domingo, 11 de abril de 2010

Designer

Hoje eu li o blog da minha irmã e resolvi deixar um comentário. É meio engraçado como mesmo que não nos encontremos ou conversemos tanto assim sinto que nós duas estamos sempre em sincronia. Vivemos coisas diferentes, tomamos decisões diferentes, mas eu quase sempre me identifico muito com o que ela pensa. É meio difícil isso de estar tão próxima de alguém que tem uma vida diferente. Acho que é difícil não querer às vezes estar na pele dela. É claro que sinto esse tipo de coisa em relação a todas as pessoas que admiro, mas é mais freqüente neste caso.

Bom, quando eu fui deixar o comentário eu comecei a chorar. Assim, lágrimas começaram a correr pelo meu rosto, o que eu poderia fazer. O que eu queria dizer era bem simples: eu queria sentir isso também. Eu sinto às vezes. Esse prazer de ser designer. Depois me sinto mal por isso. Porque não. Não mesmo.

O Gil, monitor de computação no Design, fez arquitetura e depois virou programador e agora é designer de software. Eu queria fazer isso. Essa formação que permite que você seja qualquer coisa. Eu quero ser qualquer coisa. Eu quero poder escolher. Deixar a vida me levar, seguir as correntes dos impulsos. Ter sempre em mente o projeto, as pessoas, perseguir a solução.

Eu sinto dor porque eu odeio o curso que eu tentei fazer pra entrar nesse caminho-não-caminho. Eu sofri lá. Eu chorei. Eu não quero mais pensar nisso, a Ixa disse "larga o design e põe uma pedra em cima", eu quero pôr uma pedra em cima e não pensar nisso, dói demais. Não quero lembrar do quanto isso me machuca. Dos piores anos da minha vida, ou pelo menos da última década. Da minha fraqueza. De todas as frustrações, os fracassos, os trabalhos que eu queria jogar no lixo ao invés de entregar, das apresentações que me fizeram me encolher de vergonha. Da inveja. De como se eu tivesse feito outra coisa eu talvez já estivesse me formando, de como eu vou demorar vários anos pra chegar perto de me formar. De como eu falhei em quase todas as matérias de projeto. Botar uma pedra em cima. Disso tudo eu não quero lembrar.

Mas uma parte de mim, a que se recusa a desistir, não quer esquecer. Eu quero lembrar de cada dor, de cada derrota, e me obrigar a ser mais forte por cada uma delas. E cada sonho: eu quero nunca esquecer minha paixão pelo design finlandês, nunca esquecer que ano passado eu tinha planos incríveis para um tcc, e nunca esquecer do que eu aprendi. Principalmente, a conclusão de que design é tudo. Design é o que faz sentido. Design é projeto. É o que separa os homens dos animais. O que quer que seja que eu faça no futuro, provavelmente vai ser um tipo de design, ou vai estar totalmente envolto em design.

Me incomoda muito que eu não esteja mais num curso voltado para o projeto. Que eu saiba que aquele não é o meu lugar. Que eu queira mais da vida que ser forçada a fazer tudo o que eu não sei. Me incomoda que eu tenha falhado nesse aspecto.

Mas quem sabe? Talvez um dia eu possa voltar, menos frágil, menos despreparada, e terminar aquele projeto que comecei.

3 comentários:

Cardellos disse...

as vezes só encotramos nosso proprio ser procurando MUITO.
eu já errei incotaveis vezes, lembro da maioria e digo pra vc, nao lembre de cada uma, algumas, apenas algumas, fazem mais mau q bem, erre de novo, faça outra coisa, alguma hore vc se encontra.

Utak disse...

lembra má? Você mesmo disse: o erro é importante para o acerto vir. Cói, eu sei, mas o acerto está cada vez mais próximo. Quando mais se erra, mais próximo do acerto estamos...

Você que me disse isso, você sabe quando e por que; não esqueça! É isso aí, bola pra frente.=D

Mariana Wilderom disse...

Do blog da Talita, vim parar no teu. Desculpa a quase intromissão de opinar assim, sem maiores freios. Mas me sensibilizou essa coisa de ser tão inteligente, tão sensível pras coisas todas da escrita a todas as formas de expressão, e não conseguir se sentir segura do projeto (seja do objeto, gráfico, arquitetônico).
Acho que falta gente pra te dar a mão no caminho, sabe? A FAU é uma maluquice sem tamanho. Mas que eu amei demais, depois que finalmente entendi.
Dá impressão de que todo mundo tá entendendo tudo, menos a gente.
Eu nunca chorei tanto que nem no primeiro ano, eu perdi 10 kg... foi física a coisa...
Faltou eu perceber que, quem conseguia, se apegava a alguém, ou algum template que era a raia da piscina, sabe. Dai vc não nada mais pra um lado ou pra outro, consegue ir pra frente.
Tudo é questão de achar uma metodologia, alguém que te oriente. É delimitar muito muito bem o problema, antes de tentar resolvê-lo. Se não a gente se perde e nada fica bom. NADA.E é progressivo... vai minando a confiança, a força de vontade...
Mas é resolver só uma parte, até conseguir estar apto a resolver tudo (e deixar bonito).
queria tanto que gente boa, tão boa quanto você nunca se sentisse assim. porque tenho certeza que é só questão de balizar um pouquinho toda a energia potencial para ela despencar em cinética. se é que faço bom uso dos termos físicos.
tomara que você encontre este caminho. Mas espero que entenda que não é uma questão de capacidade é de encontrar a bendita CNTP, ou metodologia, ou um exemplo. Pegue um exemplo. Comece da cópia. LEIA BRUNO MUNARI: das coisas nascem coisas.
Espero que faça sentido pra você.

de quem se sensibiliza com estas questões.

beijos,
mari