sexta-feira, 13 de março de 2009

Sim

Sim, há muita coisa perdida
deixada de lado, esquecida
camuflada sob as nuvens de poeira

Sim, há muita coisa escondida
escorregada junto com os lençóis
permanecida entre a cama e a parede
esmagada entre o colchão e a cabeçeira

Muita coisa quebrada, caduca, casca carcomida
Muita coisa encurralada, ultrapassada
Há muita coisa perdida

Sim, há muita coisa velha
Que já saiu de moda,
que está fora da roda,
que pertence à estação passada

que já não faz sentido
que vem de um outro tempo
Há muito anacronismo que resiste

Sim, há muita coisa morta
Muitos esqueletos no fundo de armários
ali entre as meias e as luvas
esperando pelo século passado

Há muita coisa dormindo
Muita coisa que um dia despertará
para nos observar no nosso sono

Sim, há muita coisa estranha
que não serve à nossa forma, ao nosso jeito
que a gente não sabe pra quê que serve
nem o que é, nem como usar

Há muita coisa sobrando
Há muita coisa faltando
Há muita coisa no lugar errado

Sim, há muita coisa perdida
Muita coisa que perdeu a mágica
e muita coisa que virou sonho
e muita coisa que simplesmente sumiu.

segunda-feira, 2 de março de 2009

Começo de ano

Não tive aulas ainda, mas estou apavorada.
Não apenas com a volta das aulas, trabalhos, colegas de quem eu não sou próxima o suficiente, essa coisa toda de tentar ser designer, procurar um estágio, o mêdo de falhar, de errar, de não saber nada de porra nenhuma e etc.
Me assusta também o que eu sou em mim mesma.

Tá certo que eu tenho passado tempo demais com o Diogo, e que é difícil viver com alguém tão ambicioso e tão pouco tímido com quem se comparar, inevitavelmente. Há algum tempo eu decidi que não seria certo, de qualquer forma, eu me formar antes dele, e por isso fazia sentido eu ter feito dois anos praticamente inválidos de faculdade enquanto ele já aprendeu um milhão de coisas no primeiro ano dele. Mas é óbvio que essa decisão é uma fuga. É uma fuga para um lugar onde eu possa ser uma criança aprendendo a engatinhar, sem medo de cair de cara no chão, de se humilhar, sem a responsabilidade tão horrivelmente pesada de ter algum passado vitorioso no qual se apoiar.
Estou passando por um processo de esquecer meu passado, não porque eu tenha medo dele ou porque ele não seja válido, mas porque ele não pode mais me ajudar. Não há nada no passado para nós, nada que possa nos dar forças, nada que possa nos segurar quando cairmos no futuro. É assim que eu me sinto, em linhas gerais. Meu novo objetivo de vida é descobrir a coragem para seguir em frente através de tudo aquilo de que não me orgulho. É descobrir a humildade para acreditar na possibilidade de alguma coisa inesperada acontecer, alguma coisa que seja um alívio para o peso insuportável de não ter um... um portfólio. E descobrir a força para poder segurar nas mãos nossas vitórias, antes que elas escapem.

É difícil também ouvir a admiração e a inveja do Diogo pelas minhas aulas de programação, e depois não me empolgar com elas, me distrair durante as aulas porque é tão devagar, tão fácil demais, que é até sem graça. E não saber direito como poder exigir mais de mim, porque sem querer acabei passando muitas semanas sem ter um dia sequer para fazer aquilo que poderiam ser as minhas coisas. Eu estava aqui pensando que eu deveria escrever minhas histórias, ou terminar de programar aquele Pong, eu montar meu portfólio, mas. Não sei nada. Não sei se devo fazer qualquer coisa. Não sei o que devo escolher e o que devo sacrificar.


Acho que descobri.

Reflexão (sim, mais uma)

Às vezes eu me sinto muito solitária
Muito sozinha como se o mundo estivesse se afastando como uma nuvem
e fosse completamente impossível se agarrar a ele
Vocês conseguem imaginar, não?
Eu me sinto assim quando vejo que não faço meis parte da vida de uma pessoa
ou que alguma grande amizade virou só lembrança, de repente
Eu tento afastar a raiva e a frustração de não poder mais compartilhar momentos e idéias com essas pessoas que por um momento me pareceram perfeitas para mim
Eu também tento não ficar com raiva delas por terem me abandonado, por não terem sequer tentado ficar um pouquinho mais perto de mim.

Eu vejo coisas que eu quero fazer, conversas que eu quero ter, emoções que eu adoraria compartilhar, mas não posso.

E me dói notar quando essas pessoas estão tão próximas de outras pessoas de quem eu nunca consegui me aproximar. E me dói também quando outras pessoas que eu não pude amar estão muito mais próximas dessas pessoas que o mais que eu já ousei estar

Eu também me pergunto se alguém sente esse tipo de coisa em relação a mim. Se alguém lamenta eu estar longe. Se alguém ainda gosta de mim e não sabe mais como me encontrar. Eu penso nisso e me pergunto o que eu estou fazendo das pessoas. O que eu estou fazendo para as pessoas.