domingo, 24 de abril de 2011

Rés [julho 2005]

Cheiro de sangue
de dengue
de mangue
Cheiro de carniça no deserto
Cavalo de rumo incerto
Corta o campo
Cheiro de morte
O rosnado
O campo o mundo
O cheiro.










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Acho que este é um dos primeiros poemas que eu escrevi com um tema tão corporal, animal. E ao mesmo tempo o tema é abordado quase que totalmente pela sonoridade das palavras e pela sensação das metáforas. Acho que deve ter representado um grande passo para mim, deixar que a linguagem fizesse o papel dela e não ficar querendo clarificar tudo a cada passo. Não tenho nenhuma observação engraçadinha sobre uma palavra ou verso que tenha sido por acaso.

O que dá pra tirar desse poema, relendo-o tanto tempo depois? Acho que para a Lobz de 2005, cheiro tem a ver com sílabas longas, arrastadas, que trescalam ao fundo da garganta: san, den, mas, car, ser, rum, cer, cor, cam, mor, ros, mun. A única palavra que foge do padrão é 'cavalo', mas o que pode ser mais mundano e animal que uma besta suada e recendente? Além, acho que complementa essa idéia de sertão e tal. Pus o título tentando encontrar um substantivo para "recender", mas acho que não tem.

Acho que existe também um animal selvagem, carnívoro, observando a lida suja do cavalo e da morte (embora o cavalo possa ser lido como uma metáfora), nos últimos versos. Observe como a visão dele é altamente simplificada, rosnado-campo-mundo-cheiro.

É divertido reler meus próprios poemas e tentar enxergar os possíveis fios de pensamentos. Espero que seja divertido para vocês também.

2 comentários:

Utak disse...

engraçado. eu coemcei a escreverbem depois de vc. meus poemas tao todos no blog, ou quase todos... então, fica dificil fazer reviews assim, nunca vistos. eu gosto de relê-los pra entendê-los... faz muito bem... ^^

Ozzer Seimsisk disse...

pode tentar fazer mesmo com poemas que estão no blog! Eu sei boa parte dos meus poemas de cor, isso não atrapalha muito. O importante é querer olhar sem preconceitos, e com honestidade. Você mudou muito mais do que eu, tb.