domingo, 25 de setembro de 2005

como o chão do mar

Há coisas que me deixam triste.
Uma delas é te ver chorando, ou a ponto de chorar. Às vezes eu queria te abraçar, te segurar junto de mim e te proteger de todos os males do mundo. Mas aí, eu acho, eu seria todos os males do teu mundo, e isso seria pior que qualquer outra coisa. Foste tu que me fizeste entender que a dor dos outros é pesada demais para que eu a carregue. A tua dor, especialmente, pesou sobre mim como o enorme e cansado corpo de um cavalo de guerra. Mas um... uma pessoa importante para mim... me disse uma vez que cada um tem que lutar a própria batalha, e não há nada que nós possamos fazer para nos ajudarmos. Afinal, "cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é".
É por isso, então, que me afasto e te olho de longe, sem saber de fato o que fazer. Tudo o que eu queria era que pudesses tirar do olhar essa escuridão, essa desrazão, esse vazio todo. Existem coisas que fazem o maior dos homens olhar para o chão. Não és o maior dos homens, mas és para mim um gigante de qualquer forma - acho que mesmo os gigantes não sabem o que fazer com a dor...

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Acho que às vezes, é o vazio inconformado do seu olhar que me derruba no mundo. 25 de março. Você se recusava a ser tão livre nesse aspecto quanto eu, e eu, com raiva e frustração, atravessava a sala e grunhia, por que não pode sorrir de vez em quando?! Não o conheço, o amo e não o compreendo. E quando eles me perguntaram a razão de um meu já-volto agressivo, eu, sem querer chorar, mas em brasa, disse que não entendia porque algumas pessoas têm que ser tão infelizes — e cantei, porque não via opção além de cantar e sorrir, já que estava em festa. E tentei mais uma vez convencê-lo de que não adiantava ficar mal, mas você com suas respostas parecia me desprezar profundamente, naquele momento.

Mas acho que no fundo tinham ambos razão. Não importa o que eu diga ou pense ou diga que penso, o mundo vai continuar sendo o lugar terrível que é. Pessoas passando fome. Pessoas passando frio. Pessoas sem onde cairem mortas. Pessoas que não se consideram gente. Pessoas sem os filhos, sem os irmãos, sem amigos. Pessoas sem amigos. Pessoas sem objetivo na vida. Pessoas destruindo vidas. Pessoas que não se importam. Pessoas que morrem por se importar. Pessoas que não vêem. Pessoas que não vêm. Pessoas que não ouvem. Pessoas que não sabem. Pessoas que não querem entender. Pessoas que não conseguem entender. Pessoas que não conseguem sorrir. Pessoas que não conseguem andar. Pessoas que não vêem o sol. Pessoas que odeiam. Pessoas que se matam. Pessoas que morrem na rua. Pessoas que não podem sair na rua. Pessoas que não podem sair de uma cela. Pessoas que não fizeram nada. Pessoas culpadas. Pessoas convictas. Pessoas inocentes. Pessoas limítrofes. Pessoas azaradas. Pessoas condenadas. Pessoas sem esperança. Pessoas atormentadas. Pessoas incrédulas. Pessoas vazias. Pessoas frias. Pessoas cruéis. Pessoas tristes. Pessoas agressivas. Pessoas rancorosas...
Qual o problema com todas elas? Será que são fadadas a serem infelizes para o resto da vida? Ou será que podem "fazer de suas vidas obras de arte"?

Mais longe vou, mais perto chego
Não chego a lugar algum
e quanto menos sou, mais ser almejo
sem realizar nenhum
dos meus grandes desejos

Eu fico aqui a escrever poemas. Mas de que me vale escrever poemas? Por que eu tive de me fazer poeta?! Não podia ter nascido em mim o amor à matemática (tão simples e linda, a matemática...) ou à física, ou à biologia, ou à psicologia, ou mesmo à filosofia?! Porque tudo o que penso, gosto, quero ou almejo parece de uma indesejável inutulidade para a humanidade? Há coisa mais inútil que a poesia?! Ainda se eu fosse um Pessoa, um Camões, um Drummond, um... (esqueci), ou uma Cecília... Mas realmente não me vale de nada parar meu caminho até a escola para anotar alguns versos antes que eu os esqueça, ainda mais quando estou (como sempre) atrasada. Então por que o faço..?
Acho que eu sempre terei a esperança de que a sobrevivência não seja o mais importante. Além do mais, por que eu deveria achar queir a atendimentos para bem refazer uma pá de redações para tentar tirar um B em vez de um D é mais útil que escrever um poema para o meu amigo tentando fazê-lo entender por que eu queria protegê-lo, ou escrever uma canção que tenta dizer que a vida vale a pena se vivida intensamente. Ou simplesmente um poema triste tentando desbafar ou me fazer parecer feliz por comparação. Ou simplesmente... tentar alegrar as pessoas, sabe? Falar bobagens como "Im Rum Lifeh?", "Qual é a sua demência?", "Você já olhou pra cima hoje?", "São precisos muitos coelhinhos para isso..." ou "Here's a llama There's a llama And another little llama Fuzzy llama Funny llama Llama llama duck"...

Preciso-me ir, inutilmente mas com boas intenções. Llama heil!
And good hunting all who keep the jungle law.

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