segunda-feira, 7 de junho de 2010

A Praça

Está tão quieto. Eu contemplo a praça do meu encosto de pedra, as costas frias encostam nela, as pernas que encostam na grama estão quentes, a mente está fria, o coração é quente, meu capuz ferve pra resfriar a cabeça; está tudo tão quieto. A praça vazia é tão tranqüila e eu me sinto tão inquieta; acho que parte da minha inquietude é de saber que aquietar-me não resove, não salva nada; minha calma não é espada, eu não tenho como me salvar. A pedra está fria, eu estou lendo Demian, como você pediu, e me pergunto se o garoto chamado Demian não é um pouco o garoto chamado Corvo do Murakami, do Kafka, eu me pergunto, por que está tudo tão silencioso.

Acho que é hora de trabalhar, etc. Não quero falar com ninguém. Está tudo tão parado, e nada me dá uma boa resposta para uma pergunta decente, do tipo, que porra eu estou fazendo aqui. Nada me responde. A praça é só a praça mesmo. Eu me sinto tão livre aqui. Eu tenho procurado muito a direção de mim mesma. Tudo o que eu vejo são coisas que me guiam na minha busca por um sentido, uma direção, todas as pessoas e as conversas, tudo me parece um meio.

Ontem conversei com minha mãe, como você tinha sugerido, e assim que cheguei na casa dela todos os mêdos pareceram tão infundados, e ela achou até meio bobo o maior deles, e todos os menores também, porque ela se esforça tanto para que a gente não tenha mêdo, e eu acabei contando coisas pra ela que eu não contei direito para ninguém, e apesar de ela não ter que concordar ou discordar com nada eu fiquei meio feliz porque ela pareceu se alegrar e porque ela não parece mesmo acreditar naquela bobagem de repetir as nóias dos antepassados. Eu acho que eu estou me libertando sim. Eu gostaria de ser livre. Todo o resto é menos importante.

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