terça-feira, 21 de setembro de 2010

A Estória do Herói

O problema são sempre os ouvidos que recebem a história. O problema nunca está na história em si. Por exemplo, Faelyn, quando você ouve o nome dela, imagina uma bela garota, não é, uma garota do campo, comum, mas especial o suficiente para receber a atenção de um dragão. Você ouve a história já sabendo o meio, o final e o começo; você já sabe que a donzela está em perigo, que ela será resgatada, que o jovem e magnífico herói virá para matar o dragão. É sempre assim, você ouve como a criança que espera somente a repetição, você assume uma porção de coisas que não deveria. Esse era o erro de Roder: todas as vezes que ia procurar um dragão, ele queria que houvesse uma luta, uma donzela para resgatar, um tesouro e a volta triunfante para a cidade. E ele queria tanto que fosse assim que até hoje suas histórias são contadas desse jeito, mas Roder se decepcionou, sim, um monte de vezes. É claro que na primeira dessas vezes, com a donzela Faelyn, ele não estava preparado, não conseguia ainda enxergar além do véu da estória para ver a verdade do que estava acontecendo, como não conseguimos ver a corrente brava que corre no fundo de um rio de superfície calma. Então Roder avançou pelos corredores da caverna, vendo sinais do dragão em cada mancha escura no caminho, em cada trio de lanhos alinhados nas paredes, em cada túnel desmoronado, em cada pedaço que equipamento abandonado em túnel ou qualquer coisa que parecesse poder ser sinal de presença humana. O herói vasculhou até os túneis mais profundos, e ali seus olhos afinal viram o que queriam ver.

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