segunda-feira, 13 de dezembro de 2004

Aniquilação

Ele olhou pra mim com aqueles olhos de pantera. Tinha uns olhos grandes, alucinados. Eu tentei ter medo, porque ele ia pegar este corpo e rasgá-lo em muitos pedaços, destruí-lo como uma criança pequena, eu imaginava tudo isso mas só conseguia achar muito interessante. Carpe noctem, um de nós sussurrou baixinho e nossas respirações se misturaram num cheiro imprevisível. Inspirei aquele ar confuso e não senti o cheiro. Olhava pra ele e não senti absolutamente nada por um tempo muito grande, até que ele chegou perto demais. Não senti dor.

Eu poderia contar-vos a história da minha vida. Eu poderia contar-vos desta vida. Poderia, ah, sim, poderia contar-vos de todas as nossas vidas. Poderia discorrer sobre a existência à qual nos submetemos. Poderia tentar explicar-vos minhas inúmeras vidas e mortes. Mas, não... Não sei se vale a pena. Minha pena, ilusão de um espírito que transcende a prórpria compreensão, rabisca traços de sua história, espada coberta de sangue reluzindo num duelo mortal - o último duelo de sua vida -, escudo derrotando o tempo e a água na consciência clepsada de sua existência. Poderia falar sobre o vazio e a plenitude que preenchem agora minha alma. EU SOU NADA.

Nada existe, percebem? Mu-ichibutsu! Se nada existe, como poderia eu, lôba-caçadora-carnívora-libertadoradesi, existir?! Não. A lôba que criou esta toca deixou-se morrer por ao menos um dia.

Lôba... Eu Kyiurise de asas abertas e coração branco para o mundo colorir sou, sim, white-squall entre tuas tempestade, menina negra no meu seio prateado.

Homens que povoam este mundo físico, tomem cuidado comigo. Eu Lôba, eu espírito transcendente acima das Soules, eu Kyiurise prateada envolta em luz. Tomem cuidado comigo e cuidem de mim, para que eu não transcenda o campo de batalha e me torne apenas uma pensadora. Não, o que estou falando, isso nunca vai acontecer! Ora essa, se só palavras recriam meus pêlos macios de Lôba adormecida...!

Deixe-me amar! Meu coração prateado é tão grande que cabe nele amor ao mundo inteiro! Deixe amar-te, gato-preto-dourado de sol e lua olhos que brilham iluminando um mundo onde não há sol... Deixa-me te amar, gato-peludo pégaso azul brilhante menino rindo feliz curioso e patso como ele só. Leixa! Meu amor é tão puro que não conhece barreiras.

"Com as asas leves do amor eu superei estes muros,
pois mesmo barreiras pétreas não são impecilho à entrada do amor.
E aquilo que o amor pode fazer é exatamente o que o amor ousa tentar."

Eu morri. Amanda Nebi morreu. Marin, a Loubah Zaty, desapareceu desta existência. Se ela renascer, será gloriosamente. Boa noite, meus caros amigos. Um beijo de adeus para cada um de vocês, seguido de um abraço tranquilo de bom dia ou boa noite.

Amo vocês.

Até amanhã. Ou até hoje. Mas até.

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