quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

A campina

Um sussurro, apenas; mas um sussurro sincero.



Era noite. Lua e estrelas sobre um vazio aéreo. Um bimotor cruzava o céu lentamente, e era com os ouvidos muito abertos que ela escutava o ressonar do monstro no horizonte. A paisagens era vazia. Uma grande campina no meio de lugar nenhum. Os antigos haviam chamado aquilo de Ass'marin, e ela usava a palavra imensidão. Os antigos haviam morrido, haviam sido enterrados, e ela usava a palavra Perdição. Para honrá-los, talvez. E ao longe o tambor abafado dos cascos de um velho cavalo.

Era noite. Muito longe era possível ouvir o rumor das ondas como uma respiração. Uma rajada de leões emboscando uma única presa, chamada O Mundo. Um vento perdido varria a distância e trazia-lhe o cheiro do sal. Se ouvisse com muita atenção, talvez, um marinheiro gritando. Uma gaivota. O vento, incessante, espalhava um cheiro de relva, que estava em todo lugar. Havia um buraco amassado no mato onde ela estava. Sinal de uma manada que passara talvez a tarde ali. Uma manada de búfalos vira o Sol se pôr.

O campo era imenso, tanto que parecia um segredo. Deviam haver predadores terríveis à espreita na relva. Presas e garras esperando dar uso a um estômago vago. Haveriam também cavernas, árvores, riachos, escondidos bem como os leões para que o olho incauto não os notasse? Haveriam rochas, e até colinas? O vento ondulava a relva, talvez ajudando a esconder o mistério do umbigo do mundo.

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