Garotas que querem "dar"
Em primeiro lugar, eu tenho que dizer que eu não entendo gente que diz que quer dar pra alguém. Eu entendo falar que quer transar, que quer comer, que quer pegar; até que quer fuder. Mas DAR? Dar o quê, aliás? Toda vez que alguém diz isso, fica parecendo que você considera seu corpo um bem material, um objeto que você oferece e espera que o cara aceite. O pior é quando uma mina diz "eu daria pra ele". Sério mesmo? Você não acha que fica parecendo que você está ali com a buceta nas mãos esperando que o cara te note e venha te provar como num buffet? Você não se sente uma coisa de se comer quando você diz isso? Você não acha que você está só se oferecendo, enquanto deixa para o cara a função de escolher que garota ele acha mais apetitosa? Quando você diz que quer dar pra alguém, você está dizendo que quer se oferecer para o prazer daquela pessoa.Mas pô, gente, sexo não é sobre ficar se vendendo para que a pessoa de quem você gosta (não estou nem falando de amor) sinta prazer. Sexo não é sobre alcançar o preço mais alto no leilão dos corpos. Sexo é o tipo de coisa que só faz sentido quando se conquista junto. É o tipo de prazer que vem do devorar mútuo, do querer engolir o outro por todas as partes do corpo. Como alguém pode querer ser passivo, ser comido?
Abstratamente eu até vejo uma explicação, mas não consigo entender de verdade qual o sentido de se comprazer em se submeter a outra pessoa, de se permitir ser usado; como isso pode ser bom?
Aliás, antes que a discussão comece, quero acrescentar que eu percebo que minha revolta não se estende muito convictamente ao mesmo comportamento por parte dos homens gays. Eu me pergunto se é só o meu feminismo que não me permite aceitar a mulher submissa, enquanto o homem submisso ainda me parece suficientemente viril. Aliás um homem que quer ser dominado ainda é só um homem; uma mulher que quer ser domada me parece menos que uma mulher. Como eu detesto meus preconceitos! Como me causa nojo tudo o que eu penso sobre as diferenças entre os sexos no sexo! Preciso me livrar disso, mas não sei como. Me ajudam?
Mas não quero me livrar da minha repulsa inicial: não acho que as pessoas deveriam ficar se dando por aí como num buffet.
Namoros cheios de ciúmes
A segunda coisa que eu não entendo é esse negócio de namoro. Eu já fiz parte de alguns e mesmo assim não entendi. No final do meu segundo namoro eu tinha chegado à conclusão de que não queria mais namorar. Puta trampo isso de ficar se sacrificando, se contendo, tentando agradar, se submetendo aos prazeres do seu amor. Amor não deveria ser uma aventura a dois? Não deveria ser uma coisa espontânea, que debocha das convenções?No final do meu segundo namoro eu queria passar uns quatro anos sem namorar porque já tinha passado quase cinco anos tentando administrar esse negócio de gostar de vários caras e só poder ficar com um (aliás não só caras). Eu tinha namorado quase sem pausa pelos quase quatro anos antes e eu entendia muito bem como aquilo funcionava: como namoro era bom, como era bom confiar, como era bom ter ele só pra mim, como na verdade ele nunca era só pra mim, como eu queria outras coisas, mas evitava chegar perto da tentação pra não me queimar demais e acabar cedendo, como a culpa me dilacerava mesmo eu sendo plenamente fiel (por fora), como perto nunca era perto demais mas freqüentemente longe também não era longe demais. Como era incrivelmente doloroso tudo isso, ficar atando o amor a essas coisas tão desnecessárias! Por que a opção não podia ser minha?! Por que a opção de ser fiel não era inteiramente minha?
Quanta coisa a gente faz por mêdo quando ama alguém e acha que tem que seguir um monte de regras só por causa disso. Não entendo esse namoro baseado em regras que supõe-se proteger o amor mas no fundo só o acorrentam. Prefiro esse namoro mais descansado que tenho com o Di: esse que tem poucas regras, na verdade só uma: de ser sincero, de confiar, de falar tudo e de, se um dia não der mais, avisar antes. Nunca trair, não com o coração. Não ter mêdo. É tão fácil não ter ciúmes. É só confiar em si mesmo. Por tanto tempo eu me condenei por nunca conseguir dar aos homens que eu amo a confiança de eu realmente os amo mais que tudo, mas: às vezes é só uma questão de você ser meu melhor amigo. Abra os braços, eu vou te dar tudo o que eu tenho. Eu vou te dar todo o meu coração, mas escuta, não tem só você dentro dele. Eu amo demais. Não patològicamente demais, mas com certeza demais para as suas ridículas convenções sociais, seus mêdos. E distraidamente demais. Hoje (hoje agora) eu não tenho nenhuma culpa, pelo menos não em relação a meu namorado.
Teve um dia (é importante citar) que eu estava num banco com vários amigos e um cara de quem eu gostava demais, desses que fazem seu coração derreter completamente. E eu estava conversando com ele, derretida, e o Diogo chegou e... Olha, naquela semana eu queria nem mais estar com ele, eu achava que tinha passado, que era só uma pequena paixão, mas quando eu o vi, eu entendi tudo, eu pulei para os braços dele e olhei de volta para o cara, mirei "desculpa", naquele dia eu entendi o que eu estava fazendo, o que eu podia ser se eu conseguisse olhar para o lado certo. Eu abracei o Diogo e eu poderia afogá-lo de amor, e eu entendi quão maravilhoso é não ter regras, não ter culpa, saber que eu não ia me distrair e deixar ele de lado porque cada segundo que eu passasse com outro cara ia ser um segundo a menos pra passar com ele, e eu queria todos os meus segundos. Eu sabia que ia ter tempo e que eventualmente eu ia estar numa festa ou numa viagem e que eu ia querer outras coisas, e que talvez acontecesse um dia de eu querer passar uns dias longe dele, mas eu soube naquela hora, com uma alegria que quase me afogou, que dali em diante a minha felicidade era responsabilidade minha, e que eu podia não ter que me obrigar a nada: porque se eu não tivesse mêdo, ele também não teria, e cada segundo em que a gente estivesse separado seria pra viver algo que nos tornaria maiores depois. Eu nunca tinha sentido tanta liberdade, tanta responsabilidade. Eu nunca achei que eu ia me sentir plenamente feliz por me conter, por sacrificar algumas opções boas. Simplesmente saber que os meus motivos para isso não eram idiotas foi... UAU!
Sabe, neste blog eu estou sempre convidando vocês a olharem o mundo pelos meus olhos. Então agora vejam isto:
E se não existissem regras, e todas as decisões certas que você tomou fossem plenamente de sua responsabilidade? E se não houvesse uma burocracia pra você xingar, e toda vez que você cometesse um erro você pudesse se prometer acertar da próxima vez?
É assim que eu me sinto com ele. Eu me sinto feliz, e absolutamente confortável, e quando eu venho confessar alguma coisa pra ele, não é porque eu estou tentando ser fiel, mas porque ele é o meu melhor amigo.
3 comentários:
também tenho desprezo pelo verbo "dar" em sua conotação sexual.
acho perfeitamente compreensível, e até interessante, o desejo de se entregar totalmente a alguém em um sentido sexual. mas nem mesmo essa entrega completa se resume a "dar": há uma sedução, há um jogo e um diálogo na entrega completa.
Acho escrota a idéia de que tudo que a mulher pode fazer é "dar". A mulher não está entre "segurar" e "liberar": ela seduz, insinua, provoca, se aproxima e todas essas coisas de forma tão ou mais decisiva do que o homem.
Também não sou absolutamente contra papéis, acho que eles tem a sua graça. Acho, aliás, que a graça é brincar com eles (acho que falei disso naquele post sobre a bunda da simone de beauvoir).
Mas não consigo segurar um asco quando ouço dizer que um homem é pegador é uma mulher "dadeira".
acho que super concordo com a forma como você lida com a relação entre regras e responsabilidade em um relacionamento amoroso.
o essencial é de fato a responsabilidade... e de que valem as regras quando se combina sinceridade e responsabilidade?
E quando alguém dá o coração para alguém?
Talvez a expressão tenha evoluído daí...
"Eu daria meu coração para ele"=
"Eu me daria (entregaria) para ele" =
"Eu daria para ele"
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