Aqui estamos, e somos onze. Onde dos quinze que partiram. Onze dentre todos os que se dispuseram.
A Letra.
A Faca.
O broche e a chave.
A pata.
O pingente.
A máscara.
O laço.
O cinto.
O Giz.
O focinho.
O pedal.
E o escudo.
Nós nos voltamos para o passado. Nós perguntamos sobre o passado. A Letra se imprime sobre a Pele do passado. Nossos olhos são espelhos que distorcem a luz do passado. Nós somos lentes. Nós escrevemos.
Um de nós se ergue sobre duas pernas. Um de nós renega nosso antigo nome. Um de nós desce de seu cavalo e corta suas tranças e as joga sobre o chão onde pisa. Um de nós ergue-se novamente.
O Focinho se ergue em direção a ele. Um de nós acaricia o focinho e o abandona. Um de nós abandona nosso antigo nome.
Uma de nós se levanta em oposição a ele. Um de nós oferece seu corpo para a faca, que ela marque seu corpo e o submeta. A Faca o corta. Uma de nós marca nele nosso indelével nome. Um de nós sangra e se reconstitue. A Faca e o Escudo são idênticos. Nossos olhos são espelhados e refletem imagens idênticas, um macho pequeno e coberto de sangue e uma fêmea grande e coberta de sangue. Um de nós ajoelha-se e uma de nós o abraça. Mas por fim se separam. Um de nós apaga nosso único nome.
Somos múltiples. A Máscara o veste e mostra nossa História. A Letra se escreve e conta nossa História. Um de nós aceita em reclusão. A caverna de nossa História é escura e longa e suas paredes contam de muitas coisas. Um de nós ouve em atenção. Nós o mandaremos como nosso mensageiro e como nosso cônsul, para os domínios que nossas vozes falham em alcançar. Nós o mandaremos ao passo em que ele se manda, fugido de nós.
O Focinho o morde.
A Pata o sagra. Uma de nós o olha nos olhos e o absolve e condena. Uma de nós lhe dá uma missão. Uma de nós o ama e o fertiliza, para que ele chegue prenhe ao seu universo. A Máscara o abençoa e o compreende. O Broche e a Chave o vestem e o ornam, mas ele os guarda numa caixa de madeira. Um de nós despe-se e se apresenta nu. O pingente transforma-se e o protege. Um de nós agradece.
O Cinto e o Giz transformam-se em objetos para que um de nós o use. Mas ele os guarda também, em silêncio. Ele os usará quando for a hora.
Finalmente, o Laço o abraça. A Letra abre seu livro e o Laço chama através dele todas as vozes que precisam se ouvir presentes. Um de nós toca cada um de nós em respeito, amor e premonição. Estamos no fim da caverna e há paisagens lá fora. Todas nós nos agrupamos na beirada da caverna. As paisagens nos perturbam e nos confundem. Nós nem sempre podemos transitar no mundo lá fora.
Uma de nós dá alguns passos para fora e invoca o Futuro. Nossos deuses sussuram como árvores balançadas pelo vento.
Um de nós começa sua jornada.
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