quinta-feira, 27 de julho de 2006

Os dias vão passando devagar...

...as coisas não encontram seu lugar / tudo muda, menos a saudade de você...

Se eu já não tento te trazer
de volta nesta canção
Só peço pra não me esquecer...
não ouça esta paixão...

A chuva já parou de me lembrar,
com gotas que não param, seu olhar
Tudo muda, mesmo o que eu sinto por você...



I don't wanna loose you in yourself, and I don't wanna loose myself in you...


Ultimamente tenho contado os dias.
Vocês que me conhecem devem entender que quando eu começo a contar os dias é porque algo está terrivelmente errado. Porque há algo que eu quero que acabe logo ou que comece logo. Mas não é simplesmente isso. É também porque estou com mêdo de alguma coisa. Mêdo de que minha expectativa seja em vão, como quase sempre é.
Estou com mêdo do vestibular também. Tanto que nem falei aos meus pais ainda o que eu acho que acho que quero fazer.

E desde que pensei em começar a escrever este post (há um ou dois dias...) deu para elevar isso a um raciocínio minimamente complexo...
É que... Vocês sabem aquela sensaçào típica do dia seguinte, o dia seguinte a uma festa que você esperava há meses, seguinte à volta da melhor viagem do ano, seguinte ao primeiro beijo do cara que você queria faz teempo, seguinte ao seu aniversário, ao natal, a uma loucura, a uma conquista, ao ano-novo, a uma nova experiência, a um reencontro, a qualquer coisa importante? Aquela estranha sensação de vazio, de falta de objetivo, de confusão entre o presente e o passado, de reconstrução, de falta, de vontade de continuar o que começou no dia anterior, de impaciência, de depois-do-fim. Aquele frio na barriga que dá quando a gente pensa "Agora que passou a razão da minha ansiedade, eu posso ficar tranqüila, está tudo resolvido...", mas vê que está tão ansiosa quanto antes, mas agora sem saber realmente pelo que se deve esperar...
Eu imagino até que existam bons dias-seguintes, em que não se sinta aquela estranha ressaca moral de não ter agido como podia na hora certa, ou simplesmente de não ter agido, mesmo sabendo que era impossível... Imagino dias seguintes em que se continue o que foi começado, em que algo se desenvolva, em que não haja aquela espera indecisa por um toque de telefone, ou em que a espera seja interrompida por um sms dizendo "Estou na praça pôr do sol. Venha agora." ou qualquer coisa igualmente egoísta e ao mesmo tempo necessária, alguma coisa que me obrigasse a me sentir diferente, transformando o dia anterior não na morte de uma situação, mas na criação de uma nova.

Mas nunca é assim.

E na ansiedade estranha que estou sentindo agora, na ansiedade que estranhamente se amaina conforme a contagem regressiva vai chegando ao fim, vai crescendo em mim um mêdo, um mêdo de ir percebendo todas as falhas dos meus planos (criadas certamente por meus próprios mêdos e escrúpulos), um mêdo de não saber se conseguir o que desejo vai realmente me trazer qualquer alegria, ou se só vai trazer mais dor, mais mêdo, mais sofrimento e dúvidas e dívidas e todo aquele mar pegajoso no qual eu nadei por tanto tempo e no qual agora ando mergulhada até os joelhos, me esforçando para chegar à terra seca. E eu não quero mais dúvidas e dívidas!! Eu não quero ter que me importar com os sentimentos de pessoas que querem que eu não queira o que eu quero!
Mas quanto mais penso, quanto mais tenho vontade de gritar, quanto mais ando para fora desse mar, mais a corrente se esforça em me puxar para dentro, e minhas pernas, desacostumadas ao meu peso, fraquejam e tremem como uma chama exposta ao vento. Eu tento olhar para o futuro, um futuro brilhante, alegre, onde boas surpresas me acordarão para o café, mas quando respiro fundo e dou mais um passo adiante, essa luz desaparece e vejo um futuro retalhado, composto somente de dias-seguintes. Eu não tenho boa experiência com dias seguintes...

Então outro dia minhã irmã me falou certas coisas que me convenceram de que estava tudo errado. Tudo errado, desde o prinípio! Mas todas as formas de fazê-lo certo estão ainda mais erradas... Parece que toda a nossa forma de viver estava funcionando às avessas, de forma que mesmo nós não compreendíamos bem o código pelo qual nos comunicávamos (e eu não posso dizer que tenha sido completamente sem propósito essa nossa incompreensão), e que nossos próprios movimentos estavam em desacordo com aposição que assumíamos tomar perante a sociedade. Tentamos ser ao mesmo tempo aristocratas e foras-da-lei, e todos sabem que isso só funcionaria com uma complicada rede de mentiras, segredos e disfarces -- mas nós ousamos assumir publicamente as duas identidades, como bicho do mato, inconscientes da nossa prepotência.
E é claro que ela estava certa, não é possível ser tão despudorados como nós somos, tão carinhosos, tão infantis e sem limites. Mas que fazer? se não consigo de forma alguma aprisionar meus sentimentos em caixas sociais, se é somente em liberdade que eles sabem expressar-se plenamente, e mesmo assim com dificuldade? Que fazer, se na verdade esse carinho exagerado é mais uma tentativa de revirtuar o afeto, desvirtuado por outro tipo de carinho exagerado? Que fazer se na verdade o que falta é somente dizer em voz alta o que todos já sabem, e não ousam dizer em voz alta?
Eu sou um animal. Não preciso de beijos, nem de sexo; posso viver sem devorar os homens que amo. Mas ainda assim sinto falta do seu cheiro, do seu gosto, do seu calor, sinto falta de todas essas coisas que fazem falta. O resto, ficar, namorar, beijar, transar, viajar, trocar cartas, conversar et cetera, o resto são apenas meios de saciar essa carência, de preencher esse vazio. O resto são apenas meios. A ordem das coisas é uma questão humana, social. A existência delas, não necessariamente. Todo o problema na verdade está na ordem das coisas, que permite que elas se concretizem ou não (como no jogo de GROW). Como eu disse antes, tentar salvar essa situação com novas ações e elementos seria um erro, pois não mudaria a ordem original do que já foi concretizado. Estamos numa situação virtualmente insolúvel.

Mas... Mas não é uma proposta que mereça ser de todo abandonada, apesar de termos começado com o terceiro pé. Acho que ainda podemos tentar, começar de novo, começar pelas coisas simples até que possamos compreender de verdade, com pele e nervos, o o tic-tac do relógio que criamos. Assim: você me chama para sair, conversamos, comemos alguma coisa, damos as mãos ou, em outro caso, os braços, discutimos arte, filosofia, tentamos aprender coisas novas, ficamos algum tempo sem nos falarmos, nos encontramos no lugar de sempre. Será que ainda é possível ser assim?






PS.: eu achava que sabia do que estava falando quando comecei a escrever. Quando terminei, vi que estava falando de algo completamente diferente.

PPS.: hoje a Lu me fez compreender uma coisa que de outra forma eu não aceitaria... mas essa coisa se torna muito mais complicado tento em vista o segundo significado que atribuí a esse texto depois de escrevê-lo.

PS*.: eu resolvi aumentar o número de posts na página da frente porque aparentemente eu escrevo bem mais do que o normal durante as férias... (embora elas já estejam quase no final...)

PS**.: a música no começo é uma adaptação de Carta, fechamento de Yuyu Hakushô

PS***.: eu sei, eu não precisava de tantos peésses, mas eles são divertidos de escrever...

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