e impossível e nós não temos idéia de como proceder e a gente comete tantos erros!

Não, péra. O problema é que eu cometo erros. O problema é que eu deixo as coisas acontecerem e eu não quero que elas aconteçam e elas acontecem e eu fico me sentindo mal depois. E eu não sei o que fazer. E eu não sei quem eu devo ser. Eu não quero brigar, mas eu gostaria de ser uma pessoa melhor. Eu gostaria de ser uma pessoa boa, de vez em quando. Eu gostaria de ter a menor idéia de como proceder.

Eu não sei. Eu me sinto infeliz.

E tem gente dentro da minha casa que eu nem conheço direito, gente bebendo por beber e gente que não é amigo meu, e eu fico pensando que eu não tenho mais vontade de viver nessa baderna. Eu não quero mais ter gente na minha casa quando eu quero ficar sozinha e eu não quero ter gente de quem eu não gosto dentro da minha casa. Chega.

Eu quero parar de escrever e eu gostaria que houvesse um lugar pra ir, mas eu estou sozinha e está tudo tomado. E hoje o Zed vai dormir infeliz e eu vou dormir infeliz e me sentindo incompleta e incomodada com o fato que eu podia ter mudado alguma coisa, mas eu não mudei nada. E nós somos incompetentes sim, e nós sabemos que nós somos incompetentes. Nós só não sabemos como não ser.

Eu sei que eu não devia levar tudo tão a sério, mas é que pra mim é tudo real.

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Vocês os outros, vão se fuder e saiam do meu mundo.

Estou meio desanimada hoje. E estou falando aqui porque sei que alguns de vocês são pessoas que eu amo e que me amam também. E eu quero deitar no colo de alguém e chorar e mandar o mundo à merda e virar o Tyler Durden. Eu estava triste porque não fui bem na prova e resolvi me animar na internet mas a internet é um retrato fiel de uma sociedade machista e míope e auto-centrada e escrota. E tem muita gente legal, mas uma parte tão grande da gente legal também é escrota! E ontem um amigo meu teve uma discussão escrota com uma amiga minha e ainda não passou totalmente a vontade de vomitar. E mesmo a meninanãopode que é genial também é míope e fala como se todas as mulheres fossem iguais a ela - é isso que chamam de humor, simplificar e generalizar; por que não fazem humor a respeito do fato de que somos todas diferentes? E o filho do David Thorne que é extremamente engraçado ainda é uma criança mas já acha que gays são nojentos e lésbicas são dahora. E mesmo sabendo que tem toda aquela merda às vezes eu queria ser um homem, porque eu sou muito mulherzinha e eu detesto tudo isso e eu cansei de ser tímida e medrosa e insegura e por que ninguém me pressionou e me obrigou a ser mais macho quando eu era criança mas eu sei que também acho toda essa macheza uma merda de prepotência e agressividade mas eu quero conseguir falar e fazer merda e não me sentir estúpida depois, e ter um apelido escroto qualquer porque no fundo foda-se, eu não quero que esperem de mim que eu seja delicada porque eu não sou, eu quero ser sem-noção, eu quero não ter mêdo de falar a primeira coisa que vem à minha cabeça.

Normalmente eu não uso tanto a palavra "escroto", mas é que ela é uma palavra tão feia e usada com um sentido tão apropriado para descrever todas as coisas horríveis de que eu estou falando. O Flip acha que ser mulher é bom porque ninguém espera que você faça algo da sua vida, mas isso não significa que ser mulher é horrível porque todo mundo espera que você não faça nada da vida?

Ultimamente eu não tenho estado muito afim de ser a pessoa que eu sou. Eu me sinto desconfortável dentro do meu corpo e das minhas atitudes.

Espero que isso queira dizer que eu estou mudando.

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

O Fim do Chão.

E um dia vamos andar por ruas completamente cobertas de construção. Então as últimas praças verdes terão sido tomadas pelos mais importantes prédios do mundo, e as periferias terão devorado os entornos até se conurbarem com as das outras cidades, e as reservas terão sido consumidas pelas comunidades locais, e os corações das florestas estarão cheios de usinas elétricas.

Ultimamente eu tenho me sentido com raiva, impotente e desesperada em relação ao futuro do mundo com muito mais freqüência do que o razoável. Qual o problema dessas pessoas, porra?!

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Conversa

Agora há pouco eu encontrei o Léo no para-ciclos do ime e papeamos um pouco. Ele quis elogiar a minha camiseta (sempre me espanta o quanto as pessoas do mundo comentam esta camiseta) e disse uma coisa assim:
- Você fica meio surfista com essa camiseta e essa corrente.
- Surfista? Isso é bom ou é ruim?
- Ahm... É meio -
- Digo, camiseta colorida e veranil num dia nublado ?
- É bom. Sexualmente ambígüo, mas bonita.
E eu disse

- Bom. Ambígüo é bom. Estou indo no quinta-e-breja hoje e quero o máximo de ambigüidade sexual possível.

Não, não foi isso que eu disse. O que eu disse foi

- Acho que é bom então. Eu gosto de meninas com estilo surfista, então as pessoas devem gostar de mim assim, também.

Não, também não foi isso. Acho que eu sorri e disse "acho que é bom, então", e mudamos de assunto. Eu estive pensando naquela quinta-e-breja um ou dois menses atrás na qual os amigos do Léo acharam que eu era fancha e disseram que eu podia pegar qual menina eu quisesse e eu achei isso positivo, mas o Léo disse pra eles que eu era hétero e isso me incomodou um pouco, mas eu fiquei quieta, porque, ele deve ter razão, não? E como me incomodar com uma verdade? Mas eu queria ter dito alguma coisa, e eu preciso lembrar de dizer alguma coisa nas próximas vezes em que alguma coisa precisar ser dita.

Sexualmente ambígüo é bom. Ambigüidade é muito bom. Estou só desabafando; acho que tenho me sentido bastante desconfortável dentro da minha sexualidade (como se ela fosse uma roupa que eu não sei direito por onde vestir).

terça-feira, 25 de outubro de 2011

I want to ride it where I like

Ontem eu fui de bicicleta até a casa do Rê. Foi tão legal! Quero andar mais de bike, apesar de estar toda dolorida nas pernas... Quero viajar de bike! É tão incrível se movimentar com as próprias forças.

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Ami (sonho)

Eu sonhei contigo outra vez.

Os sonhos estão ficando piores.

Ou melhores? Entretanto é ruim acordar e ficar triste por um momento de saber que foi apenas um sonho.

Eu fico pensando na sua voz (no meu sonho) dizendo "não esquece, tá?". Tão próximo de como você realmente se comporta quando eu te encontro.

Eu fico pensando na sua voz (inventada) perguntando "por quê?". Será que você é assim? Ou será que é completamente diferente? De alguma forma eu acho que eu gosto mais do você de verdade. O você que é mais você e menos eu.

Talvez eu precise apenas da profundidade do amor das pessoas que eu amo. E eu te amo, sem dúvida eu te amo. Pelo menos enquanto importa o fato de que você é incrível e eu estou apaixonada por você. Todo o resto é apenas uma casca, um contexto.

E é tão bom saber que nós somos amigos!

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Sucinto

De dentro de mim, ouço um sussurro que é praticamente um choro.

"I'm empty and aching and I don't know why."

Eu sou o lobo na noite, solitário, andando lentamente por entre as árvores. Eu sou a fome e o frio, eu sou o vento uivando no centro da cidade. Eu vejo um coelho passando, desatento, mas desta vez eu sequer tenho vontade de caçá-lo. A fome já está muito próxima de mim para isso.

"Magic or love or battle or death - you'll take any of them."

Hoje eu sonhei com uma pessoa. Meia hora depois, pensar sobre o sonho tinha me levado a pensar em outra. De novo eu pensei naquela noite tanto tempo atrás, and I started crying when I started feeling that rancid smell of stale love. Fuck that. It's been too long, and my tears are only telling me to move on. I hate this part. I hate giving up on a feeling. Acho que a única saída é procurar um novo sonho. Um sonho mais... real.

Eu vou esquecer tudo deste vez. Eu vou desencanar e relaxar e parar de me importar tanto com as conseqüências. Eu vou parar de chorar sem mootivo e ir atrás daquilo que está por trás. Eu vou parar de ter mêdo de perder a dignidade. Pelo menos uma vez eu vou tentar ser algo diferente.

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Comentário sobre a adaptação de "Around the Riverbend"

Eu queria saber de onde os tradutores de Pocahontas tiraram que ela está em se perguntando com quem ela vai se casar, quando é claro na letra original que ela se pergunta se ela deve se casar. Acho meio fascinante como na segunda estrofe a tradução consegue inverter o sentido de todas as frases... A versão original é claramente "será que posso abandonar os tambores e essa história de casar pra ficar aqui no rafting?", e a tradução é claramente "eu sei que existe um homem maravilhoso de outra tribo distante que vou encontrar". Os tambores representam a estabilidade e a família nessa cena (isso é bem claro pela cena anterior), então "tambor distante que me chame" acaba sendo "vou abandonar minha família pra casar com um outro cara", mais do que "seguir meu destino fora da estabilidade". A Pocahontas obviamente não é apegada à estabilidade õ.ô. Acho muito bizarro. (obviamente, gosto muito mais da original).

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What I love most about rivers is:
You can't step in the same river twice
The water's always changing, always flowing
But people, I guess, can't live like that
We all must pay a price
To be safe, we lose our chance of ever knowing
What's around the riverbend
Waiting just around the riverbend

I look once more
Just around the riverbend
Beyond the shore
Where the gulls fly free
Don't know what for
What I dream the day might send
Just around the riverbend
For me
Coming for me

I feel it there beyond those trees
Or right behind these waterfalls
Can I ignore that sound of distant drumming
For a handsome sturdy husband
Who builds handsome sturdy walls
And never dreams that something might be coming?
Just around the riverbend
Just around the riverbend

I look once more
Just around the riverbend
Beyond the shore
Somewhere past the sea
Don't know what for...
Why do all my dreams extend
Just around the riverbend?
Just around the riverbend...

Should I choose the smoothest course
Steady as the beating drum?
Should I marry Kocoum?
Is all my dreaming at an end?
Or do you still wait for me, Dream Giver
Just around the riverbend?

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O que eu gosto no rio mais
É que ele nunca está igual
A água é sempre livre e vai correndo
Mas não podemos viver assim
E este é o nosso mal
E o pior é que acabamos não sabendo
Lá na curva o que é que vem
Sempre lá na curva o que é que vem

Quero saber
Lá na curva o que é que vem
Eu só vou ver
Aves a voar
Quero entender
O meu sonho é que diz
Lá na curva o que é que vem
Pra mim
Que vem pra mim

Eu não me canso em procurar
Eu sei que um dia eu vou ouvir
Algum tambor distante que me chame
E o estável lar que eu criei
Irá me proteger
Quero segurança e um homem que me ame
Lá na curva o que é que vem
Lá na curva o que é que vem

Quero saber
Lá na curva o que é que vem
Eu só vou ver
Que cheguei ao mar
Quero entender
E o destino eu devo ouvir
Lá na curva o que é que vem
Lá na curva o que é que vem!

Que caminho vou seguir?
Qual a melhor solução?
Vou casar com Kokowan
Ou devo então casar com quem?
Vou só sentir que o meu sonho vive
E depois da curva vem

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

O que vier à mente

Porque tenho sentido falta de escrever.

Tenho gostado de matemática. Muito. Tenho me envolvido com isso e me aprofundado e mergulhado nisso.Às vezes acordo de manhã e penso "ah, então o que aquela frase daquela demonstração queria dizer era isso...". Lembro de quando eu decidi, no ano passado, que minhas coisas favoritas de estudar eram computação e matemática. Oh well. Agora minha lista de preferências começa com matemática, seguida por biologia, seguida por computação. Mas acho que é assim mesmo, e não tem por que eu mudar de idéia. Eu sempre tive consciência de que escolhi Ciências da Computação apenas porque Matemática Aplicada e Computacional era noturno. E Computação é uma coisa que pode te dar mais emprego e etc. Sei lá, não tenho estado afim de ter um emprego. Quero estudar pra caralho e passar o resto da vida estudando. Hoje resolvi ocupar meu tempo livre com uma aula de Álgebra. E me sinto terrivelmente feliz.

E como nada pode ser perfeito eu tenho me sentido ao mesmo tempo meio solitária. Meio vazia. Sinto falta de algo que não sei bem o que é. Pessoas, caçadas, eu acho. Faz alguns meses desde a última vez em que conheci alguém novo ou tive vontade de caçar alguém específico, e às vezes acho que essas coisas são necessárias para a minha paz de espírito. Hoje tive um sonho muito divertido em que eu tentava seduzir duas lésbicas adoráveis. Mas eu tenho um pouquinho de mêdo de lésbicas, alguns de vocês podem imaginar porquê. No final do sonho eu saía da tal festa e ia de bicicleta para a faculdade junto com o Renex. No fim das contas eu sou uma pessoa feliz.

Mas não feliz demais. Me sinto inquieta, como se algo estivesse se dirigindo para uma condição errada, como se eu estivesse subindo na montanha russa e precisasse descobrir como sair do carrinho antes que chegue a descida. Mas talvez não haja nada além do carrinho neste trilho e eu não tenha opção além de descer escorregando. Ou talvez eu já tenha pulado fora do carrinho e esteja tentando voltar para dentro dele. De qualquer forma, acho que os últimos quatro anos me ensinaram a ser terrivelmente desconfiada em relação às minhas próprias decisões.

Mas não estou realmente afim de estudar bioinformática, não ainda, e não consigo me convencer a parar e retomar os teoremas de àlgebra que o Agozzinni sugeriu que eu estudasse. Isso requer muita concentração. E é tão gostoso gastar essas horas lendo o Murray ou o Spivak, destrinchando equações diferenciais ou tentando provar propriedades óbvias das operações com números reais usando apenas as definições...

domingo, 7 de agosto de 2011

O Registro

"Extraio de mim para o papel; o sumo de minha alma para o papel"



Vou começar este post copiando algumas páginas do meu caderno:
"[4/8/2011] (...)
Ontem...
... Hoje quero escrever coisas muito íntimas, e como as pessoas do meu lado tendem a ler eu caderno contra a minha vontade enquanto escrevo, eu estou evitando escrever. Lembrei agora daquela página daquele antigo diário que escrevi toda em código (arghe-sangue-pirata, para quem isso significa alguma coisa) porque ninguém podia saber do meu desejo secreto pelo prof. paiva. Hoje isso parece tão bobo. Eu preferia qu aquela página estivesse em uma língüa que eu pudesse ler.
Estive pensando muito sobre coisas que eu achava de um jeito e agora vejo qu acho de outro, e é um pouco surpreendente notar que eu achava todas essas coisas absurdas. Lembra de quando eu tinha fantasias com namorar o Yuri e trai-lo com o Charles? E encontrei uma falha naquele plano da Ana Bruner de escrever minha Weltanschauung: eu nunca poderia prever que essas coisas que mudaram seriam relevantes o suficiente para anotá-las! Quantas outras coisas eu nem poderei lembrar? Estes cadernos são o melhor registro de quem eu sou, de quem eu era quando os escrevi. E mesmo que eu escreva todos os dias, sempre falta alguma coisa. Tem tanta coisa que não dizemos. Tem tanta coisa que nem pensamos nas vozes superiores do pensamento! Talvez eu devesse me proucupar mais em guardar comentários em blogs alheios, dou muito mais opiniões ali. Ou pelo menos opiniões mais incisivas. Talvez eu devess desencanar disso tudo também, afinal, de que me serve obter tão extenso registro? Que me serve ter um registro tão extenso e cuidadoso de mim?"

Com uma freqüência assustadora, eu percebo que no passado eu pensava coisas que hoje em da me arecem totalmente absurdas. Essa fantasia da tração é uma das que mais me choca. Naquela época eu estava começando a descobrir quão difícil é tentar amar uma só pessoa, e eu queria ter os dois (como todo mundo sabe, eventualmente eu acabei namorando os dois, um depois do outro. Mas não foi uma coisa planejada. Acho que foram só paixões muito intensas que não desapareceriam se não se cncretizassem), e eu achava que não havia nenhuma olução lícia, por isso nas minhas fantasias eu buscava as soluções ilícitas. Isso foi antes do episódio em que eu decidi que não ia mais namorar e no qual o Di conseguiu me mostrar que existiam outras opções de vida. Hoje em dia, eu considero que se eu quero trair (propositalmente) meu namorado, é porque eu não devia estar namorando com ele pra começo de conversa. Fico aliviada por ter chegado a essa conclusão sem passar por nenhuma situação realmente problemática (pelo menos nesse âmbito). Sempre fui correta demais para conseguir fazer algo que eu sabia que machucaria alguém que eu amo (e eu sempre tive certeza de que não conseguiria realmente mentir para alguém amado e íntimo).

Acho que por um lado me é útil fazer esse registro de mim, porque assim eu consigo ver mais claramente o que mudou, o que ficou. Além disso, eu posso escrever, eu tenho sobre o que escrever, eu gosto de escrever e de faer palavras bonitas. E no blog, é claro, eu posso me comnicar. Mesmo nos meus cadernos-diários eu sempr sinto que estou escrevendo para alguém. Talvez seja a marina do futuro. Tavez eu esteja escrevendo para uma menina do futuro que vai encontrar esses registros e le-los um a um. Às vezes eu tenho vontade e ostro o qe escrevi para algumas pessoas. Eu sou sincera porque acho que não vale a pena viver se não e para viver plenamente, sinceramente, sendo quem você é. Eu escrevo em um úico blog porque me recuso a me fragmentar. No mesmo lugar escrevo poesia, discuto meus estudos e assuntos acadêmicos, divago sobre política e sociedade, e temas que são totamente inapropriados para uns ou outros públicos. Porque eu me recuso a me fragmentar. Mas para quem estou escrevendo?

E por quê? Será que isso sequer é realmene uma questão? Acho que se eu continuar registrando, eu nunca vou me arreender.

...

Eu tenho uma certa necessidade de preservar o presente, sabe?

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Cinqüenta Presas

"Mas jamais poderei esquecer de uma sensação – ao vê-lo fumando nu na janela, pensei: 'quero de novo. E de novo. E de novo'." - Letícia



Estive lendo o blog da @sexocomletícia, www.cemhomens.com/, e me divertindo com nossas semelhanças e diferenças de visão de mundo, com as experiências interessantes que ela tem para compartilhar, e com os pensamentos também. Às vezes uma ou outra afliçãozinha de não me sentir parte do mesmo mundo que ela, mas isso passa. A Letícia é mais uma das mulheres divertidas que a Pretzel me mostrou na internet. O que me faz pensar que eu devo ter muito em comum com a Pretzel. E quando eu estava fazendo estágio e tinha que aturar aquele papo de homem de escritório (não quero realmente generalizar, mas criei muitos preconceitos contra o mundo das empresas) essas mulheres me permitiam acreditar que eu não estava sozinha num mundo hostil que nos odeia e nem se dá conta disso. Elas, e os protestos a favor do casamento gay.

A verdade é que eu gosto de uma vida divertida, livre e pessoal, digo, personalizada, e gosto que ela seja de um jeito particular que não é totalmente padrão e que é totalmente contra algumas das nossas intituições morais e aquilo que a gente finge ser quando conversa com as nossas tias (felizmente eu tenho uma família bem tranqüila, mas ainda tem uma porção de coisas que acho que nunca vou compartilhar tranqüilamente com alguns membros dela). E eu me encontro muito com algumas das coisas que a Letícia diz. Chego a ficar com uma leve inveja dela. Ultimamente, com a faculdade e o namorado e estágios e família e gatos e o diabo a quatro, não tenho tido muita disponibilidade, tanto de tempo como de espírito, pra viver aventuras assim.

Ultimamente, não tenho nem sabido quem caçar. Todas as pessoas por quem tenho me interessado fervorosamente estão namorando, ou só gostam de homem, ou os dois. Ou eu nunca as vejo. E eu sempre me sinto um pouco envergonhada por reclamar disso enquanto eu tenho um namorado, e depois eu sempre me sinto meio ridícula por me sentir envergonhada por algo que eu já aceitei que faz parte de mim e que eu não quero mudar. Ontem eu estava conversando sobre isso com o Diogo (que é sempre um amigo muito bom quando você precisa compartilhar um segredo) e ele perguntou: "Isso é normal pra você?", e eu disse "sim", e foi isso, estava resolvido. Agora eu só preciso que aquelas pessoas que têm namorado de quem eu estava falando tenham uma visão parecida com a minha.

E tem aquela coisa de esse texto dizer que "Como ainda não conheci nenhum homem que pudesse satisfazer uma mulher que quer “de novo, de novo, e de novo”, o jeito é utilizar os serviços de vários homens. Talvez, até de mais de um ao mesmo tempo".

Mas faz algumas semanas eu me dei conta de que não é só porque você tem um namorado mais ou menos disponível que você tem que fazer sexo todo dia. Eu descobri isso e foi surpreendente porque eu achava que eu já sabia que namoro não era só sexo. Mas parece que não, eu achava que era sim. Aí o André me disse que não era bem assim e eu parei pra pensar e, realmente, tem dias em que tem coisas mais legais pra fazer. Não coisas legais em absoluto, coisas que são legais naquele dia. Sim, ir numa festa louca com todos os seus amigos, rir por doze horas seguidas, é sempre muito legal. Mas tem dias em que coisas banais são mais legais do que sexo, tipo jogar Theme Hospital. Ou consertar a bicicleta. Ou ficar enrolado no sofá vendo TV e jogando Kongregate.

Por outro lado há dias em que todos os meus pensamentos levam a sexo, e tudo o que eu quero é comer todo mundo. Eu fico um pouco desorientada nesses dias, até porque obviamente eu nunca como todo mundo. Eu não sei se todo mundo tem esses dias de fera, em que todas aquelas outras coisas da vida parecem só uma decoração em volta do prato principal que é comer alguém. Imagino que seja uma coisa meio normal. As pessoas devem lidar com isso de formas diferentes, também.

E talvez esse texto tenha me pegado por que ela sofria com uma paixão não correspondida e aí encontrou um cara que a fez desencanar um pouco disso e simplesmente se libertar e ir se divertir. Foi uma experiência que realmente a modificou, dá pra sentir ao longo da história. E acho que eu quero um pouco alguma coisa que me faça desencanar das coisas com as quais estou encanada agora. Que me faça mais lôba, mais feliz e menos mimizenta.

http://www.cemhomens.com/2011/06/numero-1-irresistiveis-olhos-verdes.html#more

sábado, 23 de julho de 2011

acha que sexualidade é uma coisa construída/formada, ou é determinada mais hormonalmente/geneticamente/biologicamente?

acho que tem muito dos dois. acho que boa parte dos impulsos mais basais é determinada pelo seu corpo (coisas de criação, como a alimentação, e principalmente uso de remédios hormonais, são importante, bem como a genética), mas a forma de lidar com seus impulsos e desejos é muito cultural. Mas acho que tomar hormônios pode te transformar numa pessoa diferente (que às vezes é o que você está buscando).

acabei de pensar que talvez você estivesse falando de orientação sexual. acho que por quem você se atrai é muito biológico. Mas nossa cultura pode determinar a quais atrações você vai dar mais atenção, levando a repressão de alguns desejos e cultivo de outros.

eu acho.

Ask me anything

sexta-feira, 15 de julho de 2011

novo design

Achei que o antigo estava pálido demais. Não dava pra ler fantasia direito.

Estou curtindo ver números nas "reações". Já tinha colocado essas opções fazia tempo, mas parece que no design antigo não funcionava. Acho bacana. Mas fico me contorcendo querendo saber o que as pessoas querem dizer quando clicam em uma ou outra coisa. Principalmente quando clicam no "nada a ver".

Floden Seimsisk

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Repetindo

Eu li este post antigo e tive vontade de destacá-lo. Não consegui pensar em como. Então vou simplesmente publicar de novo.

"Pensando bem, eu não vou voltar.
Eu não quero voltar. Eu só vejo fogo lá atrás.

Eu quero queimar tudo.

Eu não quero tentar reacender velhas amizades, eu não quero me basear em nada do que já foi. Eu quero cortar minhas raízes, e esquecer o passado.

Pensando bem, eu nunca vou me encontrar. Eu sou um pássaro que já voou, um inverno que passou, uma estrela que morreu, uma peça que saiu de cartaz.

Eu não quero guardar nada do meu passado. Eu quero enterrar cada caderno, cada carta de amor. Eu não quero sequer me lembrar dos sonhos, das risadas. Eu quero cortar o pecíolo e me largar no vento.

Eu quero perder a idade, perder o mêdo de envelhecer, perder o arrependimento, perder o compromisso. Eu quero perder a dor, perder a traição. Eu quero perder a culpa de ter abandonado.

Parece que quando a gente resolve um problema, a gente praticamente esquece que ele existia. Então eu quero esquecer de tudo. Eventualmente, tudo desaparece.

Eu quero me libertar da vida que eu tive até aqui. Esquecer que estou presa a ela, esquecer o dever que tenho para com ela. Eu quero recomeçar.

Acho que quem em sou agora não bate com a visão de mundo que eu tinha antes. Não bate com quem eu era, no que eu acreditava. Eu quero fechar os olhos e parar de tentar entender."

(nota:

a postagem anterior ia se chamar "mei", a palavra na minha própria língüa para "tu". Mas no último instante resolvi mudar de língüa. Se não faz diferença, posso apenas seguir meu coração.

foda-se o mêdo. Se não tenho esperanças reais, posso pelo menos continuar escrevendo.

E acho significativo que eu tome esta decisão no dia quatorze)

Hoje tive uma idéia para uma história.

Du.

Do lado de fora do círculo, uma borboleta voa como se fosse luz colorida. A borboleta é na verdade um dragão. O dragão é na verdade uma enseada. O veleiro na enseada percorre um círculo ao teu redor e canta em louvor da tua caminhada sobre as águas. Tu és uma fada. Tu cantas. Tu és o Lobo na noite, a Gata, os pêlos teus brilham sedosos refletindo um beijo matrimonial da Lua. A Lua na verdade é um espírito da chuva. Eu sei, eu corri com ela por cima de poças d'água e voei no flanco das águias procurando olhos que vissem longe, e encontrei os teus. Eu não sou tua, mas ainda assim sigo tuas pegadas. Eu sou tua porque te amo. Eu sou o Amor, O Mais Lépido dos Dragões, minhas patas fortes e grandes percorrem espaços minúsculos por cima de montanhas ancestrais, e ao meu redor todos se apaixona, ao meu redor as urzes, as carmelitas, as senóides, as taturanas. Tu és a curva regular de um regato com inclinações matemtáticas, o revelo de uma fazenda de formigas que inadvertidamente imita uma representação da função de Riemann. Eu sou uma formiga, primitiva e carnívora, uma formiga com pêlos, com caninos. Debaixo da lua eu sinto o calor dos mamíferos, eu sinto o amor dos bichos sociais, eu crio a vida em pequenos flocos, eu passo adiante um olhar de doçura. Eu sou tua porque te amo. Eu te amo porque nas bordas de um mar imenso me parece que todas as ondulações representam a canção que quero compor para ti. O castelo de areia na verdade é uma luminária. A luminária imita um vagalume. As tuas mãos imitam as mãos de milênios de cuidado carinhoso. Tu és uma serpente do mar, leviatã imensa, a luz da lua te faz brilhar prateada, tuas escamas parecem véus de seda em dias de casamento. Tentas nos falar e ouvimos o rumor primordial das nuvens. Mas tanto quero te ouvir que te entendo. A serpente na verdade é uma criança, e a criança brinca com um filhotinho de gato no jardim de uma casa de campo. Eu te quero porque te amo, porque sonho com estar contigo, porque imagino uma vida de risadas e viagens por mar. Eu vestirei a roupa do cavaleiro negro e te protegerei de todos os perigos. Eu enfrentarei os monstros e os magos cruéis, mas eu te darei a única coisa realmente boa que tenho a oferecer. No meu leito de morte, na luta derradeira contra o último dragão (e é necessário que eu perca a batalha para que os dragões sobrevivam e para que entendas o que vim fazer) eu tocarei teu rosto com minhas mãos rudes cobertas por grossas luvas, e entenderás meu carinho e minha doçura, e me amarás um pouquinho, mas saberás que não é o toque de meus dedos no teu rosto que tenho a oferecer. Quando eu te levar a galope por campos ancestrais, quando eu rir um riso de criança em tua companhia, nada disso será o que realmente quero te dar. Os homens em verdade são todos meninos, e todas as mulheres são crianças. Eu não sou melhor do que eles, e eu não posso te enganar. Mas eu te tomarei nos braços quando estiveres triste, e eu dançarei contigo quando estiveres contente, e nós andaremos da lâmina de luz que se estende sobre o mar do Belo Reino. Eu te amo, e quero compartilhar esse luar contigo. Eu tenho tanto mêdo de que não entendas... Eu tenho um mêdo imenso de que não sejas a dama que enxergo quando te vejo. Mas, mesmo se fores outra pessoa, outro tipo de fada ou mulher, eu ainda te terei em grande estima. Ainda oferecerei minha espada se quiseres ser minha rainha. Eu não posso evitar o cavalheirismo quando enxergo teus olhos feminis. Tu és a leõa com quem tenho sonhos nas minhas noites de presa. Tu és a esfinge. A esfinge na verdade é uma avó antiga da rainha Titânia. E as harpas dos meninos gregos fazem a trilha sonora do teu caminho. Tudo isto é teu, se quiseres, se puderes ver. As paisagens infinitas se cobrem de forração verdejante. No lombo de feras imensas eu conheci os corpos de homens e de animais paleóticos. Eu dancei com os mitos antigos antes de te conhecer. E tu me fascinas porque também olhaste nos olhos dos mitos. Mas não sei dizer o que pudestes ver. Eu queria dizer que anseio por percorrer contigo um campo infinito. Mas eu tenho muito mêdo de que digas "não".

Se me abandonares às minhas próprias aventuras, ainda assim não ficarei solitário. Meu espírito vagará em boa companhia, embora talvez eu ainda me sinta um pouco só. Voltarei para te contar de todas as histórias, e por mais que me doa tudo o que não puder ser contado, tentarei ao máximo mostrar a beleza das pequenas coisas, dos detalhes dos encontros. Da borboleta que na verdade era um dragão. And so forth. Mas quero te pedir que não te vistas sempre em roupas de rainha, porque alguns tipos de trabalho exigem um gibão de couro e um par de galochas. Nós vamos entrar juntas nas florestas difíceis da terra dos Anjos. Nós vamos encontrar os olhos de antiqüíssimos deuses do Norte, de antes do Ragnarokk. E vamos pegar carona nos velhos ventos. Serás minha princesa, mesmo se não fores minha companheira de batalhas. Mas meus companheiros então serão tufões de vento, criaturas da noite, pessoas de coração como o meu, dispostos a enfrentar dragões, capazes de amar os dentes das bocas que os mordem.

Eu não guardarei rancor, porque também os amo, porque não estarei só e entenderei tua decisão de não vir conosco. Na verdade apenas serei capaz de aceitar essa decisão porque não estou só, mesmo agora. Tenho um sonho que me acompanha, um gato de orelhas negras que está sempre perto dos meus pés e corre comigo e me carrega nas costas quando preciso descansar. Eu sonhava com que dormisses comigo aninhada na barriga fofa desse animal, eu sonhava com que caçasse conosco pelos campos nevados e pelas florestas fechadas e pela tundra que cobre as planícies perto da noite. Mas se me disseres não, montarei no flanco do meu gato, vestirei minha armadura e amarrarei teu lenço, minha dama dos sonhos, na ponta da minha lança, antes de seguir para o Castelo de Nuvens onde o Rei dos Elefantes, que tem seis braços de seis diferentes cores, me dará uma missão. Eu não ficarei sozinha, mas em noites de lua mansa em que a brisa do mar-de-longe me trouxer o cheiro das nossas viagens, eu segurarei o lenço, rasgado e manchado de sangue, perto da boca, sem coragem de morder, com mêdo de perturbar os velhos demônios da tua falta. E tu serás um sonho que corre pelos uivos dos lobos, vivendo uma vida fora do meu alcance. Eu voltarei para ti, cheio de cicatrizes, e beberemos e comeremos e trocaremos histórias de caça e de reinado. Mas a cada inverno eu me terei mêdo de ter te perdido outra vez. Eu quererei te ter comigo, meu irmão de sonhos, minha irmã de noites. O gato na verdade é um homem. Tu viverás sem mim. Eu me esforçarei para parar de mentir para ti, de parar de me esconder. Tu serás feliz.

Mas esta noite, quando eu morrer na luta contra o dragão, eu cavaleiro de histórias antigas, eu teu Lancelot-Morgana, condenado a te deixar nas mãos de Guinevere, eu tocarei teu rosto com amor e explodirei como um milhão de liridas g'alambra, um milhão de pássaros de sombras levando-te comigo em todas as direções. E tu te tornarás um animal de asas.

Nos separaremos, então. Sempre nos separamos. Mas distantes é que se torna forte a única coisa realmente preciosa que posso oferecer e que ainda não tenhas: sozinha é que melhor saberás apreciar a Liberdade. Antes de ser Lancelot eu me chamava Galahad. E tu, quando não eras rei, te chamavas Gwydion. Tu eras um gamo jovem. E tu eras uma dama-fada, enfeitiçada pelos rei de Faërie. E eu era uma Lôba jovem, Raksha, uma mãe de lobos e homens, uma mulher do sangue, e um príncipe, desses que toma navios para o fim do mundo, desses que nada tem fora a própria liberdade. E eu... eu vim até aqui apenas para oferecê-la a ti. Eu sei que não a queres. Eu sei que queres todo um outro mundo. Mas não posso evitar sonhar com a tua companhia. Não posso evitar sonhar que enxergues que apenas quero te permitir ser feliz mesmo quando os reis do teu castelo não puderem te fazer sorrir. Eu quero te dar a ti mesma. Eu quero os teus olhos nos meus. Eu tenho mêdo. O rei era na verdade um namorado. O gamo era na verdade uma carta. A espada era na verdade um telefonema. Vamos voltar para casa agora. Eu te amo.

Río Abajo Río

quarta-feira, 13 de julho de 2011

De novo

De novo eu escrevi e não tive coragem de mostrar. Como uma carta de eu escrevi e não consegui mandar. Eu nunca consigo te dizer a verdade. Eu tenho tanto mêdo que a única vez que eu te disse a verdade foi porque eu não a conhecia ainda. Aí eu entendi. Mas essa foi uma vez em que você me escreveu de volta. Eu fiquei tão feliz! Depois você escreveu outras coisas, e tivemos um ou outro momento em que você falou comigo. Mas eu não sei, é sempre tão difícil pra mim falar com você.

Talvez eu devesse parar de tentar me esconder.

Fiddler's Green

terça-feira, 12 de julho de 2011

sábado, 11 de junho de 2011

Chão

Sabe, a USP é um dos lugares de que eu mais gosto na vida. Vivi tanta coisa lá e é um lugar tão bonito. Às vezes, quando acontece de eu passar muito tempo indo pra lá sempre de carro, eu sinto falta de ir a pé, atravessar a praça do relógio, pisar nos cimnhos pisados nas alamedas das ilhas, observando a todas aquelas pessoas que passam por mim, estudantes, professores, vendedores de comida, funcionários da limpeza ou da administração, diretores, passantes.

Devem existir lugares melhores no mundo, em outras cidades, em outros países, em outros continentes. Talvez outras universidades, ou talvez lugares selvagens, ou parques temáticos, eu casas de pessoas que ainda não conheci, ou mesmo casas de pessoas que já conheço, ou colinas mineiras, ou... Mas a usp é minha casa, e vai ser por mais algum tempo ainda. Lá eu me sinto mais gente do que em qualquer outro lugar. Lá o que eu faço é de verdade. Lá sou mais competente do que jamais serei na casa dos meus pais, sou mais ambiciosa do que jamais serei nos lugares selvagens, sou mais humana também, e a usp tem um efeito mágico em mim de fazer o futuro parecer um pouco mais possível. E também tem todas essas lembranças boas, me convencendo de que eu sou gente afinal.

Sabe, quando eu ando pela cidade, eu me sinto quase sempre uma estranha nesse formigueiro humano. Eu estou cansada e não há lugar em que se possa descansar. Se eu deito num banco, vêm um cara dizendo que é proibido deitar. Se eu sento na calçada, vem um cara dizendo que é proibido sentar. E não tem lugar pra correr, e é proibido subir em árvores, e é proibido pisar na grama, e vão tomar no cu todos vocês; no final do dia eu estou sozinha, nenhum desses lugares me pertencem, em nenhum deles eu sou querida, e eu não posso sequer ir embora. É muito melhor simplesmente andar e andar, até chegar num lugar onde eu esteja sozinha, eu e as coisas inanimadas, porque as coisas inanimadas não me rejeitam.

Houveram lugares na vida que me acolheram: as praças perto do colégio, a Cajaíba, Paúba, um ou outro bairro residencial... E, bom, a USP. Acho que a USP é mais especial porque ela não é a praça perto do colégio, ela é o colégio. E eu não ando por ela apenas com meus amigos mais íntimos, mas com todos os que estiverem aqui. Até gente que nem estuda aqui! Porque aqui eu posso jogar RPG, jogar baralho, subir em árvores, dormir no chão, beber, dançar, namorar, brigar, construir coisas, destruir coisas, comer fruta no pé, observar animais selvagens (inclusive corujas e preás), cantar, assistir peças de teatro, ver filmes, comer, trabalhar, virar a noite, correr, discutir assuntos muito diversos, fazer amigos, assistir aulas diversas, entrar em palestras, passar oito horas no computador, começar qualquer assunto sem ser taxada de nada (é claro que isso é com as pessoas certas), conhecer gente muito diferente de mim e ainda me sentir em casa...

Acho que por isso, o fato da USP ser um lugar tão ridiculamente perigoso à noite me dói muito mais. A gente meio que mora aqui, a gente vive aqui e eu pretendo viver aqui por muito tempo ainda. E eu gostaria de poder correr por todas essas ruas como se elas fossem corredores da minha casa, com mêdo apenas das quedas e dos animais perigosos, e não da cidade lá fora, a Selva Humana que é muito mais assustadora que qualquer outra selva. *sigh*

É claro que eu gostaria que a cidade fosse um lugar mais público, que as ruas fossem um pouco mais nossas. Mas eu sinto muito forte essa necessidade de que as ruas que já são nossas sejam boas para nós.

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Discurso do twitter++

#diadosnamorados

Posso falar? Eu detesto o dia dos namorados. Sempre que chega esse dia eu tenho vontade de estar solteira! Acho que é porque eu sempre tenho vontade de estar solteira, mas também porque todas as lembranças realmente boas que tenho de dias dos namorados são das Festas de Solteiros, nos poucos ou velhos dias em que eu tava solteira. De verdade, não consigo lembrar o que eu fiz nos dias de namorados em que eu tava namorando. Fora no último deles, em que eu decidi terminar meu namoro.

Essa institucionalização do amor me incomoda tanto que eu não consigo aproveitar. E eu não preciso de datas coletivas pra coisas pessoais. Na verdade, eu me incomodo profundamente com a idéia de que todo mundo estará comemorando seus namoros ao mesmo tempo que eu. Eu não quero achar que meu relacionamento, tão especial, com alguém que eu amo tanto que vale a pena sacrificar minha liberdade por ela, é apenas mais um na mesma categoria de tantos outros que não têm nada a ver com ele. Até porque eu nunca me submeteria a algumas coisas que a maior parte dos namorados acha normal. E temn tanto namoro aí afora que é tão menos significativo que o meu! Eu não quero fazer parte desse conjunto.

Com isso tudo em mente, proponho mudar o nome desse dia pra Dia dos Solteiros, e que todo mundo seja solteiro por um dia! \o/ Vejam só, a gente se divertiria um monte, aproveitaria a diversão de ser solteiro, juntaria os casados e os solteiros numa grande festa, e refletiria muito mais profundamente sobre a validade dos nossos namoros. A putaria é opcional.

Dia dos Solteiros ftw! Apoiem esse projeto!

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Hell In A Handbasket

Voltaire

Oh and Now
The end is near
And I face that final curtain
So good-bye to strife
This is the last dance of my life
Lord of this I'm certain

I've been a sinner.
I've been a saint.
Done both good and evil deeds.
Oh, but in the end, I was good to my friends
and that's good enough for me.

Oh good Lord, they say all souls you forgive.
Well if that's true then why
does there need to be a hell?
Hey, what's that sulfury smell?
Now I can feel, the fire, creepin up my thigh.

I'm goin to Hell
in a handbasket.
It's a Bohemian Rhapsody.
Oh, Galileo, mama mia, scaramouche, scaramouche.
Oh, Beelzebub's got a devil put aside for me.

I'm goin to Hell, in a handbasket.
With my flesh they'll make a feast.
I'm gonna be there in that number.
That's 666 the number of the beast.

I'm goin to Hell, in a handbasket.
Well at least I'll have a view.
Oh I will see the fire, through the rusty razor wire.
Oh don't you worry, I saved a seat for You.

I'm goin to Hell, in a handbasket.
And I might like it that way.
No this ain't no lie, I'd rather be Kentucky Fried
Than alive and kicking in Jersey any day

I'm goin to Hell, in a handbasket.
I'd pray if I had the guile.
No this ain't no fib
I'd rather be a splatter on the Devil's bib.
'Cause on my knees repentent ain't my style.

I'm goin to Hell, in a handbasket.
Oh please don't pray for me.
No I don't need to be saved, of the devil I ain't afraid.
There ain't nothin he can do that ain't already been done to me.

I'm goin to Hell, in a handbasket.
And I'll have good company too.
'Cause If I was so bad, than there's no need to be sad.
'Cause everybody else will be there too (Including You!)

Oh good Lord, I only ask you forgive
The self righteous who decieve
When your words they twist,
We both know Hell don't exist,
Except in the minds of the poor fools who believe

quinta-feira, 19 de maio de 2011

PS (feminismo e imagem da nudez)

Coisa que uma amiga me mandou depois de ler o post de ontem:
A cantada de pedreiro é uma coisa TÃO OPRESSIVA que me dá nos nervos quando alguns homens (ou mesmo mulheres) não percebem! Eu, esses dias, estava tirando aquelas fotos pra um trabalho da Luiza e tal, e depois fui com elas comer temaki perto de casa. Fomos sem mudar de roupa, porque não há motivo pra mudar de roupa, oras. Bem, alguns homens perto do Pão de Açúcar não concordaram e acharam que usarmos roupa xis ou y dava a eles o direito de falar o que bem entendiam para nós.
Nenhuma cantada de pedreiro visa elogiar uma mulher, nem mesmo tentar ganhar afeto dela: serve só para colocá-los na posição de dominadores, de donos, de senhores, etc. Meio na vibe "mulher tem que saber seu devido lugar, que é de objeto, que é sem direito", etc...
Se o objetivo fosse mesmo ganhar afeto, atenção, etc, as falas seriam feitas de maneira mais cuidadosa, mais particular, menos jogadas e não em situações de maioria, oras.


A propósito, muita gente está comentando que nudez feminina pode objetificar a mulher. É claro que pode. Nundez masculina também pode. Aliás, pessoas vestidas também podem. E histórias em quadrinhos sobre cachorros também podem. Qualquer meio pode ser usado para objetificar a mulher, ou o homem, ou o ser humano, ou que que quer que se queira denegrir sem um om motivo.

Mas a nudez não é em si má. É o olhar objetificador, que associa diretamente a nudez feminina a Playboy, que é obsceno. O obsceno é a idéia de que homem não agüenta ver mulher de pouca roupa sem atacá-la. O obsceno é não saber lidar com isso de ser um bicho sexual. Acho que o mundo seria muito menos objetificado se a gente pudesse ficar pelado sem se converter num pedaço de carne suculento e obsceno. Sabe?

Aqui onde começou esta discussão.

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Feminismo e afins (tentatively)

Ultimamente tenho tido dificuldade de parar, pensar, escrever alguma coisa, falar com o mundo, fazer sentido. Estou sempre trabalhando, criando, desenvolvendo, falhando, levando gatos no veterinário, tentando namorar, me sentindo afogada e et cetera.

Vamos parar com isso, eu quero fazer e falar. Qual o tema de hoje?

Ultimamente os temas que tenho discutido têm sido: feminismo, computação, matemática, natureza, rpg, sexo, liberdade sexual, poliamor, lógica, respeito. É, têm sido meio limitado. Tenho saído pouco com a galera, e acho que isso me afasta do nosso ciclo normal de pokémon, biologia, sexo, comida, psicologia, sociologia, religião, rpg, 4chan e fantasia. Mas sobre o que vamos falar hoje?

Tem uma coisa que eu queria falar faz um tempo, que ainda não reuni a coragem e o tempo pra discutir. É essencialmente sobre vocês.

E, sim, eu vou usar "vocês" porque eu sei que vocês vão ler e eu sei que vocês vão saber que é pra vocês. Vocês vão saber, mas leiam sem levantar defesas, da mesma forma que eu leio e ouço vocês mesmo quando vocês falam e escrevem e pensam essas coisas absurdas.

Eu entrei em muitas discussões a respeito de feminismo ultimamente, levantadas pelo contato com gente muito feminista, ora via blogs que na verdade estavam falando de Cups (a propósito, meninas, experimentem usar cups. sério.), ora via #SlutWalk, ora porque alguém no mundo foi estuprado e as pessoas ficaram com dó dos estupradores, ora porque alguém estava irritado com os pedreiros, e pelo menos uma vez porque eu estava irritada com gente que brinca que eu vou fazer greve de sexo, e algumas vezes porque essa discussão começou em quadrinhos como PREACHER ou WalkingDead. E simultaneamente entrei em muitas discussões sobre homofobia e liberdade sexual e afins e todas essas coisas meio que se misturam pra mim.

(obs.: tenho preguiça de pôr links, e vcs sabem o usar o google)

Mas aí eu estou conversando com amigos íntimos meus, e enquanto uma se revolta com uma coisa divertida como Ateímo&Peitos, outro defende que mulher gosta de cantada de pedreiro, e enquanto um praticamente incita a própria namorada a caçar um outro cara, outro sugere que bater na mulher que o traiu não é tão ruim quanto a própria traição que o motiva. Let's get on the same page here.

Quero ressaltar que não estou falando de gente que eu conheço da vida mas que não tem tanto assim a ver comigo. Estou falando de vocês. Vocês inclusive devem saber quem é cada um dos mencionados. Claro que não há apenas um exemplo de cada coisa.

Mas eu quero dizer o seguinte: fotos de mulher pelada não me ofendem. Por que deveriam? Isso não tem tanto a ver com eu gostar de ver mulheres bonitas peladas quanto com o fato de que o corpo humano é uma coisa bela e deve mesmo ser cultuado. Por que não? Um amigo meu entendeu o conceito de academia como uma forma de construir a beleza do próprio corpo, e perdeu os preconceitos. O corpo não é nosso inimigo. O culto à beleza do corpo não é um problema em si. Quando um cara põe fotos de mulheres mais ou menos nuas no seu blog sobre ateismo e peitos, ele não está dizendo que a forma de atrair homens para uma causa é incluir mulher-pelada. Ele só está dizendo "peitos são legais, ateísmo é legal, vou sobrepôr os dois". Você não se ofenderia com "atheism & cute animals". Qual o problema com peitos?

E vocês me conhecem e devem imaginar que está me comendo por dentro essa história de fazer piada com feia ser estuprada, defender o espancador, fazer apologia à cantada de pedreiro, considerar que "slutwalk" só dá mais armas aos machos. Mas vamos separar o material rafinhabastos e o material ciúmes.

Não é novidade que eu considero ciúmes uma coisa idiota, horrível e que sempre acaba em coisa ruim. A literatura me ensinou assim. Mas quando eu cheguei à conclusão de que a lei Maria da Penha não devia ser discutida dessa forma, meu pensamento não foi apenas que "gente ciumenta tem mais é que se fuder". Até porque eu não posso pensar isso quando eu conheço tanta gente de quem eu gosto e que não pode evitar. Meu pensamento foi que, francamente, se uma mulher trai seu marido, e ele se sente traído e sofre com isso, é porque esse casamento tá numa situação totalmente absurda e que não deveria existir. E se o marido se sente tão horrivelmente maltratado que a única solução que ele vê é espancar a esposa, é porque eles deixaram a coisa chegar num estado em que palavras não adiantam nada, em que não há acordo comum, em que quem manda na casa é o mais forte. Isso é considerado machismo, porque o homem costuma ser mais forte que a mulher. E isso costuma estar associado a machismo, porque num casamento patriarcal a mulher tem que ficar quieta e aceitar as ordens do homem, e como pode haver diálogo nesse caso, e como um casal pode se entender se não há diálogo, e como um casal pode estar unido se não se entende? E é claro que a desunião leva a distanciamento, a trapaça, a traição, e quando uma pessoa trai quem não é mesmo do seu time, será que é mesmo traição? E quando um homem espanca a esposa pela sua traição, ele não está apenas sendo um idiota, ele está cumprindo seu papel de homem numa situação em que uma criatura que não é sua aliada tem de qualquer jeito que permanecer sua esposa. Porque ele a ama, é claro, mas não é um tanto infantil ele evocar o seu amor em sua defesa quando, convenhamos, eles não estão lutando lado a lado? Esse amor ciumento é um amor unilateral, um amor que não entende o outro, que não espera pelo outro, que apenas assume, que pretende possuir o outro.

Eu quero confessar uma coisa, pra botar um pouco de peso na discussão. Peço desculpas a todos os envolvidos. Eu briguei com um homem uma vez. E saí machucada. E, porque eu não deixei de gostar do cara depois disso, depois dele me mechucar fisicamente, eu meio que saí acreditando que ele podia fazer o que ele quisesse comigo. Isso durou pouco tempo, porque no dia seguinte eu fui revelar esses sentimentos pra ele e no meio da frase eu mudei prum xingamento e pra raiva e ele começou a chorar e a gente meio que inverteu os papéis e acabou chegando num acordo. Acho que se eu não tivesse me tocado do absurdo do que eu estava falando, eu teria me destruído completamente por causa de um homem. Nós, humanos, somos capaz disso.

Esse foi um dos muitos turning points da minha vida em que eu decidi que não aceitaria nenhum namorado que quisesse me controlar (sim, eu vivo tomando essa decisão). Aquele sentimento de que minha liberdade não tinha a menor importância me deixou tão assustada! Mais do que isso, eu me impressionei com como eu pensei em anular justamente a parte de mim que importa, a parte de mim que luta, que quer ser alguém, que quer mudar o mundo, que é capaz de conquistar alguém e não apenas ser conquistada. Acho que minha conclusão disso tudo é o seguinte: se uma mulher trai seu marido, ou ela não o ama, e aí o casamento é sem sentido, ou a culpa é dele também. Ninguém machuca quem ama sem motivo. E o motivo, bom, você vai saber quando acontecer com você, se você conhecer quem você ama. Amor sem conhecimento nem merece ser chamado de amor. É claro que o motivo pode ser que um vê problema onde o outro não vê, mas isso é um motivo muito forte porque pode ser resolvido com conhecimento. E, aah, como eu sou pouco eloqüênte.

Me estendi muito nesse tema, mas não quero me estender tanto nos outros:

Sobre a piada do RafinhaBastos, alguém devia sugerir pra ele repetir a mesma piada só que trocando estupro de mulher feia por molestação de garotinhos. Eu entendi o humor do cara: sexo é uma coisa boa, mas estupro, que é um tipo de sexo, é ruim; vamos jogar com isso. Faz muito sentido, do ponto de vista humorísco. Exceto que estupro está tão distante de sexo bom quanto tomar veneno está de beber água. Gostei dessa, vamos fazer essa piada: "Um homem do deserto devia agredecer quando recebe veneno pra beber, já que ele tem tão pouca chance de beber alguma coisa" Ou então: "um pobre faminto da somália tem que agradecer se eu o obrigar a comer merda, porque afinal ele quase nunca tem a chance de comer" Ou ainda: "Aquele cara feio devia agradecer por ter sido obrigado a chupar um pau, afinal, ele nunca tem chance de chupar nada". Oh wait. (mas talvez as pessoas riam disso tudo se você for irreverente o suficiente).

Enfim, o que me deixou enojada ao ler a reportagem é o quanto esse idiota se parece com você, que acha ele engraçado. Mas eu não gosto de você menos por isso, só me assusta um pouco. Enfim, espero que pelo menos ele tenha a decência de fazer piadas sobre a sua avó que tem câncer e o seu filho que morreu e todas as outras coisas abomináveis da vida.

Agora, eu estou apoiando a SlutWalk, e acho que se alguma mulher acha que homem que apoia também só quer ver mulher pelada, então essa mulher tem que virar lésbica imediatamente, porque obviamente nenhum homem no mundo presta na cabeça dela. Mais do que isso, se uma mulher acha que se vestir como uma piranha é ridicularizar as putas e fazer piada com assunto sério, então essa mulher provavelmente nunca teve o prazer de se olhar no espelho e achar o próprio corpo bonito e querer deixá-lo à mostra, e ela tem muitos problemas com quem já teve. Estou falando muito sério aqui. E isso não tem nada a ver com se você está dentro dos padrões da moda, só tem a ver com gostar de corpo humano. Porque, embora você talvez não acredite, eu acho o seu corpo bonito. E gostoso, mesmo. E, olha, eu quero que me achem gostosa, então quando eu digo isso, não se ofenda. Não é que eu não tenha critérios, eu sou só uma dessas pessoas que realmente gosta de gente. E, se eu gosto de você, você também deve poder gostar. E você pode sair vestindo sunga ou biquíni ou terno ou vestido ou uniforme de go-go boy, porque o corpo é seu e quem realmente importa é quem te curte.

Estou lembrando agora da revolta que eu senti quando me dei conta de que milhares de mulheres estão num dia quente usando calças compridas unicamente para esconder os pêlos das pernas. Isso me deixou triste, em parte, porque eu quero ter o direito de ver as pernas dos outros. Por acaso pêlo é obsceno?

E sobre a cantada de pedreiro, bom, acho que nem precisa dizer que se uma mulher acha ruim não receber cantada de pedreiro, é porque já se tornou tão comum que as mulheres nem pensam mais na possibilidade de viver sem isso. Mas, quando uma mulher consegue vislumbrar um mundo sem cantadas de pedreiro, acredite, ele é muito, muito melhor. É tipo um mundo em que os caras meio que se importam com qual vai ser a sua reação quando você ouvir o que eles dizem! Isso é tão, tipo, UAU!

'nuff said.

terça-feira, 10 de maio de 2011

Amor Livre - ~~

Sabe aquela sensação de que nada mais importa? Então. Não é o que eu quero. Não quero ficar preso a uma pessoa, acorrentado a uma esperança de que vamos nos ver de novo. Não quero ser refém de uma promessa, mesmo que tácita, de que devemos algo um para o outro. Eu preciso saber que, a qualquer momento, eu posso decidir nunca mais ligar, nunca mais ver, nunca mais falar - e se eu ligo, vejo e falo é exclusivamente porque eu quero. E isso tudo exige um tremendo esforço. É tão fácil se acostumar com as outras pessoas (e eu não quero que você se acostume comigo). E me pergunto, será que eu vou me acostumar? Será que eu vou querer me acostumar um dia? Será que vai começar a fazer parte da minha vida, cada dia um pouquinho mais, até que não tenha mais volta?

Sim. E isso me assusta, todos os dias. Eu estou tão acostumada com você, mas eu não quero te ver só porque está estabelecido que será assim. Eu não quero que você tome cada decisão pensando em mim. Tudo mudou, é claro, tudo sempre muda, mas as palavras do último outono ainda têm cheiro de mato e de mar, e nós nunca cumprimos aquelas promessas de vento, de se perder, de caçar. E antes do próximo outono eu quero viver com você pelo menos mais um sonho. E eu quero saber que embarcamos nessa não só porque é confortável, mas porque é Awesome.

Sabe o que eu quero? Eu quero que você diga que tudo o mais importa, e que todos nós vamos fazer o que for melhor, em cada circunstância, e que a gente não vai se sacrificar pelas coisas chatas, e sim pelas coisas que realmente vão mudar o nosso mundo. Entende?

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Sex is so NOT JUST sex.

"Sex is just sex. I mean, cats do it, dogs do it. Only humans can fuck up something like fucking!"

Que piada verbal mais imbecil. Gatos e cães fazem sexo porque os instintos deles mandam e pq eles querem se reproduzir. Sexo animal está muito associado a filhotes e à posição hierárquica dentro de grupos onde existe hierarquia. Cães e gatos brigam por status pra mostrar que podem cruzar com quem eles quiserem, e em alguns grupos animais fazem sexo pra mostrar que eles são fodões também. E passam a vida brigando por fêmeas e territórios, no caso dos gatos de forma bem violenta, de forma que cada território tenha apenas um gato macho. Perdi inúmeros gatos pra brigas de telhados. E no caso dos cachorros, o pênis é espinhoso e machuca as fêmeas, de forma que elas não queiram cruzar de novo por algum tempo (se bem que minha experiência pessoa diz que esse tempo pode ser de poucas horas). De qualquer forma deve ser uma merda ser um bicho, sexualmente falando. Uma das coisas legais a respeito de ser humano é que a gente pode fazer sexo socialmente. Tipo com gente de quem a gente gosta. Acho que sexo casual ainda não tem nada a ver com sexo de bicho, acho que é o oposto: desenvolver essa socialização do sexo ao ponto em que você pode fazer sexo sem compromisso. Mas é como dançar ou ir no cinema ou discutir filosofia sem compromisso. Não tem nada a ver com cães e gatos e essa besteira toda de "sexo é só sexo". Nós somos seres culturais, nós falamos e nos conhecemos nos rituais de côrte. O que suas opiniões filosóficas têm a ver com seu comportamento sexual? Bom, tudo. Sexo desvinculado da interação social me parece uma coisa de sociedade degenerada. Mas me convença do contrário.

(PS.: este texto é uma resposta a um comentário num post antigo. Estou postando aqui pq achei que ninguém ia ler otherwise)

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Afeto (rascunho)

Will you understand that even when I don't talk to you, knowing that you're there still makes me smile?
Quando o dia está difícil, quando tudo está pesado, quando não consigo parar pra te dar um oi
Quando estou super confusa, quando toda me atraplaho, quando não consigo me organizar só pra dizer "oi"
Will you understand that even when I don't talk to you, I still adore you?
When everything puts me down, when I can't concentrate, when everything is telling me I worth nothing
But you're still there, and you'll always be there, and everytime you talk to me you make it a little better
Will you understand that even though I don't talk to you, you're still so very important?

terça-feira, 3 de maio de 2011

Vamos falar de Computação - Algoritmos

Sexta passada o Charles me perguntou o que eu fazia, e como funcionava o que eu fazia, e eu me atrapalhei muito na resposta porque não é exatamente fácil de explicar, e porque no fundo eu não sei todos os princípios que regem a computação (eu não sei como funciona a máquina de turing!), e também porque eu aprendi umas coisinhas lá no design, outras ali no ime, outras conversando com a galera (especialmente o chalom), outras aqui na netpoint, e isso tudo me deu uma visão mais ou menos global, mais ou menos intuitiva de como é a computação, como funcionam os computadores, como essa coisa toda se amarra e se articula e no final das contas funcionam (ou não, mas isso é outra história).

O Charles me fez duas perguntas, uma bem complicada, e outra formalmente complicada mas informalmente simples de responder.
- Então você escreve um texto e aí ele faz aparecer aquelas coisas na tela? Como?
e
- O que as pessoas querem dizer quando falam em "algoritmo"?

Foi bem ele ter perguntado isso, porque algoritmos são a base do trabalho de um programador. Bom, pelo menos de um que faça qualquer coisa de interessante.

Essencialmente, um algoritmo é um método, ou uma máquina, que recebe alguma coisa como entrada (input), processa essa coisa e devolve uma determinada saída (output). Imagine por exemplo um moedor de carne como um algoritmo que recebe carne e devolve carne moída. Ou, muito mais apropriadamente, o 'modo de fazer' de uma receita de bolo como um algoritmo que recebe determinados ingredientes e devolve um bolo. Na verdade algoritmos se parecem muito com receitas de bolo porque eles são receitas para se conseguir uma coisa a partir de outra. A diferença básica é que os algoritmos foram definidos por matemáticos, o que significa que neles não há nenhuma abertura para "a gosto" ou "até parecer bom". Se um algoritmo é bom e correto, você pode provar formalmente que ele funciona, e mais uma porção de coisas a respeito dele.

Vou dar uns exemplos, só porque entender o que é um algoritmo é útil de modo geral pra entender como qualquer programa funciona. Imagine, por exemplo, que eu quero pegar vários números e elevá-los ao quadrado. Então, eu vou executar, para cada um deles, um algoritmo que recebe um número n e devolve n^2. Eu vou escrever esse algoritmo assim:

quadrado(numero n) {
   devolve n*n;
}

(o padrão da computação é que * represente multiplicação)
Esse é um exemplo meio idiota, mas imagine que em vez disso eu quero executar uma função f(x) para vários valores de x. Imagine que eu estou, por exemplo, querendo desenhar um gráfico. Digamos que eu queira um gráfico para a função f(x) = 2x^2 + 4x +5. Então posso escrevê-la assim:

f(numero x) {
   devolve (2*x*x) + (4*x) + 5;
}

E escrever um algoritmo que usa essa função para obter os valores de f(x) a partir de uma lista de valores de x:

valores(função f, lista X) {
   nova lista Y;
   para cada Xi em X
      Yi recebe o valor de f(Xi);
  
   devolve Y;
}

Ou outro que recebe essas lista e desenha um gráfico:

gráfico(função f, lista X) {
   para cada x em X
      desenha no gráfico ponto (x,f(x));
  
}

Eu não sei o quão claro isso soa para pessoas que não estão acostumadas com essa linguagem. Existem várias formas de dizer a mesma coisa, vários níveis de rigor e tal. Na matemática, estamos muito acostumados a usar diversos algoritmos. Por exemplo, todo mundo aprendeu a usar o algoritmo de arme-e-efetue de, por exemplo, multiplicação. Eu poderia escrever ele no meu pseudo-código aqui, e acho que vocês reconheceriam:

multiplica(número x, número y) {
   novo número resultado;
   para cada algarismo x(i) de x (com i de 0 a log(x)
      novo número resultado_parcial(i);
      para cada algarismo y(j) de y
         soma (x(i)*y(j)) em resultado_parcial(i);
      soma (10^i)*resultado_parcial(i) em resultado;
   devolve resultado;
}

Esses algoritmos estão ficando muito esqusitos. Talves eu devesse escrevê-los mais assim:

multiplica(número x, número y){
   denote cada algarismo de x por x(i), com i variando de 0 a log(x)-1, de acordo com a posição da direita para a esquerda;
   denote cada algarismo de y por y(j), com j variando de 0 a log(j)-1, de acordo com a posição da direita para a esquerda;
   tome i = 0 e o algarismo da unidade de x (x(0)) como x(i);
   LOOP1:
      tome j = 0 e o algarismo da unidade de y (y(0)) como y(i);
      LOOP2:
         multiplique x(i) por y(j) por 10^i e some ao resultado parcial(i);
         acresça j de um e tome por y(j) o próximo algarismo de y e repita a partir de LOOP2;
      acresça i de um e tome por x(i) o próximo algarismo de x e repita a partir de LOOP1;
   some todos os resultados parciais em um Resultado Final;
   devolva o Resultado Final;
}

(esta versão ficou muito parecida com uma função em Assembly, pra quem se interessa)

Observem como o arme-e-efetue da multiplicação faz exatamente isso, com apenas uns detalhes irrelevantes de ordem de diferença! Dá pra fazer o mesmo com o algoritmo da divisão, da soma, da subtração, da potenciação, do fatorial, de resolver algumas equações e também com aqueles métodos dos gregos (em especial Euclides e Pitágoras) para descobrir se um número é primo, para encontrar máximo divisor comum, etc.

Enfim, me dêem um feedback (quem é das humanas, vai) se isso fez algum sentido pra vocês. Vou parar por aqui antes de me afundar mais.

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Livro Dois: Música (rascunho)

Acordamos às sete da noite
depois voltamos a dormir.
Saímos de casa, estava escuro
estava chovendo, as pistas molhadas,
o som tocava um Doors ou um Stones
E a gente não sabia aonde podia ir.

Durante toda a noite cantamos e bebemos
Durante toda a manhã nós dormimos.

No dia seguinte nós esquecemos da vida.
Acordamos às cinco da tarde,
depois voltamos a dormir
Estávamos tão cansados de cantar e de beber
E eu estava tão cansada de ser feliz!

Quando abri os olhos estava na beira da praia,
As ondas fazendo um barulho que eu não sabia mais ouvir.
Depois o sol aqueceu meus ombros
e nós andamos em ruas tão vivas
e fomos pessoas na rua
na vida de uma cidade, por um dia.

Durante toda a noite nós ouvimos e falamos,
nós jogamos jogos e nós nos abraçamos
E com passos miúdos nós andamos pela cidade
E pelas idéias loucas dos nossos pares
E com bocas comedidas nós devoramos.

Quando acordamos às dez horas da manhã
Nós nos arrastamos para os nossos compromissos
Felizes de termos passado a noite
Cantando, dançando, bebendo e beijando.

Nós rimos sozinhos quando nasceu o dia
O mundo era o quintal da nossa casa
E tinha gosto de leite morno e cereal com gotas de chocolate.

domingo, 24 de abril de 2011

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Esses dias eu me dei conta de que esta semana (bem a semana em que você está longe, porra) fez um ano de várias das nossas primeiras vezes. A primeira vez que nós trocamos olhares cúmplices. A primeira vez que nós trocamos sms. A primeira vez que nós saímos juntos sem nossos respectivos namorados. A primeira vez que saímos a sós. Etc.

Então eu te mandei um sms e você respondeu, sim, vamos comemorar? E eu pensei, Sim, vamos dar uma festa! Depois a idéia me pareceu tão estranha, porque dois dias antes eu estava falando pra Carol que eu acharia estranho se alguém me ligasse no meu aniversário de casamento ou algo assim, porque parece uma data íntima. Nessa hora eu me toquei que eu não sou assim.

Como eu sou: eu mantenho meus relacionamentos em segredo por um bocado de tempo, até eu começar a desejar intensamente compartilhar cada aspecto da vida. Inevitavelmente eu passo a querer compartilhar os amigos, as turmas, os lugares, as atividades, os pensamentos. Eu passo a querer união total. Comunhão total de vivências. E parte disso é querer compartilhar contigo o meu lugar na hierarquia da minha alcatéia particular. Isso não é realmente possível - você tem que conquistar o seu lugar nela - mas eu passo a querer considerar que somos um centro único ao redor do qual acontecem algumas das coisas do bando. Quando eu estava com o Diogo eu tinha certeza que éramos o coração de um grupo que se estruturara ao nosso redor. Talvez houvessem outros corações, mas eu sentia poder nisso, nessa coisa de ser um casal de anfitriões, de ligações entre as pessoas. Com você agora, bem, nós não somos o centro de nada, somos uma articulação entre vários componentes fortemente conexos, mas eu ainda mantenho alguma espécie de posto na minha alcatéia (que é um dos mencionados componentes), e eu ainda sinto que somos um casal público, e eu quero que, dentro desse meu bando (do qual você agora faz parte), nossas alegrias e empolgações sejam compartilhadas.

Eu quero mesmo dar uma festa. Comemorar todas as coias incríveis que aconteceram comigo, todas as vitórias sobre meus próprios demônios. Eu quero que meus amigos estejam presentes nos momentos importantes da minha vida.

Quando eu me perguntava se eu ia viver pra sempre com o Diogo (é impossível não falar dessa época, já que foi então que esse sentimento de alcatéia realmente de engastou em mim) eu imaginava que a gente ia dar uma festa de "casamento" (acho que usar essa palavra é um pouco stretching it) em que íamos estar temáticos do séc XVII (eu queria tanto ver o di de casaca vermelha) e nossos amigos iriam cada um oferecer um brinde, um desejo ou um conselho, simbolizados por elos de uma grande corrente que iria nos amarrar, ornar e segurar (pronto, agora vocês sabem que eu tenho fantasias de casamento, como toda garota estereotípica ¬¬). Mas era importante que cada amigo fizesse parte disso. Agora não é mais bem assim que eu me sinto, mas ainda quero que façamos parte das vidas uns dos outros. Não é como se eu pudesse sequer existir sem vocês. Vocês são parte de mim. Vocês são meus irmãos, meu bando, de uma forma muito intensa. Quando imagino que sou a capitã de um navio, mesmo que eu tente não consigo imaginar uma outra tripulação.

Eu sinto uma vontade sincera de dar uma festa. Acho que eu tenho uma certa esperança de que nas minhas festas o mundo possa ser um pouco mais da forma como eu o vejo (although, acho que isso não funciona tão bem quanto nas festas do Pizza). Eu fico tão feliz ao ver como estamos crescendo e mudando, e eu quero mostrar a minha parte disso também. Eu quero fazer com que vocês entendam do que se trata. Eu quero comemorar com vocês, porque eu sou filhote do seu bando (de repente estou me perguntando qual a intersecção entre as pessoas a quem estou me referindo e meus leitores).

Ok, eu acabei de ouvir Bor This Way (e acho que foi a primeira música da Lady Gaga que eu ouvi inteira) e acho que está bom de blog por hoje.

Rés [julho 2005]

Cheiro de sangue
de dengue
de mangue
Cheiro de carniça no deserto
Cavalo de rumo incerto
Corta o campo
Cheiro de morte
O rosnado
O campo o mundo
O cheiro.










------------------

Acho que este é um dos primeiros poemas que eu escrevi com um tema tão corporal, animal. E ao mesmo tempo o tema é abordado quase que totalmente pela sonoridade das palavras e pela sensação das metáforas. Acho que deve ter representado um grande passo para mim, deixar que a linguagem fizesse o papel dela e não ficar querendo clarificar tudo a cada passo. Não tenho nenhuma observação engraçadinha sobre uma palavra ou verso que tenha sido por acaso.

O que dá pra tirar desse poema, relendo-o tanto tempo depois? Acho que para a Lobz de 2005, cheiro tem a ver com sílabas longas, arrastadas, que trescalam ao fundo da garganta: san, den, mas, car, ser, rum, cer, cor, cam, mor, ros, mun. A única palavra que foge do padrão é 'cavalo', mas o que pode ser mais mundano e animal que uma besta suada e recendente? Além, acho que complementa essa idéia de sertão e tal. Pus o título tentando encontrar um substantivo para "recender", mas acho que não tem.

Acho que existe também um animal selvagem, carnívoro, observando a lida suja do cavalo e da morte (embora o cavalo possa ser lido como uma metáfora), nos últimos versos. Observe como a visão dele é altamente simplificada, rosnado-campo-mundo-cheiro.

É divertido reler meus próprios poemas e tentar enxergar os possíveis fios de pensamentos. Espero que seja divertido para vocês também.

À Deriva [jul 2004 - fev 2006]

Ando sem rumo
no mar, sem prumo,
no rio à baila
à deriva
sem cor, sem sumo
ando perdida.
O amor, a vida
o mar do mundo
me deixa à margem
ao fundo
sem dar guarida
a um vagabundo.
Ando por nada
estou recortada
do meu papel
meu cais
do porto-seguro
o escuro
esconde a enseada
com névoas em véu
ando deserdada.

----------------------------

T) Este é outro tema recorrente, e não me impressiona muito que eu tenha passado um ano e meio escrevendo esse poema. Digo isso de uma forma poética: não me impressiona que eu tenha passado um ano e meio me sentindo assim. Também não me impressiona nada que o mar seja a metáfora base, já que ele representa quase naturalmente esse sentimento de falta de caminho. Gosto bastante das metáforas deste poema.

L) Vocês repararam que eu usei a palavra "guarida", que acho que nunca mais usei na vida? Acho que era só porque tinha acabado de aprender e queria aplicar em alguma coisa.

obs.: me dei conta de que quase sempre faço uma avaliação do tema e do desenvolvimento e depois alguma observação sobre um detalhe da linguagem. Achei que eu podia institucionalizar isso.

Renúncia [4/4/2004]

Cála
Não quero mais saber
talvez seja só você
e talvez apenas eu
mas cála
pois não sei qual é o que há
eu não quero acreditar
que a vida é só esse breu
Eu não sei se canto ou choro
Eu só quero esquecer
as palavras de outro tempo
E eu abdico dos direitos
Sei que não será perfeito
mas não quero ficar só
no peito aberto e dentro, perto
o som caindo em si no sol
em sentimento
único neste momento
no deserto em prol do tempo
E eu só queria esquecer
a razão desse tormento
e será ela você?
Eu abdico da certeza
eu quero só amar você.

-----------------------

Acho que este na verdade é meio que uma música, sort of. Mas não muito. Alguns versos têm melodia, outros não, acho esquisito. Acho interessante como eu volto de tempos em tempos a esse tema do "talvez você esteja me fazendo mal, mas eu prefiro não descobrir isso, eu prefiro continuar na ignorância pra poder te amar". Afinal, ignorance is bliss, não é mesmo? Eu gosto do verso "eu não sei qual é o que há". Mas me incomoda todo esse tema de ficar em silêncio, não encarar as coisas. Ainda bem que fiquei mais forte desde então.

obs.: eu alterei os 'cala's do começo, acentuei-os. Hoje em dia isso parece importante pra mim, por algum motivo. Fica mais, sei lá, imperativo. E a gramática não gosta de mim mesmo, por que eu deveria ligar pra se ela tem regras ou não?

Em outro assunto, quando estava pegando esse poema eu considerei rapidamente mudar a ordem de publicação para cronológica, ao invés de alfabética no nome do arquivo (que é mais próxima de 'aleatória'). Descartei a idéia muito rápido porque me pareceu que isso significaria períodos de fases ruins alternados com períodos de fases boas, enquanto eu acho mais tolerável misturar completamente os poemas ruins com os bons. Imagine, vários poemas seguidos da minha sétima série? brrr!

ABC [21/03/2002 20:55]

A de bolA
B de aBelha
C de nunCa
D de anDar
E de nascEr
F de aFago
G de castiGo
H de olHar
I de demônIo
J de anJo
K de oKulta?
L de péroLa
M de âMago
N de iNerte
O de espOrte
P de’samParo
Q de enQuanto
R de hoRRível
S de aSSombro
T de má sorTe
U de astUto
V de ouVir
W de reW
X de eXcuso
Y de vYr?
Z de aZul.

-------------------

Eu queria escrever, mas não sabia bem sobre o quê, então resolvi retomar minha retomada poética. Infelizmente (ou felizmente pra quem tem senso de aventura), revirar meus arquivos antigos de poemas envolve reencontrar coisas bizarras como esta o.o observação: acho que "rew" de fato já significou alguma coisa pra mim. Mesmo assim, acho que foi meio contraproducente da minha parte colocar K, Y e W no alfabeto.

sábado, 23 de abril de 2011

Reler (amor)

Às vezes eu releio coisas que escrevi há mais do que alguns meses e fico muito impressionada com a força das palavras e com a minha capacidade de não perceber o sentido real delas. Estou falando sério: acho que as palavras expressam melhor o que eu sentia na hora do que o que eu achava que pensava quando as escrevi. Digo isso com base em várias coisas que pensei e senti e fiz na mesma época, das quais me lembro. Às vezes encontro coisas como, por exemplo, isto:
Sinto que já se passaram meses e eu continuo estremecendo a qualquer menção do seu nome. Já se passaram meses e você ainda é a minha obcessão. Por mais que eu me distraia com outras coisas (e outras fomes) você ainda sempre volta, você está sempre perto, tão perto e logo além do alcance das minhas mãos. Como eu queria te ver, como eu queria te tocar e te ouvir tocar. E se você estiver pra sempre além, será que um dia minha vida estará completa sempre sem você?
Eu me pergunto como eu não percebi que estava apaixonada? Se bem que, pensando bem, quando escrevi esse trecho específico eu estava imediatamente além do ponto em que fazia sentido dar atenção a isso. Acho que foi justamente quando eu me dei conta de que estava apaixonada. Mas é muito estranho pensar que minha única atitude foi escrever essas linhas e esquecer. Guardar os sentimentos numa coisa e deixar pra lá. E tem várias outras coisas que eu leio que me impressionam muitíssimo. Às vezes tenho vontade de chacoalhar aquela Marina do passado e obrigá-la a ler o que escreve. O pior é quando estou lendo coisas que enviei para outras pessoas. É estranho pensar, mas por um momento essas pessoas podem ter entendido mais de mim do que eu mesma. Uma ou outra pessoa pode inclusive ter descoberto que eu a queria muito antes que eu descobrisse! Me sinto muito vulnerável ao pensar nisso, em como eu não consigo avaliar o quanto de mim estou revelando com palavras que eu escrevo sem conseguir conter. Inclusive neste blog! Como sou explícita às vezes sobre assuntos que a maioria das pessoas sequer comenta! Mas me incomoda um pouco que eu faça isso sem sequer perceber. É como se ao escrever eu estivesse abrindo mão de qualquer reserva ou privacidade. Eu me pergunto se neste post eu já disse coisas que no futuro eu me impressionarei por ter dito em um lugar tão público.

Não que eu me arrependa, de modo geral, do que eu digo. Acho que só me arrependo do que faço quando as conseqüências são ruins, e até agora de modo geral escrever só tem proporcionado conseqüências boas. Acho que isso é a bottom-line. Vou continuar escrevendo inconseqüentemente, porque eu gosto de saber que não tenho lá muitos segredos.

Carinho

Hoje eu me peguei querendo alguém pra dormir comigo. Literalmente. Não pra nada sexual nem nada assim. Alguém pra abraçar intimamente, alguém quente e confortável em quem se enrolar à noite, e só isso.

Eu sempre fui uma pessoa de pessoas. Eu sempre queria dormir no quarto da muvuca e defendia que a gente tinha que dormir numa verdadeira pilha. Eu lembro nitidamente de quando isso começou a ficar difícil porque eu tinha namorado e às vezes parecia inconveniente dormir com a galera. Mas naquela última viagem para a Ilha todos nós dormimos bagunçados numa grande cama, alguns abraçados ou ou apoiados em outros, e acho que fiquei feliz como em raras outras camas.

Enfim, hoje eu estava realmente querendo dormir acompanhada. E, num assunto relacionado, eu queria que fosse um pouco mais simples se aconchegar nos outros sem ter que ter uma relação libidinosa, sabe? Acho que isso até acontece depois de anos de intimidade e amizade, mas é estranho como a intimidade física vem depois de todas as outras na amizade. É um pouco confuso pra mim lidar com pessoas novas, que ainda têm uma série de limites. Eu às vezes me distraio e erro qual o protocolo que devia usar com que pessoa.

Enfim, estou indo dormir sozinha de qualquer forma. Contando os dias até meu gato voltar e eu ter alguém com quem eu posso dormir todo dia.

terça-feira, 19 de abril de 2011

Rihanna

Eu estou impressionada com você, Rihanna. Você era tão pequena quando te conheci! Chegava de um lugar distante e tinha todas essas idéias e palavras estranhas, mas tinha aquele brilho nos olhos que só se vê em algumas crianças. Lembro da nossa primeira conversa: você estava na minha casa, no corredor, cantando uma música estrangeira. Já então me pareceu que você poderia abraçar o mundo! Suas pernas eram pequenas, mas seus passos ávidos poderiam percorrer qualquer estrada. E você fez com que eu embarcasse numa viagem gostosa, e você me ajudou a abrir um pouco mais minhas asas. Mas quão pouco eu te conhecia então, Rihanna. Eu prometi te mostrar alguns dos meus lugares secretos, mas não voltamos a nos encontrar por muito tempo. Nunca achei que me sentiria assim, como quando te vi de novo, tantos anos mais tarde, e voce estava tão diferente. Você não é mais uma criança, Rihanna. Você sempre foi uma pessoa impressionante, capaz de mudar a vida das pessoas com um olhar, mas agora é como se você pudesse tomá-las para si. Você pode escolher o que quer e o que não quer. As regras e as normas do mundo não te impressionam, como nunca te impressionaram; mas agora você leva seus olhos de criança para guiar as ações de uma adulta. Meus olhos já não conseguem enxergar o que os seus enxergam...

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Tenho que admitir que nunca vou terminar este aqui.

Onde estamos?

Onde estamos, qu estamos tão sós? Que a lua nos cobre enquanto andamos
e nos sentimos tão desprotegidos?
Onde estamos?
Que estamos tão sós?
Que nos vemos diante dos espelho e nada enxergamos?
Estamos assim tão misturados uns aos outros?
Afinal, quem somos?

Seu cheiro me persegue através dos dias, dos passos
Não é mais um cheiro reconfortante.
Seu cheiro me domina e me distrai
Mas o pensar no cheiro
me devolve

me devolve

me devolve...


Onde estão teus olhos pra eu olhar tão fundo?
Tua boca que fala como quem não quer falar?
Onde estão tuas pernas sobre as quais
escorre muito lentamente um tecido?

Estou sobre meus pés, e meu mundo é um mar infinito
Eu Vejo. Eu Sou tudo.

Estou sobre você, e você sorri.
(em algum lugar dentro de mim, de repente dói)

Como eu te odeio! Na minha mente ficou, sem querer, gravada uma imagem feia de você
Não dos seus bons momentos, não do amor, e da diversão - do nojo
Algum dia, quem sabe, isso vai esvanecer.

(mas eu queria que aquela cara não tivesse sido virada pra mim)

E entretanto eu te quero (como eu me enojo)

God, I just wanna get wasted and puke on myself. Get this fucked up me away from world.

And yet, eu acho que eu sou legal. Eu só me sinto muito perdida. É muito fácil ser legal com você do meu lado. É muito difícil ter qualquer coisa em que me agarrar otherwise.

Thanks for giving me everything.

Love;
Má.

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Let's rule the world

(vamos fazer um esforço homérico e escrever em português)


Quero te ver
além do céu
o mundo é teu
Let's rule the world

Meu sangue quente
me impele adiante
O mundo é nosso
Let's rule the world

Quero te ter
no meu comando
lidere a carga
Let's rule the world!

I wanna see you
conquer the future
The world is yours
Let's rule the world

My blood of huntress
Moves me forward
The world is ours
Let's rule the world

I wanna have you
Leading my army
Make us all heroes
Let's rule the world!

Let's make it matter
I'll be one of yours
You'll be one of mine
Ours will be the world

Let's keep it simple
I don't even dig you
But you have that spirit
You prey on the world

Vamos farrear
Vamos desvairar
Tomar todo o mundo
Let's rule the world

sábado, 16 de abril de 2011

Here's to you

(estou escrevendo por pura inspiração. espero que não saia um lixo)

Here's to you, though you are away
You with your shining cavalry on the hills
Here's to you waiting on the golden field
Knowingly waiting for your glory day
And when you charge with all your primacy
I hope I'll hear the drums of your delight
Here's to you who knows for what you fight
Who's garanteed in your legitimacy

Here's to you, though worlds hold us apart
You in your prideful stance above the men
You who has confidence in what you can
You with a smile, ready for depart
Oh what more lands can you yet long to conquer?
And where more must you sound the drums of war?
Here's to you who always yearns for more
Here's to you who can't stay put no longer

Acho que estou sendo muito influenciada pelo César de Conn Igguldden...

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Cerveja

Eu estou escrevendo um post sobre cerveja. Sim, cerveja é tão importante pra mim assim (você poderia dizer, "Lobz, você escreve sobre coisas totalmente irrelevantes", mas você perceberia que não é realmente isso o que acontece: é que muita coisa é importante pra mim). O que eu poderia dizer é que talvez caipirinha e cuba-libre sejam tão importantes quanto cerveja. Não sei avaliar sem pensar muito, mas, de qualquer forma, acho que posso enquadrar todos eles numa categoria só. Então:

Cerveja, caipirinha e cuba-libra

Outro dia (acho que foi ontem) tive uma conversa mais ou menos assim com o @andrechalom:

-- (...) Não sei por que dou tanta importância a isso. Mas, por outro lado, antes eu não sabia por que eu dava tanta importância a cerveja, e agora faz todo o sentido!
-- Do que você tá falando?
-- Antes de você, eu dava uma importância imensa a cerveja. Eu quase não bebia, porque ninguém próximo a mim bebia, e eu achava isso uma droga, mas eu não sabia por que isso me incomodava tanto! Eu pensava "é só uma bebida!" ---
-- Mas cerveja não é sobre cerveja, não é só uma bebida. Cerveja é toda uma cultura!
-- É isso mesmo. Por isso eu fiquei tão feliz quando a gente bebeu cerveja na praia de Santos! E hoje em dia beber cerveja me faz feliz e eu entendo porquê!
-- Então precisamos desenvolver uma cultura de (...)

(obs.: não quero entrar no assunto que estávamos de fato discutindo na hora)

Hoje em dia eu tenho uma relação muito amorosa com a cerveja. Eu não tenho a menor dúvida de que ela é mais gostosa do que qualquer variedade de refrigerante ou suco comprável (suco caseiro pode ser bem melhor). E nem é só porque o álcool diminui minhas dores de cabeça (ok, ok, eu preciso resolver isso logo ~.~). Acho que eu de fato gosto do gosto, do cheiro, e de todas as coisas legais que eu associo a cerveja. Por exemplo, aquela praia de Santos. Várias @KaraokeKnights. Noites em Pubs, ou na casa do Rê, ou saindo com o Fê, ou em happy hours com o passoal da Gommo ou da NetPoint, churrascos, festas, ou simplesmente beber cerveja com a Talita e o Alex.

Pra falar a verdade, tem uma certa carga que vai diretamente contra aquela de quando nenhum dos meus amigos bebia. Meus amigos, e talvez eu também em alguma época, não bebiam porque pessoas bêbadas são idiotas, porque as bebidas eram meio amargas ou ardentes e beber uma coisa ruim é idiota, e eu sempre tive a sensação de que quando somos muito jovens e não bebemos, não fumamos, não nos drogamos nem fazemos nada de idiota, nos consideramos muito melhores que os outros. Talvez nós tenhamos acreditado em tudo o que nossas professoras do ginásio diziam. E eu detestava essa sensação toda. Eu queria beber e ficar idiota. Eu queria experimentar coisas que não necessariamente seriam boas. Eu queria fazer coisas imbecis. E eu achava que as outras pessoas legais da vida que por acaso adoravam se embebedar pra caralho podiam ter algo de bom pra oferecer.

Acho que pode ser que quem bebe se dá o direito de ser muito mais idiota que o normal. Porque no colegial nós éramos todos bastante estúpidos e insanos, e era muito divertido, mas estávamos sempre conscientes de tudo, e não estávamos realmente interessados em ir além os nossos limites. Nós éramos felizes, e era isso (mesmo quando estávamos tristes, eu acho). Mas eu queria viver uma vida diferente. Eu queria uma vida em que a gente pudesse estar sempre experimentando algo diferente. E uma das coisas que eu queria experimentar era ficar completamente bêbada. E eu queria fazer isso sem um monte de gente totalmente sóbria ao meu redor fazendo coisas que estariam já em outro plano de consciência. Eu queria saber por que isso podia ser divertido.

E eu descobri. Demorou um pouco, de fato, mas hoje eu acho que eu descobri. Eu descobri que muita coisa pode mudar, que o mundo pode ser diferente, e que podemos nos divertir com todo um pacote diferente de coisas. Talvez eu goste de cerveja porque me lembra de todas as mudanças que aconteceram na minha vida desde que eu comecei a conviver mais com pessoas que gostavam de beber. Todas as portas que de repente se abriram. E todas as vezes em que estávamos todos meio bêbados, ou só alguns de nós, e mesmo assim ninguém pensaria em julgar o outro pelas bobagens que estava fazendo. Talvez eu goste de me lembrar do momento em que me dei conta de que eu não precisava me esforçar para impressionar ninguém.

Ou talvez eu só realmente goste muito do gosto.

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Aqui.

Eu te amo. Mas eu não apenas te amo como eu amo todas as outras pessoas que eu amo. Eu estou disposta a sacrificar milhões de futuros pelo meu futuro com você. Os filhos que eu teria com outros amantes, as festas de natal com outras famílias, as bibliotecas compartilhadas, as casas, as canecas e os sofás e todas aquelas madrugadas e manhãzinhas e conversas antes de dormir quando a gente está dormindo junto só porque a gente dorme junto sempre e é tão mais gostoso do que dormir sozinho. E vários tipos de aventuras românticas loucas, e várias descobertas profundas e vários momentos cotidianos e outras coisas que só acontecem numa convivência tão íntima e tão intensa que é não dá pra ter de verdade com mais de uma ou talvez umas poucas pessoas.

Eu quero viver a vida com você. Todas as madrugadas e viagens longas na chuva, e cafés da manhã a almoços no fim da tarde e todas as pequenas mazelas e todos os grandes desafios, e eu quero poder te contar todos os dias das coisas legais e chatas que aconteceram comigo, e ouvir você se emocionar com elas e se revoltar com as coisas que são erradas e rejubilar com as que são felizes, e ficar preocupado com as que são perigosas porque assim eu não estou sozinha. E eu quero ouvir você contar suas pequenas aventuras e as formas incríveis como você lida com tudo o que te acontece, porque eu nunca me canso de aprender sobre você e com você.

E, enquanto nós crescemos juntos, enquanto nós andamos juntos pelo mundo, pela vida, eu quero nossas vidas misturadas. Eu quero nossos irmãos tomando conta dos nossos filhotes, discutindo coisas improváveis em volta de uma grande mesa de piquenique, ou algo assim. Eu imagino sua irmã contando histórias para os meus sobrinhos, possivelmente enquanto todos nós subimos numa árvore e nossas mães e tias compartilham histórias de quando nós éramos pequenos, e eu quero todos nós juntos cantando samba e choro em alguma festa de família e nossos amigos contando histórias embaraçosas sobre nós para as crianças (se nós não tivermos filhos, eles ainda contarão para nossos sobrinhos).

E, sabe, eu quero isso devagar, minuto por minuto, cada aluno que não entende direito o que você ensina, cada lista de matemática que eu não consigo terminar, cada noite que a gente passa em claro porque o jogo ou o papo ou o mundo estão muito bons ou porque pelo menos um de nós está distraído demais com alguma pessoa incrível, cada improviso de fantasia, de viagem, de apresentação, cada entrevista de emprego, cada procura por orientador, cada pessoa nova que surge em nossas vidas ou pessoa velha que muda. Eu quero todas as viagens impulsivas no meio da noite só porque faz muito tempo que a gente não vê Minas, ou o Mar; eu quero todas as experiências transformadoras com você; eu quero cada partida de cada jogo em que a gente vicia, cada brinde, cada pote de sucrilhos e garrafa de cerveja; eu quero cada pôr do sol que nos emociona, e cada beijo, e cada transa, e cada arrepio diante da potência de uma tempestade, e cada abraço que podia nunca mais largar; e cada toque entre as nossas peles, e cada brincadeira sua com o meu gato, e eu quero construir um trecho de universo nosso, que seja um pouco mais do nosso jeito, e que seja por isso um pouco mais feliz.

E como eu quero te fazer feliz! Eu quero te ver conquistar os seus sonhos, e mudar a vida de muitas outras pessoas, e construir comigo esse futuro a cada passo, sem pressa, porque você é tão confiante de que tudo já está dando certo afinal. E eu quero estar do seu lado a cada mudança, a cada passagem, aprendendo sobre você, mudando junto, mandando tudo pro espaço e te puxando pra Zanzibar toda vez que a vida começar a ficar muito sem graça. E eu quero infinitas horas pra ficar enrolada com você, só curtindo o prazer de te amar tanto. E eu quero tudo isso com todas as palavras, mesmo que em gatês. Eu quero tudo isso com todas as histórias, loucuras e verdades. E eu quero viver pra sempre com você.



...Num assunto não muito relacionado, eu também quero muito levar aquele seu amigo delicioso pra casa. Se você pudesse dar tipo um passe-livre pra gente, ia ser realmente fantástico.