quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Mar

E reiterando a minha dor
Eu me arrastei pela orla do mar
A areia arrranhando minhas pernas
E eu cheguei na outra pedra
Onde era quente, e macio e duro
Eu escalei a outra pedra
sentei e fiquei olhando o mar
O mar batendo duas ondas furiosas
O mar que não me alcançava mais

domingo, 30 de setembro de 2012

Life On Mars

Acho que estou chegando no meu limite outra vez
Acho que quero ir embora outra vez
Mandar esta porra à merda
Parar de fazer o que eu não quero fazer
E ir viver a vida

Eu quero ir pra festa, pular e dançar e beber e brincar
Eu quero perder todos os limites
Mas acho que eu quero acordar cedo amanhã.

Acordar cedo pra ir pra aula pra tirar notas boas pra ter uma carreira
But do I really care about that?

Well the show is a bore
I've read it ten times before

And I can't focus on

Esses dias eu estava lembrando daquele eu-nunca, de quando alguém perguntou quem da roda a gente já tinha querido pegar, e eu respondi, "uai, todos". E eu podia dizer isso porque eram todos meus amigos, porque não ia ser um problema, porque mesmo se um interpretasse como razão pra me passar um xaveco raso, eu só ia precisar mostrar desinteresse uma vez pro cara se tornar mais respeitoso. E ao mesmo tempo se rolasse um clima e eu pegasse alguém não ia dar nada errado. Alguns falarm de mim e eu ri e disse "Nossa, tem mais gente do que eu imaginava me querendo, eu devia estar aproveitando melhor essa vida". E de fato eu aproveitei um pouco melhor essas vidas depois daquele dia. A vida era boa então.

Recentemente eu me dei conta de que meu "grupo de amigos", ou o que as pessoas desse grupo chamam de meu grupo de amigos, não é mais composto pelos meus amigos, e eu não acho que numa roda hoje em dia eu me sentiria confortável em ser tão aberta e honesta. Também é verdade que tem gente no grupo que não me interessa minimamente, e eu acho isso estranho porque eu sou a pessoa que se interessa por todo mundo. Então life feel's weird.

A verdade é que eu estou de saco cheio dessa farsa, eu quero parar de sair com "o grupo" e voltar a sair com as pessoas. Eu tenho outros amigos e outras turmas, mas eu não quero mais me importar com turmas, eu só quero sair com meus amigos, e dizer foda-se completamente para quem eles acham que faz parte d"o grupo".

Eu quero sair com pessoas em quem eu confio. Com pessoas com quem eu quero conversar, com quem eu quero interajir. Eu quero poder fazer o que me der na telha e ser respeitada. Eu não quero acabar fazendo o que eu não quero e não fazendo o que eu quero e ter que dar desculpas de porque eu não quero fazer uma coisa. Eu não quero me sentir mal no dia seguinte.

Eu quero ter uma vida divertida e interessante.
.
Mas hoje foi um bom dia, de verdade. Hoje tinha pessoas legais e diversão e liberdade. Eu me perturbei um pouco com meus amigos julgando e tirando sarro de pessoas exatamente iguais à gente, mas essa foi a única coisa nã0-boa que aconteceu hoje.

Mas eu voltei pra casa pra fazer um trabalho que eu não quero fazer e que eu não entendi direito.

And the show is a bore
I've writ it ten times before
It's just been written once more
As I tell me to focus on

A vida não está sendo tão incrível quanto eu acho que deveria ser.

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Hoje

Hoje foi um dia bom.
Bom mesmo.
Daqueles que tem, tipo, felicidade.
Na verdade foi tão bom que estou contando tim-tim por tim-tim: essas são coisas que me trazem felicidade.

Pra começar hoje eu acordei cedo. Eu tomei outro banho, tomei café com calma, me preparei psicologicamente pra sair de bike sem casaco no vento gelado, e fui. O trânsito estava tranqüilo, ninguém tentou me matar, nem me ultrapassou coladinho, nem decidiu que era engraçado me dar um susto. As pessoas me deram passagem quando eu precisava.

Cheguei pra minha aula das oito às nove, o que é ok dado que é Cálculo IV. Mas encontrei um aluno mais velho (talvez monitor da matéria, não sei) e me avisou que o professor não vinha. Então fomos tomar um chá, pra esquentar as mãos que estavam já meio rígidas de tanto frio. O Ime estava quentinho, troquei umas moedas pequenas na máquina de café, o sofá estava gostoso, conversamos sobre perspectivas, objetivos, a computação, etc.

Fui estudar. Estudei, até, um pouco, mas estava com sono e cansada. Aí chegou o Michel (meu bom amigo matemático), conversamos, fomos tomar um café. Conversamos muito, encontramos o Rafael (outro importante amigo do Ime, da aplicada), conversamos mais. Fui pra minha aula das dez às dez-e-quinze, o que me parece ok porque eu não entendo o propósito nem a dificuldade do que estamos estudando. Fiquei estudando álgebra durante a aula.

Saí da aula e dei de cara com o Michel e o Rafael. Chamei pra almoçar, e o Rafael chamou a Giuli (da T19, computóloga-matemática). O Lucas Colucci apareceu do nada e me deu um abraço e um sorriso cheios de amor. Fomos encontrar a Giuli no CM e encontramos um grande grupo de bichos felizes e fomos almoçar todos juntos (bom, em duas mesas separadas), e depois fomos bater papo no favo. Em particular o Louis e a Jú sentaram na nossa mesa, o Louis que depois vi que tinha me chamado pra almoçar pelo facebook, a Jú com quem combinei que quando nossas vidas estiverem menos loucas a gente vai arranjar tempod, e o Guióda, que eu não vejo desdeq, me deu um abraço apertado (e eu achando tudo o máximo porque eu estava saindo com cm-icos e matemáticos ao mesmo tempo).

Quando eu estava meio indo embora dois amigos tentaram me chamar pra encontrá-los, mas não dava mais. Meio chato, mas, ao mesmo tempo, eu não teria encontrado esse grupo tão pouco usual se estivesse saindo com esses outros amigos queridos.

No caminho pra Vésper esbarrei, por total coincidência, na Hita. Conversamos brevemente, mas o sorriso dela foi tão brilhante que até agora está me alegrando.

Minha aluna nova tinha inesperados 11 anos e precisava de ajuda com frações, mmcs e mdcs. E durante uma das aulas eu cheguei a usar sistema de numeração com bases 13, 20 e 2 pra explicar porque 55 não tem nada a ver com 5x5 (!). Eu adoro essas pessoas pequenas, que gostam das matérias e demonstram o tempo todo o quanto estão interessadas em aprender; e entre as aulas da Júlia eu dei aula pra minha aluna regular, a Sophia, que está prestando uma prova pra 6o ano e que é a melhor aluna que eu já tive (sério, dar aula pra ela - ou melhor dizendo ajudá-la a se dar aula - alegra minha vida, vou sentir falta quando acabar).

Afinal, atravessei os tipo seis quarterões gélidos e de vista linda que separam a Vésper da minha casinha. Cheguei aqui e tive mais uma surpresa boa: você estava em casa! (obs.: qualquer outro jeito de escrever isso soa ou muito impessoal ou muito pessoal - so there you have it, é por isso que eu uso tanto "você")

Além do mais, depois de chegar aqui eu até consegui fazer 2 ou 3 exercícios de álgebra II. Ou seja: \o/

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Aftermath

Love, lust, friendship, alcohol
I'm not sure of which we have become
Everything is blurry, people in a hurry
To prove that they are young and wild and fun
Pictures of dancing, all is recomencing
Why do I suddenly feel so old?
People getting wasted, but I just wanna taste it
And I'm not sure of what shall now unfold

And I don't feel free
I want you with me
But that doesn't mean I want everybody
I feel so stuck
Everything's so fuckedup
And I start to feel like I don't own my body

Dance, lust, playing, alcohol
I'm not sure I like where this is going
Everything is changing, seems nobody's aging
I can't see how far this thing is growing
Pictures of hot babes, dudes are liking always
How the fuck can this joke never get old?
People getting wasted, but I still wanna taste it
I want to be respectable and bold

And I don't feel fine
I give up this time
But inside I feel like I hate everybody
I feel so used
But I'm still confused
Like I failed to be of anyhelp to anybody

Love, trust, friendship, fun times
But I have no idea of who you all are
Everything is lacking, I see myself respecting
A way of things disturbing and bizarre
Pictures of cool guys, people telling old lies
Say everybody's hot, nobody's cold
People getting wasted, but will they ever taste it?
Feel's like it's all irrelevant and old

And I feel like

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

You Are The Sunset

Eu ainda sinto a tua falta, nos momentos mais absurdos. E às vezes não.

A vida mudou tanto. Antes tudo o que eu fazia eu fazia pensando em ti. Todo texto que eu escrevia, eu escrevia para ti. Mesmo quando eu queria que outros lessem, no fundo o escrever era sempre teu. As palavras, os parágrafos, as vírgulas eram tuas. Minhas palavras eram tuas, meus dedos eram teus. Eu escrevia porque um dia me pediste, eu escrevia porque escreverias também. Faz tanto tempo.

Lembras daquela menina descendo os degraus da escada para o porto? Eu estou correndo, também. Competindo com ninguém. Perdendo, sempre perdendo. Mas a vida é tão linda, e tudo é tão antigo, e cada passo desta corrida me leva para lugares mais inncríveis. Às vezes é ruim, mas com mais freqüência é maravilhoso. As coisas ruins são apenas um retrogosto da delícia. O vento está sempre soprando em mim.

You are the wind, carrying me away through worlds and wonders. You are the words we battled with, the favorite words. You are the lonely traveler, the content bard, the wiseman in the caravanserai. You are the wind, the bird, the vessel, the song.

Eu me dei conta de que não escrevo mais para ti. Escrevo para mim, para os meus, tu foste embora e me deixaste aqui, ou eu te deixei. Eu visito o demônio de ti com freqüência, mas sinto falta não do poeta louco, não do ladino apaixonado, e sim do marinheiro do infinito. Sinto falta de tuas histórias.

Não tenho vontade de voltar. Éramos tão tolos e tão frágeis... Hoje sou mais forte, mais sólida, sou mais como a árvore, como a água, como a terra que nos sustenta. Hoje meus pensamentos são menos negros, e uso menos minhas garras. Mas sou menos como o vento que levanta e gira num redemoinho, menos como as folhas que caem rodopiando das árvores, menos leve... mas mais leve também. Mas como a grama que se deixa balançar, mais como as núvens que mudam de forma. Tudo é mais tranqüilo agora. Só me dói não compartilhar esta tranqüilidade contigo.

A vida mudou tanto! Mas ainda te lembras das histórias que eu contei, e eu ainda quero saber mais sobre as tuas histórias. Conheci tantas outras pessoas, tantas outras histórias, vivi outras aventuras e mudei, mudei muito, me tornei mais feroz e depois mais segura, conquistei outras pessoas, explorei outros mundos... sem ti. Mas durante muito tempo planejei voltar e te contar, do Deus que vive nas pedras à beira-mar, da leõa-princesa que roubou meu coração, das cidades abandonadas, do amor... mas não voltaste, não voltaste e eu também tinha uma raiva guardada contra ti, uma raiva da pessoa idiota que eu era quando fiz todas aquelas promessas... Mas não mais. Eu te perdoei faz tempo, e depois me perdoei também. E parei de me preocupar, e abandonei as promessas. Parei de escrever para ti. E, sem perceber, perdi todas as passagens do meu mundo para o teu.

Mas não te enganes: eu ainda te amo, de um jeito estranho, sem paixão, sem promessas, sem espaço para dor. Ainda és meu bardo favorito. Ainda procuro, sem saber como procurar, as entradas para o castelo nas núvens. Mas estranhamente não sei se o castelo ainda existe. O que existe? O que resiste? Tanto tempo passou, e nunca mais realmente nos falamos. Mas quero que faças parte da minha vida outra vez. Só não sei como fazer isso. Não sei, não sei como começar uma... uma amizade.

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Paralelismo

Faço uma breve pausa para falar do meu recurso poético estrutural favorito, o parelelismo. Tentei achar boas referências na internet sobre isso, mas eu sou muito ruim em procurar coisas na internet na verdade.

Paralelismo sintático se constrói repetindo a sintaxe em duas orações paralelas, como por exemplo quando eu digo "Maria estuda matemática enquanto João joga vôlei". Na poesia, usa-se paralelismo entre versos e estrofes, repetindo a estrutura sintática, e às vezes também semântica, da estrofe 1 na estrofe 2, como, por exemplo, o esboço de poema sobre o qual eu estive falando:

1. You see me here, wrinkled and grey
2. I've lost my luster along the way
3. You can't see the fury, you can't see my claws
4. My fangs are hanging on a devil's walls

1. You hear me here, off-tone and coarse
2. I've lost my voice to a devil's curse
3. You can't hear the hunger, you can't hear me scream
4. But hear my tale, my devil's dream

Aqui fiz o paralelismo particularmente estrito:
see - hear
wrinkled - off-tone
grey - coarse
luster - voice
fury - hunger
along the way - to a devil's curse
claws - scream
walls - dream

Evidentemente meu ponto aqui é que eu não queria trocar "hear the hunger" por "see the hunger" por que isso ia cabar com o paralelismo. Além disso, estou falando de hunter's hunger, não de famine. You can hear the hunger in my voice. E além disso, como o Ugo comentou, eu gosto da idéia de "you can't hear this, you can't hear that, but at least hear my tale, it's the only voice I have left".

Para ilustrar melhor o conceito, saí procurando algum poema meu em português que tivesse paralelismo forte. Foi horrível; eu tinha esquecido como minha coleção de poemas é absolutamente deplorável. Enfim, achei este poema do qual eu não gosto tanto assim, mas que é praticamente um exercício em paralelismo:

Poesia.
Poesia.
Eu chamo pela poesia.
Eu clamo pela poesia.
Meu sangue!quente a rima fria -
um mangue!quente a voz vazia.
Poesia,
ai! A poesia..
Eu morro pela poesia.
Escorro pela poesia.
Beleza por si só se cria,
certeza vaga por si se irradia.
Ai!
A poesia poesia...
Eu luto pela poesia.
Eu - luto pela poesia!
Que escorre por minha alistia
e morre com minha alforria..
Poesia!
Poesia.
Eu canto pelo poesia.
Eu - canto pela poesia!
Ela, que em minha voz ria,
vela, a que m'alumia..
Poesia!
Poesia!
Eu choro pela poesia
Eu coro pela poesia
Do sangue que me vem à face fria
do mangue que me prende à voz vazia
Palavras que me trazem à alegria
mas garras que me trazem agonia
Por ti, por ti apenas, poesia.
Poesia.
Poesia!

[17/8/2004]

Pensando bem, talvez esse poema seja um exemplo meio medíocre de paralelismo porque ele não cria paralelos interessantes, mas apenas repete a estrutura over and over and over and over again (como eu um dia pude achar isso legal?!). Vou procurar um texto de outro autor que seja mais bacaninha.

Ah, que tal este do João Cabral de Melo Neto?


Alguns Toureiros

Eu vi Manolo Gonzáles
e Pepe Luís, de Sevilha:
precisão doce de flor,
graciosa, porém precisa.

Vi também Julio Aparício,
de Madrid, como Parrita:
ciência fácil de flor,
espontânea, porém estrita.

Vi Miguel Báez, Litri,
dos confins da Andaluzia,
que cultiva uma outra flor:
angustiosa de explosiva.

E também Antonio Ordóñez,
que cultiva flor antiga:
perfume de renda velha,
de flor em livro dormida.

Mas eu vi Manuel Rodríguez,
Manolete, o mais deserto,
o toureiro mais agudo,
mais mineral e desperto,

o de nervos de madeira,
de punhos secos de fibra
o da figura de lenha
lenha seca de caatinga,

o que melhor calculava
o fluido aceiro da vida,
o que com mais precisão
roçava a morte em sua fímbria,

o que à tragédia deu número,
à vertigem, geometria
decimais à emoção
e ao susto, peso e medida,

domingo, 16 de setembro de 2012

Obcecado

Seus braços nus cobertos de pêlos
Suaves
Hmmm
Para passar os lábios sobre a pele, suavemente
Saboreando, como a um pêssego
Mordiscando
Farejando
... isso é amor?
Doce, doce, doce
Delícia
Incalculávelmente bom
Nos meus braços, você geme
Amor.

Acordo.
O mundo me inunda de cheiros, calores, suores. Você?
Você, te procuro, você?
Penso, penso, seus olhos, seus olhos maravilhosos
No meu sonho, você geme
de prazer.
Amor.
Agora dói
Lentamente, aos poucos
Vai se espalhando pelo sonho primeiro
Pelos pensamentos, pelas lembranças
Entra no peito, fica difícil respirar
Meu estômago está deprimido
Tudo é tão pesado
Essa doença passaria se ao menos eu pudesse abraçar você, engolir você
Comer você numa bocada só

O dia passa.
Você está na rua?
Você está online?
Você está no caminho para minha aula de dança?
Meus amigos marcam de sair, você vai?
Te procuro em todas as possíveis oportunidades
Você orienta cada um de meus passos
Me distraio e perco metade do dia pensando, pensando...
Tenho seu número. Te ligo?
Te mando um e-mail? Meus dedos digitam dezenas de mensagens, apago todas
Você não quer ouvir bobagens apaixonadas
Você não quer que eu te incomode
Me contenho. Me contenho.
No meu sonho, você geme
Dói!
No meu sonho você me ama. Fecho os olhos e acordo outra vez, dói outra vez, perder seu amor.
No meu sonho eu sou a pessoa perfeita pra você.
Eu nunca vou ser a pessoa perfeita pra você.

Chego em casa e encaro uma noite sem você
Cada segundo se arrasta
Saio com os amigos, quero esquecer, eles falam da vida e eu ouço
Você, você, você, você
O que você acharia dessa conversa?
Será que você chega inesperadamente agora?
Você muda de idéia e aparece sem avisar?
Começo mais uma mensagem
Lembro que você está em outra cidade.

Tarde; deito na cama
Olho pro teto e me pergunto se vou sonhar com você
outra vez
Vai doer outra vez?
Vai ser lindo outra vez?
Quero;
digo que não quero mas quero, quero porque de noite você me ama
E você nunca vai me amar de verdade
Ou vai?
Penso em tudo o que eu deveria fazer pra te conquistar
Durmo
Sonho

De noite seus olhos maravilhosos olham no fundo dos meus.

Aged or Tamed

Passei algum tempo pensando sobre os comentários que vocês fizeram sobre o poema, e cheguei à conclusão de que talvez eu devesse investir mais nessa idéia de envelhecimento, de wrinkled and grey and hoarse and dry. This is what I came up with:

You see me standing, wrinkled and grey
I've lost my luster along the way
You can't see the anger, you see no claws
My fangs, they're hanging from a devil's walls

You hear me mumbling, off-tune and coarse
I'm old and cursing my final course
You can't hear the hunger, you can't hear the lust
But hear my tale, somebody must

(Eu queria dizer "my hide lost it's luster", mas achei que ficava muito comprido)
(minha primeira idéia foi "hear my tale, beneath my dust")

(By the way, a note to Ugo: how come seeing hunger is more plausible than hearing it? Está mais claro nesta versão o que eu quis fazer, ou ainda está esquisito?)

Por outro lado, achei que talvez eu devesse investir mais na idéia de "sweetened", até porque a idéia do poema é fundamentalmente "perdi minhas garras para um demônio". E saiu isto:

You see me coming, appeased and neat
I've lost my fierceness and faced defeat
You can't see the anger and I have no claws
My fangs are hanged on a devil's walls

You hear me humming, sweetened and shy
I've lost my thunderous voice, my pride
You can't see the hunger, can't hear my dream
But hear my tale, my one last scream

I was a wolfness in lives before... bla bla bla

Pra falar a verdade não curti muito essa segunda estrofe (maybe I've gone too far?). Possivelmente seria melhor a opção mais prosaica (ou ridícula) que eu tinha pensado antes:

You hear me humming, lovely and sweet
I beg you sit as I peel a beet
You can't hear the hunger, you can't hear the screams
But hear my tale, my hopeless dream

Eu estava pensando esse dias em como os rascunhos são tão importantes quanto o poema em si, em como é impossível traduzir um poema sem recriá-lo porque o produto final é irremediavelmente mais pobre que o processo de construção (é um preço a se pagar por ele se parecer com alguma coisa legível), e para reescrever o poema é preciso um novo processo de construção.

É impossível incorporar essas duas visões tão distintas tão completamente no mesmo poema, embora seja possível mesclá-las de uma forma mais fraca. Porém eu só tenho a ganhar elaborando sobre elas. É como ume exercício de improvisação no teatro. Eu também acho que posso misturar partes não tão comprometidas dos poemas e gerar resultados novos, e talvez mais interessantes. Por exemplo:

You hear me humming, lovely and sweet
I beg you sit as I peel a beet
You can't hear the hunger, you can't hear the lust
But hear my tale, somebody must

(eu gosto muito de colocar hunger e lust num poema sobre uma velha ou uma daminha fofa desse jeito, porque parece muito real, embora pra falar a verdade este poema seja uma fantasia)

Espero que vocês estejam se divertindo tanto quanto eu estou com esta discussão =)

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

(di)versão

As pessoas me convenceram de que howl na verdade rima com how (é um saco aprender uma língüa através de prosa, né?). Acho que vou desistir de usar essa palavra

Por outro lado, descobri uma outra versão dessa segunda estrofe que substitui "poison" por "fierceness". O que vocês acham?

You hear me now, saddened and sweet
I've lost my fierceness and faced defeat
You can't hear the yearning, you can't hear me snarl
But hear my tale, of old and far

("snarl" é outra palavra que não rima com nada >.<)
(Não pretendo realmente mudar o final dos dois primeiros versos, e hunger tem muito mais ferocidade que yearning, mas estava afim de me divertir)

(a internets diz que "growl" é um bom substituto pra "snarl". Mas e aí, o que rima com "growl"? Estou pensando em abandonar toda essa idéia também, fica muito mary-sue como diria a ixa...)

terça-feira, 11 de setembro de 2012

Writers Block

Tem um poema que estou tentando escrever há mil anos que parece que nunca consigo. Na verdade, tem três poema relevantes nesse estado (e mais ou menos todos os meus livros, que são dezenas), dois deles da época do colegial, e um de dois anos atrás.Com um deles tive a dificuldade extra de ter tido meu caderno roubado com metade das anotações sobre ele.

Recentemente resolvi rever como começa um dos meus poemas, mas não está ficando bom. Eu queria pedir ajuda. É meio difícil porque esse poema precisa ser em inglês (só porque eu estou escrevendo ele principalmente por causa do ritmo e das rimas, que não são traduzíveis), e eu conheço poucas pessoas que escrevam bem de verdade, tenham contato comigo e gostem de escrever em inglês. Mas eu vou pedir aqui, mesmo assim.

A minha primeira versão dessas primeiras estrofes reescritas, para apreciação:

------

You see me here, wrinkled and grey
I've lost my shine along the way
You can't see the fury, you can't see the claws
My fangs, they're hanging on a devil's walls

You hear me here, sweetened and sad
I've lost the poison that I once had
You can't hear the hunger, you can't hear me howl
But hear my tale, ...

(estou tentando colocar alguma coisa aqui, pensei em mold, mas tá difícil de construir, unfold é muito brega, old já usei na estrofe seguinte de um forma melhor, e não consegui pensar em nada que rime com howl - talvez seja o caso de trocar esse terceiro verso)

----EDIT-edit- decidi separar em vários posts, é mais natural.

sábado, 8 de setembro de 2012

O Instante Seguinte

Eu devia ter dito "não".
Seria a resposta razoável, a opção sensata, responsável.
Amanhã de manhã haverão conseqüências. Eu me arrependerei. Eu devia ter dito "não".
Mas como?
Você perguntou, perguntou porque não era nada óbvio, porque meus sinais seriam emocionais e apenas com palavras eu poderia falar racionalmente; mas eu devia ter me antecipado, eu deveria ter visto os seus sinais e dito antes, "por favor, não", eu deveria ter dito não faça isso, por mais que meus olhos peçam por favor; não faça isso, por mais que meu corpo exija e se impaciente, não faça isso, porque meu corpo está errado, meu corpo não entende as conseqüências, meu corpo é incapaz de dizer "não".
Eu devia ter dito "não", mas como, com meu corpo gritando "sim"? Mas como, contra todos os sinais do meu corpo? Eu devia ter dito "não", para manter as aparências e evitar as conseqüências das minha ações, eu devia ter dito não e te obrigado a escolher respeitar minha renúncia, eu devia ter dito não para aprender algo novo sobre você. Mas como dizer "não" quando tudo o que eu quero é poder dizer sempre "sim", quando tudo o que eu quero é não precisar manter as aparências, quando o que eu quero mais é que todos descubram, mais cedo ou agora, que não tenho mêdo nenhum das conseqüências, que posso viver a vida sem me arrepender?
Não. É isto que eu quero, isto agora, e não há nenhum motivo pelo qual todos devêssemos dizer não. E eu disse "sim". Sim. Sim. Sim, porra. Amanhã eu vou me olhar no espelho e ser forçada a me lembrar de que eu sou uma pessoa que diz "sim".

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Você-Lírico

Observação sobre a forma como tenho escrito os últimos posts:

Houve um tempo em que eu acreditava que as pessoas que conhecessem a história por trás everiam ser capazes de discernir pelo menos a parte que falava sobre elas. Assim, eu me esforçava para manter personagens coesos - às vezes eu dividia os parágrafos, outras eu usava pronomes diferentes. Mas afinal me dei conta de que os personagens são apenas um artifício, um recurso literário de utilidade restrita, e freqüentemente um limitante da expressividade -- e mais, que talvez a compreensão da história não seja fundamental quando o cerne do texto é a idéia, o conceito, a sensação e o sentimento. Assim, eu tenho usado um tu-lírico fluido, que pode mudar de significado sem aviso, no meio de uma frase, e às vezes se referir a diversas pessoas dentro da mesma oração. Portanto, parem de tentar imaginar "de quem" eu estou falando. Mesmo quando as histórias são verdadeiras (e elas quase sempre são), elas estão misturadas, confundidas, e toda vez que você imaginar uma pessoa real vivendo essa história (qualquer pessoa que não seja eu), lembre-se de que... bem, de que a borboleta na verdade era um dragão, e o telefonema era uma carta. É assim com tudo. A narrativa é puramente um artifício; a verdade, uma diversão.

Impressão

Não, não é nem a dor, nem a marca, nem a mordida.

Ou talvez seja.

Você deve lembrar de uma boca de dor que marcou no meu braço, no fim do nosso começo, e de como toda vez que outro alguém me tocava, por cima do toque eu sentia essa dor que lembrava você. Você tinha razão: eu podia tocar outros homens, dançar com eles, beijá-los, até transar com eles, mas minha pele ainda sentiria as marcas dos seus dentes em cada lugar que eles me beijassem, e na manhã seguinte eles seriam apenas uma lembrança doce, enquanto nas nossas manhãs seguintes você era sempre uma marca presente e um desejo, imediato, de que as marcas não perdessem seu ardor antes da próxima vez que nos tocássemos. Eu tivera outros homens, outras bocas, outras mordidas mais doces, até mais prazerosas - e entretanto, cada vez que uma nova boca me morde a ponto de doer, eu penso naquela marca de dor que seus dentes cravaram em mim, me fazendo sua. Talvez por isso, novas marcas perderam seu significado, e novas bocas mal são capazes de me marcar.

Não é também a selvageria, a violência e a predação. Ou talvez seja.

Antes de você eu rosnava e mordia e brincava de gato selvagem, eu rolava na lama e derrubava no chão, eu corria e caçava e era caçada, eu me tornava bicho e uivava na noite. Mas você é tão humano e tão tranqüilo, e eu nunca o vi como uma presa. Não; você me conquistou com palavras, com idéias, com idéias sensatas e concretas, sem metáforas, sem garras, sem caçada. E eu não rosnei pra você, não corri com você, não levei você para explorar as florestas amaldiçoadas e as torres secretas das minhas paragens internas. Muito pouco deixei conhecer - meu sorriso, meu corpo, minhas idéias, meus dentes -- mas não minhas presas.

Talvez seja a fome. Talvez seja ver revelada a fome na sua forma mais brutal, a fome de engolir sem mastigar, se comer o que ainda pulsa, de não haver controle possível. Mas, pensando bem, a fome é voraz e violenta, e às vezes basta o lento, controlado, tranqüilo, dócil prazer dos seus beijos no meu pescoço. Com freqüência basta o tocar, o acarinhar suavemente. Não é preciso haver dentes - basta que haja toque.

Não - acho que não há metáfora, não há simbolismo por trás, não há longos quadros da mente colorindo a cena, não há necessidade de imaginação. Há apenas tato. Apenas prazer.

O resto é bônus.

terça-feira, 4 de setembro de 2012

Um Instante

Num instante viro você:

Pernas, pêlos, o cheiro humano de você me completa, a suavidade de você me encanta.
Encantado, ponho meus lábios em você, paseio meus lábios por você, ponho você em minha boca, exploro você com a minha língüa. Sinto a reação de você sentindo a minha língua.
Sinto seu gosto e o gosto de cada pedaço próprio de você. Te mordendo, te experimentando. Sinto que estou te experimentando há sete, oito, nove anos. Mordo sua orelha, mordo sua garganta, passo os lábios por seu cabelo, por sua sobrancelha, entrelaço minhas pernas em você, confundo meu corpo com você.

Abro minha boca sobre você. Enfeitiço você com a minha fome, olho nos olhos seduzidos de você. Sinto o calor de você, o desejo de meu corpo que o cobre, cubro você com meu corpo enorme, abro minhas costelas para engolir você.

Mastigo você, desvagar, com prazer. Interessado, exploro você. Invado você, percorro você, espalho minhas raízes por dentro de você, broto e floreço em você. Cresço em você, e ao longo dos anos você se torna eu. Permaneço em você, e nunca deixo de ser você.

Devoro você, e na hibernação que segue, te esqueço.

A Mistery Tour

Eu olhei nos teus olhos e soube imediatamente. Não disse nada, pra não quebrar o encanto.

Quando minha princesa mentiu pra mim (sem querer) eu agüentei estoicamente, porque eu não sou homem o bastante para conquistar você. E você vai estar além do alcance. Domine o mundo por mim, eu vou tentar ser sua amiga, apesar da distância.

A borboleta na verdade era um dragão.

Você sorriu e eu soube que. Você me chamou com olhos vorazes. Só de lembrar eu te quero tudo de novo. Eu te quero aqui, agora. Vocês estão longe de mim, agora.

Você descreveu o gosto da minha boca sem nunca ter me beijado, e eu quis te morder pra saber se a tua carne também tem o gosto das tuas palavras. Você não tem mêdo, mas eu sim.

O meu fundo do poço é um pouco mais fundo. O meu fundo de poço ainda chama por mim.

A tartaruga voltou para a praia afinal. Todo ano mais garotos fazem dezenove anos. Todo ano mais adolescentes perdem a virgindade. Todo ano mais pessoas de vinte e poucos começam a meioque se sentirem adultas. Mas temos que largar a pele velha, e abandonar as nóias de criança.

E abandonar as nóias dos nossos pais. Mas eu sequer consigo abandonar as nóias de 20 anos atrás, completamente.

O unicórnio na verdade era um pequeno pônei. A Mágica tinha forma de coração. Eu quero compartilhar uma coisa: eu tive um grande amor.

Eu tive dois grandes amores (alémd). Às vezes mal consigo diferenciá-los dentro de mim. Ambos me levaram às alturas. Ambos mentiram pra mim. Ambos me fizeram sofrer. Não sei dizer se ambos me amaram. Mas acho que você me amou. Acho que era tudo verdade, apesar de que.

Eu te perdoei faz mil anos, eu entendo agora que não foi culpa sua. Não só. Eu quero você de volta. Eu quero voar de novo. Viajar. Quando você se afastou o mundo ficou mais silencioso. Está quieto demais aqui.

Mas eu chego a mudar de calçada quando aparece uma flor, e dou risada do grande amor (mentira)

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Panfletarismo

Ultimamente eu tenho me sentido muito gay.
Quando eu digo "gay", eu não quero dizer homossexual. Eu já passei por épocas muito lésbicas, e já passei por épocas femininas, e já passei por épocas de macho e por épocas gays. Estou numa época em que me identifico mais com homens gays. Em parte é porque eu estou admitindo que durante a maior parte da minha vida eu quis ser um homem, e só me conformei em encontrar as vantagens de ser mulher ("vantagens" é um termo estranho pra isso - digamos as "partes que eu gosto" de ser mulher). Em parte é simplesmente porque sexo gay é muito sexy, e eu detesto quando eu não posso participar (obs.: viva os homens bi!!!). Em parte é porque eu tenho tido vontade de fazer parte de um movimento que é colorido, irreverente, pega todo mundo na balada e curte vestir dourado e dançar no pole.

Eu sou bicha. Eu curto vestir dourado e dançar no pole dance, como eu nunca curti os longos dignos da sensualidade feminil. Eu quero ser a femme-fatale, mas eu sempre acabo usando uma bermuda ou bombacha, com minhas pernas peludas, meus tênis de trilha, e agora om estes óculos estou parecendo uma hipster fora de moda, uma indie sem tribo. Eu acho que sou bicha porque eu sempre fui um moleque, mas agora eu me visto bem. Enfim. E eu gosto de homem como um viado, e me sinto muito confortável falando com gay sobre homem, de uma forma que eu não me sinto tão à vontade com a maior parte das mulheres (com exceções, obviamente - mas mesmo com as exceções eu não me sinto totalmente à vontade, por vários motivos que talvez tenham algo por trás).

Eu também tenho sido muito feminista. Porque é a mesma coisa. Porque eu quero defender o meu direito como mulher bissexual que curte namoros abertos e gosta de sexo, porra. Porque eu acho que liberdade sexual é importante. No fundo é isso que está por trás do meu feminismo intenso. Porque eu quero liberdade, liberdade, como eu estou dizendo há tantos anos. Liberdade pra pegar quem você quiser. Liberdade pra se vestir como você quiser. Liberdade pra se divertir como você quiser. (tudo isso, é claro, tem limites também, mas ainda estamos a anos luz de bater com eles). Mas recentemente uma amiga amiga minha reclamou que as meninas do grupo têm sido muito feministas, muito panfletárias. E eu preciso dizer: tem que ser mesmo.

Você, que reclamou, você devia ser feminista. Aposto que você na verdade reclama pelo mesmo motivo que você fica triste porque aquele garoto com quem você saiu te chamou de vadia. Porque você tem mêdo de enfrentar. Você tem mêdo de que ele tenha razão. Você quer viver a vida do seu jeito, mas você não quer lutar pelo direito de ser respeitada. Você não faz sentido! Eu preciso te puxar e dizer que eu não acredito na sua reclamação. Eu tentei te convencer de que o que o garoto disse não era verdade. Mas eu, eu passei a vida inteira lutando, desde os quatro anos, lutando, lutando, eu treinei com os meus demônios internos antes de vir pro pau da vida real. Eu admiro você, e você ousa ter vergonha justamente da parte de você que eu admiro?! Eu invejo você, mas você não inveja a si mesma. Mas eu vou dizer, você está errada ao querer que a gente pare de panfletar. Eu pensei muito sobre isso e agora eu tenho certeza: a gente tem sim que panfletar.

Quando teve a Parada Gay e a gente não foi, o Fê chegou puto (vestindo uma coroa, e super gay, e lindo, e muito puto) com a gente porque nenhum de nós, gays, tinha ido na Parada. Nenhum de nós tinha aturado o ridículo e se divertido com o ridículo pra mostrar ao mundo que estamos lá. Eu me senti horrível, porque ele tinha razão. Mas na época eu estava mais ferida com o desrespeito a qualquer um que queira se identificar como bissexual, e eu não queria dançar junto com o povo que me reprimia dessa forma. Mas se fosse hoje, eu iria. E eu deveria ter ido, senão por mim, pelo menos por ele. Porque eu não quero jamais viver num mundo onde meus amigos tenham sua liberdade sexual toldada de maneira tão extensa. Este mundo em que a gente vive, em que quando a gente conhece um estranho, a primeira coisa que a gente faz é avaliar o quanto a gente tem que esconder e mentir.

E também tenho panfletado (devia fazer mais) sobre ciclismo, porque eu me sinto tanto
uma minoria toda vez que ando de bicicleta e toda vez que falo sobre isso que às vezes acho que deveria ter uma lei dizendo "Não discriminarás por sexo, gênero, religião, etnia, opção sexual ou meio de transporte". E o foda é que meus parentes e amigos me discriminam. Como sempre, o que dói mais é que os parentes e amigos também discriminam. Mas eu não sei se eu deveria me sentir tão mal. Eu também os discrimino por usarem carro demais. Eu discrimino meus pais por não pegarem ônibus. Eu tento ignorar, quando eu ouço um "Quando você dirigir todo dia..." (mãe, se tudo der certo, isso nunca vai acontecer).

A gente panfleta porque a gente quer que todo mundo esteja o tempo todo pensando nisso. A gente não quer ser ignorado. Talvez a forma esteja errada, talvez o jeito de chamar a atenção esteja sendo pouco efetivo. Talvez. Mas política não é uma coisa que pode ser deixada apenas para os momentos "apropriados". Não adianta discutir apenas com as pessoas próximas, nos momentos íntimos. Tem que discutir publicamente, tem que dar a cara pra bater. Eu dou a minha cara pra bater, cada dia mais. Eu prefiro levar porrada a viver me sentindo oprimida. Meu objetivo é chegar ao ponto em que eu não tenha mais vergonha nenhuma de defender o que eu acho certo. E correr o risco de levar tapa na cara.

Discutam.

domingo, 2 de setembro de 2012

Começando mal

Preciso começar a tomar as rédeas da minha vida
Mas começo mal.
Preciso parar de procrastinar, parar de dar mais atenção aos outros que a mim
Mas não acho que devo.
Estou aqui pensando e pensando em parar de pensar
E todas as coisas que fiz e que devo fazer vêm pra me assombrar
Tanta coisa passou, tanta coisa passará
Sinto que falta controle, que falta saber olhar além da próxima sombra.

Preciso começar a guiar o cavalo da minha vida
Mas começo mal.
Tenho que ir, tenho que sair, não tenho tempo pra me dedicar
(a este blog)
Sinto que falta espaço, tempo, direção
Pra dizer "foda-se, você não tem poderes sobre mim"
Pra dizer "eu adoro você, mas hoje não"
Pra dizer "eu quero que você goste de mim, mesmo quando eu não quero dedicar todo esse tempo a você"
Sabe quando os relacionamentos de repente viram obrigações?
Amizade não é pra ser obrigação, porra.

Eu quero passear com você, eu quero subir em árvores e brincar de Tudo.
Eu quero ir na balada, eu quero desaparecer
Eu quero contar histórias, compôr poesia, brincar de viajar loucamente
E jogar Cups.

Eu preciso começar a dedicar mais tempo pra escrever
Mas começo mal.

terça-feira, 21 de agosto de 2012

Disruption

I like the eyes of you
When you beckon
I feel the tastes of you
When you kiss
I taste the mouths of you
When you touch
I bite the skins off you
When you scream

Eu me sinto cheia de energia e calor
Foda-se que eu passei os últimos dois dias doente e que estou começando a ficar gripada
Eu me sinto uma lôba de novo, e foda-se tudo o mais

Eu quero dançar
Eu quero voar
Eu quero caçar todas as minhas presas

I am the night wolf
Hear me howl
Hear me snarl
Make me purr

I smell the yearns of you
When you

sábado, 7 de julho de 2012

On Making Friends Who Live In Different Continents

Now you're probably just getting into the cab
Maybe I should have walked you there
Maybe I should have told you that I already love you
Maybe someday we'll meet again

I'm gonna miss you even when I go back home
When I go back to my life, to my fights, to my friends
I don't know how long that feeling lasts
Right now it feels like everything's forever

So let's go for another pichet,
Have another pivo
Let's go for the next bar, for the next club, for the next park
Maybe someday I'll drink with you again

I'm gonna miss the way you can't say my name
The way you sometimes speak our swearwords right
I'm gonna miss your crazy stories and world views
And your crappy english and your crappy french
And all those sounds I can't pronunciate
And how you make czech sound like the Black Tongue
Most of all that crow-qwork city name, Prague

I'm gonna miss all the Yeah, so's and the For sure!'s
Maybe I can start using those at home
I'm gonna miss the way sometimes you said Well, so, so, ok, so, generally...
And then you used that word 'bout every time you spoke

Let's have another pichet
Have another biére
Raise that glass for Math, this year
Um brinde a Été à Montréal,
Let's say santé, na zdraví, skål!

So, maybe one day we'll meet again
I'll go to your land or you to mine
We'll drink and bike-ride and play football
We'll club 'till morning and perhaps hike
We'll go pub-crawling and gastro-touring
We'll exchange stories and learn new words
We'll watch the sun rise and watch it set
If it happens that we meet again

Have a safe trip home and a great end of summer, guys.

terça-feira, 26 de junho de 2012

A Lagoa de Cristal

(one of my oldests daydreams was this of a cleansing magic. it could heal body and mind, clean air and earth and water, and make everything good and full of beauty)
---

E de repente estavam numa clareira, e as árvores estavam coloridas com reflexos inconstantes de água clara. A lagoa parecia apenas uma lagoa comum, e, como acontece com as lagoas comuns, a vegetação era mais vistosa e mais verde bem perto da água. Dava pra ver as pedras arredondadas brilhando no lugar onde a lagoa escoava num rio raso, mas o rio que a alimentava estava do outro lado, meio longe e escondido na mata. "Não parece muito impressionante", pensou Marin, e pôs um pé dentro da água.

O pé queimou como se pisasse em fogo, e ela pulou para trás de reflexo, assustada, as patas ardendo e o coração disparado. Rafael pulou junto, de susto; os dois meninos olharam pra ela preocupados.

-- A água às vezes arde enquanto cura. -- disse Rind, enquanto Marin recusava ajuda pra levantar. -- A gente tem que entrar devagar, por isso e porque precisa estar calmo pra não... pra não esquecer o que significa estar bem.

-- O que quer dizer? -- perguntou Rafa, com os dois pés dentro da lagoa, -- Está fazendo cócegas, mas é gostoso. -- ele fechou os olhos e foi andando lentamente pra dentro da água. Esse era o lugar certo pra fazer isso, Rind tinha dito, porque a lagoa ali era rasa e ia afundando lentamente. Mas havia também uma trilha para cima da pedra que ficava na parte mais profunda da lagoa, de onde alguém menos cauteloso poderia pular, ou ser jogado. Rind tinha dito que se você fosse jogado na Lagoa, corria o risco de se dissolver na água, ou virar um unlak ou um cardume de peixes. Marin não acreditava em unlaks ou em gente virando água e peixe. Ela tinha visto o homem-cavalo e o lobo que corria pelas nuvens, mas esses eram outros tipos de mágica. Rind tinha dito que depois da Lagoa ela ia ser tão forte quanto o Unicórnio. Que os homens-cavalo batizavam todas as suas crianças nessa água pra receber a bênção dos Guardiões, que eles sempre nos guardem. Mas a Lagoa ardia nos seus pés, enquanto Rafael entrava nela tranqüilamente, de olhos fechados. Não era justo. Tudo era sempre mais fácil para os meninos! Mas por um instante Marin viu Rafael fazer uma careta ao dar um passo. Talvez ele estivesse só fingindo, e aí era ainda pior. Ela não podia deixar ele ser mais corajoso que ela. Tudo era sempre mais fácil para um menino, mas ela era melhor que ele, ela fazia as coisas mais difíceis.

Rind gritou -- Marin, não corr --- mas ela estava correndo e tropeçando e caindo na água, tchi-bum, e a lagoa era funda o bastante pra ela de repente estar no fundo, e tudo era claro, cegante de claro, e doía e ardía, queimava como entrar numa banheira de gelo.

Marin de repente queria sair dali, não queria sentir mais dor. Ela era uma mulher, diziam que mulheres sentem menos dor, ela nunca tinha sentido tanta dor assim, nem naquela vez jogando bola - mas era impossível pensar em jogar bola, ela queria gritar, queria que tivesse menos luz, até a água dentro da sua boca ardia na sua língua, no céu da boca, como uma pasta de dente ardida demais. Em algum livro tinha um homem que ficava ferido e desmaiava de dor, será que ela ia desmaiar de dor?

E então talvez ela estivesse desmaiando, porque a dor passou, e então vieram as sensações estranhas. As sensações estranhas eram de calor e frio ao mesmo tempo, de molhado mas ressecado, e havia um vento extremamente forte que ameaçava levá-la pelos ares. Seus olhos estavam cegos, então só restava sentir. Marin sentiu que estava numa floresta, com cheiro de chuva e mato e o cheiro do pêlo do lôbo branco na sua pele, na sua bôca, junto com a sensação da fôrça que vinha nas suas quatro patas, e cheio daquele som das árvores chacoalhadas pela ventania -- depois sentiu que ondas batiam forte nas suas pernas por todos os lados, e um vento louco jogava água e areia na sua cara, e a balançava como uma árvore -- depois que água corria por ima dela como se ela fosse uma sarjeta, ou o leito de um rio caudaloso, mas rodas e patas corriam por ela, e ela se sentia vibrar como um tambor -- de repente ela se sentiu seca e forte como um cavalo, com cheiro de estábulo de fazenda, e vontade de correr pelo mundo -- e por um momento todas as sensações ficaram muito confusas quando ela começou a correr simultaneamente em todas as direções, e ela lembrou de quando ela ficava na varanda de um apartamento olhando os carros passando e querendo ser o Vento.

Então o Vento voltou a ser uma pessoa, que pôs as patas muito confusas no fundo da lagoa. Agora ela conseguia ver tudo muito claramente, e por um momento sentiu se sentiu maravilhosa - tudo estava no lugar, e ela podia se mexer como quisesse, e respirar debaixo d'água, e ser qualquer coisa! Seu corpo mudava de forma e tudo mudava de cor, e parecia que sua mente também estava se mexendo. Mas aos poucos a alegria foi mudando para desespêro, porque seus dentes pareciam moles e soltos mudando de forma sem parar no lugar, e suas mão de repente não pareciam mais mãos de nada que ela conhecesse, e sua pele ficava mudando de textura e até seus pêlos não ficavam de um jeito só. Rind tinha dito pra tomar cuidado, que era importante ser você mesmo no final. Marin não queria virar uma unlak ou um cardume. Nem mesmo queria ser o Vento. Era tão estranho não ser ninguém desse jeito, e ela tinha tanta coisa que ela era. Marin decidiu que estar bem era ser você mesmo. E então ela teve braços de menina e pernas de menina, e barriga de menina, e olhos de menina que viam muito bem debaixo d'água, e tentou lembrar como era ter dentes de menina, e como era ficar de pé, e respirar, e como eram seus cabelos, e seus pés, e suas outras patas. No fim, ela estava bastante parecida consigo mesma, e se sentindo leve, porque não tinha lembrado de devolver o cansaço, a fome e outros desconfortos de menina.

O fundo da lagoa era azul e bonito e cheio de peixes que Marin queria perseguir e tentar pegar. Mas meninas não respiravam debaixo d'água, e logo ela estava se desesperando e procurando voltar à superfície, à superfície, onde haveria ar!

Quando saiu da Lagoa, arfando e pingando água brilhante, que agora parecia um pouco assustadora, Marin encontrou Rafael, saindo da Lagoa rindo e brincando com a água.

-- Foi incível, Rind! Eu fui um pássaro e uma cobra, e nadei como uma tartaruga e voei como um falcão! Eu fui de todas as cores e de todas as formas, e eu sinto como se fosse pra ser assim mesmo, eu vou ser tudo, eu vou me tornar tudo o que eu quiser! Você não se sente assim, Marin? É tão incrível! Eu vou voar além das nuvens! E você, Marin, o que você foi?

Marin olhou para Rafa seriamente, pensando em como ele estava levando aquilo como se tivesse sido uma brincadeira deliciosa, como tomar sorvete e ir no parque de diversões. Mas, pensando bem, ela se sentia bem, agora que tinha acabado. Era como se ela tivesse se afogado e voltado à vida de uma vez só, mas agora estava tudo bem. Seu corpo inteiro ainda ardia um pouco, mas era um ardor leve, que um vendedor de pasta de dente chamaria de "refrescância". Só restava um pouco de estranheza, de não ter muita certeza de se ela ainda era a mesma pessoa de antes. Ou talvez ela fosse, e tudo aquilo tivesse sido só um sonho.

-- Marin? O que você foi?
-- O que mais, Rafa? Eu fui um lôbo.

quinta-feira, 24 de maio de 2012

Alarara/En Passant

"Somos do mesmo sangue, tu e eu"
Um dia eu acreditei nessas palavras
Mas o tempo passou e tudo mudou tanto
Será que todo mundo se sente como um extraterreste?

Quando eu era pequena, várias das minhas estórias começavam com ir para outro mundo. No outro mundo, eu era uma rainha, uma princesa, uma guerreira, uma heroína (ou talvez vocês fossem entender melhor se eu dissesse um Rei, um Príncipe, um Guerreiro, um Herói). Eu era descendente do Povo Antigo, escolhida pelos Guardiães, meu Destino era proteger o meu lugar, where I belonged.

Or do I belong there still?

Com o tempo, eu comecei a entender que se eu descendia dos Grandes Reis, só podia ser através de meus pais. Eu não poderia abdicar da veracidade da minha família, então meus irmãos, meus primos e às vezes até gente adulta começaram a aparecer nas minhas aventuras. Meus irmãos vinham para o Mundo comigo, eles eram grandes Líderes, tinham conhecimentos e habilidades que eu não tinha, e eram valorosos rivais, aliados ou inimigos. Mas fatalmente, dado alguns anos no Mundo, eles acabavam voltando para o mundo real, ou eles se envolviam com os seus próprios problemas, e eu acabava ficando só com os meus amigos de Lá, vivendo aquelas aventuras muito pessoais, construindo uma história e uma família que...

Depois, resolvi voltar para o mundo d'Aqui, mas sei lá... Eu quiz trazer meus amigos comigo, mas não sabia como apresentá-los à galera. E como explicar para minha mãe que eu ainda a amava, mesmo depois de todos aqueles anos? E como explicar que eu não era a mesma pessoa que havia saído daqui? Como explicar o que eu era? E quem eu era afinal?
Meus irmãos entenderam algumas coisas, e eu com muito esforço de ambas as partes consegui explicar uma ou outra coisa a alguns homens apaixonados (ao longo dos anos). Mas eles se afastaram (enfim, nós nos afastamos) e, bom, tantas vezes foi tão difícil traduzir as palavras de Veraki, Hatsi e Zaty para a língüa dos humanos...

Enfim...
No fundo, eu voltei para casa e tentei lutar a luta pequena (ränaki), a lida de manter a casa (honaki?) e viver a vida (maaki?). Afinal, a outra eu estava tendo um filho, e ensinando crianças. E tal. E eu estava determinada a conviver com pessoas, pra variar.

"Somos do mesmo sangue, tu e eu."
Mas nós não somos nem do mesmo mundo! No fundo, eu fui criada meio em Ziget, e eu sou meio Zaty. Por dentro, por dentro, por dentro.

Será que todo mundo se sente um extraterrestre? Será que cada pessoa veio de outro planeta? Ou será que sou só eu?

Eu estou começando a esquecer as minhas palavras... E me dói isso, eu entendo a dor de quem não pertence a lugar algum.

Será que todo mundo se sente um extraterrestre?

quarta-feira, 9 de maio de 2012

Oises.

So then,
we'd better stop.
But I can't stop... I can't stop...

Descobri ontem que eu gosto muito de ler em voz alta. Gosto especialmente de quando eu leio alguma coisa e você ri. Ou quando eu desperto em você alguma emoção. Ou quando você fica bem quieto esperando a próxima frase. Ou quando seus olhos se perdem sobre mim.

Descobri ontem que minha vida é razoávelmente cheia pra caralho. Que eu tenho um casaco bonito. Que eu sinto sua falta.

Eu estou sempre reclamando da falta de tempo, mas é tão mentira! Porque quando sobre tempo, eu me irrito muito mais. Então, um brinde à falta de tempo! Vamos celebrar nossas vidas cheias de conflitos e desafios, vamos celebrar nossas ambições e nossos sonhos e nossa necessidade de estar sempre no meio da tempestade, provando nosso valor.

Sköl!

sábado, 21 de abril de 2012

Shut down

Nada prende a minha atenção
Eu quero aprender, mas não quero usar a internet
Eu quero viver, mas não quero destruir
I don't wanna be a part of it
eu quero fazer parte de um mundo que nunca mais vai existir

domingo, 15 de abril de 2012

Dentro de mim

Um dia eu disse "Chega" e "Vá-se embora". Fechei os olhos e mandei você parar de me fazer sofrer. Você foi embora. E eu não te amo mais.

Está tão vazio aqui. É verdade que minto, porque eu te amo pra sempre, mas eu não sinto mais dor como também não sinto a elação e o júbilo. Porque mesmo sem ter teu amor eu ainda tinha o meu amor por ti me elevando acima dos mortais. E através do meu amor desmesurado, cada sorriso e palavra que me jogavas me colocava num pódio de ouro, e o teu prazer em estar comigo me elevava acima dos gigantes.

Eu sinto falta de você dentro de mim, me enchendo de sonhos e pesadelos, me dando belas imagens com as quais sonhar. Eu sinto falta de ficar tonto com o seu cheiro, de ligar pra você no meio da noite porque ninguém mais parecia capaz de me tirar do fundo do meu poço. Eu sinto saudades do nervoso de te ver online e não conseguir decidir o que escrever na mensagem de texto. Eu sinto falta da certeza de que eu poderia te fazer infinitamente feliz.

segunda-feira, 26 de março de 2012

Sentimental

Eu falo com você e percebo
o quanto eu menti pra você

Eu queria ter dito a verdade
Eu queria ter dito a verdade
Eu queria ter dito todas as coisas estúpidas em que eu acreditei

Eu queria ter dito as coisas que pareciam verdade porque eu te queria
Eu queria ter confessado que talvez eu estivesse falando bobagem
Eu queria ter dito a verdade
Eu queria ter tido coragem

Mas eu fiquei em silêncio, e agora tudo passou,
passou.

Eu falo com você e sinto
uma camaradagem tranqüila com você

Por baixo da minha vergonha por ter mentido
Por baixo da minha vergonha de ter escondido
Milhões de verdades como raios de sol no solstício de verão iluminando tudo
Milhões de verdades bonitas que eu podia te oferecer mas não ofereci porque eu tinha mêdo de apenas te ofender
por que eu tinha mêdo de receber um não.

Agora, o que eu posso te dar? Nada, tudo já passou.
Você não precisa mais do que eu tinha a te oferecer
E eu deixei passar
E eu deixei passar

Eu queria ter te mostrado que existia uma cura para a dor
Eu queria ter corrido o risco, e queria ter apostado
Que mesmo se fosse horrível, mesmo se
Mesmo se eu fosse depois me sentir jogada aos teus pés
Eu queria ter apostado na sua benevolência
Em me amar pelo menos um pouco de forma que
Eu não precisasse ter vergonha de estar me arrastando aos seus pés

Eu queria ter te ajudado
Eu queria ter te salvado
Eu queria ter revelado as verdades que eu via em você
Eu queria ter te mostrado a beleza de olhar pra você
Eu queria ter te estendido a mão quando você estava afundando e...

Eu estendi uma mão muito tímida pra você
Porque você era em todo caso tão gigantemente superior que eu, bem...
Eu estendi uma mão tímida pra você
E você ainda me agradece

Eu acho que ainda te amo, embora agora seja diferente
Agora eu não tenho mais tanto mêdo
Em baixo da minha vergonha de ter te contado mentiras
Eu queria ter dito a verdade
Eu queria ter te ajudado
Eu queria ter te oferecido o que eu tinha a oferecer
Eu queria ter me exposto
Eu queria ter tido coragem de me oferecer

No fim, só me resta aquela arte fraca, aquela prova da minha vergonha de não ter coragem de me arriscar pra te ajudar a sair de um mundo mau

...

Mas você saiu sem mim.

domingo, 25 de março de 2012

En Passant nº3

Eu vejo você sorrindo com palavras
(através de listas de Cálculo)
Eu sinto você limpando as minhas lágrimas com palavras
(através da minha frustação com a graduação)
Eu ouço você se enfurecendo com palavras
(através de um livro do Cálculo)
Eu quero você jogando video-game comigo, com muitas palavras
(no meu sonho, eu estudo porque preciso aprender)
Ah, como eu quero jogar tudo pro alto e rir com você, com palavras.

quinta-feira, 22 de março de 2012

En passant nº 2

De perto nos poros sinto saudade de um mar que se apega à pele
De perto dentro das minhas narinas guardo o cheiro dele
De perto minha garganta se aperta sem motivo aparente
De perto, o cheiro das folhas e o gosto da terra que sinto através dos poros
Bem perto, o calor do sol e o seu sorriso me chamam para mais um dia dentro do mundo

quarta-feira, 21 de março de 2012

Rápido, en passant!

Teus olhos através do vidro através do vidro,
(eu sei, é acrílico)
no lugar que é teu e não é meu, mas é
meu para estar na altura de te olhar nos olhos
meu para tomar o teu café e comer o teu doce
Teus olhos meio que me recebendo, eu sem expectativas.

Eu gosto de você.

segunda-feira, 19 de março de 2012

Comentários

Pra falar a verdade, eu não gosto muito de ler os comentários do meu blog. Controversamente, eu adoro que as pessoas comentem no meu blog. Por mais que metade das vezes eu ache desagradável ler o que vocês escrevem, eu sempre quero saber o que vocês estão pensando. Muitas vezes eu vou ignorar o que li, mas vou prestar atenção, e vou ficar feliz por ter te conhecido um pouco melhor, por ter te provocado uma reação.

Em geral eu me incomodo porque eu escrevo coisas muito pessoais, eu escrevo sobre coisas muito pessoais, e algumas delas são desagradáveis, e quase sempre uma ou duas pessoas colocam comentários sugerindo cursos de ação para resolver o meu problema. Eu nunca fico feliz com esses cursos de ação.

Às vezes a questão é simplesmente que se me parecesse possível tomar esse curso de ação, eu estaria tomando-o, e não escrevendo no blog. É que às vezes as sugestões das pessoas são coisas óbvias, ou coisas em que eu já pensei. Eu não sei bem o que dizer desses casos. Sempre me parece que se eu disser "eu já pensei nisso, não adianta", eu só vou estar sendo chata e rejeitando conselhos amigos.

Às vezes a questão é que o conselho não faz o menor sentido, porque você não entendeu o meu problema. Isso me deixa com raiva quando é alguém próximo, que deveria conseguir me entender, mas também me deixa um pouco triste porque eu não consegui me expressar. Meus amigos estão sempre reclamando que eu sou obscura e que não dá pra entender meus posts. A sensação que eu tenho é de que eu estou falando outra língüa. No fundo, eu tenho que admitir que eu escrevo esses posts muito pessoais para mim mesma, e não para vocês. Eu continuo postando eles no blog porque vocês ficam me dizendo que eles são bonitos, e que fazem vocês pensarem, e eu tenho vontade de ouvir alguém dizer que entende, que também passa ou passou por isso, que não é fácil mesmo, mas que tem solução (mas vocês quase nunca respondem isso, o que me desespera). Mas no fundo o que eu deveria escrever no blog são os posts de discussão e os de estórias, não os muito pessoais. Ninguém parece entender quando eu estou falando de mim mesma, porque, sabe, aquela parte da minha mente que eu revelo aqui foi criada num mundo paralelo, e nenhum de vocês conhece as referências. Eu sempre tive um pouco de vergonha de contar a verdadeira história, também.

Como em geral os comentários são de gente calma e superior ao problema, vendo soluções simples e fáceis, às vezes me dá a impressão de que sou só eu que tenho essas loucuras. E isso é o pior. Eu queria ser uma pessoa calma, estável, confiante, uma líder e uma companheira, mas eu sempre perco tempo demais da minha vida me afundando em desesperos inúteis. Vocês todos não são assim. Vocês têm as Respostas Fáceis. Vocês acreditam que têm as soluções, ou que têm a forma de se chegar às soluções. E eu admito que não quero seguir a maior parte dos seus conselhos. Eu não os ignoro; eu arquivo, seleciono os melhores pedaçõs, quando há, tento até me convencer a experimentar algumas partes que me parecem imbecis. É muito difícil acreditar nas idéias dos outros.

Eu tenho plena consciência de que eu faço a mesma coisa quando os outros estão em apuros. A fragilidade do outro convoca uma força na gente, uma segurança, de repente a gente enxerga tudo com clareza e sabe exatamente onde está o problema. A fraqueza do outro faz a gente se sentir forte e capaz, faz a gente se sentir bem. Eu detesto essa característica nossa de parar de sentir dor apenas porque a pessoa ao lado está sentindo mais dor do que a gente. Como se ser forte fosse ajudar a diminuir a dor dela. Como se manter a calma fosse acalmá-la. Quando eu estou nervosa, tudo o que eu não quero ao meu redor é gente calma. Eu quero gente capaz de gritar comigo e me tirar do sério. Eu passo tempo demais da minha vida me contendo, não querendo revelar minhas fraquezas.

Aí eu venho aqui e revelo, e todas essas pessoas legais que eu gostaria que me admirassem conhecem todos os meus defeitos. Eu devia calar a boca, eu devia começar a mentir pra vocês, a mostrar a minha face mais bela, a mostrar como eu posso ser forte e competente e mais capaz do que vocês imaginam. Eu queria dirigir até a sua casa e te chamar pra entrar no carro e te levar até um lugar fantástico que eu conheço como a palma da minha mão. Mas isso tudo seria se esconder, e por mais que eu te queira, eu não sei se ainda te quereria se você acreditasse na minha máscara e eu não tivesse vergonha de me mascarar. Eu tenho fraquezas, muitas, eu admito. Mas eu não tenho vergonha de quem eu sou. Eu não me sinto culpada por quem eu sou. Eu sinto até um pouquinho de orgulho, às vezes.

De qualquer forma, pessoas, obrigada. Por favor continuem a comentar.

E comentando os últimos dois comentários (no post abaixo):

Ugo, pensando bem, eu sempre chamo as pessoas pra sair. Eu sou razoavelmente extrovertida quando as pessoas não são assustadoras =P. Eu evito chamar pra sair homens muito seguros de si e muito interessados em mim. Esses eu só chamo pra conhecer meus amigos. Meu amigos são mais ou menos receptivos, mas nem sempre rola. Com certa freqüência eu acho que meus amigos estão olhando pro novo babaca que eu conheci na esquina e desaprovando. Às vezes eu me pergunto se esse critério é bom o suficiente, já que é tão preconceituoso, e tal. O problema é que... não sei, não me sinto segura pra conversar com um um homem desconhecido num lugar público, se eu estiver sozinha. Isso me perturba.

Hita, eu... eu entendo que ficar no círculo de amigos é opressivo. Aí eu vou pras bordas do círculo e descubro que a galera da borda conhece um monte de gente diferente. Os amigos dos amigos dos meus amigos dão gente bastante diferente, bastante libertadora. Às vezes é bom. Eu não me sinto confortável no meio de gente muito diferente de mim, e a maior parte das pessoas é, é claro. Eu não tenho essa manha de sair falando merda pra todo mundo e se rolar, rolou, senão, não. Às vezes eu faço isso, mas, sei lá, não é o meu comum. Não é assim que eu sou, eu gosto de ouvir as pessoas. Às vezes meus amigos fazem amizade com umas pessoas chatíssimas! Eu não consigo me abrir pra gente de quem eu não gosto. Às vezes eu conheço uma pessoa e imediatamente estou falando de tudo o que importa com ela; mas tem que rolar um clima. Tem gente que nem abre espaço pra esse clima rolar, e a gente fica com a sensação de que nem conhece a pessoa... Mas nada disso tem a ver com a pessoa ser amiga ou não, se pá. É que... sim, eu me sinto estranhamente excluída quando as pessoas estão falando de coisas que indiretamente me ofendem, mas eu não chego a ter vontade de confrontar as pessoas com essas coisas pelas quais elas passam sem notar. Isso seria tão pentelho. Tão mala. E talvez eu não queira parecer tão sensível. Mas eventualmente, se não houver um jeito natural de falar das coisas, eu talvez me desinteresse por aquelas pessoas, se elas não forem apaixonantes. Talvez eu precise me apaixonar eplas pessoas para confiar nelas. Talvez eu só consiga acreditar no que os meus sentimentos gritam pra mim num volume que sempre será ouvido.

segunda-feira, 12 de março de 2012

Reavaliando

Como eu achei que deveria fazer, estou aqui para comentar no post de ontem. Pra dizer que exagerei, que não é bem assim. Que na verdade, já aconteceu uma vez de eu conhecer um cara no ponto de ônibus e confiar que eu podia sair com ele. Ele era da minha idade, tinha estudado junto com meus amigos e estudava junto com outros meus amigos. Ele tinha aquele jeito familiar, seguro. Até hoje ainda o encontro e falo com ele. Tem gente que conheci a vida toda e de quem fujo, mas ele, mal o conheço e confio, sei que é gente do bem.

O problema todo é que meu mêdo não é apenas psicológico, não é apenas emocional. É que eu não consigo me convencer de que é só emocional. Se o perigo não existisse, eu ia me obrigar a encarar. Eu sempre me obrigo a encarar mêdo ididotas pelo menos uma vez. Eu me obrigo quando acho que é importante vencer o mêdo. Mas eu acho perigoso andar na rua sozinha à noite, eu acho perigoso confiar demais em homem desconhecido, e é isso. Eu acabo andando sozinha na rua, porque acho perigoso mas não tenho medo. Se eu tivesse mêdo, achando perigoso, eu nunca conseguiria enfrentar o mêdo. Do mesmo jeito que não se enfrenta mêdo de leão. Do mesmo jeito que ninguém tenta curar leophobia.

É verdade, eu sou insegura. Mas eu enfrento minha insegurança, e aos poucos, com resiliência, eu consigo vencê-la ou contorná-la. Eu me sentia oprimida na empresa que eu trabalhava, mas eu ainda falava a verdade. Quando a galera no bar começou a falar sobre como todo mundo trai e todo mundo tem que trair mesmo, mas que se pegar o outro traindo não pode ficar quieto, eu consegui dizer que isso não fazia sentido pra mim, que eu preferia ter um namoro aberto, que eu tinha um namoro aberto, e era bem mais legal. Eu consegui dizer uma coisa que pra eles era inimaginável, e que eu achei que ia soar mal naquela roda, porque não era perigoso de verdade, era só assustador. Eu não soltei os leões em cima deles dizendo que eles eram um bando de falsos que só tinham relacionamentos para se encaixar na sociedade, e que ninguém com um mínimo de coerência e respeito próprio aceitaria namorar com um deles sabendo o quanto toda aquela farsa é cínica. Não é uma obrigação moral questionar as vidas absurdas das pessoas. Eu não acho que eu poderia mudar as vidas deles com minhas palavras esboçadas, inseguras, com mêdo de virar raiva de inconformação. Mas eu defendi a minha opção de vida. Não era perigoso.

É verdade que eu sou medrosa e tenho pavor do que pode acontecer comigo se eu revelar algumas coisas em alguns grupos sociais. É verdade que freqüentemente eu escondo o que acontece comigo porque as pessoas ao meu redor me falariam coisas que me fariam me sentir mal. E eu vejo como tudo isso é um desfavor para a sociedade como um todo, porque se eu me revelasse, as pessoas começariam a aceitar, pelo menos, que existe uma possibilidade de que eu realmente acredite nessas coisas, e, se mais gente falasse a mesma coisa, eventualmente todo mundo começaria a aceitar que essas coisas são possíveis de se pensar, e eventualmente as pessoas não teriam mais vontade de falar coisas que me fazem me sentir mal. E nesse sentido eu admito que minha insegurança é um problema. Mas eu luto, pequenamente. Cada dia um pouco. Com o tempo, eu vou ganhando coragem de olhar pros esqueletos no armário com frieza, e aos poucos eu vou mostrando eles pras pessoas. Eu sou insegura, mas já fui muito mais. Eu demorei 20 anos pra reunir a coragem de contar pra alguém que já não soubesse o motivo de eu ter feito terapia quando eu tinha 4 anos. Agora eu não tenho mais mêdo de contar. Eu não sei mais se importa de verdade. Esse virou pó; próximo esqueleto!

Ao mesmo tempo, quando eu era criança, eu não tinha mêdo de morrer, não tinha mêdo de bicho nem de queda nem de dor nem de ficar perdida nem de me afogar nem de passar frio nem de ficar doente nem de me queimar. Eu achava que não tinha mêdo de nada. Hoje em dia tenho mêdo de morrer de câncer, e de ficar velha. Tenho mêdo de falhar na vida, de ficar doente, de ficar sem dinheiro. Tenho mêdo de ser ridícula, de ser estúpida, de estar no grupo dos que menos contribuem, de ser irritante, de atrapalhar. Tenho mêdo de fazer com que as pessoas não gostem de mim. Talvez quase tudo o que eu faça seja motivado pelo mêdo de que um dia as pessoas percebam que eu não sou tudo isso que elas parecem achar. Que na verdade, por dentro, eu sou irresponsável, eu sou preguiçosa, eu sou mimada, eu não sei fazer nada, eu nunca aprendi a tomar conta de mim mesma, o tempo está passando e eu não estou realizando nada. Eu sou um fracasso. Hoje eu acho que eu tenho mêdo de tudo.

Eu ainda não tenho mêdo de queda nem de dor nem de fome nem de ficar perdida nem de me afogar nem de passar frio nem de me queimar. Mas agora eu tenho um pouco de mêdo de motos e de ônibus e de caminhão, e de ser atropelada, e de ser assaltada, e de quebrar o pescoço, e ser sequestrada, e de ser fisicamente forçada a fazer coisas que eu não quero, e de levar tiro de arma de fogo. Contaram muita história de terror pra mim a vida toda, e eu acreditei em algumas delas. E eu admito que tenho um pouco de mêdo de cair, quando estou escalando. Mas se tenho uma corda de segurança, eu venço o mêdo e sigo em frente enquanto minhas pernas tremem. Eu não sou uma covarde, quando eu sei que não preciso ser.

E pensando bem, eu deveria botar mais fé na minha capacidade de avaliar os perigos. Eu não acho mesmo que eu devo ir na casa de um cara que me chama pra casa dele quando eu ainda não confio nele direito. Se o cara faz uma coisa dessas, ou ele é perigoso ou ele é muito tapado. E se pá se ele não ganhou a minha confiança ainda, ele nunca vai ganhar. Não é necessariamente culpa minha, pô.

Eu também acho que eu devia voltar pro aikidô. Esse negócio de saber se defender aumenta violentamente a sua auto-confiança ao conviver com homens. Você deixa de se preocupar com se o cara é capaz de te machucar fisicamente pra se preocupar só com se ele é capaz de te machucar com uma arma (ou com outros caras) e as chances são muito menores. Embora, eu deva dizer, eu não seja capaz de avaliar se alguém é capaz de cometer esse tipo de atrocidade que envolve várias pessoas. Vocês podem dizer que eu estou sendo paranóica, se quiserem. Não é muito difícil me convencer de que o mundo é melhor do que o que me ensinaram a acreditar (mas, curioso, ninguém tentou até agora).

Acho que o que eu quis dizer com aquele parágrafo sobre tudo o que pode ser horrível ao se ir na casa de um cara, é que numa situação dessas, existe um improvável resultado bom, um improbabilíssimo resultado horrível, e muitos resultados ruins que são bastante prováveis. Mas se eu tivesse certeza que é só uma coisa moral, contra a qual eu posso aprender a lutar, eu arranjava a força. Não tenho certeza, eu tenho mêdo.




Eu tenho mêdo de que, tendo que lutar pelos meus direitos, na hora em que eu perdesse o controle e, na minha insegurança, começasse a chorar, ele veria a minha fraqueza e daria um jeito de se aproveitar dela do pior jeito.



Então aí está, pra você que duvidou até agora: meu verdadeiro mêdo é ter que mostrar meu lado mais fraco para pessoas que vão usá-lo contra mim, e acabar comigo por dentro.



... Será que eu assumo como predicado que uma pessoa qualquer, com probabilidade um, me odeia? Mas sim, acho que é essa a sensação que eu tenho sobre o mundo: que as pessoas quaisquer, de modo geral, não têm nenhum amor ao que eu sou por dentro. E pessoas sem amor só sabem ser horríveis. Elas nem sabem como não ser.












....... Mas, essa violência à alma, não é, também, a coisa mais assustadora a respeito de um estupro? E, nesse caso, não é essencialmente o mesmo mêdo? Eu sou uma pessoa fraca e indefesa. Eu sou uma garota pequena e fraca. Eu não sou nada como os meus sonhos, forte e invencível. Qualquer um pode me subjugar. Qualquer um pode pôr as garras na minha alma e me fazer me sentir suja e horrível por algum tempo. Não é a mesma coisa?

Depois dessa longa reflexão, estou me perguntando se eu deveria enfrentar meu mê... mas, pensando bem, e se o perigo for real?! Ah. Merda, não chegamos a lugar algum.

domingo, 11 de março de 2012

Confissão do Dia: eu morro de mêdo de estupro.

E isso afeta a forma como eu ajo, penso, principalmente como eu me relaciono com homens. A chance de eu sair com um cara desconhecida é baixíssima, porque eu tenho mêdo. Eu sairia com uma mulher desconhecida, com uma chance um pouco maior. Eu até sairia com o tal cara, por pouco tempo, para um lugar movimentado e bem iluminado, onde teria muita gente ao nosso redor o tempo todo. Nada de cinema, nem mesmo jantar romântico. Sair de noite, só entre amigos. E eu não deixaria ele me pagar nada que não seja muito barato, porque tenho mêdo de que ele ache que está me comprando com dinheiro, e comece a exigir coisas de mim, e eu não quero ninguém sendo horrível comigo.

Eu acho que vou receber alguns comentários dizendo que eu não deveria agir assim, então me deixe explicar para essas pessoas: eu não gosto de me comportar assim, nem acho certo. Toda vez que eu percebo que estou agindo de certa forma apenas por mêdo, eu me sinto mal. Mas eu não mudo meu comportamento, porque o mêdo é real.

Eu não sei bem como cheguei a este tópico - eu estava andando pelos comentários sobre o Dia da Mulher que estão espalhados pela internet, e é claro que entrei em blogs de feministas, e tal e coisa. Dia da Mulher me deixa desconfortável, porque é um nome muito ruim. Não tem nada de especial em ser mulher, da mesma forma que não tem nada de especial em ser homem. E quando as pessoas dizem "feliz dia da mulher", elas não estão pensando em nada. Sério, em nada mesmo. É desconfortável. Talvez a melhor reação seja a sugerida pela Hug: responder com um "Feliz dia da Igualdade Entre os Sexos pra você também."

Bom, eu estava lendo essas coisas feministas e me lembrei de uma vez que eu tava saindo com um cara, fiquei com ele uma vez (numa praça de alimentação, à tarde, pelos critérios do primeiro parágrafo), achava ele legal, e aí teve uma semana em que ele me chamou pra jantar na casa dele e pra ir num show, ele pagando. Eu fiquei completamente apavorada, primeiro porque o show parecia que ia ser uns 300 reais (eu chequei no site), depois porque eu só conhecia o cara havia um mês, só tinha ficado com ele uma vez, e ele queria me levar pra casa! E se eu fosse pra casa dele, eu ia estar totalmente à mercê dele, e sabe-se lá o que ele ia querer de mim.

Toda vez que eu conto essa história pros meus amigos, eu digo que o cara me stalkeou, que ele era louco, eu faço ele parecer assustador o suficiente pra justificar o fato de eu ter cortado contato com ele o mais rápido possível. Às vezes eu ainda esbarro com ele na USP, e me esforço bastante pra evitar qualquer brecha pra ele vir falar comigo. Mas pensando bem, colocando as coisas em perspectiva, será que eu tinha tanta razão assim pra ficar apavorada? Ou é só que eu tenho mêdo de homens em geral?

Eu não acho que seja um mêdo totalmente injustificado, porque, embora eu não conheça ninguém que eu saiba que foi estuprado, eu tenho amigos que conhecem gente que que foi, e eu conheço bastante gente que já foi assediado de alguma forma, e, hey, eu já fui assediada, e bom, de modo geral as histórias que eu conheço não tem finais emocionantes em que os culpados são punidos e as vítimas são consoladas. Algumas, talvez a maioria delas, acabam com as vítimas se sentindo obrigadas a entender e perdoar e continuar amando os culpados até o fim das suas vidas; e ah, nunca confrontar ninguém, nunca contar pra ninguém, porque, sabe, não dá pra acabar com a reputação das pessoas desse jeito. Eu ouvi uma história (sobre uma amiga de uma amiga minha) em que a garota foi com uma turma na casa do cara e acabou se trancando num quarto pra se proteger dele, e ninguém mais mencionou o episódio por mais quatro anos, até a formatura, quando ele foi eleito orador da turma e uma das amigas da mulher, que estava lá no dia, ficou revoltada que alguém com esse background fosse eleito. A moral da história é que se ninguém conta nada, ninguém pode saber que ele tem esse background.

Então, sim, as histórias são reais e são horríveis e é muito difícil lidar com uma quando você fez parte dela, mesmo quando você racionalmente acredita que o cara não sabia o que estava fazendo e que você não deve ficar brava com ele (talvez principalmente nesse caso).

Mas não é só mêdo de assédio sexual, pra falar a verdade. Não é só mêdo de que o cara seja um criminoso, que ele vá te forçar a fazer coisas. Há também o mêdo de como ele vai te tratar. Eu tive uma conversa com uma amiga que eu admiro, na qual ela disse que às vezes queria ter feito sexo com menos gente, porque às vezes ela conhece um cara super legal, que se dá bem com ela em tudo, mas que, quando ouve O Número, começa a achar que ela é uma vadia e que ela não é boa o suficiente. Eu tentei convencê-la de que isso é só um sinal de que o cara na verdade não é uma pessoa legal, mas como fazer ela parar de se sentir mal, parar de sentir que ela não é boa? Eu, como muitas outras pessoas, simplesmente evito falar demais sobre mim, evito falar a verdade sobre mim e sobre o que eu acredito, quando estou com alguém que ainda não foi aprovado e carimbado como uma pessoa legal, digo, como uma pessoa respeitosa e que aceita que a gente seja o que a gente é. Então eu também tenho um pouco de mêdo de sair com gente que eu não conheço direito, porque sabe-se lá se o cara vai ser escroto e me fazer me sentir muito mal.

Por exemplo, esse cara que me chamou pra jantar, eu tive mêdo de ir na casa dele por vários motivos. Eu fiquei com mêdo de que ir na casa dele fosse ser interpretado com um sinal de que estávamos namorando... e eu nem me considerava como "ficando" com ele! Eu fiquei com mêdo de que se eu fosse na casa dele ele ia assumir que eu queria ficar com ele, e que se eu não me sentisse bem ali e mudasse de idéia, ele podia ficar puto. Ou pelo menos que a situação podia ficar muito constrangedora. E não estou nem falando ainda de sexo! E se eu tivesse vontade de beijar ele, mas não quisesse fazer sexo, e ele estivesse esperando por isso? Quer dizer, eu estaria na casa dele! Sem nada pra interromper ou distrair ou atrapalhar. Vai saber como ele ia interpretar, se eu aceitasse estar na casa dele. E se, por outro lado, o jantar fosse ótimo e o papo fluísse e no final eu quisesse fazer sexo? Será que isso não ia ser ainda pior? Será que ele ia me achar uma vadia, ou, por outro lado, será que ele ia achar que nós estávamos namorando?! (não, eu não sei o que me assusta mais). Enfim, eu sei que parece muita loucura, mas eu não exatamente me arrependo de ter fugido desse cara. Eu não conhecia ele bem o suficiente pra achar que ele não era um homem perigoso e que só ia me fazer mal. E ele mal me conhecia e já estava oferecendo pra me pagar um show e me chamando pra jantar na casa dele. Nós dois, sozinhos, de noite, num lugar estranho, sem ninguém ao redor pra me proteger. Acho que é uma situação assustadora mesmo. Sem contar que eu nunca teria coragem de contar pra ninguém de casa o que eu estaria fazendo.

A moral da história aqui é: quantas vezes eu já deixei de encontrar alguém, já deixei de chamar alguém pra sair, já deixei de me aproximar de alguém apenas por mêdo? Viver com essa redoma de mêdo em cima da gente faz com que a gente se limite, e só aceite rapazes "de boa família", ou o equivalente moderno que é ser amigo de algum amigo próximo. Eu só me sinto à vontade com gente que se dá bem com meus amigos, gente que ou eu apresentei pros amigos ou que me foi apresentada por eles. Eu só saio em encontro com alguém que acabei de conhecer se conheci esse alguém na casa de algum amigo, e olhe lá. Minhas opções são muito limitadas. Eu não pego homem em balada, a menos que seja conhecido. Eu não troco telefone, e quando eu troco eu não atendo depois. A única situação em que eu me libero pra me divertir, sem mêdo das conseqüências, é em festa lôca na minha casa ou na dos meus amigos. Mas mesmo assim, eu dificilmente pego homem a menos que seja amigo, e mesmo se fôr amigo só se o cara estiver exatamente no mesmo clima que eu. Os demais parecem todos muito assustadores. Parte do que eu quero dizer é que essa redoma de mêdo em cima da gente deve ser parte do que torna a vida sexual dos homens solteiros tão difícil.

Outra parte do que eu quero dizer é que isso tudo é opressor.


...

Eu fico me perguntando se da próxima vez que o Marcelo vier falar comigo eu não devia falar com ele e explicar porque eu fugi dele tão rapidamente... mas, nah, eu não teria coragem...

Pra falar a verdade, eu imagino que se eu não tivesse ficado tão assustada e se eu estivesse mais interessada nele, eu poderia ter proposto pra gente se encontrar em outro lugar. Eu poderia ter contornado a situação. Mas que tipo de cara te convida pra casa dele quando vocês mal se conhecem? Logo depois de você recusar ir no show? Enfim, eu fiquei assustada, e não pensei em alternativas. Não me arrependo, também. Só me incomodo com toda a situação, e o contexto. Só fico remoendo, como que essas coisas contecem comigo.

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Perguntas (e uma Maldição)

De novo estou publicando provisoriamente. Lembrem que o resto da história está aqui.

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Ainda me lembro claramente da revolta que senti naquele momento, com os olhos antigos da velha observando o efeito que suas palavras tinham em mim. Ela terminou a história com um tom tão solene que eu decidi que ela só podia ser estúpida ou louca. Eu era uma criança que acrediatava no certo e no errado, e pra mim era uma coisa errada você contar uma história que não fizesse sentido. Que tipo de história era aquela, em que o herói deixa a donzela pra trás e depois a mata, e nem se sente mal? Na arrogância infinita que os meninos aventureiros tem, eu levantei a voz e exigi que ela pelo menos admitisse sua vergonha.

- Essa não é a história de Roder, sua velha louca! Achei que a senhora ia me contar uma versão nova e melhor porque a senhora é daqui, mas essa história é pior que as que a Lilinha, que tem três anos, conta! Não tem pé nem cabeça! Como que a Faelyn podia estar dentro da caverna, se ela tava esperando pelo herói por meses e anos?! Como que Faelyn podia ser o dragão, se o dragão tinha aprisionado Faelyn um primeiro lugar?! Como que...

Mas nessa hora a velha não estava mais séria e tinha começado a sorrir de um jeito maroto, um jeito mau, como se estivesse tirando sarro de mim, se divertindo como se eu tivesse caído direitinho em sua armadilha. Eu ainda tentei insistir mais um pouco mais, mas minha imaginação estava trabalhando mais rápido do que eu podia contê-la, e atribuindo sentido à história toda.

- Sabe o que que eu acho? Eu acho que você é Faelyn, e que você inventou essa história porque você queria ser a princesa que o Roder salvou, mas não foi, e ele matou o dragão e depois fugiu com uma outra princesa, uma princesa que não chamava Faelyn, e que era muito mais bonita e mais delicada e mais jovem que você, que é só uma velha coroca que nenhum herói gosta e que nem sabe contar história!

Eu estava revoltado e tinha perdido toda a delicadeza. Quando me dei conta do que havia dito, de quão gravemente eu havia insultado aquela senhora, aquela mulher apavorante que provavelmente também era uma bruxa, eu gelei, certo de que viria uma grande punição. O sorriso dela tinha diminuído, e eu senti que havia uma certa dose de desagrado naquele sorriso duro, que parecia forçado, e no jeito como os olhos verdes estavam fixados tão intensamente em mim. Eu estava com mêdo e queria procurar uma rota de fuga, queria escapar daquela mulher, mas também não podia desviar os olhos dela. E havia um pouco de orgulho ali também, porque eu não queria virar as costas para uma mulher tão baixa que podia destruir uma história nobre como a de Roder apenas por sua própria vaidade. Felizmente, antes que eu criasse coragem de fazer alguma coisa, ela tornou a falar:

- Você comete o mesmo erro de sempre, menino, mesmo depois que eu lhe avisei. O problema não está nas histórias, está nos ouvidos de garotinhos como você, que acham que só os que as avós deles contaram é verdade. Que acham que os heróis são grandes e apaixonados por lindas donzelas, que são frágeis e só querem ser resgatadas. Garotinhos como você nada sabem de dragões. Eu lhe dei uma história de grande poder, uma história que é verdadeira e fala sobre verdades, e você vai aprender o valor dela com o tempo. Essa história é sobre como Roder matou sua primeira donzela por ser apaixonado por dragões. Você encontrará, em sua vida, outras histórias que sua avó não poderia lhe contar, histórias que não são grandiosas e não falam sobre conquistas, e sim sobre derrotas. E você mesmo também viverá suas próprias histórias, e você entenderá que nem tudo é o que parece, e que nem sempre e fácil entender de que tipo de história você está participando...

A velha não estava mais sorrindo, só estava me olhando enquanto a sua voz melodiosa me enfeitiçava outra vez, e ela de novo parecia uma mulher jovem e bonita. Eu estava coberto de calafrios.

- Por exemplo, - ela continuou - a história do ogro que você matou. Será que ele era mesmo um monstro terrível raptor de donzelas? Ou será que monstro não é você, que entrou em sua casa e o agrediu, você, que começou, como Roder, querendo salvar donzelas, e que no final só tinha pensamentos para o sangue de monstro lhe cobrindo?!

Eu não podia mais me mexer, e tinha certeza agora de que ela era uma bruxa, que sabia tudo sobre mim e que ia me transformar em alguma coisa horrível, talvez um ogro. Conforme ela falava essas coisas, seu olhar ia ficando mais intenso e assustador, embora a voz continuasse calma e agradável. Mas, de uma hora para outra, ela estava vociferando, dizendo coisas que me perseguiriam pelo resto da vida.

- Você é amaldiçoado, Meranael! Você tem a maldição do matador de monstros e do contador de histórias, e você seguirá os passos dos grandes heróis, mas não os que você imagina, e sim os que eles realmente deram. Você enfrentará desafios, e conhecerá mais pessoas e lugares do que você espera conhecer, mas você terá sede pela verdade, e ela sempre escapará por entre seus dedos. Você contará muitas histórias, mas nenhuma história verdadeira jamais estará completa, e muitas vezes as histórias verdadeiras não farão sentido como você espera. Mas, enquando sua alma humana permanecer neste mundo, você não se desviará do seu caminho."

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Puta merda.

Eu não sei porque, eu só me sinto ofendida. Não sei bem o quê. A presença de você me ofende. A palavra, o gesto, a existência. De tudo, se pá. Era pra ser mais bonito, o sonho ainda é bonito, meus olhos na realidade vêem tudo desagradável. Mesmo o que é lindo, tudo parece que me exclui. Eu tenho o que nunca mais tivera: raiva. E eu não quero ter raiva.

Eu quero ser controlada e calma e saber o que fazer na hora certa. Eu quero andar com você. Eu quero ser respeitada, eu quero me respeitar. Eu quero merecer, mas talvez no fundo eu não me ache merecedora. É muito difícil.

Eu lembro do dia em que você me empurrou para frente e me deu a oportunidade de ser o líder do bando. Eu queria agradecer a você. Eu não sabia o que fazer naquela hora, mas agora eu quero saber. Eu não quero ser aquela pessoa que não consegue tomar decisões por conta própria, eu não quero ser apenas uma observadora. Agora eu quero ser.

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Manhã em Raéa

Na cidade de Raéa tudo era tão bonito! As praças estavam cobertas de lírios e as torres dos palácios se erguiam claras e majestosas em direção ao céu azul e límpido lá em cima. Em Raéa nunca chovia, nunca ficava nublado, talvez porque a cidade estava acima da maioria das nuvens, no topo dos picos fantásticos que o povo comum chamava de Heaven. É claro que o nome original do lugar era Haven, mas quem discordaria do nome que o povo dava, quer dizer, haveria um lugar mais próximo de se chamar de Céu? Os enormes pássaros de Raéa se agitavam e cantavam para despertar a cidade. Os habitantes de Raéa, como qualquer povo de boa fé, veneravam a Quemi, o Pássaro das Cores, e a Quehy, a Fênix de Luz. Exemplares jovens das duas espécies saltitavam aqui e ali, colorindo e iluminando o ar em que dançavam; mas o pássaro mais presente da cidade era o que eles chamavam de Alma dos Ventos, uma ave imponente que parecia nunca parar de crescer e que viajava distância inacreditável para fazer seus ninhos nas torres dos palácios. E, como era bem cedo, os parapeitos das janelas estavam apinhados de Almas das Manhãs, os menores pássaros de Raéa (ainda um pouco maiores que um sabiá de peito laranja), que tinham penas macias como as plumas de um bebê e que se reuniam ao nascer do sol para se aquecer, conversar com seus irmãos em trinados baixos e graves e entoar adoráveis cantigas de acordar. Não havia melhor forma de acordar que o amanhecer de Raéa! O sol entrava por todas as janelas e fazia brilhar as torres imaculadamente brancas. As casas baixas, feitas de blocos mais rudes das pedras claras das montanhas, estavam cobertas de flores delicadas que se abriam ao toque do sol. Cada porta, esculpida na mais nobre madeira jovem que crescia timidamente abaixo das nuvens, se abria, e cada janela, apenas para deixar o vento entrar. Logo todos estariam despertos, e a cidade estaria cantando com o prazer de um novo dia. Era por essas manhãs que Lyserh vivia. Ele adorava saltar para a rua e sentir o ar correndo por sua pele enquanto abrandava a queda. O azul do céu e o branco brilhante das casas e das flores o preenchia , como o calor do sol. Ele cumprimentava os pássaros ao caminhar pela praça. Era sua vez de ser feliz. Era tudo o que tinha na vida.
Neste dia, Ly também estava feliz porque ia conseguir uma coisa a mais, uma coisa a mais a que se agarrar nos momentos em que a luz parecia distante. Ele não tinha a menor dúvida de que a partir de então ele seria feliz! Ali, em Raéa, onde cada dia era perfeito, ali ele ia encontrar seu lugar do lado direito de Deus. Era impossível parar de sorrir. Ali ele ia encontrar aquilo que daria sentido à sua vida.
Ele atravessou mais algumas praças cobertas de lírios, e algumas ruas estreitas e floridas, saltitando de pedra em pedra e cantarolando para acompanhar as Almas. Antigamente ele costumava pensar com freqüência em como seria, depois da morte, é claro, ser um pássaro e passar seus dias planando e chilreando por aí; mas hoje esse pensamento sequer lhe ocorreu -- a vida parecia tão bela assim do jeito que estava! Era difícil pensar em coisas tristes ou mesmo coisas imperfeitas neste dia alegre.
Uma sombra passou por sua cabeça; a sombra do pórtico que separava seu bairro, cheio de jardins, do centro de Raéa, onde as construções altas de pedra antiga e acinzentada deixavam todo o espaço fresco e sombreado. A rua em frente era longa, estreita e cheias de portas dos dois lados, numa parede de sobrados interrompida a cada dezena de metros por vielas laterais. Mais adiante, a rua se inclinava em direção ao cume da cidade, e os topos das construções da região mais alta apareciam por trás dos telhados dos sobrados.
Lysere pôr os pés no chão e correu pelos próximos quarteirões, ansioso agora que podia enxergar a ponta do prédio ao qual se dirigia. As ruas estreitas e sinuosas do centro estavam apenas acordando, e o menino, que conhecia Raéa com a planta dos pés, corria através das primeiras barracas montadas nos mercados, e cortava caminho por dentro das galerias que acabaram de abrir, e se enfiava em ruelas esmagadas entre casarões para atravessar pracinhas nos fundos dos quarteirões. Em Raéa, conforme se chegava mais perto do cume, mais as construções tinham ornamentos e torres e balaustradas, e mais eram feitas de pedras coloridas e inclusive mais escuras, e aqui algumas delas tinham também gárgulas pretas sobre os balaústres, beirais e cumeeiras, com formato de dragão mostrando os dentes, e mais para cima ainda haveria gárgulas de pedra clara, com formato de grifo ou de águia, e nos pés e nas costas das gárgulas as Almas das Manhãs faziam seus ninhos, equilibrados.
Mas a rua que Lysere procurava era uma curta e um pouco mais larga, escondida no meio das ruas amontoadas do centro, ainda na região onde as gárgulas eram pretas e as construções eram de pedra cinza mais escura que em todo o resto da cidade. Para chegar nessa rua era preciso passar por galerias e vielas e caminhos que nem todos conheciam, e ela estava fora de todas as rotas da vias grandes, e por isso era muito vazia e tranqüila, e a essa hora da manhã parecia deserta. Essa era a rua dos mestres do conhecimento, que viviam reclusos com seus discípulos em suas torres estreitas. Cada torre era cercada por um muro baixo, com portões vazados e ornamentados que davam para a rua, e muitas delas tinham jardins ou sacadas, onde às vezes era possível ver um aprendiz dormitando, lendo ou apreciando a manhã. Algumas das torres eram apenas prédinhos quadrados de três ou quatro andares, outras eram circulares e iam afinando nos andares mais altos; algumas delas tinham portões grandes no andar térreo, outras tinham portas pequenas de madeira, e algumas ainda tinham apenas uma escada exterior que levava a uma porta-balcão no meio do segundo-andar. Muitas delas tinham os andares superiores feitos de pedra branca, como as casas das periferias da cidade. A Rua dos Mestres era uma das mais antigas da cidade, e quando Liserh corria por ela ele sentia o cheiro das madeiras e pedras escuras e das trepadeiras que cobriam todos os muros e quase fechavam as grandes janelas, e sentia o olhar das gárgulas monstruosas vigiando-o em seu caminho, o mêdo que toda criança tinha daquela parte da cidade se somando ao nervosismo pelo que ia acontecer com ele hoje. Quando chegou ao seu destino, Liserh parou para recuperar o fôlego e a calma, querendo parecer controlado e respeitável ao entrar.
Era apenas por um acaso histórico que a pena de Raéa do Braço do Grande Anjo, a força militar de elite que servia à defesa de Heaven, tinha sua sede na Rua dos Pensamentes. O prédio da sede se destacava de longe porque suas paredes eram impecavelmente brancas, livres de trepadeiras, ao invés de ter gárgulas negras e assustadoras espalhadas pelos beirais, tinha um único Grifo branco e dourado alçando vôo de cima da grande janela do terceiro andar, sobre um telhado ornamentado apenas com telhas em forma de penas. O terreno era maior do que os outros da rua, e o portão era mais alto, e o próprio prédio era mais largo, e embora não fosse um dos mais altos, ele se destacava por seu uma construção inteiriça, diferente das outras torres que tinham pedaços construídos em época diferentes. Desde a primeira vez em que vira aquele prédio, Liserh sentira que ele era especial, e quando aprendera na escola que aquela era a sede do Braço do Grande Anjo, se tornara seu sonho um dia ser chamado para entrar naquele lugar.

(estou publicando provisóriamente, deixem comentários)

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Explanação

Yeah, ok, eu vou explicar what was that all about.
Hoje tivemos uma reunião pra discutir o que vamos fazer com a nova casa, o que comprar, quanto vamos gastar, yatta yatta yatta. E eu meio que fui convencida de que meus gastos regulares vão subir consideravelmente, e eu ainda não estou convencida de que vou conseguir ganhar o dinheiro necessário, e isso me assusta. É claro que tem outras coisas envolvidas, mêdo de mudar de vida, mêdo de sair de casa, a dor de abandonar coisas familiares, a insegurança perante o futuro, etc etc. Mas a questão objetiva que mais me apavora é que eu simplesmente não sei se eu consigo grana suficiente.

Quer dizer, eu planejo conseguir bolsas de IC e monitoria, eu planejo conseguir dar aulas particulares, mas tudo isso é tão inseguro, é tanta coisa que eu nunca consegui antes e que eu não sei se eu estou simplesmente sonhando alto demais de novo... Meu mêdo é de ser obrigada a arranjar emprego, o que me obrigaria a deixar a faculdade meio em segundo plano. No fundo, meus irmãos estão empregados, meu namorado está formado, e eu me sinto a caçula, dando passos maiores do que o razoável para acompanhar o andar de gente mais velha, mais estabelecida, mais confiante. Eu estou apavorada, e eu não sei como encarar esse mêdo. Eu não sinto que exista nenhuma boa opção, eu não me sinto capaz de fazer o que é preciso, eu não acho que nada vai dar certo só porque tem que dar, de alguma forma. Eu não acho que as coisas vão se acertar.

Eu estou apavorada, e eu sei que a solução seria eu ser forte e eficiente e mostrar serviço e conquistar as coisas certas, mas eu estou tão assustada e confusa que só está mais difícil do que nunca fazer a coisa certa. E eu nunca fui boa nisso de qualquer forma. Eu sempre fui ligeiramente incompetente. E eu sinto que de repente eu não vou ter mais espaço pra isso, e que eu não vou mais conseguir acompanhar. Que eu vou simplesmente parar de conseguir bancar as coisas. Que pra mim vai ser consideravelmente mais difícil que pros outros, e que talvez eu acabe desistindo. Você não é tudo o que eu preciso, e eu não sei se eu tenho o que eu preciso pra sobreviver.

Eu estou apavorada, e eu não sei ainda se esse pavor é fundamentado.

terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Fear

Take me with you when you face the world
When the world begin to fall apart
Take me with you to the darkness's heart
Take me to the end of all I know

When the voice of hope become a whisper
When the horror overtake the land
Take me with you, guide me by the hand
Through the path of firestorm and blister

Take me through the tempest and the cold
Take me with you when you leave your shelter
When the wings of dream lose all their feathers
Lead me through the nightmares that unfold

Take me with when you face our doom
Through the thunders of the unforeseen
Leave me there, where all the fears begin
Make me watch the reckless future bloom