terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Fear

Take me with you when you face the world
When the world begin to fall apart
Take me with you to the darkness's heart
Take me to the end of all I know

When the voice of hope become a whisper
When the horror overtake the land
Take me with you, guide me by the hand
Through the path of firestorm and blister

Take me through the tempest and the cold
Take me with you when you leave your shelter
When the wings of dream lose all their feathers
Lead me through the nightmares that unfold

Take me with when you face our doom
Through the thunders of the unforeseen
Leave me there, where all the fears begin
Make me watch the reckless future bloom

Essa coisa de ter amigos

Tenho lido o blog da Hita, porque parece que ele está sendo muito intenso ultimamente. Acho impressionante como seu blog é diferente de todos os outros, garota. Você fala com todas as palavras, você briga, expõe, não tem mêdo de mostrar a realidade como ela é. Algo que eu nunca poderia fazer. E eu já sou muito mais expositora que algumas pessoas, como a Cacau, ou o Brunok. Eu relevo sentimento, mas você dá nome aos bois. E você fala diretamente com seus leitores, enquanto eu me recuso a direcionar, eu deixo as pessoas se perguntando.

Quando eu voltei do curso de verão, a primeira coisa que vi foi seu blog. Estava rolando uma comoção, a Hita reclamando que seus amigos não tinham entendido que ela precisava de ajuda, os amigos se sentindo injustiçados porque eles não conseguiam ver como entender. Isso sempre acontece, né, nossos amigos nunca são exatamente tão bons quanto a gente quer. Eles nunca nos conhecem de verdade, tão profundamente quanto a gente gostaria. E eles nos decepcionam quando a gente mais precisa de ajuda, porque quando a gente mais precisa de ajuda é justamente quando a gente menos consegue pedir ajuda.

Provérbio chinês: "Ofereça ajuda quando seu amigos menos merece, porque é nessa hora que ele mais precisa". Amizade é uma coisa complicada. A gente é ruim em pedir ajuda.

Pra falar a verdade, eu acho que com meu Gato, consegui chegar muito perto de ter alguém que me entende, alguém que está comigo o tempo todo e que me enxerga. Mas mesmo ele não percebe quando eu estou realmente mal. Tem dias em que eu simplesmente falo que eu tô mal. Outras vezes eu não consigo. Eu me esforço muito, e hoje em dia eu até consigo pedir colo na maior parte das vezes em que é necessário, mas às vezes só o colo de certa pessoa vai resolver, e quem é essa pessoa varia muito, não é necessariamente uma das pessoas mais próximas de mim. Eu me esforcei muito e consegui conquistar uma vaga compreensão de como pedir colo quando é necessário, mas nem sempre funciona. E meus amigos não têm a menor chance de descobrir isso por mim. Eles não são capazes de enxergar através da minha carapaça, e acho que nunca vão ser. Alguns até conseguem perceber quando precisam ficar quietos. O foda é que freqüentemente os que percebem melhor também são os menos capazes de ajudar. Não sei bem por quê.

Acho que foi importante pra mim ter tido um namorado totalmente tapado, que nem percebeu quando eu estava infeliz e deprimida. Quando eu me dei conta disso, eu comecei a me esforçar pra falar mais o que eu sinto, e pra não guardar tanto pra mim as coisas que eu acho que podem machucar. Pra falar a verdade, provavelmente também foi importante ter estado deprimida e precisando de ajuda o tempo todo. Acho que foi importante também ter namorado um cara mais racional e direto, com quem eu me sentia à vontade mas que tinha dificuldade de entender o que eu sentia a menos que eu falasse claramente. Eu me forcei a aprender a falar as coisas em língüa de humano para que ele pudesse me ajudar, e com o tempo isso realmente funcionou. Mas no final eu prefiro o cara com quem eu me sinto à vontade pra me comunicar por ganidos, porque it doesn't come naturally. Falar ainda é um pouco difícil pra mim. Quando eu tô realmente mal, eu não consigo me expressar verbalmente.

E a gente quer muito, sempre, que os nossos amigos nos entendam. Que alguém nos entenda, porra, não pode ser tão difícil. Não é possível que eu seja um monstro, não é possível que eu seja incompreensível. Mas perguntava a Clarice, "sou um monstro, ou isto é ser uma pessoa?". Eu cheguei à conclusão de que eu sou um monstro. Tão poucas pessoas são realmente parecidas comigo. Com o tempo eu meio que me conformei e parei de esperar que qualquer um me entendesse. Eu decidi que eu não me importava, que foda-se, eu vou ser isto que eu quero ser, e você sejam o que vocês quiserem, e eu não vou nem tentar ser parecida com um ser humano. Eu vou ter pernas peludas e usar saia, eu vou uivar no meio da tarde, eu vou subir em árvores de vestido, eu vou ser bissexual, eu vou estudar matemática e biologia e computação depois de ter feito design, eu vou gostar de cerveja e de balada e de karaokê e de jogos de mesa e de correr no parque e andar de bicicleta, eu vou rosnar e gritar e rugir e morder e deixar roxos e passar halls e ganir e conversar por miados e ouvir folk e rolar na terra e me molhar inteira na água de chuva de sampa e gostar de cheiro de bosta de cavalo e de corpo de gente e de pêlo de gato e me atrair por gente velha ou feia ou andrógina e não sentir vergonha de ser uma combinação estranha. Talvez você tenha nojinho de mim, mas não é realmente justo. Eu não sou suja. Eu não sou sem noção. Eu só avalio os prós e os contras, e tomo decisões, como todo mundo. Os meus prós só são um pouco diferentes dos seus. E eu confio bastante no poder purificador de um banho no final do dia.

Ninguém é parecido de verdade comigo, então eu me apego às pequenas coisas. Você rosna, e eu te amo por isso. Você curte matemática, então vamos bater muito papo. Você tem questões parecidas com as minhas, então vamos tentar nos ajudar. Eu passei muito tempo procurando por alguém como eu, mas eu não acredito mais nisso. I'll take what I can get, e ficar contente. E se ninguém é parecido comigo, como eu posso esperar que alguém entenda?



Acho que eu divergi um pouco do meu assunto inicial, que era a discussão no blog da Hita. As pessoas se sentiram muito ofendidas com a idéia de que elas tentaram ajudar, mas não conseguiram, e ainda levaram bronca por isso. Eu não saquei muito porque ficar ofendido. Sim, é chato quando você tenta ajudar e leva patada, mas péraí, as pessoas quando estão mal sempre têm esse direito fundamental de ficarem decepcionadas com a inabilidade dos amigos de ajudar. Quero dizer, quem nunca? Talvez seja meu hábito achar sempre que eu poderia ter feito melhor, que se eu fosse melhor, tudo teria sido melhor. Eu sou meio egocêntrica nesse sentido. Eu acredito de verdade que eu poderia ser mais perceptiva e mais capaz de ajudar. Eu fico muito triste com não conseguir atravessar a carapaça de alguém. E também, eu não acredito muito nessa história de dar bronca de volta. Péra, deixa eu recomeçar este raciocínio:

A Hita tem esse blog no qual ela escreve o que ela pensa, sem meias-palavras. Ela escreve o que ela sente, na lata, por inteiro. De vez em quando, como todo mundo, ela desabafa. De vez em quando, como todo mundo, ela está puta com seus amigos porque eles não foram bons o suficiente (pelo menos me parece que todo mundo deve ser assim). Ok, vamos conceder, nenhum amigo é perfeito, e você poderia ter dito na cara deles que eles estavam falhando. Ou na nossa cara, enfim. Mas a pessoas frequentemente são ruins em falar as coisas na hora certa, aí elas guardam pra elas e depois desabafam. É assim que é. Eu não entendi muito bem por que, nesse contexto, alguém se ofenderia. Mas, pensando bem, acho que possivelmente você mesma, Hita, se ofenderia se falassem isso pra você. Mas ninguém é realmente um amigo tão bom quanto seria ideal. Eu pelo menos nunca tive um amigo que conseguisse me ajudar de verdade nos piores momentos. Que percebesse quando eu preciso de ajuda de verdade. É nessas horas que a gente fica mais recluso e difícil de entender. E eu sei que não sou capaz de entender as outras pessoas nessas horas, e isso me dói. Mas eu também tenho raiva dos meus amigos porque eles não são bons o suficiente; talvez por isso eu não consiga me ofender. Mas depois passa, eu não posso ficar muito tempo com raiva de alguém só porque essa pessoa não me entendeu quando eu fui enigmática. Só aquela desilusão fica, aquela decepção de perceber que as piores coisas a gente acaba enfrentando sozinho.

Aquela decepção de perceber que as piores coisas a gente acaba enfrentando sozinho, sim. A gente se sente muito solitário.

Sabe o quê, eu ainda espero ter amigos nos momentos difíceis. Eu vou até eles e falo "tô carente, me dá um abraço". Ou eu só pulo na piscina e choro sozinha. Mais freqüentemente, eu peço mais algumas cervejas e tento me distrair. Ou eu saio correndo e deixo todo mundo preocupado. Eu acho meio chato que eles não saibam como me ajudar, e às vezes, se alguém fala a coisa errada, eu nunca mais volto a confiar. Mas eu ainda espero, um pouquinho. Alguém que beba comigo, que cante comigo, que corra comigo. De vez em quando. Cada pessoa tem uma habilidade especial. Que jogue video-game. É tão difícil, e não tem ninguém que seja bom o tempo todo. Tem algumas pessoas que parecem que são ruins em tudo, e entretanto são ótimos amigos pros momentos felizes. No fundo eu uso as pessoas, a habilidade de cada uma, quando eu consigo identificar o que eu preciso. Mas é uma habilidade que eu demorei pra adquirir. Apenas dois anos atrás eu ficava chorando e pedindo ajuda pras pessoas erradas, e me decepcionando com a inabilidade delas.

Acho que saber passar pelos momentos defíceis é muito, muito mais fácil quando a sua vida é feliz. Quando você está desanimado e desesperado com a vida, você acaba sendo incompetente em sair da fossa também. Ou talvez seja uma questão de amadurecimento. Mas é preciso ter muito desprendimento, e muita desconfiança. Pra mim essa foi uma habilidade nascida da desilusão. Bom, disso, e do amor também, de ter mais amigos do que eu consigo aproveitar, de ter pessoas muito diferentes em quem eu consigo confiar, de estar apaixonada por algumas delas. Mas principalmente saber as falhas das pessoas. Às vezes os defeitos são o que fazem um amigo melhor nas horas ruins. Principalmente os defeitos te fazem saber o que contar e o que não contar para uma pessoa, e quando contar com ela, e quando não. No fundo as pessoas não sabem o que você precisa, elas só sabem o que elas conhecem, e às vezes elas não precisam entender o que você precisa pra te ajudar. Na verdade, acho que elas não tem como saber. Por isso acho que a pior parte a gente faz sozinho, que é a parte de descobrir o que vai nos fazer melhor. Se ao menos a gente soubesse, seria fácil pedir ajuda. Mas a gente não sabe, e ninguém sabe. Por isso eu acabo pedindo mais umas cervejas, tentando perder a timidez e agir por instindo. Por isso eu rolo na terra molhada e me molho na chuva. Nenhum de vocês entende o que está acontecendo, mas talvez se eu fizer o que meus instintos mandam, eu consiga expressar, ou me ajudar. Talvez.

Existe uma coisa que acontece quando a vida vai engrenando, que é que as coisas vão ficando mais fáceis de aguentar. Você consegue achar motivação pra seguir em frente, mesmo quando tudo parece ruim e escuro. Você tem um senso de identidade, abstrato mas presente, em senso de objetivo ao qual recorrer. Às vezes parece que tudo vai colapsar, mas aí você descobre um livro novo, ou um teorema novo, ou uma pessoa nova, ou uma bebida nova, ou seu professor vem te perguntar se você quer trabalhar com ele, ou você se apaixona, ou um jogo novo, ou um curso de verão, ou alguma coisa. Você cria uma rede de segurança, que cria novas linhas pra te segurar. Aos poucos você começa a confiar que sempre vai ter alguma coisa nova, que você nunca vai cair. Aí, mesmo quando você está caindo, você consegue manter a calma. Você já passou por isso antes, e sempre conseguiu voltar.

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

A Lot of Thoughts

These last two weeks I've been somewhere else. Living with different people, speaking a different language. Laughing at different jokes. There's much on my mind, from the last two years. It seems that everything has changed. I want to sing this song right now, before this dream is forgotten. I want to whisper this on your year. I just wished somehow I could be more sincere. There's much to tell, and I want you to know.

The Rabbit-Skin


But you're so young
And your skin is so smooth
And when I'm near enough
you smell so good
And you're so young
And you're so proud
And you look at me
as if

But you're so young
And you smell so good
But your skin's so smooth
As that of children
And you make us laugh
And you want to speak
Want to be at ease
But you're just too young
To be it

But you're so bright
And you're such a kid
And you're so mature
And you're such a nice company
But you're so young
If you look at me
Makes me feel as if
I was a woman

The Buckskin, Dyed Red


So when I met you I had no expectations of you, and then with time, as I saw you looking up to me, I started to think of you as someone who would battle in my name. And then you disappointed me. Now I have no expectations again.

Of course I expect you to have some minimal virtue, but now I don't expect you to express it in any particular way. And I don't expect you to be one of the best. Slightly above average will do.

You must know how much you hurt yourself, and how much damage you've caused to someone else. But I don't think you realize how much you've hurt me. I feel like a mother whose children are never what she dreamed for them. Is that what this is about? Were my expectations as overwhelming as a mother's?

Well, much like a mother, I will probably never lose hope. I should watch you carefully, and wait, not daring to trust you, not believing your words when they are of pride and glory, but waiting, expecting, untill the moment (and I'm certain it will come) when you finally show undenyable worth.

But what I do is, I treat you as a friend. I pretend to accept you for who you are, and, to be honest, I try. I try to look at you with new, unaccustomed eyes, I try to see whatever else you are that is in itself worthy and not what I took you for when you actually fooled me. I try to see you with the eyes of the rest of the clan, the ones who were not being fooled (I hope). You are, after all, family. Everyone has accepted you.

But it is not easy. Ever since that time, I feel like I don't really know you. And just as a mother must let her children grow and become something different from what she expected, I must let you be yourself, and I must stop hoping and start accepting that you won't follow my lead. But, like my mother, I have no idea of how to let you be your own adult. I have no idea of how to let you follow your own rules, when, to me, they would be obviously wrong. I have no idea of how to stop judging your every step.

The Furs of The Wolf and The Winter-Fox


I saw her across the room and instantly recognized her as the handsomest woman there was. Not the most beautiful, no, because there were those who were out of our leagues, so confident, so competent, so beatiful, and there were girls who actually looked like beautiful girls, and her, she looked like a boy. She looked so much like him, and I had wanted him so bad for so long that it scared me, how I wanted that girl across the room, how I decided that no other was as pretty as her, I wondered if it was just a projection.

The next day, she wore female clothes, a tight shirt and a black skirt, and she just wasn't as pretty anymore. But the days passed and I stared at her, unable to avoid staring, unable to understand how she could look like that. Slowly the wish to approach her and tell her how hot she was returned, and she was wearing pants again, these tomboy-ish pants that said a lot more about her body than a boring skirt.

There's something amazingly attractive about a handsome woman, or a beautiful man. I realize that sometimes I'm the only one who sees it. And sometimes it happens that a woman is at once beautiful and handsome, and I noticed that even though many men want her, only a few seem to want her as bad as I do.

Or maybe I should just say: shut up, I like your hands.

domingo, 15 de janeiro de 2012

Índice

Eu sempre quero contar pras pessoas quais labels (cadernos) elas devem escolher pra começar a ler. Eu tenho essa vontade de criar um índice, para que as pessoas possam ler as partes certas d que eu escrevo. Acabei me inspirando pela Lu, que não queria ler o blog inteiro, e acabou lendo só os zaforitos. Não é assim, também. Alguns dos cadernos foram criado para serem lidos como um filtro para pessoas específicas que iam se encher o saco com este ou aquele tipo de texto. Então vou fazer um pequeno índice dos que existem hoje:

Zaforitos - Era para ser "os 10% melhores", mas eu sempre acabo enchendo demais. Estes são os melhores textos, os que são mais bonitos e mais cheios de significados. Como ninguém se pronuncia muito, a seleção acaba sendo quase só minha.

Preciosos - Tem uns poucos textos que eu tenho vontade de guardar separado.

La Cantadora, verso e poética - Eu decidi dividir a parte mais ficcional e artística da minha escrita em três classificações que se referem principalmente à forma: prosa, verso e prosa poética. La Cantadora são todas as narrativas, todas as cantações de histórias. A maior parte das histórias está em formato de prosa, que não recebe um label especial. Verso são todos os poemas (na minha classificação um pouco indecisa) e Poética são todas aquelas prosas extremamente líricas e sensoriais e preocupadíssimas com a forma que vocês gostam tanto. Não sei porque, mas todos os posts que mais recebem elogios estão em poética. Deve ser a minha especialidade.
Estes cadernos são a parte importante do blog, pra mim. A parte que me separa de uma garotinha que só quer expôr todos os seus sentimentos. Eu quero construir algo a mais com eles! Eu faço questão absoluta de que todos os meus leitores tenham lido pelo menos um pouco de pelo menos um deles.

Coisas que eu penso - eu criei este label para o Diogo, porque achei que ele não ia se interessar muito pelos poemas e contos. Aqui há discussões políticas, filosóficas, sociolágicas interessantes. Alguns textos são quase dissertações. Acho um dos melhores cadernos, e um dos que mais revela sobre a minha visão de mundo. Eu gostaria de levar os leitores a pensar um pouco.

O que tenho feito - se você estiver interessado nos fatos da minha vida real. Como eu não escrevo muito sobre os fatos objetivos, é um pouco misturado com outros assuntos.

Aprendi Hoje - coisas curiosas que aprendi, pequenos pedaços de informação que achei interessante e tive vontade de compartilhar com vocês.

Dois - neste caderno ficam referência de coisas que eu vejo e leio e ouço, recomendações culturais e coisas assim. Se eu vejo uma coisa e gosto e quero que vocês vejam, ponho aqui.

Toca da Lôba - Criei este caderno quando resolvi mudar o nome do blog pela primeira vez na história do blog. Pra falar a verdade, o nome oficial deste blog ainda é Toca da Lôba, embora eu mude o título e o endereço não seja mais a ver com o título. Todos os posts daquela época ou que por algum motivo ainda pertencem àquela época estão marcados assim. Na verdade, este marcador não tem muita utilidade.

unlabeled - são coisas que eu tive preguiça de classificar. Algumas são só de antes de eu começar a classificar, mas entre as mais recentes existe uma correlação com posts deprimidos ou desesperados.

Fomos expulsos do Éden - É uma coletânea de textos que expressam a dor de estarmos separados da Natureza. Ultimamente não tenho escrito muito sobre isso, mas ainda é um dos temas importantes na minha vida. Mas acho que ultimamente tenho conseguido maior aceitação na minha paixão.

Acho que as outras labels não precisam realmente de um explicação.

sábado, 14 de janeiro de 2012

Duas Mulheres

Todas as coisas fenecem.




Todos os seus olhos me acompanham. Há uma luz entre nós, uma discordância. Minhas mãos acariciam a sua, levemente; talvez eu ainda tenha um pouco de mêdo. Uma vontade muito grande de te abraçar, sem saber como te fazer se sentir amada.

Elogios. Eu sou a mulher das sombras, com sombras vermelhas cobrindo meu corpo. Os olhos dos homens me seguem quando eu passo. Eles sorriem, eles comentam e elogiam. Eles não entendem que não sou eu que passa, é a Mulher das Cores que passa. A mulher das sombras. É outras, é a Máscara que eu vesti ontem, a fantasia que escolhi. Eu não sou Lady, tanto quanto o Ítalo não é um travesti. Eles não entendem que eu nunca me vestiria daquela forma. Mas Lady sim.

Eu sou a mulher das cores, com cores vermelhas cobrindo meu corpo. Meu corpo feminino ressalta a feminilidade do personagem, e eu sou uma flor, por uma noite. Os olhos dos homens me seguem quando eu passo, mas eu conheço os olhares dos homens, e o olhar de hoje é apenas um olhar de apreciação. Eles sabem que não sou eu que passo, é a Dama que passa, a Mulher das Cores. Não é esse olhar dos homens que eu procuro, é o seu olhar que eu quero. Você atrai os meus olhos, mesmo quando você esconde os seus olhos, em dias como este em que você é um gato, mais que uma garota. Você não precisa ser sempre uma garota; você se dá ao luxo de às vezes ter uma beleza masculina, e outras vezes ser extremamente feminina. Esses mesmos homens que me olham quando eu passo, eles não conseguem te entender. Sua insegurança não é a mesma que a timidez das outras mulheres. Você nunca olha pro chão.




Eu me pergunto se você vai entender. Às vezes eu te vejo e não consigo tirar os olhos das tuas pernas, e isso me perturba, às vezes me perturba tanto quanto quando eu percebi as mudanças no corpo da minha irmã depois que ela começou a fazer academia - irmãs não deveriam ficar gostosas! E quando eu te conheci eu construí uma imagem sobre você, uma imagem nascida do embaraço de te encontrar na tarde seguinte, e do seu sorriso e da sua diversão. Mas você não é tanto um filhote como aquela mulher que nasce dos ossos do lôbo que a Mulher dos Ossos recolhe e sobre os quais ela canta. Ela canta a sua canção e você nasce, você mulher, você bruxa. Você Donii que vira fera e vira pássaro para trazer a bênção da Grande Mãe. Você nasce dos ossos e da canção e corre pelo deserto nua, as lôbas e as aves te seguem, você corre e grita jovem com longos cabelos ao vento; seu Daemon é uma criatura que dorme com você abraçado forte mas que voa longe sem precisar estar sempre do seu lado. Você engana, você esconde, você é mágica. Se me perguntassem, eu me recusaria a falar sobre você. Você é em silêncio.




Eu queria conseguir entender, e aceitar, mas meus olhos não me obedecem, e eu sinto um tipo novo de mêdo, e tudo parece tão novo e assustador e empolgante. Parece que uma nova parte da vida está começando, e eu ainda não conheço as palavras certas que eu devo usar. Você é parte de mim, e você é diferente de mim. O mundo se transforma diante dos meus olhos. Eu quero pedir a todos que não tentem entender, por ora, o que eu escrevo. Não cheguem a conclusões. Olhem nos meus olhos, e bebam do meu deleite. Eu me sinto prestes a explodir. E de uma forma nova, eu amo.

Eu amo muito! Parece que a cada dia eu amo mais, e melhor. Eu sinto dor, eu sinto saudades, eu sinto apreensão pelo futuro desconhecido. Entretanto não há saída, e haverá luta. Eu amo e a cada dia eu amo mais e com menos receio, mas há muitas barreiras a atravessar. Eu corro pelas colinas, pulando cercas e pedras, eu corro pelo pântano, eu sou um cavalo alado branco, eu sou você. A Mulher dos Ossos canta e eu sou, mas eu sou o Lôbo que levanta, eu corro nas quatro patas pela floresta, meu mundo é verde e feroz, e quando a luz me atinge eu viro luz, e uma mulher corre, e esta é você. Eu sou a Mulher dos Ossos. Talvez todas sejamos. Os tempos se misturam e nada mais é conhecido, nada mais é previsível. Eu exploro.




A luz me mostra uma onda no seu cabelo e eu me pego de novo olhando pra você, indecisa, querendo sentir o seu cheiro, explorar o seu corpo (seja a minha aventura). Algumas vezes eu sonhei com você. Eu não posso exigir nada, eu não posso esperar nada, mas eu tenho vontade de te tomar nos braços, e às vezes eu tomo e a vontade passa, e às vezes ela volta mais forte, e às vezes ninguém enxerga, e eu não consigo entender. Eu quero descobrir, eu quero entender o que está acontecendo com o meu mundo, e eu não sei ainda, mas você parece importante. Você está no vento, nos animais e na terra, ou você está ao meu lado, procurando e perguntando também? Eu não posso exigir nada, eu não devo esperar nada, mas eu posso propor, eu posso oferecer.

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Halls

Porque você é minha irmã, mesmo que ainda não saiba. E diz-se que não. Não.

Eu vejo essas ondas negras caindo nos seus ombros, e me pergunto. Às vezes a gente se sente meio errado. Como, por exemplo, quando você se pergunta se deveria parar de tomar banho com meninas também. E você evita olhar para elas, e você se pergunta, porque você está na dúvida. E você trata tudo como se fosse natural, homens, mulheres, amigos, tudo é tão normal. Mas você ainda se pergunta.

E você rosnou na minha frente e por dentro eu ri de satisfação, e eu tinha acabado de te conhecer. Foi tão natural e você parecia tanto um filhote mordendo a orelha dos animais mais velhos. E eu entrei naquele bando sem saber que você estava nele, e você me mostrou boa parte do que aquelas pessoas são de verdade. Mordendo a orelha do seu irmão mais velho, como se vocês nunca precisassem deixar de ser crianças juntos. Você é minha irmã, embora eu nunca tenha te dito. Porque você é, e isso é inevitável. Tinha que acontecer. E você combina tão bem comigo. Às vezes eu me esqueço de fazer o que eu fui aí fazer porque você está lá e a conversa flui tanto. E você acredita nas mesmas coisas que eu, e tem a mesma vontade de proteger certas coisas, coisas que são importantes. Você é importante.

Feminino

Eu quero galopar pelo meio da Avenida Paulista. Montando uma égua negra, adolescente, no cio. Vestida como um caubói, de pé sobre os estribos, gritando e brandindo minha carabina vermelha.

Eu quero escalar a montanha escura e salvar uma princesa. Vou seduzir o dragão a conquistar o mundo comigo, e nós duas voaremos nas costas dele, eu de meia-armadura negra, com grandes espinhos. Encontrarei a princesa de vestido longo cor-de-rosa e uma tiara com jóias delicadas, mas para o nosso urro bestial de cima da montanha é preciso que nós três estejamos nuas. Minha princesa revelará tatuagens coloridas de roseiras em suas pernas.

Eu quero liderar o bando de leoas, garantindo a carne para o bando, tendo certeza de que dentes fortes se fechem sobre a garganta da presa. Eu urrarei para manter os machos e os rinocerontes longe dos meus filhotes. Eu ofereço um grande pedaço de caça ao leão grande e forte que ganhou todas as batalhas para merecer ser aceito no nosso bando.

Eu quero dançar no baile usando vestido de cauda. Meu par se vestirá elegantemente, e quando eu rodar nos seus braços minha saia se enrolará nas pernas dele. Nós usaremos márcaras de animais, e meu vestido terá asas de demônio, e todos perguntarão quem nós fomos, quando bater meia noite e nós desaparecermos.

Eu quero me pendurar no cordame e cantando uma canção alegre, gritando para abrirem as velas, quando a tempestade passar. Eu correrei pelo convés e mergulharei no oceano, e minha forma de sereia terá longas escamas azuis e saberá falar com a serpente do mar. Minha tripulação aguardará minha volta, mas mantendo o rumo, que será sempre a próxima ilha desconhecida. Enquanto isso eu explorarei os mistérios do mar e conhecerei uma porção de sereias magníficas que preferem viver longe da superfície. Mas eu voltarei para o veleiro para determinar o próximo rumo, e para negociar com os outros capitães, e para liderar batalhas, e para ouvir as histórias dos marinheiros e adormecer no meio dos meus homens, em forma humana, segura de quem eu sou e da minha posição.