segunda-feira, 1 de agosto de 2005

Hoje os patos estão gritando como porcos

Eu não preciso fazer sentido, preciso?
Hoje eu quero chorar, chorar.
Quero me esconder
e que ninguém me ache.
Vocês não imaginam.
Vocês não sabem o que eu estou sentindo
Espero, pelo menos, que não saibam.
Talvez seja só sono. Talvez não.
Talvez seja só cansaço e a compreensão muito lenta de todas as coisas.

Dói muito. Dói tanto que parece que nunca mais vai doer. Que parece que não dói nada.

Antes fosse apenas saudade. Saudade uma, singular. Saudade da mãe, da cã, do irmão, da amiga. Saudade da cozinha, da cama. Saudade da bananeira, do regato, da onda qebrando na areia. Antes fosse, aliás, antes foi.
Antes, digo outra vez. Antes não é agora.
E agora dói como uma picada assaz muito profunda. Assim no peito. Um fuzilamento a céu aberto. Açoite. Sangue. Mêdo.
Mêdo em oposição a medo, de Medina.

Sinto saudades do mundo como uma vez o vi. Tinha umas asas, uma carranca bonita, velame de fios de couro. E o amor era o que o cão sentia por seu dono e vice-versa. Ninguém ligava para as calças do PatoDonald. As palavras não mudavam abruptamente de significado. Nenhum livro se dizia "o segundo mais lido, depois da Bíblia". Árabe era nacionalidade. Judaísmo era uma religião. Schwazenegger era um robô ou um grávido. Mel Gibson era o MadMax. Etc.
Sinto saudades das histórias, das brincadeiras, dos abraços. Dos amigos que involuntariamente perdi, dos amigos que desisti de manter. Dos amigos que momentaneamente ganhei. Dos amigos que ganhei. Dos amigos que já eram meus. Dos amigos que pensei ter reencontrado. Dos que não vêm mais aqui. Dos que não conseguem mais falar comigo...
Sinto saudades dos primos, dos amigos dos primos, dos jogos, das bobagens. Sinto saudades das histórias que vovó contava, das noites contando piada, dos filmes antigos, loucos e imbecis. As fantasias. O Mágico de Oz. O Pique-bandeira no Berro D'água, verdadeiro jogo de estratégia. Os cavalos. Os cachorros. Os gatos. As mãos.
Fosse apenas saudade, eu não falaria nada.

Acho que não é assim, só.
Tanta coisa aconteceu nessas férias. Tanta coisa mudou... Na verdade, tanta coisa mudou, que quando chego na escola e as pessoas me cumprimentam como se julho não acontecera, me dá um estranho mal-estar, um incômodo profundo, de inconformismo, de desrazão - afinal, como ignorar que eu agora já não sou quem era? Desculpe, não me leve a mal, apenas não fale comigo como se me conhecesse há anos. Eu não existo há tanto tempo assim.
Tenho vontade de dizer às pessoas que não sou mais eu. Que digam aos outros que morri. Me sinto encurralada, presa a tudo, perdida. Tenho vontade de ir embora.

Tenho vontade de fugir deste mundo que acha que me conhece. Porque, do que aconteceu, não vos posso contar a outra metade. Acho que vou voltar ao postulado. No fim, acho que nada daquilo foi verdadeiro.

Tenho medo de dizer mais.

Ademais, te amo. Não posso dizer mais nada.
Quando chegar o amanhã, finge que não me conheces. Talvez traga algum bem...

Nenhum comentário: