domingo, 14 de agosto de 2005

A Respeito da minha Crueldade

Basicamente, eu estou escrevendo esta coisa à uma da manhã por-que (tá bom, eu vou deixar este hífen aí pq achei curiosa a colocação dele...) acho que este texto é razoavelmente importante para a compreensão da mudança que se deu em mim para que eu pudesse chegar às conclusões expressas nos textos seguintes (que aliás são meio repetitivos, espero que você não se importe...)

O negócio é o seguinte: eu sempre achei minha relação com o Yuri meio esquisita, primeiro porque, quando fomos amigos, eu não considerava ele nada próximo de um amigo, segundo porque, quando eu me declarei para ele e ele deu uma resposta idiota (e eu não conseguia dizer em voz alta que ele era idiota nem para mim mesma...), eu decidi que ele seria só um amigo e ele decidiu que seria meu namorado, e terceiro porque nós começamos a namorar quando eu finalmente conseguia dizer em voz alta que ele tinha sido idiota e quando eu ainda estava com muita raiva dele, apesar de amá-lo. E imagino que do lado dele da história ajam outras tantas esquisitices.

Acho que isso é um dos tijolos de sustentação do que vou explicar mais adiante. Outro é ainda mais confuso: envolve, para começar, uma idéia antiga de que uma pessoa não pode, simplesmente, ter um único amor, ou um único namorado durante sua vida inteira. Às vezes eu acredito nisso, às vezes não, mas de qualquer forma é mais ou menos por isso que eu me sinto meio estranha quando alguém fala que eu e o Yuri estamos casados.

E eu também acho que a estranheza da minha relação com o Cham também teve uma influência em tudo o que aconteceu - mas não vou falar sobre isso, no mínimo por uma questão de respeito a quem não vai ler isto aqui (quite some people).

e então tem Julho. êta mês estranho. Julho foi interessante. Não feliz - na verdade, foi confuso, depois triste, depois vazio, depois surreal, depois infeliz - mas bastante interessante, dado tudo o que aconteceu.
Primeiro, foi a viagem a Campos. Acho que não preciso detalhar nada, vocês já sabem, basicamente, o que aconteceu. Ou podem imaginar. Foi bom, na verdade, em muitos estratos. Gostei de conversar com a Gabi e com o Cham (não juntos) sobre coisas das quais nunca tínhamos realmente falado. Além disso a viagem em si foi ótima, divertida, etc. Eu até descobri que consigo passar dez dias inteiros com o Luque e ainda querer vê-lo no dia seguinte. Mas, realmente, acho que a última coisa de que eu precisava naquela viagem de volta era ouvir aquela maldita música da Dido... Ouvir, finjir que não ouvir por trás da dela a voz dele cantando... Porque ela dizia

"I will go down with this ship
And I won't put my hands up and surrender
There will be no white flag above my door
I'm in love and always will be"

E realmente não era isso que eu queria ouvir... Não no estado em que eu estava, não depois daquele pacto... E mesmo quando minha mente me convenceu de que ele estava mais propenso a jogar a toalha que o eu-lírico dessa música, meus sentimentos, em ebulição, já não permitiam que eu me sentisse feliz com o pacto que fizéramos... Tudo o que um dia parecera infinitamente mais certo que o gosto de sangue daquele demônio ruiu, violentamente.
Quando cheguei em Sampa minha vó estava doente. Meus nervos não aguentavam, eu precisaria de muitos abraços. Mas não fui para casa - quis evitar uma crise de abstinência. No dia seguinte, chorei a dor da minha mãe, que perdera a própria mãe. Muito difícil esquecer aquela viagem e aquela música (releiam o post da ocasião para notar), mas mesmo assim deixei o assunto para trás. Os dias se passaram, vazios.

Durante esses dias que se passaram, não consegui me convencer nenhuma vez de que eu realmente devia estar namorando o Yuri. Pensei em mil argumentos para terminar nosso namoro, yet sempre havia também algum empecilho, como minha noção de que se eu o deixasse não teria como explicar meu retorno, no dia seguinte. Achava que um pedido de perdão não ia nos fazer mais felizes. Minha mãe costumava dizer que não se deve incitar a insegurança. Talvez esse argumento fosse o suficiente para acabar com a discussão, mas os sonhos não ajudaram. O gatodemônio me acordou uma manhã com uma proposta indecente. Olhei ao redor, confusa, o quarto vazio, silencioso. Durante esses dias, não senti amor. Acho até que me desapaixonei.
Ao menos foi isso que contei a mim mesma, e ao Yuri, quando estávamos viajando. Acho que eu fui para a Chácara porque lá parecia haver privacidade o suficiente para que eu pudesse contar a ele que não o amava mais, que não via mais sentido em estarmos juntos. Mas eventualmente não sabia mais o que significava amar. E então tomei consciência do que queria dizer aquela frase da música, "Se para sempre é sempre por um triz"... Só então quis de novo dormir nos teus braços, e disse eu-te-amo.

Depois disso aconteceu um monte de coisas. Como eu disse, os sonhos atrapalham: sonhei com uma carta de amor. De novo fiquei insegura, cheguei à estranha conclusão de que estar com o Yuri era "menos pior" que estar sozinha e que isso era idiota e que eu tinha que enfrentar a liberdade. Por fim, sosseguei. Percebi que estar com ele era simplesmente muito bom, muito tranqüilo, muito acertado, para ser apenas "menos pior" que alguma coisa que aliás não é tão ruim.

Mas cheguei a uma conclusão mais adorável: na verdade, tudo aquilo fora para me convencer de que podia ir embora quando realmente não houvesse mais motivo para continuar. Ficar com ele me assustava porque eu amava-o demais, e parecia estranho amar tanto alguém que eu demorei tanto tempo para perdoar. Além disso, às vezes achava que ia ficar com ele para sempre, e isso não só parecia estranho como vagamente desconfortável, já que ele é meu primeiro namorado (claro que sempre existem minha vó ou os pais da Matsu para dizer que não tem nada de errado com isso). E acho que a idéia de pertencer a alguém sempre me incomodou; tanto que tive ódio do Y-kun quando ele disse "Você é minha", tanto que na verdade eu nunca consegui entregar-me totalmente a nada ou a ninguém.

Por isso tudo estou agora mais tranqüila, e resolvi levar adiante o que começara tanto tempo atrás, e que nunca funcionou direito(eu vou dizer isso de novo várias vezes nos próximos posts... ¬¬''). Me sinto mais livre agora, livre para pensar em outras coisas, livre para ser quem eu quiser. Depois que percebi que eu apenas precisava provar que eu era independente para poder entregar-me ao meu amor (amar é pertencer), sinto-me realmente mais segura. Mas ainda restavam outros problemas a serem resolvidos, os quais serão discutidos em outros posts.

"Sou fera, sou bicho, sou anjo e sou mulher
Sou minha mãe e minha filha,
Minha irmã, minha menina
Mas sou minha, só minha e não de quem quiser
Sou Deus, tua Deusa, meu amor"

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