domingo, 28 de fevereiro de 2010

Mais um capítulo na minha epopéia

Este capítulo vai ser um apanhado de pensamentos que me ocorreram ao longo do dia:

I

Embora eu tenha decidido há muito tempo não fazer Design, por todos os lado que eu via o problema eu chegava sempre à conclusão de que ainda era aquilo o que eu queria ser e fazer, o que era o mais legal, a minha essência. Eu olhava os problemas com olhar de designer, eu olho para o mundo com esse olhar. Eu defendo o design contra todos os ataques e insisto que ele é o mais importante. Eu sempre achei que o problema não fosse o tema em si, mas o método do curso, e que no fim eu ia acabar voltando, quem sabe com um diploma ou dois, para acabar me tornando Designer.
Nos últimos dias isso vem, lentamente, mudando. Não sei que mudança é essa, nas minhas prioridades e nos meus desejos. Nos últimos dias eu tenho sentido um interesse pela física, pela química e pela biologia que eu não sentia desde o colegial, quando eu cogitava me tornar cientista. Eu tenho desejado aprender com tanto fervor quanto naquela época, e não apenas para me tornar algo maior, mas também pelo puro interesse pelo conhecimento. De repente tenho ficado em dúvida se o mais importante é salvar o mundo, trabalhar no mundo, ou antes de tudo compreendê-lo.

II

Como disse no ítem anterior, no segundo colegial eu passei por uma fase em que Física e Química me pareciam os cursos mais empolgantes. Eu queria conhecer o mundo, queria estudar matemática, queria trabalhar em laboratório e enxergar trocas de energia em tudo o que eu visse, pois é. Por muitos anos depois disso lembrei dessa empolgação como um deslize, uma paixão passageira por uma coisa que pra mim era um hobbie, uma diversãozinha que eu podia praticar na escola, um jogo para jogar com os amigos. Não: eu queria mesmo saber de tudo, perguntava para os professores sobre as folhas anômalas da grama, fazia anotações sobre os insetos, tentava imaginar as fórmulas dos ingredientes do shampoo.

Esses dias minha mãe me disse que naquela época ela achava que eu ia fazer Física, que ela nunca entendeu por que eu fui fazer Design, e aí meio que tudo voltou com tudo, todas as questões daquela época, como Design tinha me parecido a mistura certa de ciência e arte (que ingenuidade a minha, não?), como ciência e arte eram próximas para mim e como na verdade eu queria descobrir mais sobre o mundo antes de poder mudá-lo com minhas próprias mãos! Eu não lembro de como foi começar a faculdade, mas deve ter sido mesmo terrível pra mim; eu lembro da empolgação de estudar Fotografia, Desenho, história do design, editoração, técnicas visuais (sim, o curso do SENAC me empolgava bem mais que o da FAU), história da arte (que eu tinha esperado a vida toda pra estudar), técnicas de gravura, e... Bom, não sei se tinha mais.

Hoje tudo me parece uma decepção tão grande, eu descobri que não ia ter cálculo nem física, parei o SENAC com todas as suas matérias legais, não houveram mais aulas de técnicas no Design, as aulas de ergonomia eram um saco, eu acabei não aprendendo o que eu queria aprender e aprendendo bem mal o que eles achavam que eu devia aprender. Mesmo assim, naquela época eu culpava minha má interação com os colegas e veteranos, minha falta de hábito de estudar, o choque de perder o jantar com a família (acho que acabei perdendo minha família nessa), minha dificuldade de interagir com a burocracia (e minha timidez de modo geral) — enfim eu julgava que se eu crescesse, amadurecesse e aprendesse a ser como eles, tudo ia se encaixar magicamente; eu achava que só dependia de mim.

III

Hoje eu percebo o quanto eu senti falta da pesquisa — esse espírito de procurar, de investigar, de modelar e imaginar possibilidades, de construir: como isso falta! O conhecimento associado ao Design deveria ser uma Tecnologia. Assim como ao longo dos séculos se desenvolveram novas estratégias de Go, ao longo do tempo mesmo os materiais e técnicas antigos podem ser reinventados em processos e produtaos novos! Se houver um esforço de reunir o que já foi feito e construir em cima disso, quão longe podemos chegar? Talvez nada longe, visto que existe um mercado imortal do design ruim (aliás, sempre me pergunto como essa persistência do ruim funciona). Mas talvez muito longe ainda assim! Queria que meu curso tivesse menos projeto e mais estudo, que aprendêssemos uma enorme variedade de técnicas e os detalhes de cada uma delas, para que soubéssemos o que estamos fazendo quando projetamos. Design não é apenas Método! Não quero de forma nenhuma fazer o curso Deisgn FAUUSP, mas ainda acho possível que eu volte para fazer uma pós, um mestrado ou doutorado em design ^^

IV

Enfim eu lembrei que um dia eu quis com muita convicção fazer Física, e fiquei imaginando que coisas estranhas poderiam ter acontecido se eu tivesse feito essa opção. Será que eu teria vários amigos Físicos, conheceria toda a USP e teria tido um primeiro ano feliz? Será que eu teria me dado bem com os físicos que são meus grandes amigos hoje? Talvez isso tivesse sido ótimo, ou talvez fosse péssimo, não dá pra saber. Mas agora não importa muito, eu acho. Esses três anos não foram em vão, eu aprendi muita coisa neles, embora talvez eu tenha me tornado muito menos do que eu esperava.

...
... Acho que tudo está bem quando acaba bem.

2 comentários:

Marcio Zamboni disse...

Tenho achado muito interessante, esclarescedor, acompanhar suas dúvidas. Isso me faz lembrar que no final do primeiro ano eu estava perdido. Eu realmente não sabia para onde ir. Eu tinha essa mesma sensação de gostar de tudo e não me dar bem cm nada, de querer estudar tudo o que eu não estava estudando.
E lembro que o que me deu uma direção não fui eu, foi uma coisa que veio de fora. Foi um professora que gostou da forma como eu participava das aulas (apesar de ter sido a aula dela que eu escolhi para levar a flauta, sem ler nem anotar nada) e meio que me chamou para trabalhar com ela. E eu fui, no ano seguinte.
E, não sei, minha inserção na antropologia foi algo completamente mediado pela minha relação com ela, que tem sido uma coisa muito bacana porque ela é uma pessoa muito legal.
Hoje eu me sinto no lugar certo, mas olhando para traz percebo que eu não estaria aqui se não fosse pela minha orientadora. Eu nem sabia se queria ciências sociais e não gostava de antropologia.
Sei lá, foi o meu envolvimento com o grupo de pesquisa e o desenvolvimento da minha pesquisa o que me deu rumo, e não os meus gostos vagos (por que esses gostos e vontades são uma coisa muito vaga. os meus são, pelo menos). Acho que dei muita sorte, na verdade.
Não sei exatamente o que isso significa, só achei que seria legal compartilhar isso com você por que eu já me senti como você se sente e não me sinto mais. Não que eu não me interesse por mais nada nem que eu não tenha dúvidas, pelo contrário, eu tenho muitas. A questão é que eu estou em um lugar e posso pensar em mudar, mas se eu não mudar eu já tenho alguma coisa que eu gosto, e eu acho que é isso que importa. Sei lá, dúvidas sempre teremos.

Marcio Zamboni disse...

ps: não se culpe se você se afastou um pouco da sua familia. provavelmente não é culpa sua. É que quando a gente está muito envolvido com alguma coisa e olha para o lado e vê que tudo mudou a gente tem a impressão de que mudou só por nossa causa. Mas na verdade a gente só esqueceu que o mundo continuava enquanto a gente fazia outras coisas. As outras pessoas também mudam e se elas se afastam não é só por que você não fez nada para impedir, entende? Eu tenho muito essa sensação.

ah, e eu posso fazer uma estante invisível para você, é algo realmente muito simples. Você só precisaria me dar 16 reais para eu comprar as cantoneiras (que não são uma coisa muito barata, 8 cada uma).