quinta-feira, 20 de julho de 2006

Reminiscências d'Impulso

Pensei em você. Na verdade mamãe falou algo sobre você, algo que foi como uma pergunta ao meu coração, dizendo assim se eu ainda lembro de você. É claro que lembro. Me lembro dos seus olhos, dos seus braços, dos seus ombros, da cor da sua pele, da linha do seu pescoço, das voltas dos seus cabelos, dos seus trejeitos, da sua voz, e do seu olhar selvagem. Lembro tanto que agora, ao escrever estas palavras, ainda sinto um aperto no peito, um instinto dizendo assim que eu ainda devo querer você. É claro que ainda penso. Toda a aura que emana de você, toda a vida e morte que existe em você, todos esses detalhes figurantes de você estão gravados em mim como pirografia velha em madeira. E um dia vai sumir, como sempre some, se não reforçarmos as marcas, mas enquanto isso... enquanto isso...

Enquanto isso, eu lembro que querer você foi bom, assombrosamente bom. Talvez melhor, mais libertador, do que querer qualquer outra coisa. Foi diferente, foi como algo sem nenhum significado intrínseco, por mais significados intrínsecos que eu tentasse
Às vezes acho que foi tudo muito diferente do que seria hoje. Que eu era muito diferente. Às vezes acho que quando eu ver você de novo, vou ter aquele mesmo mêdo estranho de que você fale comigo e eu não saiba responder. Acho que, bom, acho que vamos ser de novo apenas 'quase desconhecidos'. Mas já nos conhecemos muito bem.
Você foi a faísca, foi o impulso inicial de algo que hoje eu considero uma das coisas realmente certas que já fiz em minha vida. Não porque tudo tivesse sido um erro desde o início, mas porque as coisas que acorrentam sem libertar precisam, mesmo de um fim impiedoso. Acho até que fui muito fraca na hora de cumprir a sentença que eu mesma escolhi. Mas isso tudo é passado.
Agora, você foi meu Tigre, minha alma, Animus. Agora, você me fez entender minha dor, você me fez, com um ou dois olhares e muitos sorrisos (poucos destes para mim...), perceber as correntes que marcavam minha vida, perceber a dor que me causavam. Você me mostrou a origem disso tudo. O que estava errado. Acho que só assim eu pude tomar o primeiro passo para a reconstrução de mim. Talvez pelos motivos errados, mas... Mas você foi meu anjo, embora de outra forma. Você me conduziu por admiração e desejo. Foi só por sua causa que eu percebi sem culpa que minha alma não estava no lugar. Que minha alma procurava algo mais, algo... Paz.

É claro que penso em você. Você me despertou. Você me fez compreender, me fez querer lutar, me fez cortar os cabelos e vestir-me como uma menina. Alguns dos melhores sonhos foram por você. É claro que ainda quero querer você. Mas assim tão longe... não. Passou algum tempo e eu percebi que o que eu amava não era nem você. Por isso não podia dizer que o amava. O que eu amava era o que há de mim em você, e o que você cria em mim. Eu tenho que lhe agradecer.

Obrigada, Tigre. Obrigada, dragão. Obrigada, anjo... por existir.

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