Ontem escrevi mais algumas coisas que achei melhor não publicar.
Não estou tão preocupada agora, só... Não sei o que fazer. Mesmo.
Não sei o que fazer.
Tudo me parece tão confuso.
Eu não quero estar aqui, eu quero estar fazendo alguma coisa.
Mas eu não sei o quê.
Me parece que nada disso me dá prazer nem me faz uma pessoa melhor.
Eu preciso...
Eu preciso de alguém que me ajude a enxegar uma forma de crescer, eu cansei de ficar parada. Eu estou tão pequena, eu sou tão criança, e por outro lado eu não me considero mais criança, acho que isso é parte do conflito. Eu quero sempre dizer não, eu não sei, eu não sei nada, eu não faço a menor idéia, me ensina. Quase sempre eu não entendo nada. Eu sou tão pequena, eu me agarro às suas pernas, me conta do seu trabalho, dos seus alunos, dos seus planos de vida, me faz imaginar o que é ser adulta outra vez. Eu sento no tapete da sala, eu abraço meu gato, o que eu faço agora, eu nem sei o que estudar, nem que trabalho eu posso fazer, não tenho a menor idéia de como chegar mais perto do meu futuro. As pessoas ao meu redor estão sempre estudando, trabalhando, pesquisando, procurando, sempre falam dos seus projetos, das suas dificuldades, da falta de tempo, da exigência da vida, do próximo desafio, dos percalços, de um trabalho do ano passado, de uma iniciação científica, de uma entrevista de emprego, de....
Um, acabei de descobrir que na minha prova de estrutura de dados eu reinventei um algoritmo bastante respeitado para resolver uma questão... e depois apaguei tudo porque interpretei errado um conceito e dei uma resposta bem menos interessante (e menos válida talvez). Que saco, eu preferia fazer menos esse tipo de coisa.
Enfim, o problema é que eu não entendo nada disso. Eu não entendo nada de viver a vida. Eu me envergonho da forma como eu vivo a vida, como eu não trabalho, não estudo, não faço porra nenhuma. Eu não sei como mudar. Eu não sei o que fazer. Eu queria adotar alguém de mestre, implorar ensina-me a viver!
E aí eu recebo doses minúsculas de ajuda, de conhecimento, de sentido da vida, pra me levar por mais um dia, mais uma noite, mais alguns segundos pra quem sabe um dia conseguir alguma coisa.
Você é quem gostaria de ser? Pelo menos um pouco?
Às vezes eu me dou conta de que quase todos os meus amigos estão mais próximos do que eu do que eu gostaria de ser, nos âmbitos profissional e acadêmico. Tão pouca coisa precisava ter sido diferente para eu ter essas coisas também. Mas enfim.
Eu não vou fugir. Eu posso continuar tendo fé.
palavra por palavra, procuro chegar, devagar, ao lugar de La Loba.
"O silêncio", disse o griot,"só é escuro no começo..."
domingo, 30 de maio de 2010
Um pouco mais de sentimento
Eu decidi publicar isto aqui. Sem censura.
Eu sonhei com você.Eu poderia completar aquele poema...
Quando sonhei com você, foi como...
Mas como foi?
Lembro vagamente de
Mas não sei.
Lembro mais claramente de pensar em você e fechar os olhos, você deve saber porquê.
Quando sonhei com você, foi como um sonho.
Havia luz, algo como flores.
Eu acho.
Eu não lembro.
Eu apaguei.
Um sonho.
E também, eu parei para te dizer que eu não estava apaixonada por você mas quando olhei nos seus olhos eu... não é que eu esqueci, eu só perdi a coragem mesmo. Ou perdi a voz. Por que eu precisava dizer isso mesmo? Eu em geral não digo. Ou melhor, em geral eu só tento me fazer entender, pra não deixar as coisas complicadas. Mas dessa vez eu fiquei quieta e o sentimento que veio me deixou apavorada.
Eu pensei eu não quero isso.
Eu não quero me apaixonar por outra pessoa, não agora.
Eu não quero ter que pensar nisso, ter que tornar as coisas complicadas.
Eu pensei em fugir, em desaparecer e em me entregar.
Eu quero te tornar uma coisa do passado, uma pessoa qualquer.
Porque isso não muda nada!
Mesmo que eu me apaixone mil vezes isso não resolve nada!
Mesmo que eu viva cada amor que a vida me oferecer, eu ainda estarei sozinha.
Sabe aquela coisas de não consegue amar outro quem não ama a si mesmo?
Porque não é esse o meu problema agora.
O meu problema agora não é da minha área, não é de amor.
Eu quero continuar tendo a minha vida agora.
Eu quero o meu namorado, os meus amigos, as pessoas que eu amo e adoro.
Eu me desesperei, eu pensei que eu podia estar me destruindo.
Eu pensei que eu podia estar me jogando num abismo.
Eu pensei em fugir, em lutar e em me entregar.
E tudo pareceu tão idiota.
Tão até meio... irrelevante, depois de algum tempo.
Eu não vou fugir.
Eu não quero fugir nunca mais.
Eu estava genuinamente preocupada e então... me veio uma imagem, meio desconexa.
Andar com você na praça à beira-mar.
Tomar uma cerveja.
Papear.
Uma praia deserta e a revoada de pássaros e a parede vertical de terra com borboletas.
De repente eu entendi muita coisa.
Meio "como eu sou idiota"like.
De repente eu fiquei muito tranqüila.
Eu não devo ter mêdo.
Você pode ser como um vento na minha vida, mas não precisa me levar embora.
Eu posso ficar.
Eu posso escolher ficar.
Eu posso decidir não fugir.
Eu posso decidir fazer a coisa certa, e fazer o que eu quero.
Nós podemos ser amigos.
Eu posso aprender alguma coisa boa com você.
quarta-feira, 26 de maio de 2010
Opções
Ontem, hoje, alguma hora aí, não sei, eu me dei conta do quão desconfortável eu me sinto com a minha própria forma de viver a vida. Eu sei que eu me sinto desconfortável porque eu não consigo parar de falar e me perguntar sobre isso. É claro que alguns assuntos são muito íntimos, e eu só consigo falar sobre eles com poucos dos meus bons amigos, mas, bem, acho que esses amigos que sabem mais sobre os detalhes de mim já devem estar cansados dos meus questionamentos, das minhas histórias, dos meus olhares. Eu me sinto em guerra, em cima de uma agulha me equilibrando. Eu sei que o Bruno se irrita um pouco com o quanto eu falo sobre a minha vida, acho que é porque temos um problema comum e eu me distraio. Como com a questão das mulheres, como me incomoda a desproporção entre os números, ponderados ou não, de homens e mulheres na minha vida. E eu sei que às vezes eu faço umas merdas das quais eu me arrependo meio que pra sempre. E eu sempre me pergunto se a outra parte se incomoda, se sequer se lembra. Mas às vezes é preciso muita coragem para ter uma conversa na qual seja possível pedir desculpas. Desculpa por ter sido tão imbecil. Não sei como você não me despreza. Agora podemos continuar o assunto de antes?
A questão é que eu nunca parei e fiz uma opção porque eu achei que ia ser mó legal, não foi pensado e consciente; eu só fiz o que eu precisava fazer pra não ficar louca. Não foi como se um dia eu pensasse "nossa, esse jeito de levar a vida parece tão legal, e se eu fosse assim também?" Não, o que aconteceu foi que eu queria ficar com você e não deixar o amor me corromper, e eu só vi uma saída, uma saída que não ia acabar em frustração, e foi num ato de desespero que eu aceitei, "vamos torcer as palavras astim, vamos contar estas mentiras e criar este forma de se relacionar" e por muito tempo foi apenas torcer um pouco as palavras, depois as coisas se tornaram verdade, e quando umas palavras mudam de significado tudo o mais se torce ao redor, e sem perceber eu fui mudando minha forma de me comportar, eu fui virando outra coisa, tudo decorreu daí, e de repente eu tinha uma série de hábitos sobre os quais eu não tinha pensado, e que não tinham justificativas claras. Muito nem parece relacionado ao problema original.
Quem sabe um dia eu consigo entrar em paz comigo mesma.
Hoje em dia eu só tenho mêdo de ser isto intensamente demais e fazer alguma merda grave.
A questão é que eu nunca parei e fiz uma opção porque eu achei que ia ser mó legal, não foi pensado e consciente; eu só fiz o que eu precisava fazer pra não ficar louca. Não foi como se um dia eu pensasse "nossa, esse jeito de levar a vida parece tão legal, e se eu fosse assim também?" Não, o que aconteceu foi que eu queria ficar com você e não deixar o amor me corromper, e eu só vi uma saída, uma saída que não ia acabar em frustração, e foi num ato de desespero que eu aceitei, "vamos torcer as palavras astim, vamos contar estas mentiras e criar este forma de se relacionar" e por muito tempo foi apenas torcer um pouco as palavras, depois as coisas se tornaram verdade, e quando umas palavras mudam de significado tudo o mais se torce ao redor, e sem perceber eu fui mudando minha forma de me comportar, eu fui virando outra coisa, tudo decorreu daí, e de repente eu tinha uma série de hábitos sobre os quais eu não tinha pensado, e que não tinham justificativas claras. Muito nem parece relacionado ao problema original.
Quem sabe um dia eu consigo entrar em paz comigo mesma.
Hoje em dia eu só tenho mêdo de ser isto intensamente demais e fazer alguma merda grave.
terça-feira, 25 de maio de 2010
A few days in my life
(comecei a escrever isto na sexta-feira, no ônibus pro cursinho)
Os dias vão se sucedendo, um dia de música, outro de programação, um dia de estatística, música e programação, uma hora de conversas nerds, dez minutos de tartarugas zumbi, história da arte, literatura, física quântica, matemática, ecologia, biologia celular, cerveja, homossexualidade, sentido da vida, num dia eu estou conversando com meu professor, num dia eu estou jogando rpg, um dia de euforia outro dia de desespêro, num dia eu canto Rita Lee outro eu me encolho nas sombras, outro dia eu estou apreciando os efeitos do álcool combinados com o Saulo cantando bem pra caralho no caraoquê, outro eu estou viajando dançando na beira da água ou eu estou me perdendo nos seus olhos, ou eu não vou numa palestra que me interessa, ou eu vou num concerto que eu nem sabia que ia ter, e eu estou dançando, e eu peço a gravação para o compositor, outro dia eu estou cantando pra você, e eu demonstro efusivamente o meu prazer, um dia de êxtase outro de fossa, às vezes eu sinto inveja e às vezes eu sinto orgulho, e às vezes não consigo me perdoar, e às vezes um amigo me demonstra que e não tenho culpa, e às vezes um amigo é genial, e às vezes um amigo é humano, e numa hora eu estou escrevendo no ônibus, outra estou twitando, outra estou fazendo as malas, outra eu presto atenção nas aulas, outra eu tento me impedir de fugir da sala, e às vezes parece que o mundo vai acabar, outras parece que ele é pra sempre, às vezes a grama parece estar crescendo, outras parece que ela vai morrer, e de repente eu acompanho o pessoal do cm e eu gosto da conversa, ou eu passo três dias programando quase sem parar, ou eu decido que vou aprender a cantar, ou eu me distraio por um instante com o toque da sua mão na minha, ou eu passo a tarde toda tentando fazer uma somatória que é só quase um binômio de newton, num dia nosso luar é um poste de luz na praça do relógio, outro dia é a lua mesmo, cheia e lobisômica, numa hora estou ouvindo histórias de terror, noutra estou me largando num sofá e adormecendo, de repente estou ligando cheia de saudades para um amigo que eu tenho visto pouco, de repente minha cidade tem mar, minha cidade tem marginais...
E então eu abro os olhos e essa é a minha vida.
Os dias estão sucedendo-se regularmente.
às vezes eu me distraio e noto que estou deixando quase nenhum espaço para os estudos.
às vezes eu noto que tenho visto pouco meus amigos.
às vezes, distraidamente, eu noto que estou bastante satisfeita com a forma das coisas agora.
e com mêdo também, porque tudo parece tão impreciso.
e cada vez que eu te vejo eu sequer me pergunto quando te verei de novo.
e isso vale pra tanta gente.
às vezes eu passo a tarde me perguntando uma coisa até que alguém que eu amo aparece e eu esqueço todos os meus problemas rapidamente ou esse alguém desaparece com todos os meus problemas instantâneamente.
às vezes eu...
às vezes eu me pergunto, cada vez mais enfaticamente, quem sou eu?
segunda-feira, 24 de maio de 2010
Estranho,
De repente, me parece que a label que tem os textos mais bonitos é "mãe".
Estranho.
Acho que eu me emociono muito quando lido com essas questões de mãe,
de fugir de casa
de conquistar minha independência
de querer te impressionar, merecer teu orgulho
te querer te proteger porque você também é humana
de tentar te convencer de que eu te amo mesmo quando quero sair de debaixo da tua asa
acho que é porque mãe é muito close to heart.
Curioso.
Mas também é lindo.
Estranho.
Acho que eu me emociono muito quando lido com essas questões de mãe,
de fugir de casa
de conquistar minha independência
de querer te impressionar, merecer teu orgulho
te querer te proteger porque você também é humana
de tentar te convencer de que eu te amo mesmo quando quero sair de debaixo da tua asa
acho que é porque mãe é muito close to heart.
Curioso.
Mas também é lindo.
Do som que sai dos teus lábios
Resumindo, eu escrevi, enviei para o Márcio e ele desenhou, ou melhor, está desenhando. Discutimos muitos esses desenhos na última viagem, e entendi melhor o que me atrai e o que me repele nele. Não sei se ele ouviu a primeira música da Carmina Burana para fazer este desenho, como deveria, mas mesmo assim ele conseguiu desenhar uma imagem quase igual à que estava na minha mente quando eu escrevi esse parágrafo — embora a parte de baixo do desenho, o rosto e o sopro-inspiração, sejam apenas dele. Acho estranho picotar o texto deste jeito, e pretendo publicar o conjunto inteiro no final; mas, ao mesmo tempo, acho interessante ir revelando aos poucos. Esta primeira parte é bem desinteressada e despretensiosa, e eu espero que tenhamos passado pelo menos o sentimento de prazer e liberdade que deveria haver. Eu espero que você alcance o que eu quis te dar. =)
Do som que sai dos teus lábios
(Carmina Burana, Carl Orff)
Então eu abro os olhos e meus olhos se enchem de música. Aí está você: nesse som, nesse verde que enche meus olhos quando eu vejo a paz que me invade quando eu ouço esta melodia, estas vozes. Neste momento, eu te amo. Neste momento eu sou o que eu quero, um cavaleiro voando sobre os campos, nada me pára, nada me contém, há coisas que eu salto e há coisas sob as quais me abaixo, mas nada se interpõe à minha vista do céu, porque neste momento eu sou livre, e neste momento eu alcanço o que você quis me dar. Eu alço vôo e o mundo é realmente tão grande!, como você disse... Uma guerra uma poesia se desenrola debaixo de mim. E de repente há silêncio. Acabou uma música.
segunda-feira, 17 de maio de 2010
Por que eu te toco
1.
Eu sei porque eu te toco
Porque te abraço
Porque beijo teu ombro
Porque te enlaço
Eu sei porque te beijo, porque encosto meu rosto no seu
Porque acarinho tua barba e arrumo teus cabelos
Porque eu seguro na minha a tua mão
E saber disso me deixa muito confortável
Mas há muitas outras perguntas
Cuja resposta eu não sei
Quando eu te abraço
Eu sei que é porque te amo
Porque te quero proteger de tudo
Porque quero te aninhar e te fazer feliz
Mas por que além disso eu te desejo?
E se não te desejo mesmo assim te mordo
Apenas para dizer que te quero
Apenas para te fazer feliz?
Quando eu te beijo
Eu sei que é porque te amo
Porque há tanto pra dizer que a voz não diz
Que os lábios silenciosos melhor expressam
Mas por que além disso eu te bebo?
Eu te sorvo e te como como um jantar
E por que eu combino de estarmos juntos
E por que eu reservo o teu lugar?
2.
Eu sei porque eu te mordo
Eu sei porque eu te como
Eu sei porque eu te desejo como uma carne sangrenta
E porque eu peço que me leves a tantos lugares
Mas quando estamos numa tarde destas
Com árvores e sombras e tudo é tão tranqüilo
Eu sei porque eu rio, eu sei porque conversamos
Eu talvez até goste de segurar tua mão
Mas por que além disso eu te abraço?
Por que arrumo teu cabelo?
Por que minhas mãos percorrem tuas costas
Passeando por teus pêlos
E por que eu me encosto em você
Sem sentir nenhum desejo?
Eu sei que quando eu te cheiro
É porque tanto eu te quero
E nessas horas eu quero tanto
Que eu te abraço, te enlaço, te beijo
Mas por que eu ando ao teu lado quando eu nem sinto o teu cheiro?
Por que além disso eu te protejo?
E por que eu arranjo de te encontrar
E por que eu espero por ti
E por que reservo o teu lugar?
3.
Eu te quero.
E por quê?
Se eu não te quero morder nem abocanhar
Se eu não te quero beijar nem abraçar
Se eu não quero segurar na tua mão
Se eu não te quero enlaçar, se não te quero acarinhar
O que quero?
E por quê?
Eu sei porque te olho
E porque converso contigo
Mas por que além disso eu sinto
Toda vez que chegas mais perto
Meu coração disparar?
4.
Eu não sei porque eu te quero
Dessa forma que me faz rosnar
Quando eu te vejo, quando eu te ouço
Eu não sei o que me faz chegar mais perto
Se me conquistastes sem esforço
Se desde o primeiro olhar eu já te adorava
Eu sei porque me mantenho perto de ti
Mas eu não sei por que, de repente
Eu não quero apenas me divertir
Eu não quero apenas estar contigo
Eu olho pra ti e sei
Que eu quero te roubar
Eu sei porque eu te toco
Porque te abraço
Porque beijo teu ombro
Porque te enlaço
Eu sei porque te beijo, porque encosto meu rosto no seu
Porque acarinho tua barba e arrumo teus cabelos
Porque eu seguro na minha a tua mão
E saber disso me deixa muito confortável
Mas há muitas outras perguntas
Cuja resposta eu não sei
Quando eu te abraço
Eu sei que é porque te amo
Porque te quero proteger de tudo
Porque quero te aninhar e te fazer feliz
Mas por que além disso eu te desejo?
E se não te desejo mesmo assim te mordo
Apenas para dizer que te quero
Apenas para te fazer feliz?
Quando eu te beijo
Eu sei que é porque te amo
Porque há tanto pra dizer que a voz não diz
Que os lábios silenciosos melhor expressam
Mas por que além disso eu te bebo?
Eu te sorvo e te como como um jantar
E por que eu combino de estarmos juntos
E por que eu reservo o teu lugar?
2.
Eu sei porque eu te mordo
Eu sei porque eu te como
Eu sei porque eu te desejo como uma carne sangrenta
E porque eu peço que me leves a tantos lugares
Mas quando estamos numa tarde destas
Com árvores e sombras e tudo é tão tranqüilo
Eu sei porque eu rio, eu sei porque conversamos
Eu talvez até goste de segurar tua mão
Mas por que além disso eu te abraço?
Por que arrumo teu cabelo?
Por que minhas mãos percorrem tuas costas
Passeando por teus pêlos
E por que eu me encosto em você
Sem sentir nenhum desejo?
Eu sei que quando eu te cheiro
É porque tanto eu te quero
E nessas horas eu quero tanto
Que eu te abraço, te enlaço, te beijo
Mas por que eu ando ao teu lado quando eu nem sinto o teu cheiro?
Por que além disso eu te protejo?
E por que eu arranjo de te encontrar
E por que eu espero por ti
E por que reservo o teu lugar?
3.
Eu te quero.
E por quê?
Se eu não te quero morder nem abocanhar
Se eu não te quero beijar nem abraçar
Se eu não quero segurar na tua mão
Se eu não te quero enlaçar, se não te quero acarinhar
O que quero?
E por quê?
Eu sei porque te olho
E porque converso contigo
Mas por que além disso eu sinto
Toda vez que chegas mais perto
Meu coração disparar?
4.
Eu não sei porque eu te quero
Dessa forma que me faz rosnar
Quando eu te vejo, quando eu te ouço
Eu não sei o que me faz chegar mais perto
Se me conquistastes sem esforço
Se desde o primeiro olhar eu já te adorava
Eu sei porque me mantenho perto de ti
Mas eu não sei por que, de repente
Eu não quero apenas me divertir
Eu não quero apenas estar contigo
Eu olho pra ti e sei
Que eu quero te roubar
De sobre o mirante
(a noite é uma criança distraída)
Eu achei que chegaria um dia que não seria assim tão incrível e aí eu ficaria muito decepcionada e até meio depressiva. Eu achei que ia ser horrível. Mas não foi assim. Foi só meio confuso. Eu acordei um dia sem grandes ambições. Eu acordei e queria escrever, cantar, almoçar com o Basílio e a Néia, jogar RPG talvez. Mentira, eu sabia que eu não conseguiria jogar. Mas eu queria ver meus amigos. Eu queria tentar. Então o dia escorreu assim, eu o tempo todo distraída, meio alheia, tanta coisa pra sentir atrasado, tanta coisa tenta pra pensar.
--------------------
Eu cheguei em casa, tirei a corrente do pescoço e tentei voltar para o mundo de antes, mas não podia, porque nem eu nem o rio éramos os mesmos. Eu tomei um banho longo e me joguei na cama e dormi, sem querer querendo, dormi pra tentar entender, pra tentar sincronizar meu corpo com o mundo de agora-aqui, e dormi sabendo que estava perdendo a noite perdendo tudo, e fui acordada com:
— Vamos assistir Carmina Burana na Luz em vinte-e-cinco minutos, você vem?
— Eu tô em casa, me deixa ir que eu corro como o vento pra tentar chegar a tempo.
Tudo deu errado mas eu cheguei a duas músicas e meia do final. Eu me emocionei com os últimos "venus..." a quinze metros do palco, eu me mantive lá contra os desejos dos meus que estavam tão mais longe. Eu andei pela multidão e os rostos das pessoas que ouviam eram de glória: olhos fechados, vários lábios cantando. Hoje o jornal dizia que foi uma apresentação pífia. Algumas músicas sobrevivem a qualquer coisa. E no final eu larguei todas as coisas para abrir os braços. Eu cantei também. Nada disso importa. E a partir daí foi uma noite como qualquer outra.
Eu olhei pra você e meu pensamento se contorceu numa careta, porque se só ouvir o seu nome já me distrai tanto do mundo, que dirá caminhar ao seu lado?
Teve um momento em que o Poru estava assustando as pessoas (não o culpem, a idéia foi minha) de um jeito muito simpático, e eu acho que eu causei a maior quantidade de mêdo num desconhecido na minha vida. É que aquela menina era muito linda. Talvez ela nem fosse perfeita, ela era tão delicada, não era gostosa, não emanava poder como as pessoas de quem eu geralmente gosto, ela... ela parecia uma flor, um lírio branco iluminado por um único raio de luar.
"Quando me tocas eu me transformo
Como uma flor que se abre
Como uma flor eu me abro
Para o calor do teu toque"
Ela tinha a pele clara e os traços delicados, cabelos escuros curtos meio ondulados emoldurando o rosto. Eu fui falar com o Poru e olhei para ela e disse "nossa". E eu começava a falar com o Poru mas meu olhar ficava se voltando para ela, e eu queria muito parar e conversar com ela, descobrir quem ela era, como eu poderia vê-la mais vezes (num pedestal), e ao mesmo tempo eu precisava dizer para o Poro que estávamos indo embora, beber cerveja com o Sacha (o que no final não fizemos ¬¬), dar tchau para os amigos do David, e em certo momento eu virei para ela e disse:
"Uau, como você é linda."
...
Se vocês tivessem visto o olhar dela, vocês entenderiam melhor porque naquela hora eu me senti um monstro. Um ogro raptor de donzelas. Eu tive mêdo de mim mesma. E aí fomos embora.
E depois conversamos bastante, e tudo meio enevoado, tudo tão bonito, tantas pessoas que... mas eu não digo nada, eu estou tão em silêncio. Assistimos Deixa ela entrar e foi tão emocionante quando a música antes. Um filme lindo. E depois fomos pra casa, e dormimos juntos, conversando sobre as coisas que precisávamos mudar, sobre nossos erros, sobre nosso amor, sobre os estudos, sobre acordar no dia seguinte, sobre xkcd, sobre i love the whole world (the future is pretty cool).
Então eu acordei pensando em como expressar, não pensando em viver ainda mais coisas incríveis e perfeitas. E ao longo do dia o mêdo foi ficando cada vez mais forte, o mêdo de não poder falar, o mêdo de estar tudo o que importa apenas um pouco além do limite das conversas razoáveis. Eu lembrei o olhar nos olhos deles quando eu falei da minha sexta-feira, eu lembrei de vários olhares de muitos tempos antes e depois. Eu fiquei com mêdo. Eu voltei pra casa depois do jogo e tentei escrever, mas tudo o que eu queria dizer não podia ser dito, e a minha pilha de rascunhos no blogger ficava cada vez maior. Mas eu não podia dizer.
Que dizer do que eu sinto por você? Do que não é desejo, não é amor, não é paixão, não é um interesse fútil? Que dizer do que nem eu entendo? Como eu posso te querer sem te querer? E como passar por cima do mêdo?
Que dizer do meu desejo por você, completamente despropositado?
Que dizer dos meus sonhos, dos meus mêdos, completamente errados?
Na calma, eu também pensei em você. Eu achei que chegaria um dia que seria perfeitamente normal e que eu odiaria isso. Mas não. Chegou um dia em que eu estava tão repleta de uma sensação de glória que nada mais parecia me importar. Como eu queria poder expressar! E tudo era tão silêncio. Eu parei e pensei em como eu me sentira feliz, como eu queria poder expressar essa alegria irrestrita, essa alegria devastadora, que me fez saltirar e rir e cantar e dançar ao redor de você. Como eu tenho que lhe agradecer pela alegria que me preencheu completamente, como eu nunca esperava ficar tão feliz! Depois disso nada mais importa, meu dia estava vazio, meu dia era um raio de sol o mais importante é o agora, mas eu vou viver o resto da minha vida lembrando desse mar, sabendo que por sua causa eu fui feliz, sabendo a importância de todas as outras pessoas que me trouxeram até aqui, eu estava sorrindo sem conseguir lidar direito com esse foco de luz que nasceu no meu peito, essa torre iluminada de marfim que brilha, que desvela praias e falésias, flores, tiés-sangue, que está vazia agora mas que prepara uma festa, e é tudo por você, meu companheiro de viagem, meu bardo, muito obrigada!
Eu quero criar um novo nome para um tipo de relacionamento. Não vai se chamar conquistadores de mundo. Estou em dúvida entre Companheiros de Caça e Companheiros de Viagem. Eu quero virar com você, viajar e caçar com você. Essa é a minha luz, a minha alegria, o meu farol. Ugo, teu barco (o Sonho) vai se guiar também por esse farol. Quando nós navegarmos juntos, nós nos reuniremos nessa torre. É a primeira construção em muito tempo que não está cinzenta e abandonada. Não há demônios aqui! Nós nos guiaremos por sua luz. Daqui a cem anos, se eu me lembrar desse dia, eu ainda terei luz para guiar minha jornada.
Isso tudo me assusta.
Me assusta porque não posso chamar a todos para virem comigo se eu não puder convidá-los para a festa. Eu quero chamar vocês, que eu amo, que me apóiam sempre. Senão, quem virá para a festa. Eu sei: senão, virão todos os demônios para a festa. E ali eles vagarão sem destino, ali eles tomarão conta de mais uma construção que eu abandonarei. Meu farol! Minha torre de luz! Não! Eu vou dar um jeito. Eu vou criar coragem e quebrar todas as barreiras. Pelo amor. Por mim. Por sempre.
Eu vou falar a verdade.
Mas não agora.
Eu achei que chegaria um dia que não seria assim tão incrível e aí eu ficaria muito decepcionada e até meio depressiva. Eu achei que ia ser horrível. Mas não foi assim. Foi só meio confuso. Eu acordei um dia sem grandes ambições. Eu acordei e queria escrever, cantar, almoçar com o Basílio e a Néia, jogar RPG talvez. Mentira, eu sabia que eu não conseguiria jogar. Mas eu queria ver meus amigos. Eu queria tentar. Então o dia escorreu assim, eu o tempo todo distraída, meio alheia, tanta coisa pra sentir atrasado, tanta coisa tenta pra pensar.
--------------------
Eu cheguei em casa, tirei a corrente do pescoço e tentei voltar para o mundo de antes, mas não podia, porque nem eu nem o rio éramos os mesmos. Eu tomei um banho longo e me joguei na cama e dormi, sem querer querendo, dormi pra tentar entender, pra tentar sincronizar meu corpo com o mundo de agora-aqui, e dormi sabendo que estava perdendo a noite perdendo tudo, e fui acordada com:
— Vamos assistir Carmina Burana na Luz em vinte-e-cinco minutos, você vem?
— Eu tô em casa, me deixa ir que eu corro como o vento pra tentar chegar a tempo.
Tudo deu errado mas eu cheguei a duas músicas e meia do final. Eu me emocionei com os últimos "venus..." a quinze metros do palco, eu me mantive lá contra os desejos dos meus que estavam tão mais longe. Eu andei pela multidão e os rostos das pessoas que ouviam eram de glória: olhos fechados, vários lábios cantando. Hoje o jornal dizia que foi uma apresentação pífia. Algumas músicas sobrevivem a qualquer coisa. E no final eu larguei todas as coisas para abrir os braços. Eu cantei também. Nada disso importa. E a partir daí foi uma noite como qualquer outra.
Eu olhei pra você e meu pensamento se contorceu numa careta, porque se só ouvir o seu nome já me distrai tanto do mundo, que dirá caminhar ao seu lado?
Teve um momento em que o Poru estava assustando as pessoas (não o culpem, a idéia foi minha) de um jeito muito simpático, e eu acho que eu causei a maior quantidade de mêdo num desconhecido na minha vida. É que aquela menina era muito linda. Talvez ela nem fosse perfeita, ela era tão delicada, não era gostosa, não emanava poder como as pessoas de quem eu geralmente gosto, ela... ela parecia uma flor, um lírio branco iluminado por um único raio de luar.
"Quando me tocas eu me transformo
Como uma flor que se abre
Como uma flor eu me abro
Para o calor do teu toque"
Ela tinha a pele clara e os traços delicados, cabelos escuros curtos meio ondulados emoldurando o rosto. Eu fui falar com o Poru e olhei para ela e disse "nossa". E eu começava a falar com o Poru mas meu olhar ficava se voltando para ela, e eu queria muito parar e conversar com ela, descobrir quem ela era, como eu poderia vê-la mais vezes (num pedestal), e ao mesmo tempo eu precisava dizer para o Poro que estávamos indo embora, beber cerveja com o Sacha (o que no final não fizemos ¬¬), dar tchau para os amigos do David, e em certo momento eu virei para ela e disse:
"Uau, como você é linda."
...
Se vocês tivessem visto o olhar dela, vocês entenderiam melhor porque naquela hora eu me senti um monstro. Um ogro raptor de donzelas. Eu tive mêdo de mim mesma. E aí fomos embora.
E depois conversamos bastante, e tudo meio enevoado, tudo tão bonito, tantas pessoas que... mas eu não digo nada, eu estou tão em silêncio. Assistimos Deixa ela entrar e foi tão emocionante quando a música antes. Um filme lindo. E depois fomos pra casa, e dormimos juntos, conversando sobre as coisas que precisávamos mudar, sobre nossos erros, sobre nosso amor, sobre os estudos, sobre acordar no dia seguinte, sobre xkcd, sobre i love the whole world (the future is pretty cool).
Então eu acordei pensando em como expressar, não pensando em viver ainda mais coisas incríveis e perfeitas. E ao longo do dia o mêdo foi ficando cada vez mais forte, o mêdo de não poder falar, o mêdo de estar tudo o que importa apenas um pouco além do limite das conversas razoáveis. Eu lembrei o olhar nos olhos deles quando eu falei da minha sexta-feira, eu lembrei de vários olhares de muitos tempos antes e depois. Eu fiquei com mêdo. Eu voltei pra casa depois do jogo e tentei escrever, mas tudo o que eu queria dizer não podia ser dito, e a minha pilha de rascunhos no blogger ficava cada vez maior. Mas eu não podia dizer.
Que dizer do que eu sinto por você? Do que não é desejo, não é amor, não é paixão, não é um interesse fútil? Que dizer do que nem eu entendo? Como eu posso te querer sem te querer? E como passar por cima do mêdo?
Que dizer do meu desejo por você, completamente despropositado?
Que dizer dos meus sonhos, dos meus mêdos, completamente errados?
Na calma, eu também pensei em você. Eu achei que chegaria um dia que seria perfeitamente normal e que eu odiaria isso. Mas não. Chegou um dia em que eu estava tão repleta de uma sensação de glória que nada mais parecia me importar. Como eu queria poder expressar! E tudo era tão silêncio. Eu parei e pensei em como eu me sentira feliz, como eu queria poder expressar essa alegria irrestrita, essa alegria devastadora, que me fez saltirar e rir e cantar e dançar ao redor de você. Como eu tenho que lhe agradecer pela alegria que me preencheu completamente, como eu nunca esperava ficar tão feliz! Depois disso nada mais importa, meu dia estava vazio, meu dia era um raio de sol o mais importante é o agora, mas eu vou viver o resto da minha vida lembrando desse mar, sabendo que por sua causa eu fui feliz, sabendo a importância de todas as outras pessoas que me trouxeram até aqui, eu estava sorrindo sem conseguir lidar direito com esse foco de luz que nasceu no meu peito, essa torre iluminada de marfim que brilha, que desvela praias e falésias, flores, tiés-sangue, que está vazia agora mas que prepara uma festa, e é tudo por você, meu companheiro de viagem, meu bardo, muito obrigada!
Eu quero criar um novo nome para um tipo de relacionamento. Não vai se chamar conquistadores de mundo. Estou em dúvida entre Companheiros de Caça e Companheiros de Viagem. Eu quero virar com você, viajar e caçar com você. Essa é a minha luz, a minha alegria, o meu farol. Ugo, teu barco (o Sonho) vai se guiar também por esse farol. Quando nós navegarmos juntos, nós nos reuniremos nessa torre. É a primeira construção em muito tempo que não está cinzenta e abandonada. Não há demônios aqui! Nós nos guiaremos por sua luz. Daqui a cem anos, se eu me lembrar desse dia, eu ainda terei luz para guiar minha jornada.
Isso tudo me assusta.
Me assusta porque não posso chamar a todos para virem comigo se eu não puder convidá-los para a festa. Eu quero chamar vocês, que eu amo, que me apóiam sempre. Senão, quem virá para a festa. Eu sei: senão, virão todos os demônios para a festa. E ali eles vagarão sem destino, ali eles tomarão conta de mais uma construção que eu abandonarei. Meu farol! Minha torre de luz! Não! Eu vou dar um jeito. Eu vou criar coragem e quebrar todas as barreiras. Pelo amor. Por mim. Por sempre.
Eu vou falar a verdade.
Mas não agora.
Maybe
I promissed to be your best friend
And always speak the truth
I promissed to love you, to hold you, to be with you
And to live all the craziest things with you
And I promissed I'd be there
And maybe I even said I'd be yours
And maybe for a while I was
Because I was in love
Because I wasn't in love
But you knew it wouldn't be for long
Because you knew me
I promissed you would know me
And that I'd be true to you
My heart would be open
I wouldn't change for you
And maybe I even gave the impression that I would hold on to you
And maybe I even let slip that I adored you
But maybe you knew all along
That it was true
Only because I was in love
Because I wasn't in love
And, I don't know how to think of this,
I don't want to fear
But now I know that I was yours
And maybe I am his.
Maybe I am his
Even when I'm not with him
When I look at you and I wonder
Will you look inside my eyes?
Maybe I am his
When at night I'm feeling lonely
And I wonder
Who'll be next to change my life
And maybe I am his
Every day a little more maddly
And every day a little more wildly
As I stray further into this freedom
And maybe I am his
Every day a little more
As I dive deeper into this dream-world
And when we talk
I am afraid to speak
It all seems so strange
We all seem so weak
Maybe I am yours
Everyday a little less maddly
And everyday a little less wildly
As I stray further away from here
Maybe I am yours
Everyday a little less
As I dive deeper into the real world
And when we talk
I am afraid to hear
It all seems so null
And I don't wanna fear
And maybe I am his
Every day a little more maddly
And every day a little more wildly
As I stray further into this freedom
And maybe I am his
Every day a little more
As I dive deeper into this dream-world
But
...
...
...
When morning comes
I wake up by your side
I know you loved me as no one loved me
I know you saved my life
I know you made me strong and fierce
I know you made me smile
And if I know you as no one does
I'm afraid of what you might feel
When you see I'm slipping away from you
You wonder how long I'll be here for you
I wonder what here is real
I love you!
I whisper, it's all I know
My heart wants to keep you from all the evil
I'll be by your side when you face the world
But I wonder if this is real
You can't come with me in this journey, no.
I'm no longer a damzel
You have given me strenght, I know
Now I'm no longer in danger
I love you!
I whisper, it's all I know
My heart wants to keep you from all the evil
I'll be by your side when you face the world
But now you can't walk with me.
And always speak the truth
I promissed to love you, to hold you, to be with you
And to live all the craziest things with you
And I promissed I'd be there
And maybe I even said I'd be yours
And maybe for a while I was
Because I was in love
Because I wasn't in love
But you knew it wouldn't be for long
Because you knew me
I promissed you would know me
And that I'd be true to you
My heart would be open
I wouldn't change for you
And maybe I even gave the impression that I would hold on to you
And maybe I even let slip that I adored you
But maybe you knew all along
That it was true
Only because I was in love
Because I wasn't in love
And, I don't know how to think of this,
I don't want to fear
But now I know that I was yours
And maybe I am his.
Maybe I am his
Even when I'm not with him
When I look at you and I wonder
Will you look inside my eyes?
Maybe I am his
When at night I'm feeling lonely
And I wonder
Who'll be next to change my life
And maybe I am his
Every day a little more maddly
And every day a little more wildly
As I stray further into this freedom
And maybe I am his
Every day a little more
As I dive deeper into this dream-world
And when we talk
I am afraid to speak
It all seems so strange
We all seem so weak
Maybe I am yours
Everyday a little less maddly
And everyday a little less wildly
As I stray further away from here
Maybe I am yours
Everyday a little less
As I dive deeper into the real world
And when we talk
I am afraid to hear
It all seems so null
And I don't wanna fear
And maybe I am his
Every day a little more maddly
And every day a little more wildly
As I stray further into this freedom
And maybe I am his
Every day a little more
As I dive deeper into this dream-world
But
...
...
...
When morning comes
I wake up by your side
I know you loved me as no one loved me
I know you saved my life
I know you made me strong and fierce
I know you made me smile
And if I know you as no one does
I'm afraid of what you might feel
When you see I'm slipping away from you
You wonder how long I'll be here for you
I wonder what here is real
I love you!
I whisper, it's all I know
My heart wants to keep you from all the evil
I'll be by your side when you face the world
But I wonder if this is real
You can't come with me in this journey, no.
I'm no longer a damzel
You have given me strenght, I know
Now I'm no longer in danger
I love you!
I whisper, it's all I know
My heart wants to keep you from all the evil
I'll be by your side when you face the world
But now you can't walk with me.
Te ver.
Te ver é uma tortura, é uma delícia.
Cada instante perto de você é tão terrível!
Às vezes eu fecho os olhos e finjo que você não está aqui
Porque eu sei que no instante seguinte isso será verdade
E eu tenho mêdo do que será de mim então.
Cada instante perto de você é tão terrível!
Às vezes eu fecho os olhos e finjo que você não está aqui
Porque eu sei que no instante seguinte isso será verdade
E eu tenho mêdo do que será de mim então.
quarta-feira, 12 de maio de 2010
...
eu decidi tentar de novo
A gente devia parar de perder tempo
De se perder
De se perder um no outro, de se perder nos espelhos
De se perder nos desejos que são refletidos
A gente devia parar de se distrair
Se distrair com imagens de amor, de felicidade, de carinhos
Se distrair com reflexos, com metáforas, com a sintaxe
Com a forma das coisas, com a nossa forma
A gente não está aqui pra esquecer
E se a gente quiser a gente pode esquecer tudo
A gente devia parar de se deixar levar pelo nada-tudo das coisas
E procurar aquilo que viemos pegar em primeiro lugar
Você lembra? Muito tempo atrás?
Quando (...)
Quando nós fizemos aquelas promessas que nós nunca cumprimos?
Nós não íamos conquistar o mundo?
E entretanto, tudo se perdeu
No amor
No desejo
Até na amizade tudo se perdeu
Tudo são distrações, por mais que doces
A gente não veio aqui pra isso
Você sabe disso
A gente veio aqui para poder ir além
A gente se uniu para poder ir junto
O que a gente quer
É
A gente quer mais da vida
O que a gente quer é viver com todas as forças
O que a gente quer é não ter limites
Não se sentir limitado
É ir sempre além
Não é?
O que eu quero
É a libertação.
O que eu faço?
O que eu faço?
Eu ligo pra você, eu peço uma noite louca no capricho?
Eu fico em casa passando a vida a limpo?
Eu ligo e chamo prum programa em cima da hora, vamos aê, badalar a noite?
Eu vou ouvir?
Eu vou cantar?
Eu deito no sofá e me aqueço sob o cobertor?
Eu amo?
Eu mordo?
Eu vou te ouvir tocar, eu te chamo pra me distrair da minha própria vida?
Eu cedo?
Eu me encurralo?
Eu digo sim?
Eu digo que te amo e que vou ficar contigo pra sempre e esqueço de tudo o mais?
Eu continuo a ouvir essa música até saber todas as nuances de cor?
Eu faço a coisa certa?
Eu me pergunto o que é certo?
Eu ligo pra você e espero que o som da tua voz responda todas as minhas perguntas?
Eu digo não pra todas as melhores coisas com mêdo de perder uma delas?
Eu tomo uma decisão sem pensar?
Eu me pergunto o que eu quero?
Eu mudo de idéia e ligo pra outra pessoa não-relacionada?
Ou eu...
but I... I never felt so much alive than tonight... hurdled in the tranches, gazing on the battlefield...
Eu...
Eu queria que hoje tivesse sido um dia tão incrível quanto ontem, anteontem, domingo, sábado, sexta, quinta, quarta ou terça. Eu queria que estivesse tão claro pra mim agora quanto estava antes qual é o meu maior poder, a melhor força para conquistar o mundo.
Agora nada está claro.
Eu não fui cantar e eu queria cantar e eu cantei e ninguém me ouviu.
E eu discuti com meus pais e nada pareceu importante.
E agora eu não consigo decidir o que fazer da minha vida.
Há coisas que eu quero e coisas que eu não quero e não sei como equilibrar as coisas.
Será que...
Ai.
E se eu só fechasse os olhos e fizesse o que me desse mais vontade?
Eu ligo pra você, eu peço uma noite louca no capricho?
Eu fico em casa passando a vida a limpo?
Eu ligo e chamo prum programa em cima da hora, vamos aê, badalar a noite?
Eu vou ouvir?
Eu vou cantar?
Eu deito no sofá e me aqueço sob o cobertor?
Eu amo?
Eu mordo?
Eu vou te ouvir tocar, eu te chamo pra me distrair da minha própria vida?
Eu cedo?
Eu me encurralo?
Eu digo sim?
Eu digo que te amo e que vou ficar contigo pra sempre e esqueço de tudo o mais?
Eu continuo a ouvir essa música até saber todas as nuances de cor?
Eu faço a coisa certa?
Eu me pergunto o que é certo?
Eu ligo pra você e espero que o som da tua voz responda todas as minhas perguntas?
Eu digo não pra todas as melhores coisas com mêdo de perder uma delas?
Eu tomo uma decisão sem pensar?
Eu me pergunto o que eu quero?
Eu mudo de idéia e ligo pra outra pessoa não-relacionada?
Ou eu...
but I... I never felt so much alive than tonight... hurdled in the tranches, gazing on the battlefield...
Eu...
Eu queria que hoje tivesse sido um dia tão incrível quanto ontem, anteontem, domingo, sábado, sexta, quinta, quarta ou terça. Eu queria que estivesse tão claro pra mim agora quanto estava antes qual é o meu maior poder, a melhor força para conquistar o mundo.
Agora nada está claro.
Eu não fui cantar e eu queria cantar e eu cantei e ninguém me ouviu.
E eu discuti com meus pais e nada pareceu importante.
E agora eu não consigo decidir o que fazer da minha vida.
Há coisas que eu quero e coisas que eu não quero e não sei como equilibrar as coisas.
Será que...
Ai.
E se eu só fechasse os olhos e fizesse o que me desse mais vontade?
terça-feira, 11 de maio de 2010
O Livro das Decisões
Eu parei para pensar no que acabei de escrever, de como eu não estou sentindo mêdo. Mêdo foi quase tudo o que eu consegui sentir por três anos da minha vida, e de repente eu não sinto mais — ou pelo menos não é mais o mais importante.
Acho que parte da minha libertação vem de ter descoberto alguma espécie de ordem nas minhas paixões acadêmicas. Eu descobri que gosto de matemática e programação acima de todas as outras áreas, e que amo a linguagem, e que amo as histórias, e que logo depois vem biologia com certa ênfase em ecologia (que convenientemente é a parte mais matemática da biologia), e que adoro arte e design e me empolgo demais com educação, e que a química e a física (a única ciência de verdade, é claro) são fascinantes e essenciais mas já estão meio em segundo plano. Eu... eu me sinto insegura escrevendo isso, com receio de que seja puro arrebatamento, com mêdo de que ano que vem minhas novas prioridades desapareçam e que eu volte a desejar tudo o que eu não posso ter... Mas vou pular de cabeça nessa paixão, vou meter a cara e me perder nessa paixão, vou persegui-la até não poder mais enxergar.
Hoje tomei algumas decisões.
1. Em primeiro lugar, decidi que vou aprender a cantar, porque eu não quero nunca mais destruir uma música linda com minha voz desafinada.
2. Em segundo lugar, decidi que vou viver tudo o que eu tiver vontade e que esteja em meu poder — que vou viver loucamente e agarrar todas as coisas que eu sempre quis fazer e nunca fiz, e que não vou poupar minhas forças nem ter dó de mim.
3. Em terceiro lugar, que quero estudar intensamente enquanto eu agüentar, e porque tenho vontade de estudar computação até não ter mais nada pra aprender (lol) eu vou ir o mais fundo que eu puder na esperança de que eu nunca mais precise voltar pra pegar ar, e eu vou me arriscar a me afogar, porque eu sinto prazer na seriedade.
4. Em quarto lugar, que eu não vou ter mêdo de fazer o que me parece certo e que eu não vou tentar parecer nerd ou não-nerd de acordo com o grupo e que eu não vou me acovardar diante da burocracia e que eu vou perseguir o que eu quero porque é possível.
5. Em quinto lugar, que eu não vou ser tímida o suficiente para não perguntar o que meus amigos mais experientes podem me ensinar, mas que também vou ter sangue-frio o suficiente para ir caçar as respostas por mim mesma.
6. Em sexto lugar, que eu vou me tornar o que eu quero ser, e que eu vou viajar para Minas.
Meus alunos (lol) do design vieram me perguntar por que o programa não tava funcionando e eu me senti muito boba de não conseguir ajudar. Mas é que pra mim também não faz sentido.
Eu realmente preciso me esforçar mais para me tornar uma pessoa foda.
Good hunting all!
Acho que parte da minha libertação vem de ter descoberto alguma espécie de ordem nas minhas paixões acadêmicas. Eu descobri que gosto de matemática e programação acima de todas as outras áreas, e que amo a linguagem, e que amo as histórias, e que logo depois vem biologia com certa ênfase em ecologia (que convenientemente é a parte mais matemática da biologia), e que adoro arte e design e me empolgo demais com educação, e que a química e a física (a única ciência de verdade, é claro) são fascinantes e essenciais mas já estão meio em segundo plano. Eu... eu me sinto insegura escrevendo isso, com receio de que seja puro arrebatamento, com mêdo de que ano que vem minhas novas prioridades desapareçam e que eu volte a desejar tudo o que eu não posso ter... Mas vou pular de cabeça nessa paixão, vou meter a cara e me perder nessa paixão, vou persegui-la até não poder mais enxergar.
Hoje tomei algumas decisões.
1. Em primeiro lugar, decidi que vou aprender a cantar, porque eu não quero nunca mais destruir uma música linda com minha voz desafinada.
2. Em segundo lugar, decidi que vou viver tudo o que eu tiver vontade e que esteja em meu poder — que vou viver loucamente e agarrar todas as coisas que eu sempre quis fazer e nunca fiz, e que não vou poupar minhas forças nem ter dó de mim.
3. Em terceiro lugar, que quero estudar intensamente enquanto eu agüentar, e porque tenho vontade de estudar computação até não ter mais nada pra aprender (lol) eu vou ir o mais fundo que eu puder na esperança de que eu nunca mais precise voltar pra pegar ar, e eu vou me arriscar a me afogar, porque eu sinto prazer na seriedade.
4. Em quarto lugar, que eu não vou ter mêdo de fazer o que me parece certo e que eu não vou tentar parecer nerd ou não-nerd de acordo com o grupo e que eu não vou me acovardar diante da burocracia e que eu vou perseguir o que eu quero porque é possível.
5. Em quinto lugar, que eu não vou ser tímida o suficiente para não perguntar o que meus amigos mais experientes podem me ensinar, mas que também vou ter sangue-frio o suficiente para ir caçar as respostas por mim mesma.
6. Em sexto lugar, que eu vou me tornar o que eu quero ser, e que eu vou viajar para Minas.
Meus alunos (lol) do design vieram me perguntar por que o programa não tava funcionando e eu me senti muito boba de não conseguir ajudar. Mas é que pra mim também não faz sentido.
Eu realmente preciso me esforçar mais para me tornar uma pessoa foda.
Good hunting all!
De me tornar quem eu devo ser
Aconteceram muitas coisas.
Têm acontecido muitas coisas e toda vez eu penso que tenho tanto a dizer que nunca conseguirei contar tudo. Estou tentando me ater ao essencial.
Hoje eu estava no banheiro da fau e parou do meu lado uma menina. Ela vestia um casaco muito parecido com aquele azul pesado que eu usei sempre que podia desde que o ganhei, em algum momento do meu ginásio, até o segundo colegial, e que continuei usando bastante embora menos até que o perdi no meu primeiro ano de faculdade. A maior parte das minha lembranças envolvendo esse casaco são de olhos e narizes molhando as mangas de choro, de vontade de se esconder, de mêdo de nunca ser ninguém, de só se sentir feliz com o vento da noite. E ela usava o mesmo cabelo escorrido de tão comprido que eu usava no primeiro colegial. Nossas semelhanças acabavam aí, mas as lembranças continuaram vindo, e ela parecia ter uns dezoito anos (ou até menos) e eu me olhei no espelho e me dei conta do quão dessemelhante eu estava daquela garota de cabelos compridos vestindo um enorme casaco azul sujo de lágrimas e coriza. Eu olhei nos meus olhos e vi confiança, e eu vi que eu conquistei uma parte muito grande de todas as coisas que eu almejava seis, sete anos atrás.
Às vezes quando eu vejo pessoas mais novas que eu eu penso se elas são um pouco como eu era quando tinha a idade delas. Não consigo ver a semelhança, e sempre me pergunto se é só porque nem as outras pessoas da minha idade pareciam tão perdidas quanto eu ou se é só que todos nós sabemos esconder bem demais o nosso sofrimento.
Naquela hora eu olhei no espelho e me dei conta de que eu nunca mais tinha mêdo de não ser uma pessoa bonita, que era um dos meus grandes mêdos. Eu estou me vestindo melhor, é claro, estou mais feminina, encontrei cortes de cabelo melhores etc. Naquela época eu tinha mêdo de nunca me adequar a uma situação, de sempre me destacar por não estar tão bonita ou não ser tão delicada quanto as outras meninas. Ainda não tenho a capacidade de me arrumar que por exemplo a Camilla tem. Mas não consigo mais usar maquiagem e me sinto bem com isso, com a certeza de que sou mais bonita sem. Com a certeza de que sou bonita. Com me olhar no espelho e de vez em quando (ok, bem de vez em quando) soltar um genuíno "nossa!". às vezes eu me sinto insegura em relação à minha aparência, e nessas horas eu páro, fecho os olhos e lembro de um homem. É simples assim. É impossível me sentir feia quando eu tive os olhos certos em cima de mim. É tudo de que preciso para poder ignorar as regras de beleza das mulheres.
E além disso eu não tenho mais tanto mêdo de não fazer os amigos certos. Eu aprendi a aceitar essas coisas, sim, e aprendi a valorizar muito mais os amigos que tenho, mas também aprendi a juntar a coragem de ir atrás das pessoas que me interessam, de querê-las intensamente e dar um jeito de me comunicar com elas. Também aprendi a ter a paciência verdadeira de um caçador, de esperar às vezes anos sem desanimar. Quando sua vida não está restrita a um espaço de três anos, tudo parece tão mais possível.
Eu também não tenho mais mêdo de nunca me tornar adulta. Acho que isso é porque eu sou adulta. Eu me considerei adulta quando tirei meu título de eleitor (apesar de eu nunca ter votado). Eu me tornei adulta e decidi pegar a vida nas mãos de verdade, e não apenas prometer que faria isso. Eu decidi buscar o melhor jeito de fazer as coisas e não deixar os outros decidirem por mim. E experimentar! E não ter mêdo de errar, e admitir que eu sou jovem e inexperiente, e que há muitas pessoas muitos menores que eu que podem me ensinar muitas coisas, mas para quem eu posso ensinar também, e que não há pessoa interessante com a qual não possa haver troca.
E eu me acho uma pessoa interessante! Mesmo quando tenho mêdo, de novo, eu lembro de umas conversas, e me reconforto ao saber que algumas pessoas realmente gostam não só de mim mas do que eu sou. E isso me permite ficar ao lado de pessoas assustadoras e passar por todo tipo de situação apavorante, porque eu sei que mesmo que eu não consiga conquistar a todos eu ainda tenho muito o que conquistar, e eu não preciso ter pressa, até porque, como bem disse o btco, se uma oportunidade é imperdível eu não preciso me preocupar em não perdê-la — e as pessoas certas virão, na hora certa. Mesmo quando eu perco algo, há tanto que eu ganho. Mesmo quando erro, tenho acertos do outro lado.
Então eu acho que é isso que é vencer, é isso que é ter coragem recompensada. Eu posso agora enxergar o mundo. Eu posso agora viver intensamente.
Eu nem preciso tanto mais viver pra sempre.
Têm acontecido muitas coisas e toda vez eu penso que tenho tanto a dizer que nunca conseguirei contar tudo. Estou tentando me ater ao essencial.
Hoje eu estava no banheiro da fau e parou do meu lado uma menina. Ela vestia um casaco muito parecido com aquele azul pesado que eu usei sempre que podia desde que o ganhei, em algum momento do meu ginásio, até o segundo colegial, e que continuei usando bastante embora menos até que o perdi no meu primeiro ano de faculdade. A maior parte das minha lembranças envolvendo esse casaco são de olhos e narizes molhando as mangas de choro, de vontade de se esconder, de mêdo de nunca ser ninguém, de só se sentir feliz com o vento da noite. E ela usava o mesmo cabelo escorrido de tão comprido que eu usava no primeiro colegial. Nossas semelhanças acabavam aí, mas as lembranças continuaram vindo, e ela parecia ter uns dezoito anos (ou até menos) e eu me olhei no espelho e me dei conta do quão dessemelhante eu estava daquela garota de cabelos compridos vestindo um enorme casaco azul sujo de lágrimas e coriza. Eu olhei nos meus olhos e vi confiança, e eu vi que eu conquistei uma parte muito grande de todas as coisas que eu almejava seis, sete anos atrás.
Às vezes quando eu vejo pessoas mais novas que eu eu penso se elas são um pouco como eu era quando tinha a idade delas. Não consigo ver a semelhança, e sempre me pergunto se é só porque nem as outras pessoas da minha idade pareciam tão perdidas quanto eu ou se é só que todos nós sabemos esconder bem demais o nosso sofrimento.
Naquela hora eu olhei no espelho e me dei conta de que eu nunca mais tinha mêdo de não ser uma pessoa bonita, que era um dos meus grandes mêdos. Eu estou me vestindo melhor, é claro, estou mais feminina, encontrei cortes de cabelo melhores etc. Naquela época eu tinha mêdo de nunca me adequar a uma situação, de sempre me destacar por não estar tão bonita ou não ser tão delicada quanto as outras meninas. Ainda não tenho a capacidade de me arrumar que por exemplo a Camilla tem. Mas não consigo mais usar maquiagem e me sinto bem com isso, com a certeza de que sou mais bonita sem. Com a certeza de que sou bonita. Com me olhar no espelho e de vez em quando (ok, bem de vez em quando) soltar um genuíno "nossa!". às vezes eu me sinto insegura em relação à minha aparência, e nessas horas eu páro, fecho os olhos e lembro de um homem. É simples assim. É impossível me sentir feia quando eu tive os olhos certos em cima de mim. É tudo de que preciso para poder ignorar as regras de beleza das mulheres.
E além disso eu não tenho mais tanto mêdo de não fazer os amigos certos. Eu aprendi a aceitar essas coisas, sim, e aprendi a valorizar muito mais os amigos que tenho, mas também aprendi a juntar a coragem de ir atrás das pessoas que me interessam, de querê-las intensamente e dar um jeito de me comunicar com elas. Também aprendi a ter a paciência verdadeira de um caçador, de esperar às vezes anos sem desanimar. Quando sua vida não está restrita a um espaço de três anos, tudo parece tão mais possível.
Eu também não tenho mais mêdo de nunca me tornar adulta. Acho que isso é porque eu sou adulta. Eu me considerei adulta quando tirei meu título de eleitor (apesar de eu nunca ter votado). Eu me tornei adulta e decidi pegar a vida nas mãos de verdade, e não apenas prometer que faria isso. Eu decidi buscar o melhor jeito de fazer as coisas e não deixar os outros decidirem por mim. E experimentar! E não ter mêdo de errar, e admitir que eu sou jovem e inexperiente, e que há muitas pessoas muitos menores que eu que podem me ensinar muitas coisas, mas para quem eu posso ensinar também, e que não há pessoa interessante com a qual não possa haver troca.
E eu me acho uma pessoa interessante! Mesmo quando tenho mêdo, de novo, eu lembro de umas conversas, e me reconforto ao saber que algumas pessoas realmente gostam não só de mim mas do que eu sou. E isso me permite ficar ao lado de pessoas assustadoras e passar por todo tipo de situação apavorante, porque eu sei que mesmo que eu não consiga conquistar a todos eu ainda tenho muito o que conquistar, e eu não preciso ter pressa, até porque, como bem disse o btco, se uma oportunidade é imperdível eu não preciso me preocupar em não perdê-la — e as pessoas certas virão, na hora certa. Mesmo quando eu perco algo, há tanto que eu ganho. Mesmo quando erro, tenho acertos do outro lado.
Então eu acho que é isso que é vencer, é isso que é ter coragem recompensada. Eu posso agora enxergar o mundo. Eu posso agora viver intensamente.
Eu nem preciso tanto mais viver pra sempre.
segunda-feira, 10 de maio de 2010
Obcessão
Eu guardo todas as lembranças de você com o meior cuidado, organizadas, sempre ao meu alcance. Não são só as lembranças das conversas, dos olhares, das vezes em que realmente estivemos juntos; são também lembranças de conversas com outras pessoas sobre você, e de coisas que eu pensei sobre você, e até mesmo as imagens de algumas pessoas parecidas com você. É incrível como mais gente se parece com você do que com qualquer outra pessoa. E ainda assim nenhuma delas é você, nenhuma delas causa em mim o mesmo que eu sinto em relação à você. Penso que talvez tudo o que eu sinto seja só porque pude apenas te provar, e talvez eu tenha o mesmo desejo de alguém que deu uma mordida pequena num doce perfeito que não podia comer. E como essa pessoa eu anseio por me fartar desse gosto, eu anseio pela sensação de encher a boca com o seu sabor.
Às vezes eu passo perto da sua casa e eu sempre tenho uma esperança fútil de que você esteja saindo ou chegando e que a gente possa se esbarrar. Eu até cheguei a te ver uma ou duas vezes, acho que você acenou pra mim uma vez, mas nenhuma vez, nem por um instante, eu enxerguei aquele você de verdade, aquele por-dentro que é o que eu quero saber, e saborear, de você. Acho que é tão fácil lembrar de cada palavra sua porque foram tão poucas e porque tão quase nunca eram verdadeiras. Se eu pude enxergar o seu mêdo, o seu vacilo, a sua coragem, eu ainda não consegui enxergar aquilo que faz de você o que é, que é o que eu quero. Por mais fundo que eu tenha olhado nos seus olhos você ainda não me mostrou o fundo deles, ou o que há por trás... E talvez eu também não tenha tido coragem de ir tão fundo.
Mas é que eu não esperava que nosso tempo fosse ser tão curto e atribulado, eu achei que um dia eu poderia te rever e que você estaria lá, mas você nunca esteve. Eu não esperava que mesmo que eu te visse outra vez eu nunca mais conseguisse enxergar você. Ou que só em um momento, fulgaz e maravilhoso, eu conseguisse sentir o que havia de coração em você — e que nesse momento o tempo tivesse acabado, e eu sequer pudesse te perguntar, Você pode sentir meu cheiro agora? Eu não esperava que fosse tão difícil. E agora, eu simplesmente não sei como sair disso.
Você é a presa que eu não posso desistir de caçar, você é o dragão impossível para a parte de mim que é Roder. Já se passaram tantos meses e eu ainda estremeço à mais fútil menção do seu nome. Mas o que estremece? É o desejo sempre forte que tenho que conhecer você? Ou é o segredo daquilo de você que eu já conheço, e que mal se combina com o que sempre se fala a seu respeito? Será que é simplesmente uma questão de intimidade, até uma certa possessividade? Porque você não é meu, e eu acho (ou temo) que nunca será meu, mas o que eu tenho de você é tão meu e tão forte que eu às vezes tenho mêdo de que mesmo se eu chegasse a conhecê-lo ainda assim eu não ficaria satisfeita. Mas será que o que eu vi nos seus olhos é mesmo tão distante do que você é? Será que o que tenho de você não é nem um pouco de você de verdade?
Quem é você?! A pergunta se agita como uma fera dentro de mim, a pergunta não ousa sair em público, mas cresce como uma onda que um dia vai quebrar e eu vou te assolar e te engolir e te levar pro fundo das minhas águas. Eu penso em você, mas não é só a fome, não é com olhos de lôba que eu penso em você, eu penso como uma criança que vê uma coisa muito muito bonita. Eu quero saber do que você é feito. Eu quero saber até onde você vai. E por que eu não consigo simplesmente assumir que você nunca fará parte da minha vida e me conformar com isso.
E um dia eu estava conversando com um amigo, eu estava juntando toda a minha coragem para explicar pra ele, para pedir ajuda, por favor, e ele riu de mim e eu encolhi como uma coisa que diminui nas sombras. Foram as palavras que ele usou, a forma como desprezou minha, minha... obcessão seria a palavra certa, se não soasse tão doente. Eu quero você, mas não como eu quero ter algumas coisas, eu não quero te ter. Eu quero desvendar você. Porque toda vez que eu ouço seu nome você me parece mais e mais interessante. Você é aquilo com o que sonho sem sonhar, aquele sabor desconhecido que eu anseio por provar. Eu quero provar sua alma. Eu quero mais que uma noite, uma aventura, eu quero realmente conhecer você. Eu quero me acostumar com você. Eu quero que você se acostume comigo, que você baixe a guarda. Eu quero cativar você, milímetro a milímetro, até você um dia ter vontade de me chamar pra fazer algo banal, como arrumar o quarto ou fazer bolinhos. Eu quero um dia saber que posso te chamar pra qualquer coisa, sem mêdo do que os outros podem pensar, sem mêdo do que você pode pensar. Isso não é uma coisa da qual se rir. É muito verdadeiro. O que eu vejo em você não é apenas a minha loucura. Você é de verdade.
Às vezes eu passo perto da sua casa e eu sempre tenho uma esperança fútil de que você esteja saindo ou chegando e que a gente possa se esbarrar. Eu até cheguei a te ver uma ou duas vezes, acho que você acenou pra mim uma vez, mas nenhuma vez, nem por um instante, eu enxerguei aquele você de verdade, aquele por-dentro que é o que eu quero saber, e saborear, de você. Acho que é tão fácil lembrar de cada palavra sua porque foram tão poucas e porque tão quase nunca eram verdadeiras. Se eu pude enxergar o seu mêdo, o seu vacilo, a sua coragem, eu ainda não consegui enxergar aquilo que faz de você o que é, que é o que eu quero. Por mais fundo que eu tenha olhado nos seus olhos você ainda não me mostrou o fundo deles, ou o que há por trás... E talvez eu também não tenha tido coragem de ir tão fundo.
Mas é que eu não esperava que nosso tempo fosse ser tão curto e atribulado, eu achei que um dia eu poderia te rever e que você estaria lá, mas você nunca esteve. Eu não esperava que mesmo que eu te visse outra vez eu nunca mais conseguisse enxergar você. Ou que só em um momento, fulgaz e maravilhoso, eu conseguisse sentir o que havia de coração em você — e que nesse momento o tempo tivesse acabado, e eu sequer pudesse te perguntar, Você pode sentir meu cheiro agora? Eu não esperava que fosse tão difícil. E agora, eu simplesmente não sei como sair disso.
Você é a presa que eu não posso desistir de caçar, você é o dragão impossível para a parte de mim que é Roder. Já se passaram tantos meses e eu ainda estremeço à mais fútil menção do seu nome. Mas o que estremece? É o desejo sempre forte que tenho que conhecer você? Ou é o segredo daquilo de você que eu já conheço, e que mal se combina com o que sempre se fala a seu respeito? Será que é simplesmente uma questão de intimidade, até uma certa possessividade? Porque você não é meu, e eu acho (ou temo) que nunca será meu, mas o que eu tenho de você é tão meu e tão forte que eu às vezes tenho mêdo de que mesmo se eu chegasse a conhecê-lo ainda assim eu não ficaria satisfeita. Mas será que o que eu vi nos seus olhos é mesmo tão distante do que você é? Será que o que tenho de você não é nem um pouco de você de verdade?
Quem é você?! A pergunta se agita como uma fera dentro de mim, a pergunta não ousa sair em público, mas cresce como uma onda que um dia vai quebrar e eu vou te assolar e te engolir e te levar pro fundo das minhas águas. Eu penso em você, mas não é só a fome, não é com olhos de lôba que eu penso em você, eu penso como uma criança que vê uma coisa muito muito bonita. Eu quero saber do que você é feito. Eu quero saber até onde você vai. E por que eu não consigo simplesmente assumir que você nunca fará parte da minha vida e me conformar com isso.
E um dia eu estava conversando com um amigo, eu estava juntando toda a minha coragem para explicar pra ele, para pedir ajuda, por favor, e ele riu de mim e eu encolhi como uma coisa que diminui nas sombras. Foram as palavras que ele usou, a forma como desprezou minha, minha... obcessão seria a palavra certa, se não soasse tão doente. Eu quero você, mas não como eu quero ter algumas coisas, eu não quero te ter. Eu quero desvendar você. Porque toda vez que eu ouço seu nome você me parece mais e mais interessante. Você é aquilo com o que sonho sem sonhar, aquele sabor desconhecido que eu anseio por provar. Eu quero provar sua alma. Eu quero mais que uma noite, uma aventura, eu quero realmente conhecer você. Eu quero me acostumar com você. Eu quero que você se acostume comigo, que você baixe a guarda. Eu quero cativar você, milímetro a milímetro, até você um dia ter vontade de me chamar pra fazer algo banal, como arrumar o quarto ou fazer bolinhos. Eu quero um dia saber que posso te chamar pra qualquer coisa, sem mêdo do que os outros podem pensar, sem mêdo do que você pode pensar. Isso não é uma coisa da qual se rir. É muito verdadeiro. O que eu vejo em você não é apenas a minha loucura. Você é de verdade.
domingo, 9 de maio de 2010
De escrever enquanto se ouve música
Estou um pouco frustrada porque eu comecei a escrever um dos textos que eu pretendia enviar para o Márcio e eu estava ouvindo Carmina Burana e virou algo completamente diferente. Talvez até tenha ficado melhor, mas ao mesmo tempo não era o que eu queria, eu Não queria que a música dominasse o texto e roubasse a cena. Estou um pouco desapontada. Eu queria compor uns sussurros, uns sorrisos e passeios, mas de fato acabei compondo uma épica, um discurso inflamado, um vôo de falcão em vez do vôo de passarinho que eu pretendia.
Preciso tomar mais cuidado com o que eu ouço enquanto escrevo. Por mais que eu me esforce, a música sempre acaba sendo tão ou provavelmente mais importante que o tema sobre o qual eu queria falar. Felizmente desta vez as duas coisas estavam relacionadas. Também acho que esse é o tipo de texto que eu Não deveria publicar levianamente, o tipo de texto que talvez fale de algumas coisas que deveriam ser segredos. Mas não tenho certeza. Não entendo muito de segredos.
Preciso tomar mais cuidado com o que eu ouço enquanto escrevo. Por mais que eu me esforce, a música sempre acaba sendo tão ou provavelmente mais importante que o tema sobre o qual eu queria falar. Felizmente desta vez as duas coisas estavam relacionadas. Também acho que esse é o tipo de texto que eu Não deveria publicar levianamente, o tipo de texto que talvez fale de algumas coisas que deveriam ser segredos. Mas não tenho certeza. Não entendo muito de segredos.
Do som que sai dos teus lábios
(carmina burana)
Então eu abro os olhos e meus olhos se enchem de música. Aí está você: nesse som, nesse verde que enche meus olhos quando eu vejo a paz que me invade quando eu ouço esta melodia, estas vozes. Neste momento, eu te amo. Neste momento eu sou o que eu quero, um cavaleiro voando sobre os campos, nada me pára, nada me contém, há coisas que eu salto e há coisas sob as quais me abaixo, mas nada se interpõe à minha vista do céu, porque neste momento eu sou livre, e neste momento eu alcanço o que você quis me dar. Eu alço vôo e o mundo é realmente tão grande!, como você disse... Uma guerra uma poesia se desenrola debaixo de mim. E de repente há silêncio. Acabou uma música.
Você concordou que dizer eu-te-amo era muito complicado e eu tive que me explicar: o que estou dizendo é: (eu te amo é:)
É que você chegou a mim
E num instante você viveu em mim
E sem perceber você entendeu uma parte de mim
Você estendeu a mim a sua chama
Você alegrou meu coração e mudou minha vida
E agora...
E agora eu te dou um passe
Para que entre e saia livremente dessa terra
Um passe-livre por meu coração.
E agora é esta a paisagem dentro de mim: há tapetes vermelhos dentro de um castelo, uma fortaleza, que assoma no topo de uma encosta, eu eu sou o pássaro que circunda a torre mais alta, e eu sou o homem que entra com passos pesados na sala do trono. Tudo é um sonho e tudo se desfaz. A música muda e as faces dos homens mudam. Tudo é energia, um tambor que bate regendo o coração dos homens. E eu estou aqui, eu sou as paredes e os cascos dos navios, eu sou o couro dos tambores, eu estou aqui tentando sentir e entender, procurando a resposta, procurando através dessa música, procurando a lembrança do som que saiu dos teus lábios. Eu procuro (e eu sei que é em vão) o som da tua voz através das trombetas, o som da tua voz cantando pra mim, a lembrança de você olhando nos meus olhos. Tudo é tão suave, e tão pesado, e entretanto de repente eu sou uma pomba, eu vôo sem destino, meus olhos são lágrimas, minha boca é um gosto passado, eu sou um anjo perdido procurando a resposta, procurando o sentido do som que saiu dos teus lábios.
Quem eu sou? Você me pergunta e eu sou a sua pergunta. Mas agora não importa. Quando sair de mim, deixe aberta a porta -- há muito lá fora que eu quero convidar a entrar; há muito no mundo que eu quero habitar, mas que também quero que me habite. Eu devo ser a terra e o viajante (eu devo ser a estrada e o violeiro) e eu devo ser a fonte e o sedento, e eu quero ser bem boi como berrante. Me guia e eu te guio! Eu sou o céu e a estrela. Eu não ouço as palavras desta música, mas pra mim é como o céu cantando, eu ouço a voz dos astros e eu flutuo entre eles. E eu ouço a voz da vala das estrelas. E eu lembro da sua história, e eu tento imaginar a beleza -- como será acenderem-se as estrelas?
Então as estrelas disparam e o mundo vira uma torrente uma avalanche, eu páro no meio da música, olho ao redor, suspiro, respiro fundo e me pergunto: onde estou? Esta é a minha casa, hoje é dia das mães. Mas não significa nada. Minha alma não entende nada de casas e calendários. E eu não entendo nada de música. Eu sou um joguete nas mãos dessa melodia. Finalmente eu lembro da tua voz, a tua voz cantando, a tua voz dizendo declamando com tom grave a thousand kisses deep. Mas eu devo te ouvir, cada canção, cada palavra, e enxergar cada emoção que teu olhar transparece. Eu rio. Porque te leio tão fácil e mesmo assim desconheço. Quem você é? Eu pergunto e eu sou a minha pergunta. Mas só por muito pouco tempo. Num instante eu pisco como uma estrela e eu sou outra coisa, eu sou uma outra vida. Minha alma é uma coisa dispersa, um vento, uma torrente que se divide e volta a se unir. Eu rio, porque eu sou leve agora. Agora eu não posso te ouvir, mas sei o que você fala. Porque através dessa música é você que fala, e é você no meio do mundo de vozes que é o universo. Eu ouço tudo, mas muito pouco eu entendo. E como quero entender! Por isso continuo buscando, eu estou buscando a pergunta, e eu busco todas as coisas através das vozes de todas as bocas.
E como a tua boca me morde, eu enxergo no clarão da dor o grito de todas as coisas. A tua voz nem existe agora, só existe esse terror, esse rosnado. Meu coração dispara e meu sangue urra, no fogo do teu veneno e na explosão dum sors salutis -- e de repente minha alma é fogo, meu mundo é fera, meu sangue é fúria e eu devoro o mundo e nada mais é anjo nada mais é água nada mais é calmaria porque tudo é pura loucura! Eu me levanto contra o frio da noite eu sou o Sol, invicto e irremovível, iluminando e queimando as retinas de todas as coisas eu sou a Luz cuspida de teus lábios eu sou o teu sangue e meu peito cresce num rosnado-desejo que fagocita o mundo e num instante eu sou completamente um tudo demoníaco -- e então minha alma voa.
Do alto do vôo da minha alma eu estou ouvindo palmas, e isso quer dizer que a música acabou. Mas eu me sinto leve, a música me liberta, eu fecho os olhos e a noite me carrega para onde eu quero estar, onde a música é nectar, onde a tua voz existe dentro de mim, no ímpeto de um raio e na candura de uma vela. Eu abro os olhos e você está me olhando, mas já não são olhos de fera. Então eu abro os olhos e estou aqui novamente, e eu estou sozinha.
Eu apoio o rosto nas mãos, e meus olhos são lágrimas, e meu coração ressona e tudo é silêncio através dos pequenos barulhos do dia. Eu caio em mim. Eu olho para o céu, e eu estou buscando a pergunta que eu sei que não existe, e eu queria ser o ar para poder me encher desses sons que saem de todos os lábios.
Então eu abro os olhos e meus olhos se enchem de música. Aí está você: nesse som, nesse verde que enche meus olhos quando eu vejo a paz que me invade quando eu ouço esta melodia, estas vozes. Neste momento, eu te amo. Neste momento eu sou o que eu quero, um cavaleiro voando sobre os campos, nada me pára, nada me contém, há coisas que eu salto e há coisas sob as quais me abaixo, mas nada se interpõe à minha vista do céu, porque neste momento eu sou livre, e neste momento eu alcanço o que você quis me dar. Eu alço vôo e o mundo é realmente tão grande!, como você disse... Uma guerra uma poesia se desenrola debaixo de mim. E de repente há silêncio. Acabou uma música.
Você concordou que dizer eu-te-amo era muito complicado e eu tive que me explicar: o que estou dizendo é: (eu te amo é:)
É que você chegou a mim
E num instante você viveu em mim
E sem perceber você entendeu uma parte de mim
Você estendeu a mim a sua chama
Você alegrou meu coração e mudou minha vida
E agora...
E agora eu te dou um passe
Para que entre e saia livremente dessa terra
Um passe-livre por meu coração.
E agora é esta a paisagem dentro de mim: há tapetes vermelhos dentro de um castelo, uma fortaleza, que assoma no topo de uma encosta, eu eu sou o pássaro que circunda a torre mais alta, e eu sou o homem que entra com passos pesados na sala do trono. Tudo é um sonho e tudo se desfaz. A música muda e as faces dos homens mudam. Tudo é energia, um tambor que bate regendo o coração dos homens. E eu estou aqui, eu sou as paredes e os cascos dos navios, eu sou o couro dos tambores, eu estou aqui tentando sentir e entender, procurando a resposta, procurando através dessa música, procurando a lembrança do som que saiu dos teus lábios. Eu procuro (e eu sei que é em vão) o som da tua voz através das trombetas, o som da tua voz cantando pra mim, a lembrança de você olhando nos meus olhos. Tudo é tão suave, e tão pesado, e entretanto de repente eu sou uma pomba, eu vôo sem destino, meus olhos são lágrimas, minha boca é um gosto passado, eu sou um anjo perdido procurando a resposta, procurando o sentido do som que saiu dos teus lábios.
Quem eu sou? Você me pergunta e eu sou a sua pergunta. Mas agora não importa. Quando sair de mim, deixe aberta a porta -- há muito lá fora que eu quero convidar a entrar; há muito no mundo que eu quero habitar, mas que também quero que me habite. Eu devo ser a terra e o viajante (eu devo ser a estrada e o violeiro) e eu devo ser a fonte e o sedento, e eu quero ser bem boi como berrante. Me guia e eu te guio! Eu sou o céu e a estrela. Eu não ouço as palavras desta música, mas pra mim é como o céu cantando, eu ouço a voz dos astros e eu flutuo entre eles. E eu ouço a voz da vala das estrelas. E eu lembro da sua história, e eu tento imaginar a beleza -- como será acenderem-se as estrelas?
Então as estrelas disparam e o mundo vira uma torrente uma avalanche, eu páro no meio da música, olho ao redor, suspiro, respiro fundo e me pergunto: onde estou? Esta é a minha casa, hoje é dia das mães. Mas não significa nada. Minha alma não entende nada de casas e calendários. E eu não entendo nada de música. Eu sou um joguete nas mãos dessa melodia. Finalmente eu lembro da tua voz, a tua voz cantando, a tua voz dizendo declamando com tom grave a thousand kisses deep. Mas eu devo te ouvir, cada canção, cada palavra, e enxergar cada emoção que teu olhar transparece. Eu rio. Porque te leio tão fácil e mesmo assim desconheço. Quem você é? Eu pergunto e eu sou a minha pergunta. Mas só por muito pouco tempo. Num instante eu pisco como uma estrela e eu sou outra coisa, eu sou uma outra vida. Minha alma é uma coisa dispersa, um vento, uma torrente que se divide e volta a se unir. Eu rio, porque eu sou leve agora. Agora eu não posso te ouvir, mas sei o que você fala. Porque através dessa música é você que fala, e é você no meio do mundo de vozes que é o universo. Eu ouço tudo, mas muito pouco eu entendo. E como quero entender! Por isso continuo buscando, eu estou buscando a pergunta, e eu busco todas as coisas através das vozes de todas as bocas.
E como a tua boca me morde, eu enxergo no clarão da dor o grito de todas as coisas. A tua voz nem existe agora, só existe esse terror, esse rosnado. Meu coração dispara e meu sangue urra, no fogo do teu veneno e na explosão dum sors salutis -- e de repente minha alma é fogo, meu mundo é fera, meu sangue é fúria e eu devoro o mundo e nada mais é anjo nada mais é água nada mais é calmaria porque tudo é pura loucura! Eu me levanto contra o frio da noite eu sou o Sol, invicto e irremovível, iluminando e queimando as retinas de todas as coisas eu sou a Luz cuspida de teus lábios eu sou o teu sangue e meu peito cresce num rosnado-desejo que fagocita o mundo e num instante eu sou completamente um tudo demoníaco -- e então minha alma voa.
Do alto do vôo da minha alma eu estou ouvindo palmas, e isso quer dizer que a música acabou. Mas eu me sinto leve, a música me liberta, eu fecho os olhos e a noite me carrega para onde eu quero estar, onde a música é nectar, onde a tua voz existe dentro de mim, no ímpeto de um raio e na candura de uma vela. Eu abro os olhos e você está me olhando, mas já não são olhos de fera. Então eu abro os olhos e estou aqui novamente, e eu estou sozinha.
Eu apoio o rosto nas mãos, e meus olhos são lágrimas, e meu coração ressona e tudo é silêncio através dos pequenos barulhos do dia. Eu caio em mim. Eu olho para o céu, e eu estou buscando a pergunta que eu sei que não existe, e eu queria ser o ar para poder me encher desses sons que saem de todos os lábios.
sexta-feira, 7 de maio de 2010
Sobre outro assunto:
Eu... meu, eu sinto que estou começando a economizar temas bons pra poder escrever. Isso me deixa muito confusa. Não sei bem o que estou fazendo.
Uma coisa que eu preciso dizer:
A gente devia parar de perder tempo
De se perder
De se perder um no outro, de se perder nos espelhos
De se perder nos desejos que são refletidos
A gente devia parar de se distrair
Se distrair com imagens de amor, de felicidade, de carinhos
Se distrair com reflexos, com metáforas, com a sintaxe
Com a forma das coisas, com a nossa forma
A gente não está aqui pra esquecer
E se a gente quiser a gente pode esquecer tudo
A gente devia parar de se deixar levar pelo nada-tudo das coisas
E procurar aquilo que viemos pegar em primeiro lugar
Você lembra? Muito tempo atrás?
Quando (...) ?
Droga, cheguei num ponto da coisa em que eu não tenho coragem de publicar.
Mal aí pela broxada súbita.
Até.
De se perder
De se perder um no outro, de se perder nos espelhos
De se perder nos desejos que são refletidos
A gente devia parar de se distrair
Se distrair com imagens de amor, de felicidade, de carinhos
Se distrair com reflexos, com metáforas, com a sintaxe
Com a forma das coisas, com a nossa forma
A gente não está aqui pra esquecer
E se a gente quiser a gente pode esquecer tudo
A gente devia parar de se deixar levar pelo nada-tudo das coisas
E procurar aquilo que viemos pegar em primeiro lugar
Você lembra? Muito tempo atrás?
Quando (...) ?
Droga, cheguei num ponto da coisa em que eu não tenho coragem de publicar.
Mal aí pela broxada súbita.
Até.
Hoje
Hoje saindo da usp eu passei na frente da Praça e percebi que eu não queria ir embora. Não tem nada pra mim em casa, tem tudo aqui. Estas flores, e árvores, e tudo o mais. Não, tem essa liberdade. Aqui. Então eu engoli isso tudo e quando cheguei na marginal tinha um puta trânsito, mas desta vez eu achei o rádio e pus uma música alta e abri os vidros e tudo parecia bem. Hoje o Adilson me ensinou coisas na saída da provinha, pediu pros alunos corrigirem alguns erros, e ele parecia tão feliz de não estar apenas avaliando mas também aproveitando pra ensinar! E hoje eu voltei pra casa cantando e cheguei em casa e pus pra tocar aquele cd da Pink e tudo parecia tão alegre! E eu li umas piadas de placas na internet e eu vi meus gatos se espreguiçando no sol, e eu escrevi sobre Minas, e eu li coisas muito lindas, e eu pensei como tem dias em que tudo parece estar no lugar certo, mesmo que a sua vida esteja ficando totalmente louca e seus amigos estejam cheios de problemas e você tenha batido o carro ontem e ainda tenha que ir ao cursinho pra ficar lendo o Silmarilion enquanto uns palhaços te ajudam a decorar umas fórmulas.
Eu estou feliz =)
Ou isso ou ainda estou sob influência do bom humor do Poru ontem ^^
Eu estou feliz =)
Ou isso ou ainda estou sob influência do bom humor do Poru ontem ^^
Dormir entre pedras e um monte de coisas
Então eu pensei: quero ir pra Minas,
mas não quero ir com você.
Não quero ir com você nem com ninguém.
Não, porque quando eu for a Minas eu não vou estar procurando amor,
nem alegria
nem viagem nem liberdade
(nem liberdade!)
eu vou estar procurando outra coisa
que é um pedaço de mim que eu deixei lá muito tempo atrás
Se eu for a Minas, eu encontrarei meus dentes? Eu encontrarei meus pés que se distraíram e quiseram andar sozinhos por todas as infinitas colinas até o horizonte?
Se eu for a Minas, eu encontrarei meus olhos que não conseguiram parar de olhar? Meus pulmões que se inflaram com o ar e flutuaram pra sempre, como fogos-fátuos?
E quero ir e eu quero ter meus sapatos de andar e andar.
Eu queria ir sozinha, para atravessar o deserto de mim e encontrar a essência da solidão debaixo do sol e entre as árvores. Eu queria ir e pegar uma insolação, e me jogar na água de um córrego pra me ser água, pra me fundir com a água. E no final da noite, logo antes do amanhecer, eu estaria dormindo aninhada entre pedras que nascem do solo. Eu queria ir... pra me perder. Pra me perder completamente, todas as referências. Se fosse pra voltar, eu cairia de novo na estrada. Mas não. Eu queria ir e reaprender a falar, e falar as sete línguas dos pássaros. E a pedra e o buriti, que só os mineiros sabem. Eu iria e me tornaria outra, mas me tornaria eu. Eu fecharia os olhos para ver melhor. Eu abriria os olhos para absorver tudo o que existisse.
Minha alma não cabe dentro de ti, não com tua alma já lá. Mas minha alma... minha alma por essas colinas que eu nunca mais vi, por essas pedras que nascem do chão, por essas florestas! Minha alma não cabe dentro de mim também! Mesmo que eu não tenha outra alma! Minha alma se derrete e derrama pelos campos, minha alma voa e envolve-devora as vacas e os animais que vivem ali. Minha alma vira uma preá e corre dentro de si, minha alma vira um jacaré e descansa na sua própria margem, e minha alma é um rio para poder correr por cima e por baixo da terra, e minha alma é pedra, é ouro, é quartzo é serpente e minha alma cresce e de repente é o mundo e uma ave gigante passando com garras sobre nós.
Mas tudo isso é um sonho porque eu estou sozinha.
E tudo isso é um sonho porque eu não estou sozinha.
Então eu quero ir pra Minas, então eu vou como tiver de ser, e se tiver de ser com você, será, e se tiver que ser de outro jeito, pode ser também. Mas eu quero parar para subir nas árvores e eu quero esquecer da própria viagem. E não chegar a lugar algum, e me surpreender com haver lá pessoas. Eu não vou ser eu lá, eu vou ser uma turista, sentindo o cheiro da terra e tentando se reconhecer. Eu vou botar a terra na boca e perguntar se tem gosto de mim. E eu vou andar devagar, e te mostrar exatamente porque cada passo vai me fazer morrer, e cada toque vai me renascer.
Mas toda vez que eu puder, eu vou te deixar. Se você puder ficar só. E eu vou andar e andar e você nem vai existir. Porque você pode me guiar por uma estrada, mas você não pode me perder por ela. E eu, quando eu vir o que eu vejo, eu irei... E voltarei depois, falando de coisas que você entende-não-entende: falando de árvores, de montanhas, da Perdição, do Vorácito! E encherei você de todas as coisas que são eu-mundo, que são eu e que são o mundo e você ficará me olhando, sem entender e entendendo, sem me conhecer e conhecendo, e sem saber exatamente o que eu sou e onde termina e começa o que é o tudo.
Eu vou ser isso.
E nós vamos saber, com uma troca de olhares, se isso foi certo.
mas não quero ir com você.
Não quero ir com você nem com ninguém.
Não, porque quando eu for a Minas eu não vou estar procurando amor,
nem alegria
nem viagem nem liberdade
(nem liberdade!)
eu vou estar procurando outra coisa
que é um pedaço de mim que eu deixei lá muito tempo atrás
Se eu for a Minas, eu encontrarei meus dentes? Eu encontrarei meus pés que se distraíram e quiseram andar sozinhos por todas as infinitas colinas até o horizonte?
Se eu for a Minas, eu encontrarei meus olhos que não conseguiram parar de olhar? Meus pulmões que se inflaram com o ar e flutuaram pra sempre, como fogos-fátuos?
E quero ir e eu quero ter meus sapatos de andar e andar.
Eu queria ir sozinha, para atravessar o deserto de mim e encontrar a essência da solidão debaixo do sol e entre as árvores. Eu queria ir e pegar uma insolação, e me jogar na água de um córrego pra me ser água, pra me fundir com a água. E no final da noite, logo antes do amanhecer, eu estaria dormindo aninhada entre pedras que nascem do solo. Eu queria ir... pra me perder. Pra me perder completamente, todas as referências. Se fosse pra voltar, eu cairia de novo na estrada. Mas não. Eu queria ir e reaprender a falar, e falar as sete línguas dos pássaros. E a pedra e o buriti, que só os mineiros sabem. Eu iria e me tornaria outra, mas me tornaria eu. Eu fecharia os olhos para ver melhor. Eu abriria os olhos para absorver tudo o que existisse.
Minha alma não cabe dentro de ti, não com tua alma já lá. Mas minha alma... minha alma por essas colinas que eu nunca mais vi, por essas pedras que nascem do chão, por essas florestas! Minha alma não cabe dentro de mim também! Mesmo que eu não tenha outra alma! Minha alma se derrete e derrama pelos campos, minha alma voa e envolve-devora as vacas e os animais que vivem ali. Minha alma vira uma preá e corre dentro de si, minha alma vira um jacaré e descansa na sua própria margem, e minha alma é um rio para poder correr por cima e por baixo da terra, e minha alma é pedra, é ouro, é quartzo é serpente e minha alma cresce e de repente é o mundo e uma ave gigante passando com garras sobre nós.
Mas tudo isso é um sonho porque eu estou sozinha.
E tudo isso é um sonho porque eu não estou sozinha.
Então eu quero ir pra Minas, então eu vou como tiver de ser, e se tiver de ser com você, será, e se tiver que ser de outro jeito, pode ser também. Mas eu quero parar para subir nas árvores e eu quero esquecer da própria viagem. E não chegar a lugar algum, e me surpreender com haver lá pessoas. Eu não vou ser eu lá, eu vou ser uma turista, sentindo o cheiro da terra e tentando se reconhecer. Eu vou botar a terra na boca e perguntar se tem gosto de mim. E eu vou andar devagar, e te mostrar exatamente porque cada passo vai me fazer morrer, e cada toque vai me renascer.
Mas toda vez que eu puder, eu vou te deixar. Se você puder ficar só. E eu vou andar e andar e você nem vai existir. Porque você pode me guiar por uma estrada, mas você não pode me perder por ela. E eu, quando eu vir o que eu vejo, eu irei... E voltarei depois, falando de coisas que você entende-não-entende: falando de árvores, de montanhas, da Perdição, do Vorácito! E encherei você de todas as coisas que são eu-mundo, que são eu e que são o mundo e você ficará me olhando, sem entender e entendendo, sem me conhecer e conhecendo, e sem saber exatamente o que eu sou e onde termina e começa o que é o tudo.
Eu vou ser isso.
E nós vamos saber, com uma troca de olhares, se isso foi certo.
terça-feira, 4 de maio de 2010
Paragens Internas - resumo dos capítulos anteriores - o primeiro dia e a primeira noite
Isto aqui costumava ser uma grande floresta. Ia até onde a vista alcança e mais além. Esta parte juntava com aqueles bosques escuros ali distantes, e do outro lado corria até mergulhar no que agora são charcos, perto do desfiladeiro. E antes disso havia uma grande planície, uma campina sempre verde e viva dos quais poucos ainda se lembram bem. Eu mesmo nasci nos últimos dias daquela campina, no último verão glorioso antes de tudo se transformar. Mas daquele tempo eu me lembro que era inteiramente habitado pelo ruflar das asas de infinitos pássaros, e que tudo era cheio de luz. Tudo era tão vivo! O campo se cobria de flores diferentes a cada estação, e eram de todas as cores e atraíam todos os bichos. Este lugar era como um jardim imenso que se estendia do Mar do Oeste até os confins do infinito do outro lado, e era habitado por espíritos livres que mudavam de forma e viajavam em infindas brincadeiras. Naquela era o Tempo não existia, e os espíritos que nasciam logo amadureciam e voltavam a ser crianças, apenas pelo prazer da mudança. Tudo o que vivia aqui era dotado de asas, embora alguns optassem por viver nas águas e outros preferissem correr sob ou sobre a terra.
Então veio a Grande Morte, quando um tremor abalou a terra e os mares recuaram, inundando toda a parte de trás do mundo, onde viviam as coisas mais selvagens. E aqui, a terra secou e endureceu, e todos os seres morreram ou fugiram para aguardar debaixo da proteção das montanhas. O Sol estancou no céu, e a Lua ficou parada a iluminar o lado de trás do mundo; e foi aí também que o Tempo começou. E por um tempo infinito vivemos na sombra e esperamos sem que nada mudasse além das nossas formas, pois enquanto esperamos nossas asas se despedaçaram em dor e e nossos dedos se transformaram em garras, e não podíamos mais tocar músicas alegres, apenas entoar lamentos sem palavras. Lá fora, não havia nenhum vento sobre a terra ressecada, e o único movimento era o de um tímido rio vermelho que escorria lentamente na superfície da terra, nascido dentro de uma montanha e que desaguava no Mundo de Fora através da saída do Poço. Então, quando o mêdo da morte começava a se apoderar de nós, entrou no mundo um espírito sem idade, o único herói verdadeiro de nossa história, a quem chamamos Rin, que na língüa de então significava fio, como o de uma lâmina, mas que também quer dizer aquele que é, ou o que pertence. E Rin também foi chamado de o Salvador. e de Espírito-Criança, mas o nome pelo qual todos os que vieram depois se lembram dele é Rin Rad, pois Rad significa tigre e era pelos tigres, de todas as criaturas que vieram depois, que Rin tinha maior respeito. E assim que chegou ao mundo Rin desceu aos os mais profundos subterrâneos e também andou até os mais distantes mares, e neles nadou e conheceu as coisas selvagens, mas logo voltou, porque no mar não havia dor, e Rin não podia abandonar a dor da terra assolada pela Grande Morte. Munido desse amor pela alegria das coisas, e da água do mar onde se banhara, Rin Rad subiu o Rio de Sangue até a sua nascente, e ali, de alguma forma que ainda não conhecemos, nosso herói transformou todo o sangue em lágrimas, e deu às lágrimas o poder de criar e curar, e fez a água correr para que tudo o que houvesse no mundo se enchesse de vida.
Então o sol se desprendeu no Céu e conseguiu finalmente concluir seu longo crespúsculo. O período que se seguiu foi chamado por nós de A Grande Noite. A terra toda se cobriu de plantas que cresceram selvagenmente em uma enorme floresta, e todas as criaturas que andam e correm saíram de seus esconderijos para habitá-la. E como a vida da floresta viesse da água do mar que Rin colhera, as coisas que nasceram ali eram ferozes como os habitantes de Atrás. Naquele tempo não haviam estrelas, então, para que tivéssemos alguma luz, Rin Rad plantou suas próprias sementes no solo à margem do Rio de Sangue, e ali cresceram árvores cujos frutos eram gemas luminosas de todos os matizes. O mundo se enchera de alegria pela libertação da terra, mas as criaturas que o habitavam não possuíam mais asas e viviam mudando entre formas sombrias, mesmo que coloridas, que rastejavam e se enroscavam ao redor das árvores das luzes, já que somente elas tinham algo da delicadeza e da vivacidade que existiam no mundo antes da Grande Morte. Então Rin Rad cantou para a terra e a terra respondeu ao seu canto e criou os Caçadores, que nasceram para ser os habitantes de direito da nova floresta, e entre estes Rin chamou os Tigres, os Lobos, os Ursos e as Panteras e entregou a cada família um fruto de uma das árvores, e mandou que eles se espalhassem e dividissem as terras como lhes aprazisse, e que protegessem suas gemas e cuidassem para que elas não perdessem o brilho. Assim as luzes se espalharam e espalharam sua magia por todas as partes, e os seres que mudavam de forma se espalharam atrás delas, e muitos deles se disfarçaram de caçadores para permanecerem próximos a um fruto, e muitos outros se transformaram em animais pequenos para que pudessem se infiltrar nas tocas dos caçadores, mas nenhum deles jamais teve um fruto em seu poder, e por isso seu pesar pela perda da luz de antes nunca arrefeceu.
E com o tempo os habitantes do mundo se acostumaram com a nova floresta, e muitos deles começaram a se colorir com as cores das gemas das árvores e a criar novas formas, e afinal um grupo deles decidiu tomar uma área nos limites da floresta e transformá-la numa grande campina, onde os espíritos antigos criaram novas formas, baseadas nas formas que usavam antes da Grande Morte, mas voltadas para o brilho colorido que emanava da floresta, em lugar do sol. E, vendo as dificuldades dos espíritos da campina, a Leoa pediu a Rin uma de suas pedras, e Rin fez uma árvore nova, que dava frutos brancos e mais brilhantes que os outros, e a Leoa levou seus frutos para a campina e alí criou seu território, onde sempre havia tranqüilidade e paz. E nesse campina também ressurgiram a Queni e a Quemi, os Pássaros de Fogo e de Cor, que decidiram voltar para a floresta quando tiveram suficiente confiança em suas asas, e então ajudaram a nascer novas aves entre os Caçadores, das quais as primeiras foram a Coruja e o Gavião. E assim a Floresta cresceu e ganhou forma e vida, e seus habitantes se multiplicaram e se transformaram para ficarem mais graciosos e mais ferozes, e se aprimoraram caçando e guerreando mas também cantando à margem do Rio de Sangue em homenagem a Rin Rad e às luzes das árvores. Eles também cantavam ocasionalmente em nome da Senhora, que partira durante a Grande Morte e que desde então não fora vista, e conta-se que foi de tanto eles chamarem seu nome que em dado momento ela retornou.
Então veio a Grande Morte, quando um tremor abalou a terra e os mares recuaram, inundando toda a parte de trás do mundo, onde viviam as coisas mais selvagens. E aqui, a terra secou e endureceu, e todos os seres morreram ou fugiram para aguardar debaixo da proteção das montanhas. O Sol estancou no céu, e a Lua ficou parada a iluminar o lado de trás do mundo; e foi aí também que o Tempo começou. E por um tempo infinito vivemos na sombra e esperamos sem que nada mudasse além das nossas formas, pois enquanto esperamos nossas asas se despedaçaram em dor e e nossos dedos se transformaram em garras, e não podíamos mais tocar músicas alegres, apenas entoar lamentos sem palavras. Lá fora, não havia nenhum vento sobre a terra ressecada, e o único movimento era o de um tímido rio vermelho que escorria lentamente na superfície da terra, nascido dentro de uma montanha e que desaguava no Mundo de Fora através da saída do Poço. Então, quando o mêdo da morte começava a se apoderar de nós, entrou no mundo um espírito sem idade, o único herói verdadeiro de nossa história, a quem chamamos Rin, que na língüa de então significava fio, como o de uma lâmina, mas que também quer dizer aquele que é, ou o que pertence. E Rin também foi chamado de o Salvador. e de Espírito-Criança, mas o nome pelo qual todos os que vieram depois se lembram dele é Rin Rad, pois Rad significa tigre e era pelos tigres, de todas as criaturas que vieram depois, que Rin tinha maior respeito. E assim que chegou ao mundo Rin desceu aos os mais profundos subterrâneos e também andou até os mais distantes mares, e neles nadou e conheceu as coisas selvagens, mas logo voltou, porque no mar não havia dor, e Rin não podia abandonar a dor da terra assolada pela Grande Morte. Munido desse amor pela alegria das coisas, e da água do mar onde se banhara, Rin Rad subiu o Rio de Sangue até a sua nascente, e ali, de alguma forma que ainda não conhecemos, nosso herói transformou todo o sangue em lágrimas, e deu às lágrimas o poder de criar e curar, e fez a água correr para que tudo o que houvesse no mundo se enchesse de vida.
Então o sol se desprendeu no Céu e conseguiu finalmente concluir seu longo crespúsculo. O período que se seguiu foi chamado por nós de A Grande Noite. A terra toda se cobriu de plantas que cresceram selvagenmente em uma enorme floresta, e todas as criaturas que andam e correm saíram de seus esconderijos para habitá-la. E como a vida da floresta viesse da água do mar que Rin colhera, as coisas que nasceram ali eram ferozes como os habitantes de Atrás. Naquele tempo não haviam estrelas, então, para que tivéssemos alguma luz, Rin Rad plantou suas próprias sementes no solo à margem do Rio de Sangue, e ali cresceram árvores cujos frutos eram gemas luminosas de todos os matizes. O mundo se enchera de alegria pela libertação da terra, mas as criaturas que o habitavam não possuíam mais asas e viviam mudando entre formas sombrias, mesmo que coloridas, que rastejavam e se enroscavam ao redor das árvores das luzes, já que somente elas tinham algo da delicadeza e da vivacidade que existiam no mundo antes da Grande Morte. Então Rin Rad cantou para a terra e a terra respondeu ao seu canto e criou os Caçadores, que nasceram para ser os habitantes de direito da nova floresta, e entre estes Rin chamou os Tigres, os Lobos, os Ursos e as Panteras e entregou a cada família um fruto de uma das árvores, e mandou que eles se espalhassem e dividissem as terras como lhes aprazisse, e que protegessem suas gemas e cuidassem para que elas não perdessem o brilho. Assim as luzes se espalharam e espalharam sua magia por todas as partes, e os seres que mudavam de forma se espalharam atrás delas, e muitos deles se disfarçaram de caçadores para permanecerem próximos a um fruto, e muitos outros se transformaram em animais pequenos para que pudessem se infiltrar nas tocas dos caçadores, mas nenhum deles jamais teve um fruto em seu poder, e por isso seu pesar pela perda da luz de antes nunca arrefeceu.
E com o tempo os habitantes do mundo se acostumaram com a nova floresta, e muitos deles começaram a se colorir com as cores das gemas das árvores e a criar novas formas, e afinal um grupo deles decidiu tomar uma área nos limites da floresta e transformá-la numa grande campina, onde os espíritos antigos criaram novas formas, baseadas nas formas que usavam antes da Grande Morte, mas voltadas para o brilho colorido que emanava da floresta, em lugar do sol. E, vendo as dificuldades dos espíritos da campina, a Leoa pediu a Rin uma de suas pedras, e Rin fez uma árvore nova, que dava frutos brancos e mais brilhantes que os outros, e a Leoa levou seus frutos para a campina e alí criou seu território, onde sempre havia tranqüilidade e paz. E nesse campina também ressurgiram a Queni e a Quemi, os Pássaros de Fogo e de Cor, que decidiram voltar para a floresta quando tiveram suficiente confiança em suas asas, e então ajudaram a nascer novas aves entre os Caçadores, das quais as primeiras foram a Coruja e o Gavião. E assim a Floresta cresceu e ganhou forma e vida, e seus habitantes se multiplicaram e se transformaram para ficarem mais graciosos e mais ferozes, e se aprimoraram caçando e guerreando mas também cantando à margem do Rio de Sangue em homenagem a Rin Rad e às luzes das árvores. Eles também cantavam ocasionalmente em nome da Senhora, que partira durante a Grande Morte e que desde então não fora vista, e conta-se que foi de tanto eles chamarem seu nome que em dado momento ela retornou.
segunda-feira, 3 de maio de 2010
Me ouve:
Eu queria saber por que eu falo tão pouco com você. Quer dizer, eu falo muito, eu falo até mais do que com muita gente, eu discuto coisas que só com você, mas às vezes eu sinto que você confia em mim e eu não mereço, que você confia em mim e eu não consigo confiar assim em você, eu queria saber o que é que faz isso, ou talvez eu esteja enganada e você também esteja escondendo muita coisa de mim, mas eu sei, eu ainda sei, eu me limito pra não precisar revelar, você revela pra não precisar se limitar, eu sempre acho que você está certa e eu estou errada.
Eu te amo, eu queria dizer, e eu confiaria a minha vida a você, mas será que você saberia o que fazer com ela? É o que eu pergunto. Por que eu não posso simplesmente ir até você e contar tudo, me abrir — você entenderia, ou pelo menos acho que você entenderia que mesmo quando eu estivesse errada não seria sem um bom motivo. Eu me pergunto por que eu não posso contar a ninguém, por que dói, por que eu me sinto tão sozinha quando estou tentando viver a vida normalmente e nada no meu universo parece se encaixar tão bem quanto você faz parecer.
E eu sei que você é tão frágil quanto eu, mas você não é tão selvagem, você não deve estar tão fora do mundo quanto eu me sinto agora, quando tudo gira, você pelo menos tem o seu trabalho, você parece ter alguma mínima idéia; eu não sei, eu sei o que eu estou fazendo, mas eu não sei mais por que, eu não sei por que eu não me atiro contra as coisas, eu quero ser uma força da natureza, eu quero ter aquele tipo de poder que faz com que você veja as coisas, mas no momento eu não tenho nada, só essa vontade louca, e uma necessidade absurda de pedir ajuda, mas eu nem sei, eu nunca soube por onde começar. E por que eu não consigo ir até você e te pedir ajuda? Por que eu não consigo simplesmente me abrir e chorar e gritar e pedir por favor pra me mostrar aonde eu estou fazendo certo?
Eu não sei, eu acho — hoje quando veio aquela história da mancha de óleo no golfo do México eu entrei num desespêro tão grande que eu quis explodir, e depois uma impotência tão grande que eu quis me esconder, e eu acho que você entende, eu quero acreditar que você entende porque às vezes eu me encolho e fico muda e não consigo falar nada, porque às vezes eu danço sozinha, porque às vezes eu durmo pra não ter que pensar e depois eu acho muito difícil acordar porque parece que a minha vida é só uma coisinha insignificante num mundo onde coisas horríveis acontecem. E tem dias, como hoje, em que eu estou só tentando esquecer, tentando me distrair, porque hoje eu não tenho aquelas pessoas (aqueles) que fazem todas as coisas nas quais eu em geral penso parecerem menos avassaladoras, e hoje eu só consegui pensar que talvez eu seja dependente de estar encantada por uma pá de gentes e quando nenhuma dessas gentes está na cidade por mais que eu esteja com gente que eu amo muito e que eu adoro todas as coisas difíceis se tornam mais difíceis e todas as coisas fáceis parecem meio difíceis também.
E eu penso por que eu não disse isso, por que eu só me encolhi e fui escrever e resolvi dormir (dormir pra esquecer) por que quando eu estava bebendo eu estava pensando quem sabe se eu beber, eu estava pensando em ficar um pouco menos consciente, enquanto a gente discutia casamento eu ria porque eu por um lado estava feliz por outro lado não havia nada, havia um nada, um vazio imenso, uma quantidade muito grande de mêdos entre eu e você.
Eu não sei como começar; eu deveria falar antes das coisas que eu amo, de Minas, das Árvores, do sol, do Mar, do vôo da coruja, das capivaras e preás, do vento quando eu abro os braços descendo uma ladeira de bicicleta, do vento no rosto quando eu estou no topo do mundo, do vento antes da tempestade, das Pedras que são o mais próximo que eu fui de Deus, do vento que infla as velas, de andar de moto, do cheiro dos pêlos dos gatos, dos olhos dos cavalos e das cabras, do pôr do sol, de Minas, da minha alma? E será que daí devo passar ao que me apavora, às mortes aos milhares de criaturas diversas, da devastação, da possibilidade de um dia não haverem mais árvores centenárias? Eu não sei se vocês entendem, como eu sei que você entende, o que eu senti hoje de manhã quando falamos sobre o petróleo, o que eu sinto toda vez quando eu vejo um pequeno pássaro ferido. Não é tanto a dor da dor do pássaro, que já é imensa, é também a dor de saber que não posso fazer nada, que ele vai morrer e eu não sei sequer o seu nome, o que ele come, onde ele vive. Aliás, o que eu senti quando eu vi Avatar e eu vi aquela árvore Father Tree desabando e eu me encolhi na poltrona; eu não queria ver aquilo, eu não queria sentir aquilo, aquela dor sem tamanho, não importa se é ficção, eu sou dessas pessoas que choram; aliás, eu acho que é isso, essa dor avassaladora que eu sinto quando eu sou o Barbárvore e eu vejo a planície desolada e o único som que pode descrever a minha dor é o urro assolado de dentro do meu corpo de árvore, é o urro assolado da ira de todas as florestas do mundo — eu sou aquele urro. "Tudo tem seu valor, e cada um contribui para o valor dos outros. Mas os kelvar podem fugir ou se defender, ao passo que os olvar que crescem, não. E, entre estes, prezo mais as árvores.
Às vezes eu acho que daqui a cinqüenta anos eu ainda vou estar me perguntando porque eu não fui estudar bichinhos e plantinhas. E às vezes eu odeio esse pensamento.
A pergunta mais importante é se tudo o que temos em comum (inclusive essa dor das coisas que temos em comum) é base suficiente pra eu conseguir te explicar as minhas outras dores. Te explicar o meu nervoso e aquelas coisas que eu só falo aos pedaços para alguns poucos homens com quem minha alma por acaso se encontra. Aquelas coisas sobre as quais eu não vou falar, porque é fácil falar de árvores mas não é fácil falar daquelas coisas que não têm tanto a ver com árvores. Aquelas coisas que...
Mas não. Não, chega!
Eu te amo, eu queria dizer, e eu confiaria a minha vida a você, mas será que você saberia o que fazer com ela? É o que eu pergunto. Por que eu não posso simplesmente ir até você e contar tudo, me abrir — você entenderia, ou pelo menos acho que você entenderia que mesmo quando eu estivesse errada não seria sem um bom motivo. Eu me pergunto por que eu não posso contar a ninguém, por que dói, por que eu me sinto tão sozinha quando estou tentando viver a vida normalmente e nada no meu universo parece se encaixar tão bem quanto você faz parecer.
E eu sei que você é tão frágil quanto eu, mas você não é tão selvagem, você não deve estar tão fora do mundo quanto eu me sinto agora, quando tudo gira, você pelo menos tem o seu trabalho, você parece ter alguma mínima idéia; eu não sei, eu sei o que eu estou fazendo, mas eu não sei mais por que, eu não sei por que eu não me atiro contra as coisas, eu quero ser uma força da natureza, eu quero ter aquele tipo de poder que faz com que você veja as coisas, mas no momento eu não tenho nada, só essa vontade louca, e uma necessidade absurda de pedir ajuda, mas eu nem sei, eu nunca soube por onde começar. E por que eu não consigo ir até você e te pedir ajuda? Por que eu não consigo simplesmente me abrir e chorar e gritar e pedir por favor pra me mostrar aonde eu estou fazendo certo?
Eu não sei, eu acho — hoje quando veio aquela história da mancha de óleo no golfo do México eu entrei num desespêro tão grande que eu quis explodir, e depois uma impotência tão grande que eu quis me esconder, e eu acho que você entende, eu quero acreditar que você entende porque às vezes eu me encolho e fico muda e não consigo falar nada, porque às vezes eu danço sozinha, porque às vezes eu durmo pra não ter que pensar e depois eu acho muito difícil acordar porque parece que a minha vida é só uma coisinha insignificante num mundo onde coisas horríveis acontecem. E tem dias, como hoje, em que eu estou só tentando esquecer, tentando me distrair, porque hoje eu não tenho aquelas pessoas (aqueles) que fazem todas as coisas nas quais eu em geral penso parecerem menos avassaladoras, e hoje eu só consegui pensar que talvez eu seja dependente de estar encantada por uma pá de gentes e quando nenhuma dessas gentes está na cidade por mais que eu esteja com gente que eu amo muito e que eu adoro todas as coisas difíceis se tornam mais difíceis e todas as coisas fáceis parecem meio difíceis também.
E eu penso por que eu não disse isso, por que eu só me encolhi e fui escrever e resolvi dormir (dormir pra esquecer) por que quando eu estava bebendo eu estava pensando quem sabe se eu beber, eu estava pensando em ficar um pouco menos consciente, enquanto a gente discutia casamento eu ria porque eu por um lado estava feliz por outro lado não havia nada, havia um nada, um vazio imenso, uma quantidade muito grande de mêdos entre eu e você.
Eu não sei como começar; eu deveria falar antes das coisas que eu amo, de Minas, das Árvores, do sol, do Mar, do vôo da coruja, das capivaras e preás, do vento quando eu abro os braços descendo uma ladeira de bicicleta, do vento no rosto quando eu estou no topo do mundo, do vento antes da tempestade, das Pedras que são o mais próximo que eu fui de Deus, do vento que infla as velas, de andar de moto, do cheiro dos pêlos dos gatos, dos olhos dos cavalos e das cabras, do pôr do sol, de Minas, da minha alma? E será que daí devo passar ao que me apavora, às mortes aos milhares de criaturas diversas, da devastação, da possibilidade de um dia não haverem mais árvores centenárias? Eu não sei se vocês entendem, como eu sei que você entende, o que eu senti hoje de manhã quando falamos sobre o petróleo, o que eu sinto toda vez quando eu vejo um pequeno pássaro ferido. Não é tanto a dor da dor do pássaro, que já é imensa, é também a dor de saber que não posso fazer nada, que ele vai morrer e eu não sei sequer o seu nome, o que ele come, onde ele vive. Aliás, o que eu senti quando eu vi Avatar e eu vi aquela árvore Father Tree desabando e eu me encolhi na poltrona; eu não queria ver aquilo, eu não queria sentir aquilo, aquela dor sem tamanho, não importa se é ficção, eu sou dessas pessoas que choram; aliás, eu acho que é isso, essa dor avassaladora que eu sinto quando eu sou o Barbárvore e eu vejo a planície desolada e o único som que pode descrever a minha dor é o urro assolado de dentro do meu corpo de árvore, é o urro assolado da ira de todas as florestas do mundo — eu sou aquele urro. "Tudo tem seu valor, e cada um contribui para o valor dos outros. Mas os kelvar podem fugir ou se defender, ao passo que os olvar que crescem, não. E, entre estes, prezo mais as árvores.
Às vezes eu acho que daqui a cinqüenta anos eu ainda vou estar me perguntando porque eu não fui estudar bichinhos e plantinhas. E às vezes eu odeio esse pensamento.
A pergunta mais importante é se tudo o que temos em comum (inclusive essa dor das coisas que temos em comum) é base suficiente pra eu conseguir te explicar as minhas outras dores. Te explicar o meu nervoso e aquelas coisas que eu só falo aos pedaços para alguns poucos homens com quem minha alma por acaso se encontra. Aquelas coisas sobre as quais eu não vou falar, porque é fácil falar de árvores mas não é fácil falar daquelas coisas que não têm tanto a ver com árvores. Aquelas coisas que...
Mas não. Não, chega!
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