domingo, 28 de fevereiro de 2010

Mais um capítulo na minha epopéia

Este capítulo vai ser um apanhado de pensamentos que me ocorreram ao longo do dia:

I

Embora eu tenha decidido há muito tempo não fazer Design, por todos os lado que eu via o problema eu chegava sempre à conclusão de que ainda era aquilo o que eu queria ser e fazer, o que era o mais legal, a minha essência. Eu olhava os problemas com olhar de designer, eu olho para o mundo com esse olhar. Eu defendo o design contra todos os ataques e insisto que ele é o mais importante. Eu sempre achei que o problema não fosse o tema em si, mas o método do curso, e que no fim eu ia acabar voltando, quem sabe com um diploma ou dois, para acabar me tornando Designer.
Nos últimos dias isso vem, lentamente, mudando. Não sei que mudança é essa, nas minhas prioridades e nos meus desejos. Nos últimos dias eu tenho sentido um interesse pela física, pela química e pela biologia que eu não sentia desde o colegial, quando eu cogitava me tornar cientista. Eu tenho desejado aprender com tanto fervor quanto naquela época, e não apenas para me tornar algo maior, mas também pelo puro interesse pelo conhecimento. De repente tenho ficado em dúvida se o mais importante é salvar o mundo, trabalhar no mundo, ou antes de tudo compreendê-lo.

II

Como disse no ítem anterior, no segundo colegial eu passei por uma fase em que Física e Química me pareciam os cursos mais empolgantes. Eu queria conhecer o mundo, queria estudar matemática, queria trabalhar em laboratório e enxergar trocas de energia em tudo o que eu visse, pois é. Por muitos anos depois disso lembrei dessa empolgação como um deslize, uma paixão passageira por uma coisa que pra mim era um hobbie, uma diversãozinha que eu podia praticar na escola, um jogo para jogar com os amigos. Não: eu queria mesmo saber de tudo, perguntava para os professores sobre as folhas anômalas da grama, fazia anotações sobre os insetos, tentava imaginar as fórmulas dos ingredientes do shampoo.

Esses dias minha mãe me disse que naquela época ela achava que eu ia fazer Física, que ela nunca entendeu por que eu fui fazer Design, e aí meio que tudo voltou com tudo, todas as questões daquela época, como Design tinha me parecido a mistura certa de ciência e arte (que ingenuidade a minha, não?), como ciência e arte eram próximas para mim e como na verdade eu queria descobrir mais sobre o mundo antes de poder mudá-lo com minhas próprias mãos! Eu não lembro de como foi começar a faculdade, mas deve ter sido mesmo terrível pra mim; eu lembro da empolgação de estudar Fotografia, Desenho, história do design, editoração, técnicas visuais (sim, o curso do SENAC me empolgava bem mais que o da FAU), história da arte (que eu tinha esperado a vida toda pra estudar), técnicas de gravura, e... Bom, não sei se tinha mais.

Hoje tudo me parece uma decepção tão grande, eu descobri que não ia ter cálculo nem física, parei o SENAC com todas as suas matérias legais, não houveram mais aulas de técnicas no Design, as aulas de ergonomia eram um saco, eu acabei não aprendendo o que eu queria aprender e aprendendo bem mal o que eles achavam que eu devia aprender. Mesmo assim, naquela época eu culpava minha má interação com os colegas e veteranos, minha falta de hábito de estudar, o choque de perder o jantar com a família (acho que acabei perdendo minha família nessa), minha dificuldade de interagir com a burocracia (e minha timidez de modo geral) — enfim eu julgava que se eu crescesse, amadurecesse e aprendesse a ser como eles, tudo ia se encaixar magicamente; eu achava que só dependia de mim.

III

Hoje eu percebo o quanto eu senti falta da pesquisa — esse espírito de procurar, de investigar, de modelar e imaginar possibilidades, de construir: como isso falta! O conhecimento associado ao Design deveria ser uma Tecnologia. Assim como ao longo dos séculos se desenvolveram novas estratégias de Go, ao longo do tempo mesmo os materiais e técnicas antigos podem ser reinventados em processos e produtaos novos! Se houver um esforço de reunir o que já foi feito e construir em cima disso, quão longe podemos chegar? Talvez nada longe, visto que existe um mercado imortal do design ruim (aliás, sempre me pergunto como essa persistência do ruim funciona). Mas talvez muito longe ainda assim! Queria que meu curso tivesse menos projeto e mais estudo, que aprendêssemos uma enorme variedade de técnicas e os detalhes de cada uma delas, para que soubéssemos o que estamos fazendo quando projetamos. Design não é apenas Método! Não quero de forma nenhuma fazer o curso Deisgn FAUUSP, mas ainda acho possível que eu volte para fazer uma pós, um mestrado ou doutorado em design ^^

IV

Enfim eu lembrei que um dia eu quis com muita convicção fazer Física, e fiquei imaginando que coisas estranhas poderiam ter acontecido se eu tivesse feito essa opção. Será que eu teria vários amigos Físicos, conheceria toda a USP e teria tido um primeiro ano feliz? Será que eu teria me dado bem com os físicos que são meus grandes amigos hoje? Talvez isso tivesse sido ótimo, ou talvez fosse péssimo, não dá pra saber. Mas agora não importa muito, eu acho. Esses três anos não foram em vão, eu aprendi muita coisa neles, embora talvez eu tenha me tornado muito menos do que eu esperava.

...
... Acho que tudo está bem quando acaba bem.

sábado, 27 de fevereiro de 2010

O Engenheiro e o Cientista


Ontem enquanto estudava na Física, tive uma conversa interessante com o Jesus e o Léo. Como era de se esperar a princípio os dois tentaram me dissuadir de fazer Poli, mas no final me deram bons conselhos e me ajudaram a ver a coisa pelo meu lado. Durante a discussão sobre a diferença entre os cursos da Poli e os cursos científicos como Física e CM, ocorreram os seguintes diálogos:

I

— O que mais te fazia falta no Design?
— Bem, — eu comecei, ganhando tempo para pensar com cautela. — Eu sentia muita falta da parte técnica dos projetos. Na verdade eu sentia falta da matemática — descobri que não consigo ficar sem matemática na minha vida — e também de pesquisa: pesquisávamos um pouco sobre alguns projetos e outros designers, isso é legal, mas não é incrível. Acima de tudo, eu sentia falta de entender como as coisas funcionam. Eu queria trabalhar mais na estrutura das coisas.
— ... Você ainda tá matriculada no Design, né?
— Sim, por quê? — eu perguntei. Será que ele ia dizer que eu devia mesmo era continuar no Design, que eu o amava apesar dos defeitos do curso?
— Por que aí quando você finalmente perceber que você quer fazer CM, vai ser só fazer a transferência!
É claro! O pessoal do CM sempre me diz que eu devia ir pra lá, o que eu esperava! Mas será que ele tinha razão? Pensei um pouco, e lembrei: que a estrutura, para um cientista, é a ciência, a física. Repliquei:
— Não sei se você entendeu: eu fazia um projeto de máquina, eu me envolvia, queria mudar a posição do motor para abrir um espaço aqui, e transferir aquela alavanca pra lá que é melhor para a mão, e acho que vou ter que mudar o sistema de transmissão para isso... Mas eu não sei se o peso do motor aqui atrás vai ser demais para essa coluna que o sustenta, ou se vai desalinhar a correia de transmissão, e afinal que outros tipos de transmissão são possíveis pra resolver o problema da alavanca?

(Nota: quando finalmente resolvemos ir atrás dessas informações, lembro que o professor reclamou que estávamos focando apenas na mecânica da máquina. "E o design? Cadê o design?" E eu pensando: pode haver design sem mecânica? Porra, como eu guardo raiva desse dia...)

II

— Vamos esquecer os fins por enquanto e pensar nos meios. Você fez cálculo, não fez?
— Sim, mas não passei. Vou ter que fazer de novo e--
— Mas você lembra do Teorema do Valor Médio, por exemplo?
— Lembro. Por quê?
— Quando você aprende um teorema como esse, você prefere que ele seja demonstrado e provado ou que seja só apresentado como verdade e aplicado exaustivamente para que seja fixado na sua cabeça?
Passei vários segundos pensando nessa pergunta. Por um lado, se o teorema não é muito usado, ele acaba sendo esquecido. Por outro lado, se ele é demonstrado com cuidado, ele pode ser relembrado pela sua demonstração.
— Acho que eu prefiro que haja demonstração. Não me lembro de quase nenhuma demonstração, na verdade, mas lembro que nas aulas da escola eu ficava fascinada pela história do conhecimento: como foi inventado o Teorema de Pitágoras, de onde veio a Fórmula de Báskhara, quem primeiro pensou na idéia de Índice de Refração...
— Se você vê uma demonstração uma vez, e a entende, ela fica pra sempre em algum lugar da sua mente — disse o Jesus.
— Se você gosta de entender de onve vêm as coisas, você vai odiar o Cálculo da Poli.

III

— Eu não quero fazer Cálculo de novo agora, mas estava pensando em pegar a matéria de Física da Poli.
— Por que vai fazer Física e não Cálculo?
— Bom, eu dei uma olhada nas matérias do primeiro semestre, e Física me pareceu a mais "engenheira" depois de Introdução à Engenharia.
— Mas Cálculo é que é a essência da Poli.






No fim das contas, vou fazer o máximo possível de matérias na Poli, quer dizer, todas que eu puder sem sacrificar as duas de computação. Não sei o quanto eu vou amar ou odiar o lugar. Espero que no final eu saiba exatamente o que eu amo e o que eu odeio.

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Mimese

Por todas as mesmas coisas que me fizeram te amar, eu te odiei. Eu te odiei em segredo por muito tempo, com mêdo de você não entender que eu precisava te odiar. Eu te odiei por cada uma de suas qualidades. Eu te odiei por sua força, por suas convicções em todas as questões em que eu tinha dúvidas. Eu te odiei pela sua sagacidade, pela sua inteligência. Eu odiei cada frase brilhante, cada piada, cada vez que você fazia um amigo. Eu odiei todos os seus talentos, eu odiei cada instante de prazer que eles te deram. Eu odiei cada um dos seus sorrisos. Cada vez que você se empolgava com algo eu sentia raiva; cada vez que você criava algo lindo eu sentia dor. Eu odiei você, por cada momento bom que passamos juntos eu odiei você, sem nunca te dizer nada. Eu odiei cada sorriso que você me arrancava, cada convite que você me fazia. Eu odiei em segredo, mas intensamente, misturando o ódio com o amor, misturando momentos de horror com momentos de êxtase, confundindo num só sentimento faminto o desespero e a felicidade. Eu odiei o seu prazer, eu odiei o seu amor, eu odiei a minha imagem nos seus olhos, eu odiei te ver nos olhos deles. Cada vez que meu coração inchava de orgulho por você outra parte de mim vomitava o ódio por cada uma das suas vitórias. Eu odiei você por tudo o que você fez de bom. Eu odiei você por ter me salvado, eu odiei a felicidade que você me trouxe. Eu odiei você por ter tido que me trazer a felicidade, por tê-la me oferecido, por não ter me privado dela, me obrigado a conquistá-la. Eu odiei você por ter me dado forças sem me tornar forte, por ter me dado vitórias sem me tornar vencedora! Eu odiei você, acima de tudo, por ter me dado a felicidade sem me dar junto o orgulho.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

O Bom, o Ótimo e o Necessário

Ultimamente eu tenho tido umas dúvidas mais objetivas que as de sempre. Por exemplo: será que eu devo fazer cursinho? (não é uma merda que eu tenha que decidir isso até no máximo amanhã?) Ou então: eu devo estudar matemática? A sensação que eu tenho é que qualquer opção sem poréns que eu escolher vai me manter insatisfeita. Por exemplo, se eu estudar só computação vou me incomodar por não estudar mecânica, se eu for fazer mecânica vou odiar ter aulas toscas de computação, e se acabar chutando o balde e indo fazer cm (talvez seja uma idéia boa, não sei) eu vou ficar aflita por não estudar nenhum dos dois direito, mas pelo menos eu vou estar estudando biologia pra compensar. (e química também, mas isso é irrelevante).

A longo prazo talvez essas dúvidas sejam esquecidas, porque eu vou ter muito tempo pra fazer uma porção de matérias extras. Mas eu me pergunto se em cinco ou dez anos eu não vou estar aflita por não estar me especializando. Não que isso seja importante agora. Eu evito pensar a longo prazo porque a incerteza é muito grande; prefiro tentar sobreviver por agora, e pensar em prazos de no máximo três anos.

Eu não sei, três anos atrás a idéia de que eu poderia ficar três anos num curso que não me faz nem um pouco feliz era uma coisa vaga e absurda; eu achava que se não gostasse ia perceber em apenas seis meses e que ia sair logo do curso pra fazer outro. Acho que eu esqueci de levar em conta a minha estupidez natural; acho que esqueci que eu ia evitar a qualquer custo tomar uma decisão que pudesse não ser a certa, ou que não escolher é escolher que não. Eu tenho um pouco de mêdo dessa dor nunca mais passar, sabe? Hoje o que me dói e envergonha não é ter feito design, é não ter saído assim que as coisas começaram a dar errado, é ter insistido quando o melhor era desistir; eu e minha absoluta incapacidade de desistir! Eu poderia ter feito tantas coisas, biologia, pedagogia, artes plásticas, física, eu poderia ter conquistao o mundo se eu tivesse me dado o direito de abrir mão. Que raiva agora! Que arrependimento cruel! Quando eu era pequena, eu detestava a tal ponto o arrependimento que decidi não me arrepender mais, e lacrei esse sentimento. Lacrei tão bem que ele só voltou na faculdade, e com força total — de quantas coisas terríveis eu me arrependo! Como dói por dentro! Como anseio por esquecer esses erros, esquecer as dores e viver numa espécie de sonho de que todas as coisas deram mais ou menos certo! Como odeio a dor de ter me causado (de ter lhe causado) tão intenso sofrimento!

Eu queria mesmo estudar matemática e física suficientes para poder estudar computação e engenharia. Não! O que eu queria mesmo era estudar computação e engenharia, a física, a matemática etc são legais mas acho que não são realmente incríveis, são mais como meios para um fim pra mim. Ou melhor, eu não estou tão incrivelmente interessada assim nas partes mais legais delas. Biologia é outra coisa incrívelmente legal, mas acho que já me afastei demais dela para conseguir voltar atrás e ir atrás dela. É isso que eu acho, que não tenho mais todas as opções, agora eu sinto que o que eu tenho é o design, a mecânica, a eletrônica e a programação. Eu sinto dor nesse pensamento, eu me sinto encurralada.

Eu queria fazer só as matérias de programação do bcc, mas acho que isso é uma armadilha, eles têm uma matemática fudida e superespecífica e acho que eles provavelmente usam ela nos programas. Um dos problemas é que cada instituto tem sua própria matemática e sua própria física, eu não vou conseguir realmente estudar cada coisa uma vez só sem perder um monte de coisa. Eu não sei o que fazer em relação a isso. Eu me dei bem com a computação porque as matérias que eu fiz eram bem introdutórias e eu conseguia entender tudo, mas a maior parte das matérias da poli eram ou muito fáceis ou completamente impossíveis de se entender, então eu ainda não sei se eu posso gostar de estudar na poli, na verdade. Eu espero descobrir, mas por outro lado sinto que vou pegar todas as matérias legais e deixar as chatas, o que é uma merda.

Eu queria não fazer cursinho pra ter tempo pra estudar mais as coisas que me interessam. Mas não vou conseguir me decidir a tempo. E o que meus pais vão dizer se eu começar o cursinho e depois desistir no meio depois de pagar três mensalidades? Eu imagino minha família franzindo a testa pra metade das minhas opções, a pior delas seria fazer CM nesse sentido, e também seria um saco passar dois anos sem poder estudar mecânica e eletrônica e computação direito, o que são bons motivos pra não fazer, os motivos pra fazer seriam que como as matérias lá são fudidas talvez eu conseguisse ter que fazer menos matérias depois, economizar umas matérias se pá (e eu poderia estudar biologia) (e, pensando bem, é um lugar legal).

A vurto prazo, eu fico pensando será que eu devo estudar cálculo? Ou álgebra? Ou física? Ou estatística? Todas essas coisas seriam úteis no futuro, e se eu não fizer agora talvez não consiga fazer depois, mas ao mesmo tempo todas dariam muito trabalho. Será que eu devo fazer todas as matérias legais dos cursos que eu quero, pra ver como é? Laboratório de física para engenharia? Estrutura de dados? O que eu faço? Cursinho? Eu acho que vou odiar o cursinho; será que eu desisto e faço só em agosto?

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Notas

Outro dia eu tive uma disputa por notas com o Diogo. Ele disse que a média dele era X e eu falei, "nossa, sua média é pior que a minha". Todo mundo riu porque era pra eu ter uma nota muito baixa com o número de reprovações que eu carrego... Na verdade meu estórico escolar é uma vergonha, mas enfim... Aí eu fui olhar no Jupiter e descobri que minha nota tinha caído do semestre passado pra esse. Mas como, se eu ainda não tinha reprovado nenhuma matéria?? Olhei de novo e vi que eram as notas baixas, 5.0, 5.6, por aí... Por algum motivo eu sempre acho bem mais chato tirar um monte de notas baixas-mas-passa dessas que tirar zero em umas e nove em outras. Desde o começo da faculdade eu tava conseguindo melhorar sempre as minhas notas escolhendo umas matérias pra abandonar na hora do desespêro (no fim eu sou meio covarde na faculdade). No último semestre eu consegui trancar várias matérias pra evitar reprovações, mas mesmo assim fui meio mal e minha média baixou pelo menos meio ponto.

Depois o Diogo falou que a média dele considerando só o cm é bem mais alta, mas eu argumentei que a comparação é inválida porque eu não amo meu curso que nem ele e meu curso não tem game-shark que nem o dele.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Software de Celular é uma #@%$!!

Fiz umas gravações no meu celular e fui eu lá toda feliz tentar passar as gravações pro meu computador. Mas é claro que, como software de celular é uma merda, eu não consigo transferir as gravações pra nenhuma pasta que eu possa acessar do meu computador. Estou procurando uma forma há uma hora e ainda não consegui encontrar, e aceito qualquer ajuda ou sugestão. Esse é o tipo da coisa que me deixa muito irritada.

O problema é que quando você salva qualquer coisa no seu celular o padrão é gravar na memória do celular, que é um buraco escuro de onde nada nunca sai. O que está gravado no chip pode ser passado para outros celulares pelo menos, e o que está no cartão de memória dá pra acessar pelo computador. Se é assim, porque o padrão não é gravar as coisas no cartão de memória?

Também aceito se alguém conhecer um jeito de abrir os arquivos do celular usando outro software, quer dizer, um hack, para que eu possa mexer neles direito. Não tenho coragem de procurar esse tipo de coisa na internet.

Outra possibilidade que me ocorre é transferir para alguém por bluetooth e fazer esse alguém salvar em um lugar mais acessível.

Tinha outra coisa que eu queria dizer, o que era...?

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Você também acha estranho que dos quatro cavaleiros do apocalipse três sejam coisas que matam e o quarto seja a própria morte?

Shortfic - O Cavalo e Seu Menino

de vez em quando eu encontro um ou outro texto legal no meu arquivo. Este por exemplo. Eu imagino que o final de O Cavalo e seu Menino (que é sem dúvida o melhor livro da série) tenha me incomodado muito para que eu escrevesse isso. Eu gosto do final hehe



Ele era um garoto como qualquer outro. Tinha cabelos castanhos, assim como seus olhos, e sua pele era apenas um pouco mais escura de sol que a de seu pai. Como era comum para um garoto da sua idade. Ele era pouco diferente de Corin psicologicamente, e menos ainda em aparência. Gostava de cavalgar, correr nos campos de sua terra, sob o sol, subir nas árvores do pomar e ter aulas de esgrima no pátio do castelo. Gostava de ver a cara de seu pai quando os encontrava cobertos de terra, água, lama, de como ele ria de suas caras sujas e seus cabelos bagunçados. O que havia nele que o tornava tão diferente de qualquer outro garoto de sua idade naquela terra?
Ele era um garoto normal, embora seu povo provavelmente pensasse diferente. O fato de, ainda bebê, ter sido levado para a Calormânia e vivido lá por mais de dez anos não invalidava essa normalidade. Muito menos o fato de ser o príncipe herdeiro da Arquelândia. Ou o de ter acabado de concretizar uma profecia estranha sobre ele derrubar o rei da Calormânia, ou algo assim. Ele não se sentia especial por nada disso. Aliás, ele não queria ser especial. Queria apenas viver aventuras, correr pelos campos, subir nas árvores, ouvir as canções de Nárnia, estar nas festas da Arquelândia, dançando sob o céu de verão. Queria ser apenas Shasta, o humilde garoto que um dia montou um cavalo falante e enfrentou o leão. Não tinha necessidade de viver naquele luxo de príncipe, chamado por um nome que ele ainda não reconhecia como seu. Ele não queria ser Cor, o filho perdido do rei, o salvador da pátria. Ele não precisava daquilo. Shasta bastava.
O garoto suspirou, olhando perdidamente para os campos dezenas de metros abaixo. Talvez, pensou, desanimado, talvez ele fosse realmente mais calormano que arquelão. Claro, se ele não tivesse sido levado de seu país antes do que podia se lembrar por causa de uma maldita profecia, provavelmente seria como Corin, seu irmão. Um bom espadachim, um guerreiro, que montava com graça e firmeza, e ainda que muito jovem para ser chamado homem, não fazia feio em uma batalha de verdade. Shasta não era nada daquilo. Quando chegara à Arquelândia, desprevenido, mal conseguia segurar uma espada, e quase fora morto por tentar acompanhar Corin na batalha contra o rei Rabadash da Calormânia. Sorrindo, ele se lembrou de Rabadash preso no gancho do muro, Rabadash virando burro, a solenidade de Aslam, o Leão, ao contar-lhes toda uma série de verdades irrefutáveis, Aslam dizendo-lhe que nenhum dos leões da viagem faria mal a eles, pois todos eram o mesmo. Fora uma grande aventura. Sorrindo ainda mais, ele se lembrava de como conhecera Bri, das aulas de hipismo, dos tombos, de Huin e Aravis, a tarcaína que o acompanhara para fora da Calormânia, de quando fora confundido com Corin, as conversas do rei Edmundo e da rainha Susana de Nárnia, dos animais falante... Ele tinha que admitir que foram bons tempos aqueles. Para algumas pessoas, a aventura pode ser uma maldição. Para Shasta, fora uma bênção, um privilégio. Mil vezes melhor que viver com [Arsheesh], trabalhando muito e vivendo muito pouco.
Mas o que mais o irritava era sem dúvida ser considerado tão diferente dos outros. Era ridículo, do seu ponto de vista. Ele era uma garoto normal. Tinha os mesmos problemas que a maioria dos meninos da sua idade. As mesmas dificuldades e desafios. As mesmas alegrias e tristezas. Os mesmos amores platônicos, o mesmo desespero crítico, a mesma mania de auto-flagelação das pessoas que cometem erros. Talvez fosse um pouco ignorante, não tivesse grande habillidade com as armas da Arquelândia, se confundisse nos costumes e coisas afins. Mas, para todos os efeitos, era tão normal quanto qualquer príncipe herdeiro de um pequeno mas alegre reino poderia ser.
No final das contas, o que realmente importava para ele era ignorado. Os valores, os sentimentos, toda a verdadeira face de uma pessoa, era esquecido quando o comparavam com o resto do mundo. O que contava era seu passado. Só isso. Que diferença fazia então tudo o que ele era se o importante mesmo era o que ele fora? Ele poderia ter se tornado um garoto orgulhoso, cruel, que jogava na cara das pessoas tudo o que pensava mal delas, e o que não pensava, mal-educado, relaxado, egocêntrico. Quem sabe assim as pessoas percebessem a diferença? Entre ser e ter sido?
Suspirando, Shasta ainda observava a bela, mas vazia de significado, vista que tinha do alto da torre principal. Subira ali não para ver a bela cidade em que nascera, as pessoas da Arquelândia levando suas vidas felizes, e se sentir bem com isso. Seria mais provável que, ao contrário, subisse ali para poder se lacerar mais fácil e eficientemente. Doía-lhe pensar que as pessoas felizes lá embaixo o consideravam tão diferente. Era quase como se não fosse humano. Era quase como se não fosse alguém. Ser apenas mais um no mundo inteiro podia parecer triste para algumas pessoas, mas ser diferente dos outros todos era certamente mais desesperador, no mínimo. O desespero consistia em não poder falar como uma pessoa normal, por não ser ouvido como uma.
Mas também não subira ali para observar as pessoas que quase podia dizer que odiava e sentir-se mal. Seus motivos eram menos nobres. E mesmo refletir parecia ridículo na sua situação. Ele subira ali porque não pudera sair da cidade sem que o vissem. E porque queria observar o que havia além dela. As florestas, os rios, as colinas, as montanhas ao longe. A natureza parecia mais bonita sem as casas e ruas cercando-a.

Estilhaços do meu Único Tremor

It may not be that I don't love this path, but only that I cannot stand the thought of suffering another defeat — my heart is blank, weakened by the many times it has been beaten. To hold on enduring what has only given me honorless pain, even if I deserved it, would be to deny the instinct of survival — and therefore to spit in Nature's eyes. I will go, probably, but I won't go quietly. I don't care where to, if I can just get out of here.



Quando estávamos andando pelo bairro apagado e fantasmagórico sob a lua cheia, perguntou-me porque eu via tanta beleza nas árvores; eu respondi que que elas me agradavam, e só. Mas ontem, no apartamento asseado e sem espaço para fantasmas, teria dado meu sangue por uma árvore. Abri a janela apenas para olhá-la, e quase chorei ao ver seus galhos se bifurcando e ondulando para dentro de pequenas nuvens de folhas!

O Diogo diz que a gente não deve escrever com palavras épicas, porque isso deixa tudo meio ridículo. Mas de que outra forma eu poderia transmitir o que eu estou sentindo, que não se passa através de simples palavras? Naquela hora, meu coração se apertou ao ver os galhos da árvore, mais ou menos como ele se aperta ao ver você, e eu percebi que eu não quereria viver num mundo que não tivesse árvores. Se todas as árvores morressem, se eu não tivesse nenhuma forma de trazê-las de volta, eu provavelmente me mataria. Eu realmente não sei se a morte pode ser interessante, eu sou o tipo de pessoas que gostaria de viver para sempre, mas de que me valeria viver para sempre sem árvores? Naquela hora, eu entendi que árvores são a coisa mais importante.

Que tipo de pessoa sou eu se eu vivo sem lutar por aquilo que é mais importante? Matar para comer não me incomoda, matar insetos sem motivo me causa um certo desprezo frio que em geral eu ignoro, matar pessoas me provoca nojo e uma certa esperaça compassiva dolorosa; matar árvores me provoca ódio, puro, simples e inútil. No meu coração uma pessoa que mata qualquer ser vivo e não sente nada em relação a isso é uma espécie de psicopata. Eu suspeito que já tenha me afastado de uma pessoa inconscientemente depois que ela confessou ter matado um gato na inocência da crueldade infantil. A morte, mesmo que de um mosquito, é uma coisa séria. A morte de uma árvore é um pecado tão grande que apenas a vida de outras árvores podem pagar aquela que foi tomada. A pessoa que corta árvores, assim como a pessoa que mata os bois, precisa ter consciência de que seu trabalho é assunto de Deus.

E digo Deus mesmo, para bater de frente com o ateísmo de vocês, porque pra mim a vida é uma coisa tão sagrada que se torna fútil negar a religiosidade. Que me importa que eu não acredite em um velho barbudo que nos dá leis e punições, se eu acredito na vontade intrínseca das coisas, na diferença entre o certo e o errado, no sagrado? Se eu não teria coragem de derrubar uma árvore grande nem que fosse para construir minha casa no lugar?

Eu vivo perguntando às pessoas se elas acham mais certo fazer o que eu gosto, fazer o que eu faço bem ou fazer o que eu acho importante. Em geral elas dizem que eu devo fazer o que eu gosto. Ultimamente eu tenho me perguntado se eu poderia ser feliz fazendo o que eu não considero importante. Eu não estou feliz agora, mas agora eu não estou fazendo nada. Como eu posso saber como eu posso fazer o que é importante?

Nos últimos meses o futuro tem me parecido cada vez mais negro.