sexta-feira, 24 de outubro de 2014

Quzstões sobre a caatinga

Quando fomos pro curso de probabilidade, num pequeno grupo de amigos, em outra cidade, nos organizamos mais ou menos numa república. Rapidamente, como acontece em repúblicas de amigos, desvolvemos uma unidade peculiar, hábitos próprios e piadas internas. Nos últimos dias decidimos que nossa apresentação final ia ficar melhor se incluíssemos uma seção piada sobre os membros do grupo, e nos vestíssemos com um uniforme. Encomendamos os uniformes, que eram essencialmente pijamas laranja-e-brancos com orelhinhas e coisas do gênero, feitos de tricô (aparentemente havia uma empresa na cidade que fazia tricô por encomenda, bastava mandar um desenho do padrão desejado que em menos de uma semana ficava pronto). Nossa apresentação ia incluir uma sessão de perguntas humorísticas sobre a especialidade de cada membro do grupo. No dia, montamos um projetos de slides na sala da república, e nossos professores, colegas, mães e amigas das mães sentaram em pufs e cadeiras de praias e talvez caideiras de balanço que havíamos pegado por aí. No fim da apresentação vieram as pergunas: uma pergunta sobre linhas de trem pro engenheiro, sobre resistência dos materias, sobre fissão nuclear pro físico, essas coisas. Decidiram que minha especialidade era biologia, e me fizeram a seguinte pergunta:

"Por que é que na caatinga o gato do mato, em vez de ser grande e fofo como a maior parte do felinos, tem aquela cara feia de bicho mau?"

(Não me lembro os termos exatos, mas acho que aproxima bem)

Me lembro que haviam me avisado que haveria ima pergunta sobre a caatinga, mas eu não aproveitara pra estudar o ecossistema. Eu nem sabia se na caatinga havia gatos do mato (aparentemente não só eles existem, como são absolutamente adoráveis e estão em extinção, como na verdade o eossistema inteiro: <a href:"http://www.pensamentoverde.com.br/meio-ambiente/fauna-brasileira-especies-em-extincao-na-caatinga/">olha só</a>). Então o que eu fiz? Enrolei pra caralho. Eu comecei a explicar que a caatinga sendo um ambiente desértico (??) não consegue sustentar predadores grandes como um leão fofo; aí decidi voltar pra base e explicar o conceito de produtividade primária, cadeia trófica, blablabla; aí me cortaram falando "mas a pergunta era sobre a cara feia do gato da caatinga!" Aí eu n sabia nada sobre esse gato, mas imaginei que ele devia parecer uma raposa, com umas sobrancelhas enormes, e comecei a delirar sobre as sobrancelhas enormes serem uma coisa que protege os olhos dele da poeira, e outras bobagens do gênero. Depois a Chris disse que tava gostando que eu tinha tentado explicar tudinho detalhadamente, a partir do começo; então eu voltei a falar de biomassa e fotossíntese e essas coisas todas.

Aí eu acordei.

terça-feira, 21 de outubro de 2014

Privilégio hétero e essas bostas

Eu acho meio estranho quando alguém pensa que eu tenho um relacionamento hétero. Eu até entendo de onde essa idéia vem, sabe, a gente faz umas coisas meio héteras tipo ir em eventos de família, inclusive na igreja, discute com parente reaça, ouve bosta heterossexista falada em tom amigável.

Passar como hétero é um privilégio meio bosta, porque as pessoas hétero tendem a achar que a gente é também e não têm aquela auto-contenção que é resevada para Os Outros. É mais ou menos como ser visto como um bróder pelos caras escrotinhos do colégio: por um lado eles não batem em você, por outro, eles falam pra você tudo o que eles não falariam pruma mina ou prum viado. Recentemente, na casa da minha própria irmã, um mala perguntou pra roda de amigos: "é namorada de quem?". A pergunta me soou tão desrespeitosa que eu fiquei sem reação. Por ser uma pessoa muito de esquerda ("radical" segundo minha mãe), eu nunca sei quando é socialmente viável ficar puta da vida com uma merda que alguém fala. Eu devo xingar quando alguém fala uma coisa machista? E quando alguém fala uma coisa reaça? E quando alguém propõe desmatar 25m2 de beira de rio?Quando que eu posso não aturar mais e mandar pro inferno? Então eu só não reajo. Eu sei que é pior ainda, mas eu morro de medo de errar e cair num vortex de briga de família. Aí depois desse cara fazer essa pergunta escrota, seguida de uma piada escrota, um tempo depois eu tirei um sarro de leve de uma piada besta que ele fez sobre parecer gay, e ele vira pra mim e aponta que minha roupa é super gay. Eu ri. Que bom que eu não pareço ht, né, imagina que pira? Mesmo meus amigos hétero em geral não são super fãs da indumentária heteronormativa.

Outra coisa que me vêm à mente é que é um relacionamento hétero que não envolve nenhuma pessoa hétero. Na verdade mesmo se alguém vier falar que ele é homem e eu sou mulher eu já vou olhar muito torto pra essa pessoa. Tira a sua obcessão com gênero do meu corpo, que nojo! 

Ultimamente eu tenho evitado sequer falar sobre sexo e gênero, porque, sabe, eu não quero ter que ficar noiando sobre o meu papel no mundo, a vida já tá bem foda só com os compromissos que eu escolhi ter. Mas às vezes essas coisas vêm à toa, e às vezes eu quero bater em cada homem que se recusa a apertar minha mão. Ugh.

Eu diria que eu tenho em muitos aspectos os privilégios de ser lide como uma pessoa cos. Mas no meu casp isso quer dizer que eu sou lido como uma mulher cis, e que as pessoas vão me tratar desse jeito. Com mulheres às vezes é mais de boa, às vezes menos, depende do quanto elas ligam pra gênero. Mas homem parece que liga sempre muito pra gênero. Inclusive homem trans. Parece que poder discrimiar as pessoas por gênero faz parte dos privilégios do macho. E eu tenho vontade de morrer toda vez que eu sinto que o macho tá me tratando como uma fêmea, e portanto um bocho estranho e inferior. Infelizmente eu sinto isso a partir de coisas muito pequenas. Alguns homens ficam realmente ofendidos se você tenta dar um aperto de mão, mas ao mesmo tempo você vê a importância que eles dão praquilo quando apertam a mão de outros homens. É como se eu me recusar a ser mulher como eles esperam fosse uma ofensa pessoal contra eles.

quarta-feira, 15 de outubro de 2014

--- E pra quê eu preciso saber disso?

Então, tipo, esta semana eu tava dando aula e apareceu um exercício de vestibular que tinha umas funções logarítmicas deslocadas, com as assíntotas verticais em tracejado. Aí eu pensei "poutz, é melhor eu explicar pressas pessoas o que que é uma assíntota!"

Eu falei pra turma que eu ia explicar isso pra elas, e imediatamente a menina super dedicada que quer prestar poli me pergunta:

--- E pra quê eu preciso saber isso?

Hm.

Olha, eu entendo que com o vestibular se aproximando é normal a gente começar a ficar na pira de não querer estudar nada que não for ser imediatamente útil. Mas acho que a questão é mais profunda aqui, é uma questão que eu sinto mais forte, que é a questão de querer sempre justificar o aprendizado de matemática. Sempre. Quantas vezes eu já não ouvi gente reclamando que estudar essa ou aquela matéria de matemática era inútil, por que nunca ia usar aquilo na vida?

Imagina que eu estivesse dando aula de biologia, e eu começasse a falar sobre o ornitorrinco, e eu começasse a descrever como ele é, onde ele vive, que tipo de bicho ele é. Alguém na turma ia perguntar pra que saber do ornitorrinco ia servir? Ou imagina que eu começasse a falar de, sei lá, de quelíceras, que é essa parte do corpo das aranhas, sabe, que vários artrópodes têm, que elas usam por exemplo pra te picar. Alguém ia perguntar "mas pra quê que isso serve?". Ou imagina que eu desse aula de história, e eu quisesse explicar sobre relações de servidão, ou eu quisesse contar a história da Alsácia-Lorena. Ou mais ainda, imagina que eu desse aula de artes, e que eu quisesse explicar que existe essa cor, que chama azul.

Pra quê servem assíntotas? Sei lá, possívelmente pra nada, pra que serve azul? Assíntota é uma coisa que algumas funções têm; algumas funções têm comportamento assintótico, é algo que acontece, é interessante em alguns casos, é legal, funções assintóticas representam bem alguns tipos de idéias, por exemplo a idéia de se aproximar de um ponto de equilíbrio; sem contar que boa parte das funções mais comuns que tem são assintóticas. Pra que serve estudar assíntotas? Bom, em primeiro lugar, serve pra você ler a palavra "assíntota" em algum lugar e saber o que significa. Também serve pra você ver uma linha tracejada num gráfico e saber o que aquela linha é. Serve pra você identificar que aquela função super conhecida tem uma assíntota vertical no zero, e ver um gráfico de função com essa assíntota deslocada, e perceber que teve um deslocamento da função. Pra que serve saber o que é uma pata, uma orelha, um estômato? Pra que serve saber o que significa "antípoda"?

Eu fico pensando por um lado que matemática deve ser um saco absoluto pras pessoas, claro, que ninguém tem a menor vontade de estudar curvas, funções, transformações, derivadas, assíntotas, limites. Quando a minha professora de história começou a falar da história das termópilas, no colegial, ninguém interrompeu ela pra perguntar por quê ela achava que ela tinha que contar aquela história. Mas ao mesmo tempo isso é porque a história era interessante.

Por outro lado a gente devia mesmo parar o tempo todo e se perguntar "mas o que que eu tô fazendo aqui? Por que eu tô fazendo isso?"... Só que assim, é preciso se perguntar, mais do que "por quê aprender isso?", é preciso se perguntar "o que eu quero aprender?". Então eu não sei o que eu tenho que falar quando eu tô dando uma aula de cursinho e uma pessoa vem me perguntar o que eu tô fazendo ali. Eu penso: bom, eu tô tentando mostrar os comportamentos de funções pra vocês, pra fazer elas parecerem menos assustadoras, prelas fazerem um pouco mais de sentido, porque vocês vão precisar saber manipular essas coisas na prova que vocês vão fazer, e porque algumas de vocês vão inclusive usar um monte de funções ao longo da vida de vocês porque vocês vão estudar engenharia, física, essas coisas. Não é o sistema de ensino do qual eu gostaria de estar fazendo parte, e nem é o sistema de ensino que vocês querem, tb. Mas eu tava pensando que ultimamente o vestibular tem ficado cada vez mais dahora, cada vez mais misturando as disciplinas e fazendo perguntas inteligentes que exigem que a gente pare e pense e manipule os conhecimentos. E que o vestibular está mais dahora que o sistema de ensino das escolas. E que eu não tenho o menor saco pra dar uma aula enciclopedista, e nem eu acho que isso vai ajudar com porra nenhuma.

Além do mais, eu sou uma dessas pessoas que acha matemática uma das coisas mais lindas do mundo, e eu não ia conseguir mutilar completamente essa coisa que eu estudo.

terça-feira, 14 de outubro de 2014

Dinheiro vs Riqueza

Hoje eu me vesti, olhei pra mim e pensei: "heh, eu devo ter gasto menos de quinze conto nesse outfit bonitão... Bom, exceto pela camisa que custou vinte."

Aí eu olhei de novo pra minha roupa e percebi que eu estava vestindo uma bermuda de marca, um allstar, etc etc, e que se eu tivesse pago por tudo isso, eu teria gastado lá pelos duzentos reais. Mas eu ganhei a blusa da mãe, a bermuda que o tio não usava mais, o tênis veio de uma amiga da sogra, o cinto talvez de uma prima, a camisa eu comprei numa promoção na augusta.

No fim das contas, mesmo eu não ganhando muito dinheiro, eu ainda tenho um monte de gente rica na família que me dá coisas. E isso conta como privilégio de classe.

domingo, 12 de outubro de 2014

Compaixão

A pessoa do outro lado da mesa disse que os movimentos grevistas da USP eram "uma falta de patriotismo!"

Eu não seria a pessoa apropriada para questionar isso porque eu tenho a impressão de que usar a palavra "patriotismo" já é começar errado. Quando eu penso em nações patrióticas eu penso na Alemanha nazista. Pra não ficar muito <i>reductio ad Hitlerum</i>, eu penso também nos exércitos, todos, em jovens dando suas vidas para matar outras pessoas jovens. Eu penso em guerra. Eu penso na ditadura militar brasileira querendo que todo mundo ficasse quietinho e exaltasse o Brasil no hino nacional. Pra mim quem exige patriotismo é gente que apóia a ditadura, é militarista, é querer que não se critique um governo, que se aceite ser governado sem questionamentos. É uma palavra que não me traz boas impressãos.

Pra falar a verdade, eu tenho esse impulso de dizer que patriotismo é uma coisa errada. É errado porque significa amar à patria mais que aos outros. E se é pra "amar ao próximo" e ter compaixão e etc, é pra amar a todos, e a todas as coisas vivas, independente de onde elas estejam. Não é pra amar ao seu vizinho mais do que a um estrangeiro. Quando o padre diz pra amar o próximo, ele não quer dizer que é pra amar só quem está perto, entende, é só uma força de expressão. Inclusive se você pensar na imensidão do universo todas as pessoas da terra estão bem pertinho. Mas é claro que se aparecerem aliens na terra você pode tentar amar a eles também. Compaixão significa empatizar com todas as criaturas. Não é pra respeitar o parecido e cuspir na cara de quem é diferente.

Acho que passar tempo com gente católica acaba ativando minha criação católica e eu fico pensando sobre todas essas coisas. Se você pensar a Bíblia soa o tempo todo como um clubinho bairrista. É pra amar seu vizinho e Deus vai destruir seus inimigos. "O povo de Deus", dizem os religiosos, quando não "o povo escolhido". Os filhos de Abrão. Não admira muito que tantos povos tenham feito guerras por "terras prometidas". Mas ao mesmo tempo quando Cristo morre na cruz ele não condena nem mesmo os infiéis romanos que o matam. Hoje em dia fala-se muito nisso, nessa compaixão. Eu penso um pouco na compaixão que me foi ensinada, e acho que é uma compaixão que tem algo de budista, nesse jeito de ter respeito e amor por todas as coisas. As nações e as bandeiras não fazem sentido, porque todos somos um perante o sagrado ("sob Deus" ou "no amor de Cristo", ou o que você quiser). Nesse sentido o patriotismo é um tanto anti-cristão, ou é uma religião em si, uma heresia de certa forma. Acho que os papas medievais concordariam comigo.

Por outro lado, se não fosse toda essa conotação facista que a palavra "patriotismo" tem, eu falaria sobre como os rebeldes, os grevistas, são na verdade os maiores patriotas. Porque amar ao seu país não significa amá-lo quando ele vai bem e abandoná-lo quando ele vai mal, nem significa amá-lo todo o tempo e ignorar seus problemas. Amar seu país significa lutar para melhorá-lo e fazer dele o melhor país possível. Os professores universitários em greve querem de fato que sua universidade seja a melhor possível, que haja professores o bastante para dar todas as aulas, e que as contas da universidade sejam abertas para que todos possam garantir que a universidade está sendo bem-gerida. Muitos deles estão em greve apesar do custo que isso tem para eles (apesar do esforço contra isso, quase sempre o custo da greve de professores é maior para os professores do que para reitores e governantes - que ultimamente têm tentado dar a entender que eles nem ligam). Pode-se discutir quão adequado e eficiente é esse método, nesse caso, mas dizer que greves são antipatrióticas, que um povo está contra sua pátria, é fingir que esse povo não compõe a pátria. A impressão que eu tenho é que patriotismo em si é antipatriótico, porque o patriotismo não faz bem pro povo. Eu diria que querer extingüir as divisas entre as nações pode ser patriótico.


sexta-feira, 10 de outubro de 2014

Utilidade

Faz algum tempo tive uma discussão com um colega sobre a impressão que a população em geral tem da ciência e da universidade. Se um governo investe em ciência, é provável que a população se sinta injustiçada. A universidade tem essa fama de ser composta por vagabundos que nada fazem de útil, e estudar é visto como um privilégio. Isso transparece nos discursos de que mestrandos e doutorandos não devem exigir bolsas que os sustentem -- como estudar é um benefício em si, não é justo que o estudante receba além disso um benefício monetário. Mesmo quando o investimento é diretamente em pesquisa, questiona-se a necessidade desse investimento. Meu colega me explicou que o que acontece é que a população não vê a utilidade da ciência porque ela de fato não lhe beneficia.

Acho que uma parte disso é um erro, já que as pesquisas feitas com incentivo público nas universidades públicas são as responsáveis pelos maiores avanços a longo prazo nas questões de interesse da população carente. Outra parte disso é causada por uma visão extremamente individualista - porque o único benefício reconhecido do estudo é aquele para o estudante, que pode se tornar uma pessoa mais capacitada e no futuro conseguir empregos melhores - e utilitarista - ou seja, não se enxerga a importância da manutenção da comunidade científica em si. Ao que me parece, a aparente utilidade prática da pesquisa científica serve para obscurecer a natureza artística e cultural da ciência. Seria mais coerente, eu acho, que programas de pesquisa em algumas áreas de ciência teórica abstrata fossem financiados por programas de incentivo a cultura. Porém, como supõe-se que a ciência é útil, passa-se a se exigir que ela seja valorizada apenas enquanto é perceptivelmente útil.

De um ponto de vista mais prático porém, eu acho que o cerne da desconfiança com as instituições científicas é justificado. Se uma sociedade sustenta uma instituição que não se preocupa em criar benefícios para a sociedade, essa instituição se torna como um mosteiro, ou como talvez fossem algumas antigas universidades, ou bibliotecas, lugares onde o conhecimento é armazenado e mantido vivo e refinado, que têm a própria continuação e aperfeiçoamento como seu único objetivo. Eu adoraria viver numa universidade assim, mas eu não sei até que ponto eu acharia justo investir numa instituição cujos frutos são intangíveis para quem a sustenta.

A universidade que temos hoje é composta em grande parte por artistas que se dedicam apenas à sua arte, mas em outra grande parte por pessoas sonhadoras que desejam que sua pesquisa torne o mundo melhor. Algumas dessas pessoas se envolvem com projetos de extensão, que é o meio oficial de devolver para a sociedade os benefícios do estudo, algumas voltam-se para o ensino, e algumas procuram projetos de pesquisa que possam ser utilizados no futuro, por pessoas mais empreendedoras, para tornar as coisas melhores. Mas esse esforço é inútil se não houver quem aplique e distribua esse novo conhecimento. Muitas vezes, existem forças poderosas trabalhando justamente contra a aplicação do conhecimento. A universidade se torna um núcleo de resistência a uma cultura destrutiva... Mas uma resistência passiva pode ser simplesmente ignorada. É preciso uma articulação com as ruas.

Tudo isso pra dizer que muitas vezes os temas que mais me apaixonam na ciência muitas vezes me parecem incapazes de transformar o mundo de verdade. Isso me frustra, e me leva a investir cada vez mais energia em coisas cujo resultado eu possa ver. Talvez eu não seja a pessoa mais apropriada para fazê-las, mas pelo menos eu acho que elas precisam ser feitas. Mudar o mundo nos detalhes já é melhor que não mudar nada. Talvez isso faça de mim uma pessoa errada para pesquisar matemática: meu amor por ela é grande, mas eu tenho dificuldade de ver a importância do que eu faço por amor. Especialmente se quase ninguém pode compartilhar comigo a beleza do que eu estudo. É como escrever uma história e não poder contá-la a ninguém.