segunda-feira, 5 de abril de 2010

Ir?

A característica que mais me assusta em minha família é esse mêdo constante de ir em frente, de terminar, de mudar. Adoramos comer coisas, mas nunca chegamos a ver o fim delas. Nunca concluímos nada. Na verdade muitas vezes nem embarcamos nos nossos projetos. Projetos, projetos, execuções à parte, a casa está vez mais afogada neles. Tanta coisa pra fazer.

(olha, meu firefox est´a corrigindo meu texto em português de portugal)

Eu tenho essa projeto de um dia me formar no segundo grau. É um projeto que me dá muito mêdo. Tudo o que eu faço na faculdade eu faço com o coração na mão. Cada pequeno requerimento. Às vezes eu choro, de raiva ou de mêdo. Eu brigo com meus amigos, com meu namorado, é sempre assim. O que me irrita neles é que eles não estão nervosos com essas coisas que me fazem passar mal. Às vezes eu me encolho num corredor escuro e rezo pra ninguém passar por lá, pra ninguém ver a minha miséria. Eu não pertenço a lugar nenhum, eu não pertenço a ninguém. Não peço a ninguém que me adore, só peço que não me odeie. Quer dizer, menos os meus amigos. Meus amigos eu quero que me amem.

No momento meu mêdo maior (está finalmente se tornando maior do que o mêdo de ser uma incompetente nata) é o de estar indo na direção errada. Eu digo pra todo mundo que quero ir estudar computação, programação corre nas minhas veias, quase nada é tão lindo quanto um código limpo e otimizado ou um circuito impresso bem projetado, eu imagino coisas, minha imaginação é tão bela! Porém...

Porém é claro que há mais lindo, há em todas as partes. Por mais que eu me emocione com a idéia de um projeto moderno, bem século 21, integrar a vida da gente com a tecnologia, transformar o universo numa coisa só, ainda assim não é o que mais me emociona.

Você sabe o que mais me emociona.

A textura das árvores ("abraça a árvore", eles riem)

O barulho das ondas quebrando nas pedras ("tome cuidado", eles pedem)

Às vezes me vêm essa convicção súbita de estar na face de Deus, sabe? Quando ouço ou vejo ou cheiro uma coisa, uma magia que existe nas coisas que existem desde sempre e ainda assim surgiram neste instante (como as ondas)

Entretanto me ocorre que a computação também nunca será mais importante que um cheiro de homem, e isso não me incomoda (estou divagando...)

Me aflige que isso seja o que eu amo, o que me empolga, mas que não seja importante. Será que eu posso mesmo entrar em encontro com as pessoas apenas afinando-as ao mundo contemporâneo? E será que isso importa tanto quanto saber que São Paulo é habitada por cobras? Será que eu terei tanto prazer em aprender qualquer coisa como eu tenho em observar as capivaras do Pinheiros? Será que qualquer emoção que a faculdade me ofereça será tão forte quanto o desejo que eu tenho de protegê-las?

É isso que me aflige quando eu deixo minha mente vagar... Porque eu sei que se eu mergulhar em outra coisa agora, vai ter que ser pra valer. E eu sei que vai ser terrível, horrível, nervoso, se eu me desapaixonar.

É como correr de olhos fechados!

3 comentários:

Marcio Zamboni disse...

todas as profissões tomadas separadamente e pensadas no nível individual vão paracer cedo ou tarde desimportantes ou desinteressantes.
Acho que o importante é não deixar que apenas um atividade domine todas as esferas da sua vida a tal ponto que quando você se desapaixonar por ela a sua vida acabe.
a humanidade tem muitas dimensões, a vida tem muitas dimensões, o trabalho tem muitas dimensões. não espere que apenas uma delas seja capaz de dar um sentido definitivo a todas as outras.
Você está apaixonada por computação? vá fundo. a importância dela não é menor nem mais frágil que a da arte, da medicina ou da filosofia. Só não espere que essa paixão vá por sua vida inteira nos eixos.

Bruno K disse...

"Entretanto me ocorre que a computação também nunca será mais importante que um cheiro de homem, e isso não me incomoda (estou divagando...)"

você é louca?!?!?!

(depois comento o resto. isso é espantoso demais para eu não comentar agora.)

Cardellos disse...

Como se pudesse ver dentro de um ser perdido descreve-me como ao um livro,
estar perdido nao é o problema nem a soluçao, empacado sem saber pra onde ir é o prblema, vá para o lado errado mas vá, nao fique parada, pq ficar parada nao leva a lugar nenhum, nem o errado, nem o certo,
faça vc ser quem quer q vc queira ser.