Eu guardo todas as lembranças de você com o meior cuidado, organizadas, sempre ao meu alcance. Não são só as lembranças das conversas, dos olhares, das vezes em que realmente estivemos juntos; são também lembranças de conversas com outras pessoas sobre você, e de coisas que eu pensei sobre você, e até mesmo as imagens de algumas pessoas parecidas com você. É incrível como mais gente se parece com você do que com qualquer outra pessoa. E ainda assim nenhuma delas é você, nenhuma delas causa em mim o mesmo que eu sinto em relação à você. Penso que talvez tudo o que eu sinto seja só porque pude apenas te provar, e talvez eu tenha o mesmo desejo de alguém que deu uma mordida pequena num doce perfeito que não podia comer. E como essa pessoa eu anseio por me fartar desse gosto, eu anseio pela sensação de encher a boca com o seu sabor.
Às vezes eu passo perto da sua casa e eu sempre tenho uma esperança fútil de que você esteja saindo ou chegando e que a gente possa se esbarrar. Eu até cheguei a te ver uma ou duas vezes, acho que você acenou pra mim uma vez, mas nenhuma vez, nem por um instante, eu enxerguei aquele você de verdade, aquele por-dentro que é o que eu quero saber, e saborear, de você. Acho que é tão fácil lembrar de cada palavra sua porque foram tão poucas e porque tão quase nunca eram verdadeiras. Se eu pude enxergar o seu mêdo, o seu vacilo, a sua coragem, eu ainda não consegui enxergar aquilo que faz de você o que é, que é o que eu quero. Por mais fundo que eu tenha olhado nos seus olhos você ainda não me mostrou o fundo deles, ou o que há por trás... E talvez eu também não tenha tido coragem de ir tão fundo.
Mas é que eu não esperava que nosso tempo fosse ser tão curto e atribulado, eu achei que um dia eu poderia te rever e que você estaria lá, mas você nunca esteve. Eu não esperava que mesmo que eu te visse outra vez eu nunca mais conseguisse enxergar você. Ou que só em um momento, fulgaz e maravilhoso, eu conseguisse sentir o que havia de coração em você — e que nesse momento o tempo tivesse acabado, e eu sequer pudesse te perguntar, Você pode sentir meu cheiro agora? Eu não esperava que fosse tão difícil. E agora, eu simplesmente não sei como sair disso.
Você é a presa que eu não posso desistir de caçar, você é o dragão impossível para a parte de mim que é Roder. Já se passaram tantos meses e eu ainda estremeço à mais fútil menção do seu nome. Mas o que estremece? É o desejo sempre forte que tenho que conhecer você? Ou é o segredo daquilo de você que eu já conheço, e que mal se combina com o que sempre se fala a seu respeito? Será que é simplesmente uma questão de intimidade, até uma certa possessividade? Porque você não é meu, e eu acho (ou temo) que nunca será meu, mas o que eu tenho de você é tão meu e tão forte que eu às vezes tenho mêdo de que mesmo se eu chegasse a conhecê-lo ainda assim eu não ficaria satisfeita. Mas será que o que eu vi nos seus olhos é mesmo tão distante do que você é? Será que o que tenho de você não é nem um pouco de você de verdade?
Quem é você?! A pergunta se agita como uma fera dentro de mim, a pergunta não ousa sair em público, mas cresce como uma onda que um dia vai quebrar e eu vou te assolar e te engolir e te levar pro fundo das minhas águas. Eu penso em você, mas não é só a fome, não é com olhos de lôba que eu penso em você, eu penso como uma criança que vê uma coisa muito muito bonita. Eu quero saber do que você é feito. Eu quero saber até onde você vai. E por que eu não consigo simplesmente assumir que você nunca fará parte da minha vida e me conformar com isso.
E um dia eu estava conversando com um amigo, eu estava juntando toda a minha coragem para explicar pra ele, para pedir ajuda, por favor, e ele riu de mim e eu encolhi como uma coisa que diminui nas sombras. Foram as palavras que ele usou, a forma como desprezou minha, minha... obcessão seria a palavra certa, se não soasse tão doente. Eu quero você, mas não como eu quero ter algumas coisas, eu não quero te ter. Eu quero desvendar você. Porque toda vez que eu ouço seu nome você me parece mais e mais interessante. Você é aquilo com o que sonho sem sonhar, aquele sabor desconhecido que eu anseio por provar. Eu quero provar sua alma. Eu quero mais que uma noite, uma aventura, eu quero realmente conhecer você. Eu quero me acostumar com você. Eu quero que você se acostume comigo, que você baixe a guarda. Eu quero cativar você, milímetro a milímetro, até você um dia ter vontade de me chamar pra fazer algo banal, como arrumar o quarto ou fazer bolinhos. Eu quero um dia saber que posso te chamar pra qualquer coisa, sem mêdo do que os outros podem pensar, sem mêdo do que você pode pensar. Isso não é uma coisa da qual se rir. É muito verdadeiro. O que eu vejo em você não é apenas a minha loucura. Você é de verdade.
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