segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

Prologues

Time it was and what a time it was it was,
A time of innocence a time of confidences.

Long ago it must be, I have a photograph
Preserve your memories, they're all that's left you



Escrevo aqui, e não ali, porque aqui não são necessárias imagens. E não é possível imaginar o que há por dentro.

Por dentro sonhos.
Por dentro vozes.
Aqui sonho tantos sentidos que me esvanece o sentido de estar num sonho.
E você (você sabe quando estou pensando em você?)
é tudo um risco imenso, o de acreditar em mentiras.
O de não se ferir com elas.
E a minha fascinação por lâminas...

Baby.
Baby você é uma lâmina.
Baby you're a dagger and I'm flesh (esperando ser dilacerada)
Baby I can tell, there's nothing left but flesh; why don't you cut me open?
Cut my eyes wide open.

Por dentro vidas sem vida,
coleções de máscaras.
Por dentro alucinações.
O passado bate à porta e você não o reconhece.
Seus amigos estão muito longe, e você não os reconhece.
Eles têm outros nomes, novas alcunhas, novos apostos, e apostam novas moedas em novas esperanças. Por dentro.
E também por fora.
Nas lembranças é que nos encontramos novamente e tudo está como deixamos;
quando saímos do apartamento que compartilhávamos deixamos as almofadas no chão, a cama desfeita e o nosso cheiro no ar. E uns pratos sujos em cima da pia. Uma torta no forno. Assim:
— Faz apenas duas horas que você partiu e a casa já está à sua espera.
Mas no nosso caso parece que fazem anos. O passado sempre parece ter acabado alguns anos atrás.

Tudo isso é apenas uma forma de dizer. O risco de acreditar em mentiras.
Acho que nós poderíamos parar de modificar o passado. Parece que quando voltei ao velho apartamento a colcha estava rasgada e as almofadas faziam as vezes de travesseiro, na cama meticulosamente arrumada. O sofá estava voltado para a janela coberta de teias de aranha. Alguém levou a tevê. E com ela os óculos de um gato. Os pratos e travessas foram lavados e guardados molhados num armário trancado.
Tudo isso para tentar expressar.
E é impossível expressar. A imaginação não chega tão longe. As possibilidades são limitadas. Há coisas a pensar e sentir, coisas que independem do passado. Coisas que se baseiam na história que está escrita por dentro. Os registros externos não significam quase nada.

Acho que não.
Desde aquele momento, muito tempo atrás.
Acho que não faz diferença agora o que acontece depois. Não há necessariamente uma história. Agora, independente do que acontecer, por muito tempo ainda, eu pensarei em você deste jeito. Eu posso não conseguir lembrar por que mesmo que te amo, mas vou continuar te amando. É ridículo assim. Mas você vai retribuir o meu amor de alguma forma. Nem sei se você sabe como ele nasceu e cresceu. Não preciso saber com certeza. Nesse caso (e no nosso caso) não há risco de haverem mentiras. Ou verdades. Ou qualquer coisa.

Talvez seja essa a solução: simplesmente não procurar o passado.
Se eu deixá-lo de lado, não terei que correr o risco.
E não importa mesmo. Eu não sinto nada. O que está assim tão distante não tem nunhuma importância agora. Não para mim, pelo menos. Eu não sou o que sou por causa de qualquer coisa que aconteceu comigo quando eu tinha quatro anos, então por que com você seria diferente? Não, eu já era assim. E depois me tornei o que já era. Porque a Capitu já estava dentro da Capitu de Matacavalos. E a pergunta, a pergunta que eu queria fazer é anterior a tudo isso, a tudo o que vocês sabem sobre mim (bom, quase todos vocês).

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