sábado, 20 de junho de 2009

Design e Semiótica

Vocês se importam se eu pensar em voz alta um pouco? É que eu me organizo melhor quando escrevo, e não quero sair do computador e ir efetivamente trabalhar, então pensei em escrever aqui mesmo. Tudo bem?

Tenho que fazer um trabalho de semiótica sobre qualquer objeto de design. Ou seja, qualquer coisa feita por um designer, ou que poderia ter sido feito por um. Ou seja, virtualmente qualquer coisa.

As pessoas não entendem o que é o campo do design. Ontem o Bruno se impressionou quando eu disse que design é muito amplo (eu estava tentando explicar que é possível gostar das matérias do design sem realmente querer ser designer). A verdade é que o designer não tem um campo muito definido. Um designer pode trabalhar com qualquer coisa. Trabalhar com pesquisadores (cientistas) é um pouco difícil, mas não completamente impossível. O mais fácil é trabalhar com empresas, artistas, publicitários, criadores, engenheiros, indústria, internet ou meios de comunicação, mas existem inúmeras possibilidades.

O característico do design não é o campo, mas o método. Podemos trabalhar em qualquer campo. Há restrições: o método do designer é um método de projeto. Ele até funciona para outras coisas, mas não é o ideal. Existem coisas que um designer não pode fazer. É claro que não há quem possa fazer tudo. Mas um designer poderia solucionar problemas em qualquer situação. Um designer poderia projetar qualquer produto. Se for possível ensinar a ele como as coisas funcionam, então ele é capaz de fazer seu trabalho. Obviamente, nem sempre é possível ensinar a ele como as coisas funcionam.

Outra limitação, embora nem de longe tão sólida, é que o designer é treinado para projetar para seres humanos. Não que ele saiba as medidas e proporções ideais de cor (o designer a princípio não sabe nada), mas ele está acostumado com os seres humanos, com a forma como aprendem, com as fórmulas da gestalt, com sua noção de estilo e beleza, com a forma como respondem a suas perguntas. No curso que eu faço, metade do trabalho é sempre pesquisa. Pesquisa envolve encontrar as opiniões, os tamanhos, a legislação, os desejos e as dificuldades relevantes. O designer iria ficar confuso ao projetar para máquinas. O designer iria parecer maluco ao projetar para bichos (eu acho que eu adoraria trabalhar para bichos). (nota.: isso é questionável porque as pessoas que fazem casas, coleiras e brinquedos para animais são designers... mas ainda acho que esse é um campo de baixa qualidade, e que a pesquisa feita é meio porca)

Olhem ao redor. Assumindo que vocês estejam dentro de uma casa ou na faculdade, posso dizer sem muito mêdo que quase tudo o que vocês vêem foi feito por um designer. O que não foi, foi feito por um artesão, por vocês mesmos ou pela natureza. Pode ser que as pessoas que fizeram esses objetos não se considerassem designers, e sim artistas, ou editores, ou engenheiros, ou arquitetos, ou apenas uma pessoa com um trabalho a fazer. Mas, a partir do momento em que se puseram a fazer o projeto de um abjeto, identidade ou composição gráfica, com a preocupação real de tornar a sua interação com o usuário ou sua comunicação o mais azeitada e eficiente e até mesmo agradável possível, então ele é um designer. (obs.: a gente costuma dizer que projetos que não levam em conta o usuário são "projetos de engenheiro". isso não é um preconceito, é só uma definição, já que o engenheiro não é treinado para lidar com o usuário, e sim com o mecanismo — é por isso que tantos polis vêm fazer fau-poli!)

Acho que uma das coisas que mais me incomoda no meu curso é que não nos tornamos realmente aptos a estudar qualquer campo em que queiramos trabalhar. Uma das coisas que aprendi com meu curso é que antes de fazer um projeto é preciso se tornar especialista na área correspondente. Por exemplo: para projetar uma lâmpada, eu preciso estudar iluminação. Para fazer um projeto para cegos, eu preciso entender a vida dos cegos. Para projetar carros, eu preciso entender como funciona um carro, como funciona a aerodinâmica, como o material se deforma em uma colisão. Em muitos casos é possível aprender em alguns meses o duficiente para se fazer um bom projeto. Em alguns casos, como no do carro, é necessária necessàriamente a associação com um engenheiro, mas para que haja boa comunicação com o engenheiro também é preciso entender a engenharia. No curso de arquitetura, assim como em alguns cursos de design gráfico ou desenho industrial mais especializados, existe a preocupação de ensinar ao graduando as técnicas, as características dos materiais, a matemática e a física de tudo com que esses cursos propõe que o seu graduado trabalhe. Não com muita profundidade, talvez, em direção à engenharia, mas o suficiente para que o projeto não saia absurdo demais. O meu curso não ensina isso, porque não seria possível ensinar todas as técnicas específicas de cada uma das áreas nas quais eles esperam que nós trabalhemos. Nós aprendemos uma coisinha aqui, outra ali, apenas para que não sejamos totalmente ignorantes. E o resto é por nossa conta.

Meu problema com essa estratégia é que sempre nos falta, a princípio, uma área comum de entendimento com profissionais de outras áreas. Eu gostaria que meu curso tivesse, embora numa proporção menos... absoluta, uma proposta que encontrei no curso do Diogo: a de criar uma linguagem que abranja diversas áreas do conhecimento.

(Me incomoda no curso do diogo que eles achem que estão estudando todas as áreas do conhecimento quando na verdade estão estudando apenas física, química, matemática, computação e um pouco de biologia, e me incomoda ainda mais a defesa que fazem à essa acusação porque dá a entender que o que estudam no ciclo básico é apenas o mais difícil -- e é mesmo, é o tipo de coisa que não se pode tentar explicar aos amigos como eu tento explicar a vocês o que é design, o que é semiótica, o que eu estou pensando, mas, veja bem, isso me incomoda ainda mais, porque de qualquer forma eu não posso sonhar em fazer vocês entenderem exatamente qual é a do Peirce ou a do Max Bill, e eu imagino que seria ainda mais difícil para o Yuri ou o Ugo explicarem o que estão estudando, e entretanto existe alguém que acha que é possível estudar até mesmo as sciências humanas partindo de uma base puramente científica!)

Acho que terminei o que eu queria dizer sobre design. Aproveitando o ensejo, eu queria tentar dar uma leve noção do que é semiótica. E já que estou usando bastante esse termo, o que é gestalt.

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Pensando bem, vou primeiro verificar se não estou dizendo nenhuma bobagem. Me digam, aliás, se isso realmente interessa. Até logo, amigos.

Um comentário:

Vivian Tsuzuki disse...

Nossa, nunca soube direito o que era esse curso. Foi tão esclarecedor...(mas acho que não é de meu interesse).