sábado, 23 de abril de 2011

Reler (amor)

Às vezes eu releio coisas que escrevi há mais do que alguns meses e fico muito impressionada com a força das palavras e com a minha capacidade de não perceber o sentido real delas. Estou falando sério: acho que as palavras expressam melhor o que eu sentia na hora do que o que eu achava que pensava quando as escrevi. Digo isso com base em várias coisas que pensei e senti e fiz na mesma época, das quais me lembro. Às vezes encontro coisas como, por exemplo, isto:
Sinto que já se passaram meses e eu continuo estremecendo a qualquer menção do seu nome. Já se passaram meses e você ainda é a minha obcessão. Por mais que eu me distraia com outras coisas (e outras fomes) você ainda sempre volta, você está sempre perto, tão perto e logo além do alcance das minhas mãos. Como eu queria te ver, como eu queria te tocar e te ouvir tocar. E se você estiver pra sempre além, será que um dia minha vida estará completa sempre sem você?
Eu me pergunto como eu não percebi que estava apaixonada? Se bem que, pensando bem, quando escrevi esse trecho específico eu estava imediatamente além do ponto em que fazia sentido dar atenção a isso. Acho que foi justamente quando eu me dei conta de que estava apaixonada. Mas é muito estranho pensar que minha única atitude foi escrever essas linhas e esquecer. Guardar os sentimentos numa coisa e deixar pra lá. E tem várias outras coisas que eu leio que me impressionam muitíssimo. Às vezes tenho vontade de chacoalhar aquela Marina do passado e obrigá-la a ler o que escreve. O pior é quando estou lendo coisas que enviei para outras pessoas. É estranho pensar, mas por um momento essas pessoas podem ter entendido mais de mim do que eu mesma. Uma ou outra pessoa pode inclusive ter descoberto que eu a queria muito antes que eu descobrisse! Me sinto muito vulnerável ao pensar nisso, em como eu não consigo avaliar o quanto de mim estou revelando com palavras que eu escrevo sem conseguir conter. Inclusive neste blog! Como sou explícita às vezes sobre assuntos que a maioria das pessoas sequer comenta! Mas me incomoda um pouco que eu faça isso sem sequer perceber. É como se ao escrever eu estivesse abrindo mão de qualquer reserva ou privacidade. Eu me pergunto se neste post eu já disse coisas que no futuro eu me impressionarei por ter dito em um lugar tão público.

Não que eu me arrependa, de modo geral, do que eu digo. Acho que só me arrependo do que faço quando as conseqüências são ruins, e até agora de modo geral escrever só tem proporcionado conseqüências boas. Acho que isso é a bottom-line. Vou continuar escrevendo inconseqüentemente, porque eu gosto de saber que não tenho lá muitos segredos.

4 comentários:

Anônimo disse...

Hum... Isso me lembrou de um japonês que escrevia "escrituras divinas". Às vezes, ao ler, ele percebia que tinha escrito kanjis cujo significado ele não conhecia - de fato, kanjis que ele nunca tinha visto! E se impressionava com o significado deles.

hitaisaka disse...

Sabe... sempre que eu leio algo que tinha escrito antes me impressiono com alguma coisa. uma expressão usada, um termo, uma forma de pensar, um sentimento... acho que isso faz parte do processo de mudança que passamos o tempo todo. você não é a mesma de ontem nem será a mesma de amanhã.
escrever tudo inconsequentemente é bom para que, no futuro, você possa reconhecer quem foi.
acho isso muito legal

yuribt disse...

Engraçado. esses dias tava epnsando em você e nas discussões que a gente tinha sobre pensar com palavras ou não. não é bem esse o ponto, mas taí as palavras, mais fortes do que pareciam, mais reveladoras que o que se pensava delas.

Ozzer Seimsisk disse...

Talvez escrever sem pensar seja um argumento bom para qualquer um dos dois lados da discussão. Eu estava pensando em como me dói ter perdido um caderno ano passado, pq perdi muito registro de informação sobre quem eu sou, como eu vivi as coisas no ano passado (cursinho, amigas novas e etc)