"Presa na caverna
Olhando uma fresta
Que luz será essa?
Mostrando um caminho
É como uma seta
Ainda enxugo as lágrimas da noite,
Que esperavam essa luz."
Olhando uma fresta
Que luz será essa?
Mostrando um caminho
É como uma seta
Ainda enxugo as lágrimas da noite,
Que esperavam essa luz."
Talita Larini
Incrível, não é? Como ela se assemelha a mim. Só para constar no registro do meu assombro, um trecho de um poema recentíssimo meu:
"Um veleiro no lago - vários destinos
Numa caverna escura, uma fresta
para uma nesga de luz."
(Me irrita a forma como o blogger não permite
repruduzir a diagramação dos meus poemas...
Grumble grumble...)
repruduzir a diagramação dos meus poemas...
Grumble grumble...)
E repete-se a medonha semelhança:
"Eu sou uma gota d'água, salgada e escondida,
atrás dos olhos de uma mulher sofrida.
Eu sou uma gota d'água, me identifico melhor
como lágrima e cada sofrimento que o coração
passa, ascorro pelo rosto assustado tentando
abafar a dor."
Não preciso, dizer, preciso? Que eu sou um fantasma?
"Eu ainda sou um fantasma
Andando perdido na noite
Sou feita de carne e de plasma
(e leucócitos, plaquetas, hemáceas)
Sangue e lágrimas
Eis o que me compõe"
Talvez... Talvez, eu penso, a grande semelhança esteja na idade. Ela tinha quinze anos quando publicou o livro que tenho em mãos. Eu estou para fazer dezessete, mas já tive quinze, assim como já tive quatorze e, antes disso, uns sete, e me lembro que não é de hoje que o despreparo dos adultos para lidar com a inteligência das crianças e dos adolescentes me dá diversão e desprezo. Não me entendo nesse aspecto...
Essa menina, Talita, deve saber quão sombria é a infância - quão terrível. Crescer não é coisa para criança. E adolescer? Apaixonar-se???
Metade do livro fala apenas do amor, do coração partido, esses lugares-comuns. Mas uma dor tão profunda, tão absurda e esperada, que dói no coração dos outros, dos nossos. As pessoas mais densas que conheci tinham entre treze e dezessete anos...
Ela reacendeu em mim o desejo do começo do ano, o de escrever um livro de poemas. Não falta material - falta tempo. Numa pesquisa rápida pela pasta de Poemas no computador encontro pelo menos 120 poemas digitados. E eu nunca conseguiria delegar as primeiras etapas do processo a outrem, pois só na digitação corrijo, altero e completo muitos dos meus poemas. Agora mesmo, digitando um pedacinho de A Devil (meu mais novo poema parcelado), troquei um "'till he sees I bleed" por um "before I bleed". Uma mudança pequena, é verdade, mas que para mim faz diferença. Também a capiltalização e a pontuação faz diferença.
Acho, porém, que aquela menina não se assemelha a mim nesse ponto. Minha alma de gramática foi se amuando e enraivecendo com as incontáveis distorções de tempos verbais e sujeitos e objetos e minha alma de parnasianista foi se enfurecendo com o que podia ser tanto prosa quanto poetria e ficava num pseudo-meio termo mas ao mesmo tempo que execrável era delicioso desde que não se lesse tudo de uma vez assim devagarzinho saboreando cada frase tudo ficava muito, muito gostoso...
Vou colocar uns poemas meus para acalmar os (meus) ãnimos antes que eu volte a falar de demônios de dentro da gente. Aleatoriamente; o último da lista, vai:
Onde está você?
Onde está, você?
Você que foge, some sem dizer
Você que escolhe a hora de viver
e vive sem falar
e fala sem matar
e sem morrer.
Onde está você?
Aonde vai, você?
Você que escapa, acaba, abarca o ser
Você que engana, emana, ama saber
e esquece que é alguém
e sonha em ir além
e se perder.
[6/9/2005]
e o primeiro:
A chuva cai lá fora
e cada gota que cai
Me lembra a toda hora
que a gente não sai
da vida
que a gente não perde
a trilha
que a gente não cai
da linha
e a gente encontra
saída
a gente jamais
se ilha
a gente nem
desalinha
pra ser feliz...
[para yuri - 17/12/2004]
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