domingo, 11 de setembro de 2005

Mundos Fantásticos - II

Qual é o pecado de Evanael?

Então, então. Dor e inveja. A própria incompreensão. Tentei mergulhar em outro mundo, um mundo de sonhos, mas a incompreensão me seguiu até lá. E o mistério. E a impossibilidade.
Raios! Realmente eu não consigo me fazer rir, e isso me irrita.
Então, em algum momento, tentei me tornar um deles, um destes que fazem rir quase sem pereceber que tentam. Tentei desenhar - sempre quis desenhar, assim, sempre, e não só às vezes. Então mostrei-lhe meus desenhos, e não ter quase nada novo para mostrar me deu raiva e inveja. Começava a compreender que eu não tinha jeito para os quadrinhos, mas refutava, enraivecida, a idéia.

Não sei qual o meu lugar no mundo, no sistema.

Não ia chorar. Na hora, estava muito feliz - ele queria ser meu amigo! Então ele propôs que eu desenhasse o mistério, e eu aceitei a proposta desafiadora. Só longe dali compreendi o que sentira. O não poder "mostrar o que fiz". Mas "toda pérola tem seu dia de ostracismo", disse Leminsky, e eu perguntei à Mama o que ela achava. Ela disse algo que me fez rir, não do algo, mas de sua possível (e imaginária) reação. Ao fazer o desenho, entretanto, fui aos poucos desvendando a dimensão do problema: a vida é apenas mistério -- todo o resto não é vida. Que mistério pretenderiam Mara, Lyserg, Evan, Aracron, Jolyn, Idle, Akira, Shïr e Bérual desvendar em Pellasith? A vida, meus amiguinhos, é apenas, apenas mistério.

Corta.
Outro dia.

Em que olhava abismada para o mapa e tentava não ver a irrefutável semalhança daquele mundo com este. Estaria eu, então, apenas a reproduzir num mundo mais improvável a existência detse? Por isso então a vida havia de ser terrível, e a verdade, inalcansável! "Madame Bovary c'est moi", há dito Flaubert um dia. Direi eu "Mikai Hwimiktei c'est moi", e temo que seja verdade a verdade. A narradora dessa triste história é também a mãe de seus falíveis filhos, e de seus incompletos mestres e inimigos. Principalmente, é a tutora de seus mortais e letais pretendentes. Matar é a forma mais dura de morrer. "A fome dos outros, sabe?", disse o Hoederer conciliador "também não é fácil de se agüentar."

E aí Ziget --- Ziget.

Qualquer outra pessoa seria a corrupção de Ziget. Ziget não é propriamente um mundo: talvez seja mais próprio ajuntá-lo aos sentimentos, com os quais partilha a inconstância, ou aos ideais, que partilham com ele a distância. Por mais que tenha regras e caminhos, ainda é, de forma fascinante, imapeável na realidade - pois que em seus domínios afloram mapas de todo tipo e de todo lugar sobre sua superfície. O planeta de Ziget é tão uncroiable quanto o do Pequeno Príncipe, e por isso mesmo afirmo que existe: tão absurdo quanto os sonhos e as utopias, é assim implausível demais para unir-se à matéria morfa que compoem os cenários deste mundo e do próximo. Se existisse em outro mundo, eu diria que era o mesmo que não existisse, mas não é assim que acontece: Ziget é por demais livre para prender-se a um mundo; seus absurdos normalizados permitem que ele se prenda como um parasita emtre os dois mundos, e os todos, desafiando meu senso de realidade. Mas não repetem os sábios que tudo é possível? Precisamente por ser possível, Ziget teima em existir, tornando-se fraco e distante, mas perene. Perene.

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