"Aquilo que em mim sente está pensando" - Fernando Pessoa
Aprender é difícil. Aprender é delicioso, como criar. Freud falava em orgasmo e criação, mas os árabes falavam de comer, dormir, amar e conhecer. Intuo que os árabes sejam significativamente mais sábios que Freud. Intuo, aliás, que Freud não seja tão sábio assim.Aprender é em parte confiar. Difícil é confiar. Confiar implica respeitar, e respeito implica reconhecimento. Conhecer de novo, à procura do conhecimento real. Respeitar não significa admirar incondicionalmente ou de forma acrítica. Respeitar não é estimar. Não é possível respeitar alguém pondo-o num pedestal. Respeitar implica, acima de tudo, reconhecer.
Confiança implica conhecimento. Confiar em alguém é saber do que essa pessoa é capaz. Confiança tem como pré-requisito o respeito. Respeitar, quase sempre, requer ser respeitado.
Estou falando tudo isso por causa da aula de hoje, e de tudo o que veio antes dela. Por causa do Agnaldo falando do Miguilim e ficando todo arrepiado. Ele estava a menos de um metro de mim e eu vi claramente os pêlos do seu antebraço se eriçando enquanto seus olhos brilhavam falando de Miguilim pondo os óculos. É tão difícil, sabe? encontrar alguém tão apaixonado, alguém... tão deslumbrado, tentando (vê-se) abrir mais e mais os olhos para ver aquilo a que a razão não basta.
É por causa disso (principalmente) que gosto do Agnaldo. Gosto de tê-lo como meu professor. Admiro sua clareza de pensamento, sua eloqüência, mas acima de tudo sua admiração perante os grandes artistas. Sua exaltação. Se eu tivesse ainda quinze anos, me permitiria apaixonar-me por ele. Percebo isso talvez porque não tenho mais quinze anos.
Ele não me admira. Ele não me ajuda nem me elogia. Ele não me superestima nem me subestima, e nisso está a maior parte do meu respeito por ele, como professor. Descobri que não consigo gostar demais de ninguém que, sem me conhecer a fundo, goste demais de mim. Isso é desrespeito. Respeito é procurar ver realmente. Respeito é decoro, é tratar as coisas como são, já que estávamos (lembra?) falando de hybris. Embora eu perceba que o professor provavelmente não sabe meu nome, fico feliz, talvez tolamente, por ele me tratar pelo que sou, sem erros. Respeitar é trilhar o próprio caminho, e não o dos outros.
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