Você já teve aquela sensação de que quem comanda a sua vida não é você? Pois é. Nestes últimos dias, tenho tido a impressão de que a consciência e a razão não me servem de nada. Quem controla minhas ações durante o dia não são vontades razoáveis do intelecto nem lógica nem sensibilidade. Sou, é verdade, dominada por substâncias químicas. Quem me controla agora é o corpo.
Na verdade apenas obedeço aos impulsos autoritários do estômago (e dos outros sentimentos da região abdominal, com o qual dividem espaço): meu corpo diz Coma carne! e eu como carne; meu corpo diz Durma! e imediatamente dormir é a única coisa da qual me acho capaz de fazer.
Ultimamente meu corpo tem dito para eu encher menos o prato (talvez um reflexo de estar fazendo menos esportes e, conseqüentemente, gastando menos energia), mas é dificílimo lutar contra hábitos alimentares... Mas estou tentando, estou tentando...
O curioso é que nunca eu realmente considerei uma coisa ruim essa inversão de papéis. De modo geral meu corpo tem consciência de quanto tempo eu posso ficar fazendo trabalho da madrugada quando deveria estar dormindo - se eu apenas seguisse as ordens da minha mente metódica e racional, perderia preciosas horas de descanso e não conseguiria manter-me em pé durante o dia seguinte... Meu corpo também sabe que às vezes eu simplesmente preciso comer folhas brancas de alface, às outras é mister um café da manhã reforçado, periodicamente é indispensável alguma atividade física, etc.
Mas nem tudo são flores neste mundo ventral: outro dia, sentia uma fome quase despropositada, e tão intensa que não conseguia pensar em pegar pratos ou qualquer outra coisa, via a comida e agarrava-a em minha boca como um macaco em jejum; quando tento me dedicar a aprender, exaspero-me fàcilmente e só uma força de vontade sobrenatural faz-me persistir na empreitada; ler não consigo, quando começo paro de frio ou fome ou sono. Como se não bastasse não contenho irritação, raiva, desânimo, inquietação, distração e desespero sem sentido (pelos quais, aliás, gostaria de pedir algumas desculpas...)!
Minhas emoções estão mais vagas que nuvens, mas intensíssimas: não raro choro vendo filmes toscos ou seriados repetitivos. Apenas fico feliz que eu possa ver o Yuri quase todo dia, porque ficar sem ele verdadeiramente dói, e dói mesmo, uma coisa totalmente diferente do que eu estava acostumada.
Minha única explicação para isso é alguma desregulagem total dos hormônios - ou talvez (e essa possibilidade me assusta um pouco), talvez tudo isso seja um pouco normal, dada a minha idade, o meu estilo de vida e a minha situação atual (tudo o que está acontecendo no momento...)
Seja como for, o corpo e a mente se batem furiosamente tentando realizar cada um o seu ideal. Meu coração de criança continua incansável a bombear sangue, alheio à zorra total... Mas, às vezes, um de seus impulsos mais profundos confunde-se com algum sentimento ventral e desabo em reflexos e mágoas que o espírito humano não pode conceber. E o espírito, o vento soprando nas rodas deste carro romano? Não sei, não o vejo. Não vejo nada.
Open eyes.
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