quinta-feira, 22 de setembro de 2005

BUM!

(Só manifestando minha vontade de explodir...)

Apesar de tudo, continuo achando que é possível, talvez até mesmo imprescindível, transmitir a vocês por estíssimas palavras vazias o fingimento da dor que deveras sinto. Não sou precisamente eu que vos falo: tenho nome, mas ainda assim extravaso, sendo maior que o invólucro nominal a que teoricamente caibo.

Se me matares, nem por isso eu morro.
Sou forte sim - irrascível. Mas não vejo como pode ser a força uma virtude. Acho que estou mal-interpretando o que me disseste. Sou forte, sim, como vós; e os fortes são os que mais sofrem.

Sou um resto de qualquer coisa múltipla - a exemplo, aliás, de Deus e de todos os outros seres ultra-mega-fucking-sagrados.
Por um lado sou Cã submissa (o que parece contraditório, e provavelmente é, mas não mais que o meu olhar) que espera o dono à porta da casa, e que o protegerá contra tudo. Esta cadela amorosa há de fazer as vezes de cão-de-guarda e defender meu coração contra o Demônio, mas quem será mais forte? E sou então feliz, mas apenas quando estás comigo, quando te afastas, sinto dor e mêdo de afastar-me. Então, quando me separo de ti, sinto a dor verdadeira da separação, e aos poucos deixo de ser cã, para ser algo mais cruel, contigo e com todos.
Por outro lado sou lôba feroz, Raksha rancorosa incapaz do perdão e do esquecimento. Agarro-me ao que quero ou quis e não largo sem destruir, demoniacamente. Tenho sobretudo ódio do sentimento de submissão e entrega próprio de amor que por meu dono de cã cultivo, e nesse ímpeto de rancor subverto o amor em desprezo, e a amizade em desejo (isso está começando a ficar poêmico) e deliberadamente confundo os sentimentos para que eu possa ceder ao impulso de quebrar tudo e fugir para onde haja um tobogã.
Por outro lado ainda sou qualquer coisa de livre e alegre e serpente, querendo dominar e devorar a todos com carinho e divertidamente, com esperança no futuro e no agora. Assim sou leoa altiva, confiante, senhora de mim e de todos. Não me submeto a nada, pois quando me subjugam já não sou Bagheera, sou fogo puro, queimando com certo vazio.
E agora, vedes, sou Poeta, fingindo coisas que não sinto e sentindo coisas que não finjo, e fingindo principalmente que finjo, a dor que deveras sinto. Tento falar por mim, mas isso é bastante difícil. Vamos em frente, Malikath.

Acho que Fernando Pessoa não sabia muito bem quem ele era. Acho que nenhum de nós é qualquer coisa de fato, ainda mais quando se engana os outros.
Já paraste para pensar que tua essência está, na verdade, nos olhos do outro?

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