sexta-feira, 5 de agosto de 2005

Tentando encaixar as partes com peças antigas...

Flor da Noite

Pelo que tu clamas
Pelo que tu chamas
Quando te vejo só
e sem saída?

Qual é a verdade insana
Que faz essa força estranha
Que te faz desesperar-te
e a mim em seguida?

Do que que tu reclamas
O que apaga-te a chama
Quê destrói teu pobre
coração só?

Pela luz que o Sol derrama,
Qual a força desumana
Que nos desfaz e nos faz
voltar ao pó?
[9/julho/2003
Quando abri os olhos, nada vi
na grande escuridão que me envolvia
A terra sob mim, tão dura e fria
foi em longo tempo tudo o que senti
pois de repente nada mais havia
na grande perdição que me cercava
e tudo aquilo o que eu tanto amara
me abandonara na noite vazia.
Mas eis que nesse nada a luz surgiu
As minhas mãos, marrons, foi colorindo
e vermelhos meus olhos que choravam.
E o mundo, novo, vívido, se abriu
e a quase nada a luz foi reduzindo
a escuridão que minhas mãos guardavam.
[setembro/2004]
Eu não nasci para ser olhada
mas para ser vista
e não enxergada.

Eu não nasci para ser descrita
mas para ser questionada
e não compreendida.

Eu não nasci para fazer as coisas simples
pois é muito fácil fazê-las complicadas
Eu não nasci para amar e ser amada
ou para declamar poemas, cantar passarinho
Poemas, poesia sim, mas que coração agüenta esse furacão enlouquecido?
É tão mais fácil jogar tudo para o alto
Eu não existo para amar uma só pessoa,
e não, eu não sei fazer escolhas.
Eu não sei me compreender
espero que entendas:
Eu não vivi um dia para ter certezas
mas para ser dúvida pura, eternamente.
[31/5/2004]

Ou, lobo, cantaria a noite,
ou, lobo, correria a luz
do dia sobre seu flanco peludo
das tochas sobre seu torso feridos
o mundo sobre seus ombros ranindo.
A cor da lua era um sonho de prata
a iluminar uma noite vazia
o canto eterno percorre a sombra da mata
mas, lobo, não esquece da alegria.
Ah, lobo, não esquece do passado
que jorra dos vasos a vida passando sola
em que fostes um bêbe sem medo de nada
em que fostes uma criança revolta
Ah, lobo, olha-te à tua volta!
Há lobos correndo em tua escolta
tão precioso que não sabes ser para eles
embora para ti sejas apenas tolo.
Correi da lua o cântico das ondas
num sonho prateado a noite escorre
por pedras e valetas e raízes e vales
e planaltos e planícies que a terra molda
e no descampado enfim o lobo sorre
a beleza do mundo que o engloba
sorrindo porque a vida ainda não cabe
nas correias que o atam à própria morte.
Sorri num único e só ponto obscuro
em que sonho e verdade são sempre iguais;
não há beleza que escape ao seu fogo impuro
ao seu sangue negro escorrendo no mundo escuro.

[26/11/03]

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