As pessoas vivem dizendo coisas assim, "Não chore pelo leite derramado", "Seguir em frente sem olhar para trás", "Águas passadas não voltam mais". Pois é, não voltam. Ainda assim, perdemos tempo e energia procurando coisas pelas quais nos apaixonamos quando éramos crianças. Por exemplo, quando eu era criança inventei histórias demais. Tantas, que nenhuma delas era lá muito interessante. Na verdade, até que eram bem legais. Mas aos poucos eu fui me dando conta de que elas eram impublicáveis, pois só falavam de mim, da minha vida, e de como eu queria que ela fosse. A Louba Zaty nada mais é do que uma projeção de como às vezes eu queria que minha vida fosse. O interessante é que em certo momento a Louba torna-se cansada e amargurada por todo o sangue derramado e todo o horror que presenciou ou do qual tomou parte. Talvez fosse uma espécie de consolo, como um dizer: se você vivesse assim, seria infeliz também. Mesmo assim, eu sonhava com Ziget, terra da liberdade, onde eu podia tudo, e tudo era um sonho infantil. Sempre que me refugiava lá, o planeta inteiro me recebia amorosamente, como uma velha companheira que há muito não voltasse para casa. Acho que era essa toda a idéia. Por isso várias vezes eu deixei Ziget, para retornar anos mais tarde. Acho que de quando em quando eu fazia um amigo no mundo real, que fazia a voda um pouco menos terrível. Agora, porém, estou matando essa criança, e abandonando a Velha Floresta, onde procuramos cristais e em cujos rios nos banhamos tranqüilamente, mais uma vez.
Hoje, estou assassinando sonhos infantis. Estou quebrando minha coleção de espadas, e é com dor no coração que vejo-as se desfazendo em pó. Sentirei falta de Ziget, dos gigantes azuis, das casas na floresta ou na montanha, daquele gosto de sangue. Mas são águas passadas. Não há nada à minha frente, mas morro se olhar para trás. Hoje, mato uma criança. Hoje, não sou mais quem fui. Quero superar minha incapacidade de deixar para trás quem me amou mais do que eu sabia amar. Quem, aliás, me fez notar o quanto eu não sabia amar. Estou iniciando uma guerra contra um sentimento ao qual não posso me apegar. Estou apagando-o. Oficialmente, vou lutar por ir além do que sempre fui. Vou dar um significado aos meus desenhos. Vou escrever minhas histórias, mas não aquelas que não posso publicar. Não quero mais fazer fics. Não quero mais chorar. Vou devolver o demônio ao seu inferno. Acho que pela primeira vez quero fazer um amigo, de verdade. Sem enganar a ninguém, nem a mim mesma.
- O que não significa que Aragorn Scorpes vai mudar de nome. Espero que não haja copyright sobre o nome. -
Uma reportagem na VEJA dizia que as mulheres são capazes de reviver intensamente suas experiências emotivas, enquanto os homens se esquecem das coisas rapidamente. Acho que está certo. Metade da minha dor consiste em reviver aqueles momentos passados e saber que eles pertencem ao passado, que o que estamos vivendo agora não inclua o que já vivemos. Eu queria poder viver tudo de novo: me apaixonar de novo, te conquistar de novo, o primeiro abraço, o primeiro eu-te-amo, o primeiro beijo. Lembro do que senti, de quão mais doce pareceu o aroma do mundo naquele momento. O quão perdida me senti, por saber estar abraçando um coração, e ao mesmo tempo lacerando outro. O quanto, entretanto, me pareceu certo mesmo assim. É difícil deixar algumas lembranças para trás. É difícil não ficar pensando nelas, pensar em como as coisas poderiam ter sido diferentes. Mas isso não só não leva a nada, como também machuca.
Por isso, hoje estou deixando o passado para trás. Combinei comigo e com o O'Boy viver no presente, o tempo presente, os homens presentes, e deixar o passado e o futuro com os outros tempos desinteressantes do sistema, como a eternidade e o nunca.
"O passado e o futuro são fúteis."
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