sábado, 13 de maio de 2006

Pensamentos privados de uma pessoa pública (ou vice-versa)

Vocês sabem que não é tão fácil me fazer pular de susto a qualquer hora. Várias vezes eu já disse que tenho uma resistência especial a sustos porque meu irmão vive me dando sustos muito bem dados. Mas hoje de manhã, eu ia andando traqüilamente até o meu quarto quando uma porta se abriu na minha frente. O barulho da porta me fez pular e ficar imóvel, como uma presa que percebe a presença do predador (mas que raio de aliteração involuntária...). Meu pai pessou por mim saindo pela porta, e eu apenas disse, com os olhos arregalados... "Que susto..."
É engraçado isso, mas eu realmente sou assustadiça quando estou em casa. Nunca tinha reparado, mas dentro de casa qualquer coisinha me assusta, enquanto em outros lugares é preciso um susto muito bem dado para me fazer pára-parar o que estou fazendo. Talvez isso seja porque em casa eu me deixo ser eu sem os filtros da moral e dos bons costumes, sem os contínuos esforços de ser uma menina tranqüila, extrovertida e sexy. Mas acho que não é só isso. Acho aliás que isso não é o mais importante. Até porque, no fundo, eu sou péssima em ser educada e bonitinha, de forma que fora de casa eu acabo sendo tão desleixada quanto dentro.
Talvez seja mesmo um problema de me sentir vigiada o tempo todo. Em casa eu importo, em casa todos vão querer saber de mim e, quando passarem por mim, vão me ver, vão perceber quão esquisita eu sou quando estou sozinha. Em casa talvez eu tenha menos privacidade do que fora (já que é um fato que até meu quarto é um lugar público). Aqui eu sinto que posso ser repreendida o tempo todo, a qualquer momento alguém pode achar que estou à-toa (e que crime terrível é estar "à-toa"!) e me escalar para algum trabalho (que no fundo nem é tão chato assim...) exatamente quando tudo o que eu quero fazer é descansar, pensar, relaxar um pouco. Então o tempo todo eu estou me esforçando para parecer que estou fazendo alguma coisa (nem que seja ler ou desenhar - embora na verdade a leitura também seja interpretada como falta do que fazer na maioria das vezes) para que ninguém pense que eu sou uma vagal desocupada que só dorme e "viaja".
Por isso toda vez que alguém entra na meu quarto eu me mexo, para parecer que eu não estava parada olhando pela janela pensando na vida. Acho que é proibido pensar na vida. Acho que é proibido querer estar sozinha. Talvez seja esse o real motivo de eu não poder trancar a porta do quarto, e não todos os riscos que eu estaria correndo. Não. Mas concerteza é esse o motivo de eu gostar de subir no telhado: é o único lugar da casa em que ninguém vai me ver, nem sequer saber que eu estou lá. Lá eu posso pensar na vida. Lá eu posso até fingir que eu não existo se eu quiser. Eu posso até andar em círculos se eu quiser. E ninguém vai me repreender.

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