sábado, 27 de fevereiro de 2010

O Engenheiro e o Cientista


Ontem enquanto estudava na Física, tive uma conversa interessante com o Jesus e o Léo. Como era de se esperar a princípio os dois tentaram me dissuadir de fazer Poli, mas no final me deram bons conselhos e me ajudaram a ver a coisa pelo meu lado. Durante a discussão sobre a diferença entre os cursos da Poli e os cursos científicos como Física e CM, ocorreram os seguintes diálogos:

I

— O que mais te fazia falta no Design?
— Bem, — eu comecei, ganhando tempo para pensar com cautela. — Eu sentia muita falta da parte técnica dos projetos. Na verdade eu sentia falta da matemática — descobri que não consigo ficar sem matemática na minha vida — e também de pesquisa: pesquisávamos um pouco sobre alguns projetos e outros designers, isso é legal, mas não é incrível. Acima de tudo, eu sentia falta de entender como as coisas funcionam. Eu queria trabalhar mais na estrutura das coisas.
— ... Você ainda tá matriculada no Design, né?
— Sim, por quê? — eu perguntei. Será que ele ia dizer que eu devia mesmo era continuar no Design, que eu o amava apesar dos defeitos do curso?
— Por que aí quando você finalmente perceber que você quer fazer CM, vai ser só fazer a transferência!
É claro! O pessoal do CM sempre me diz que eu devia ir pra lá, o que eu esperava! Mas será que ele tinha razão? Pensei um pouco, e lembrei: que a estrutura, para um cientista, é a ciência, a física. Repliquei:
— Não sei se você entendeu: eu fazia um projeto de máquina, eu me envolvia, queria mudar a posição do motor para abrir um espaço aqui, e transferir aquela alavanca pra lá que é melhor para a mão, e acho que vou ter que mudar o sistema de transmissão para isso... Mas eu não sei se o peso do motor aqui atrás vai ser demais para essa coluna que o sustenta, ou se vai desalinhar a correia de transmissão, e afinal que outros tipos de transmissão são possíveis pra resolver o problema da alavanca?

(Nota: quando finalmente resolvemos ir atrás dessas informações, lembro que o professor reclamou que estávamos focando apenas na mecânica da máquina. "E o design? Cadê o design?" E eu pensando: pode haver design sem mecânica? Porra, como eu guardo raiva desse dia...)

II

— Vamos esquecer os fins por enquanto e pensar nos meios. Você fez cálculo, não fez?
— Sim, mas não passei. Vou ter que fazer de novo e--
— Mas você lembra do Teorema do Valor Médio, por exemplo?
— Lembro. Por quê?
— Quando você aprende um teorema como esse, você prefere que ele seja demonstrado e provado ou que seja só apresentado como verdade e aplicado exaustivamente para que seja fixado na sua cabeça?
Passei vários segundos pensando nessa pergunta. Por um lado, se o teorema não é muito usado, ele acaba sendo esquecido. Por outro lado, se ele é demonstrado com cuidado, ele pode ser relembrado pela sua demonstração.
— Acho que eu prefiro que haja demonstração. Não me lembro de quase nenhuma demonstração, na verdade, mas lembro que nas aulas da escola eu ficava fascinada pela história do conhecimento: como foi inventado o Teorema de Pitágoras, de onde veio a Fórmula de Báskhara, quem primeiro pensou na idéia de Índice de Refração...
— Se você vê uma demonstração uma vez, e a entende, ela fica pra sempre em algum lugar da sua mente — disse o Jesus.
— Se você gosta de entender de onve vêm as coisas, você vai odiar o Cálculo da Poli.

III

— Eu não quero fazer Cálculo de novo agora, mas estava pensando em pegar a matéria de Física da Poli.
— Por que vai fazer Física e não Cálculo?
— Bom, eu dei uma olhada nas matérias do primeiro semestre, e Física me pareceu a mais "engenheira" depois de Introdução à Engenharia.
— Mas Cálculo é que é a essência da Poli.






No fim das contas, vou fazer o máximo possível de matérias na Poli, quer dizer, todas que eu puder sem sacrificar as duas de computação. Não sei o quanto eu vou amar ou odiar o lugar. Espero que no final eu saiba exatamente o que eu amo e o que eu odeio.

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