sábado, 6 de março de 2004

Lirimas tou Shire


"Rolem, rolem, rolem, rolem pedras de granizo
Rolem rolem, rolem, pois que tudo é infinito..."


Eu ainda me vejo cantando essa música, na noite tempestuosa, jogando paciência spider e... mais nada... Os pés sobre a mesa, o corpo afundado na cadeira, uma mão sobre o mouse, outra sobre o 'M'. Estava chovendo granizo? eu não sei. Pode ser que sim. Eu já não sabia naquela noite, quanto mais agora. Muito tempo se passou. Quantos anos? Dois? E no que eu mudei? Muito. Vocês não fazem idéia.

"Se lembra quando a gente pensou um dia acreditar
que tudo era p'ra sempre, sem saber
que o p'ra sempre sempre acaba..."


Em 2001 e 2002 eu era uma... pré-adolescente. Eu era feliz, mas não sabia. Eu gostava de batalhas. Tinha ciatividade suficiente para rezolvê-las, vencê-las todas, mas sempre com emoção e dificuldade. Minto. Uma vez eu experimentei perdê-la, e foi mais difícil, porque eu não podia morrer. Naquela época meus inimigos quase nunca morriam. Eles eram bons demais. Com o tempo, eu fui me desinteressando pela vida deles. Me importando mais com aliados. Mas isso é algo bem recente. É mais difícil, porque os inimigos têm que ser medonhamente poderosos, e eu não tenho muita prática nesse quesito. Conclusão, no meio do caminho eu me enchi o saco, revelei-me para todos os civis e figurantes, e passei a ostentar meu lado sombrio e sanguinário. A Loubah Zatyi... Ela é quase tão antiga quanto eu... Uns... Dez anos? Quantos anos eu tinha quando derramei sangue pela primeira vez? Cinco? Seis? Quando as lendas começaram eu tinha quatro aninhos, e não gostava da dor. Nem do medo. Com razão, aliás. Depois, reparei que numa luta alguém tinha que se machucar. Os inimigos ficaram mais encanado e invocados, também, mas talvez fosse porque eles eram paulistanos, em vez de arquezatyis. E porque eu comecei a reparar que eles tinham que ter algum motivo para "fazer o mal", além de 'gostar de brigar' ou 'querer poder infinito', ou o diabo que o valha. Geralmente eles estavam é deslocados. Ou eu ia atazaná-los, como na Biblioteca(que devia se chamar Omniteca) de Ziget(at).

Eu tinha nove anos quando matei um deles pela primeira vez. Não foi por algum motivo específico. Foi só para assustar o líder, para dizer "Eu sou uma criança sim, mas uma criança capaz de matar.". E também porque eu precisava aprender a matar algum dia. Eu tinha nove anos, e o único que jamais havia morrido em minhas mãos havia sido o pai de um dos Três Lobos que haviam procurado pela Quemi, a Ave de Todas As Cores. Eu nem sequer lembro o nome dele... Talvez se eu não tivesse me forçado a terminar aquela epopéia, ela ainda estivesse acontecendo hoje em dia, e todas aquelas Soules viajadas nem tivessem chegado a existir... Sonho de consumo, não? Mas eu fico feliz que a única Lenda realmente boa de Ziget tenha tido um final feliz. E breve. Bom, mais ou menos. Mais breve que os das atuais, isso é certo.
Eu me lembro claramente do Primeiro a Morrer. Me lembro da aparência dele, que nem cheguei a descrever. Cabelos e olhos negros, um adulto, altura mediana, com roupa de viagem. Ele tinha uma cara suja. Talvez até uma barba. Ou esse foi o segundo? Tanto faz, eram figurantes padrão. Ele estava à direita do Líder, um vilão de O Corsário Negro. Eu não tenho ceteza de porque eu estava lá... E morreu com uma bala. No peito, pescoço ou cabeça, provavelmente. Mas não no rosto. E silenciosamente - descontando o tiro, claro -, pelo que me lembro.

Demorou muito mais tempo para eu resolver morrer uma personagem importante... Evan e Alan, dois anjos de elite... Evil Angel e L.A., o Lightning Angel. L.A. queria empunhar uma espada que ele não podia, pois era muito pouco nobre para ela. E também ele devia estar muito ciumento. Mas eu havia prometido para o Ev que o mataria... e ele não podia morrer antes que eu o pudesse matar. L.A. já havia ganhado a batalha quando eu cheguei. Eu não me lembro exatamente porquê, mas ele morreu em meus braços depois de perceber que a espada não valia nada em suas mãos. Nessa hora eu voltei até Evan e, depois de um breve adeus, coberto de Lágrimas de Prata, finquei minha espada em seu peito como era meu dever e seu desejo. Ele não teve chance de me matar como havia prometido. Mas eu não desfiz minha promessa de não me deixar matar antes que ele pudesse fazê-lo. Eu nem mesmo sei qual era a razão dessa promessa... Nessa hora minhas mãos destruíram a espada que empunhavam, unindo seus pedaços à luva da Pata do Lôbo, rasgando-a e cortando minha mão. Por fim, tirei a Pata da mão e joguei-a ao vento. Bonito, não? Trágico.
Me vejo imaginando a cena em que Macally(eu) leva os corpos de seus amigos que ela mesma matou até a Vila dos Anjos, onde todos a olham como se fosse alguma espécie de demônio, mesmo enqüanto chora e deixa flores no túmulo dos dois... No que eu estava pensando? õ.õ...

"Nos meus sonhos
vejo você aparecer
Mil estrelas
a me proteger..."


Lá por aquela época(2002-2003) também eu tive esse sonho estranho, eu que eu tinha um namorado, alto, cabelos negros, lembrando muito meus próprios personagens principais e coadjuvantes, brincando de pega-pega, rindo o tempo todo sem ser bobo e abraçando, abraçando muito. Passei uns dois dia absolutamente apaixanada por um sonho!!! PODE?!?!?!?!

No final, eu não sou bailarina, e não tenho primeiro namorado. O único cara que eu beijei era um de quem eu não gostava. Deprimente. E isso não é nem o que mais me incomoda...

Acho que o pior é que algo falta na minha vida, e eu nem sei dizer o que é. Não é amor. Amor é a única coisa que me faz feliz de verdade, e eu tenho muito, por isso acho que eu sou feliz. But it's not the only thing... Tem algo faltando ainda, algo irreal, imaterial, conceitual, abstrato. Eu tenho tudo o que eu quero, ou quase tudo. O que não dá certo... Não era para dar, era?

"As lutas que perdi, essas sim, eu nunca esqueci..."

"No final, de todas as vitórias gloriosas nós nos esquecemos... São as derrotas que ficam na memória para sempre..."

E afinal, tem algo me segurando, algo indefinido que me enche os olhos d'água mas não me deixa deramar essas lágimas prateadas... Lirimas tou shire...

Sabe, outro dia, eu briguei com a Ana Brunner porque ela achou que eu estava escrevendo poema quando meu colega queria fazer trabalho comigo... E eu só estava seguindo a idéia desse colega de esperar um terceiro, que não havia acabado a primeira parte... Depois de perceber que eu não ia conseguir parar de chorar eu saí da classe. O Gladstone saiu atr;as de mim, provavelmente parcebendo que eu estava em cacos... Mas eu corri do corredor, eu nem sequer vi ele, porque corri muito rápido para que ninguém visse a minha cara e perguntasse "Por que você está chorando?".... Eu me arrependi quando soube. Falar com alguém teria feito tudo mais fácil. Eu nunca penso que alguém pode querer me ajudar... Eu nunca quero que alguém me ajude. Às vezes eu quero simplesmente provar que eu sou autônoma, independente, que eu não quero que façam nada por mim... Mas de vez em quando não dá... Eu só quero colo... Eu tenho mêdo... Eu queria abraçar alguém mas não queria que ninguém parasse para me abraçar... No final...

"Ainda somos os mesmos e vivemos com os nossos pais..."

No final a gene só quer dizer "Mãe! Me pega no colo! Pai, me dá um abraço!" Não é?

"Temos que conjugar diariamente essa realidade... não temos?"

Eu adoro essa peça. E não é só essa... Essas peças dos gupos do Vicente poderiam facilmente ser encenadas oficialmente, para o grande público... São muito boas...

"E sou por mim mesma brutalmente assassinada."

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