quinta-feira, 8 de agosto de 2013

Sacrifíco Animal (post no facebook)

Esses dias eu estava pensando sobre sacrifício animal, por causa da discussão a respeito de macumba, cabeça de bode, tourada. Assim até fica parecendo que nossa sociedade considera um absurdo imperdoável matar animais inocentes. É claro que isso não é verdade. Consideramos (bem, vocês, eles, consideram) perfeitamente aceitável matar animais em muitos casos.

Acham perfeitamente normal matar porco, frango, boi, veado, alce, camarão, peixe, tubarão, carangueijo, e muitos outros tipos de bicho, com métodos que às vezes são dolorosos, para que possam comer uma parte de seus corpos. Inclusive comem alguns animais ainda meio vivos.

Aliás come-se peru assassinado no Natal, mata-se o peru, jogam-se fora os pedaços menos apetitosos do corpo dele e come-se algumas partes da carne. Esse tipo de ritual pode, deve, é amplamente aceito por todos. Usa-se o discurso de que "pode porque é de comer", mas vamos lembrar de toda a carne que já jogamos fora na vida, de toda a carne que apodrece no supermercado, que apodrece no caminho, que não é comprada porque o preço da carne não é baixo o suficiente, nós sabemos que isso existe e muito.

É engraçado como pessoas que comem carne de boi, porco e frango, que acham normal matar rato e gambá, e que vão pra Europa comer carne de veado, às vezes ficam horrorizadas quando vêm alguém comendo coelho ou cachorro ou algum bicho que eles acham bonitinho. Enquanto isso muitos veganos vêm a mesma cena e dão de ombros. Estamos acostumados a sentir aflição ao ver animais sendo mortos por motivos que consideramos absurdos. Hoje mesmo apareceu na minha timeline uma foto de ratinhos mortos, falando de um novo método "ecológico" de matar ratinhos. Eu não quero ver foto de bicho fofo morto, entendeu?

Vocês acham que é certo e necessário, e matam com as próprias mãos ou com venenos de todo tipo barata, rato, gambá, guaxinim, morcego, pombo, abelha, vespa, marimbondo, lesma, caracol, mariposa e qualquer outro animal que cometa o crime hediondo de fazer um ninho nas paredes de um prédio habitado por humanos, ou na terra abaixo dele, ou no terreno ao lado, ou dentro dele, e que ouse mostrar sua cara!

Acham normal matar animais o tempo todo por mil razões diferentes.

Acham normal matar, com venenos que afetam todas as formas de vida do lugar, animais que querem comer as plantas que produzimos para nos alimentar, ou para nos dar prazer, ou para alimentar nossos animais, ou para qualquer outro fim.

Acham necessário e piedoso matar animais domésticos e mesmo de estimação se constraírem alguma doença contagiosa perigosa, ou alguma doença terminal, ou se cometerem alguma violência contra humanos. No caso de animais rurais, uma pata quebrada já é às vezes suficiente para que sejam "sacrificados".

Acham normal e inevitável matar diversos animais para treinamento e pesquisa em diversas áreas, especialmente na área de saúde.

Acham aceitável matar TODAS as espécies de seres vivos (animais, plantas, fungos, microoosganismos, etc) indiscriminadamente para fazer represas para gerar energia para a indústria, ou para abrir espaço para pastos e plantações de monocultura, ou para o cultivo de madeira, ou para a instalação de indústrias, ou para a construção de moradia, ou para a construção de portos ou estradas, por outra razão qualquer que pareça importante na hora para quem pode tomar essa decisão.

Matam com armadilhas e armas de fogo raposas, lobos, onças, jacarés, tubarões e outros animais considerados "maus" e "perigosos", mesmo enquanto entidades ambientalistas tentam proteger estes animais da extinção (matam estes animais de forma não muito diferente da que mata-se índios, aliás, e por motivos semelhantes também).

E aí, dado tudo isso, eu acho muito suspeito que venham me falar em resgatar galinhas de macumba. Não que eu queira que galinhas morram, mas porque estamos atacando esse ritual de fundo de quintal, esse ritual de religião invisível afro-brasileira, e não os massacres que estão acontecendo agora mesmo, de milhões de espécies nativas, muitas vezes apenas para nosso prazer e conforto e lucro do capital?

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