sábado, 14 de janeiro de 2012

Duas Mulheres

Todas as coisas fenecem.




Todos os seus olhos me acompanham. Há uma luz entre nós, uma discordância. Minhas mãos acariciam a sua, levemente; talvez eu ainda tenha um pouco de mêdo. Uma vontade muito grande de te abraçar, sem saber como te fazer se sentir amada.

Elogios. Eu sou a mulher das sombras, com sombras vermelhas cobrindo meu corpo. Os olhos dos homens me seguem quando eu passo. Eles sorriem, eles comentam e elogiam. Eles não entendem que não sou eu que passa, é a Mulher das Cores que passa. A mulher das sombras. É outras, é a Máscara que eu vesti ontem, a fantasia que escolhi. Eu não sou Lady, tanto quanto o Ítalo não é um travesti. Eles não entendem que eu nunca me vestiria daquela forma. Mas Lady sim.

Eu sou a mulher das cores, com cores vermelhas cobrindo meu corpo. Meu corpo feminino ressalta a feminilidade do personagem, e eu sou uma flor, por uma noite. Os olhos dos homens me seguem quando eu passo, mas eu conheço os olhares dos homens, e o olhar de hoje é apenas um olhar de apreciação. Eles sabem que não sou eu que passo, é a Dama que passa, a Mulher das Cores. Não é esse olhar dos homens que eu procuro, é o seu olhar que eu quero. Você atrai os meus olhos, mesmo quando você esconde os seus olhos, em dias como este em que você é um gato, mais que uma garota. Você não precisa ser sempre uma garota; você se dá ao luxo de às vezes ter uma beleza masculina, e outras vezes ser extremamente feminina. Esses mesmos homens que me olham quando eu passo, eles não conseguem te entender. Sua insegurança não é a mesma que a timidez das outras mulheres. Você nunca olha pro chão.




Eu me pergunto se você vai entender. Às vezes eu te vejo e não consigo tirar os olhos das tuas pernas, e isso me perturba, às vezes me perturba tanto quanto quando eu percebi as mudanças no corpo da minha irmã depois que ela começou a fazer academia - irmãs não deveriam ficar gostosas! E quando eu te conheci eu construí uma imagem sobre você, uma imagem nascida do embaraço de te encontrar na tarde seguinte, e do seu sorriso e da sua diversão. Mas você não é tanto um filhote como aquela mulher que nasce dos ossos do lôbo que a Mulher dos Ossos recolhe e sobre os quais ela canta. Ela canta a sua canção e você nasce, você mulher, você bruxa. Você Donii que vira fera e vira pássaro para trazer a bênção da Grande Mãe. Você nasce dos ossos e da canção e corre pelo deserto nua, as lôbas e as aves te seguem, você corre e grita jovem com longos cabelos ao vento; seu Daemon é uma criatura que dorme com você abraçado forte mas que voa longe sem precisar estar sempre do seu lado. Você engana, você esconde, você é mágica. Se me perguntassem, eu me recusaria a falar sobre você. Você é em silêncio.




Eu queria conseguir entender, e aceitar, mas meus olhos não me obedecem, e eu sinto um tipo novo de mêdo, e tudo parece tão novo e assustador e empolgante. Parece que uma nova parte da vida está começando, e eu ainda não conheço as palavras certas que eu devo usar. Você é parte de mim, e você é diferente de mim. O mundo se transforma diante dos meus olhos. Eu quero pedir a todos que não tentem entender, por ora, o que eu escrevo. Não cheguem a conclusões. Olhem nos meus olhos, e bebam do meu deleite. Eu me sinto prestes a explodir. E de uma forma nova, eu amo.

Eu amo muito! Parece que a cada dia eu amo mais, e melhor. Eu sinto dor, eu sinto saudades, eu sinto apreensão pelo futuro desconhecido. Entretanto não há saída, e haverá luta. Eu amo e a cada dia eu amo mais e com menos receio, mas há muitas barreiras a atravessar. Eu corro pelas colinas, pulando cercas e pedras, eu corro pelo pântano, eu sou um cavalo alado branco, eu sou você. A Mulher dos Ossos canta e eu sou, mas eu sou o Lôbo que levanta, eu corro nas quatro patas pela floresta, meu mundo é verde e feroz, e quando a luz me atinge eu viro luz, e uma mulher corre, e esta é você. Eu sou a Mulher dos Ossos. Talvez todas sejamos. Os tempos se misturam e nada mais é conhecido, nada mais é previsível. Eu exploro.




A luz me mostra uma onda no seu cabelo e eu me pego de novo olhando pra você, indecisa, querendo sentir o seu cheiro, explorar o seu corpo (seja a minha aventura). Algumas vezes eu sonhei com você. Eu não posso exigir nada, eu não posso esperar nada, mas eu tenho vontade de te tomar nos braços, e às vezes eu tomo e a vontade passa, e às vezes ela volta mais forte, e às vezes ninguém enxerga, e eu não consigo entender. Eu quero descobrir, eu quero entender o que está acontecendo com o meu mundo, e eu não sei ainda, mas você parece importante. Você está no vento, nos animais e na terra, ou você está ao meu lado, procurando e perguntando também? Eu não posso exigir nada, eu não devo esperar nada, mas eu posso propor, eu posso oferecer.

2 comentários:

Ozzer Seimsisk disse...

eu adicionei linhas em branco pra desconexão ficar menos confusa.

Ozzer Seimsisk disse...

eu não tenho a menor idéia de por que eu escrevi que "todas as coisas fenecem" o.o